O 30º estratagema dos Trinta e Seis Estratagemas diz: “Faça o anfitrião e o convidado trocarem de papéis.”
É mais frequentemente referido no contexto de uma força mais fraca superando uma mais forte, mas também pode se referir a fazer o defensor (o anfitrião) trocar de lugar com o atacante (o convidado). Na guerra, ser o defensor é vantajoso, por isso é desejável que o atacante crie uma situação em que possa travar batalhas defensivas, mesmo em campanha.
A batalha que atualmente ocorre nos arredores de Randel, a cidade central do Ducado Carmine, poderia ser considerada um exemplo do significado do 30º estratagema.
– 32º Dia, 9º Mês, 1.546º Ano, Calendário Continental –
No Ducado Carmine, o Exército Proibido, que deveria ser a força invasora, estava travando uma batalha defensiva contra o Exército, que deveria ser o defensor. Enquanto se escondia atrás das muralhas da “fortaleza” que estava sendo atacada por uma força de 40.000 homens do Exército, Halbert Magna resmungava:
— Droga… Você não acha que o inimigo está insistindo um pouco demais?
— Isso não está ajudando, sabe, Hal. — A resposta provinha de Kaede Raposia, uma maga de terra ligada ao Exército Proibido, que estava se protegendo atrás da mesma muralha que ele.
Mesmo quando as flechas, disparadas tanto por inimigos quanto aliados, voaram sobre sua cabeça, ela continuou indiferente.
— Se você olhar da perspectiva do inimigo, acordaram só para se deparar com uma fortaleza externa — disse ela. — Uma com tropas do Exército Proibido, nada menos. É natural que estejam com pressa para fazer algo a respeito disso, sabe.
— Bem, sim… — disse ele. — Achei que enfrentar 40.000 soldados do Exército com só 10.000 dos nossos seria imprudente, mas parece que a premissa era de que estaríamos lutando nesta fortaleza. Com quanta antecedência ele se preparou para isso?
— Costumava haver uma fortaleza de frente para a Amidônia neste local — disse ela para ele. — Quando a fronteira mudou de lugar, mais para o oeste, nos tempos do outro rei, ela foi abandonada. O rei atual só a ressuscitou, sabe. E o que é mais… esta é uma fortaleza consideravelmente mais defensável do que a que estava aqui antes.
Foi no dia anterior que Souma enviou seu ultimato a Georg Carmine. Com as negociações fracassadas, ele despachou uma força de 10.000 homens do Exército Proibido para o Ducado Carmine na mesma hora.
O Exército Proibido avançou a uma velocidade que destruía qualquer bom senso que o Exército pudesse ter. Aproximaram-se da cidade central do ducado, Randel, e construíram uma “fortaleza” bem diante dos olhos de todos.
Esse avanço e construção rápidos foram possibilitados graças ao trem terrestre rinossauro. Graças à irmãzinha honorária de Souma, Tomoe, o Exército Proibido tinha um grande número de rinossauros que podiam servir como um sistema de transporte rápido de carga. Graças à capacidade do trem terrestre rinossauro de transportar grandes quantidades de carga, puderam enviar pessoas e recursos em um curto espaço de tempo.
Os materiais para a construção da fortaleza já haviam sido parcialmente preparados na capital real. Usaram um sistema de construção de estrutura desmontável, então as peças só precisavam ser colocadas nos locais designados.
Souma tirou a ideia do Castelo de Uma Noite que Hideyoshi (então conhecido como Tokichiro Kinoshita1Toyotomi Hideyoshi, também grafado Toitomo Hideióxi também chamado Hashiba Hideyoshi, foi um daimyo do Período Sengoku que unificou o Japão. Ele sucedeu seu antigo senhor feudal, Oda Nobunaga, e trouxe um fim ao Período Sengoku. O período de seu governo é muitas vezes chamado de período Azuchi-Momoyama.) construiu em Sunomata. Ou seja, o trem terrestre rinossauro ocupou o lugar do rio Kiso2O rio Kiso é um rio na região de Chubu, no Japão, com aproximadamente 229 km de comprimento, fluindo pelas prefeituras de Nagano, Gifu, Aichi e Mie antes de desaguar na baía de Ise, a uma curta distância da cidade de Nagoya. É o principal rio dos Três Rios Kiso e forma a maior parte da Planície de Nōbi..
Além disso, as tropas do Exército Proibido que construíram a fortaleza possuíam um segredo. Tendo sido enviados sob as ordens de Souma para ajudar na construção da nova cidade e de estradas, cada um dos soldados do Exército Proibido era agora um engenheiro de combate bem capaz.
Os soldados cavavam buracos ou empilhavam terra conforme fosse necessário, cobriam as muralhas que os magos criavam com concreto Romano e montavam os materiais enviados da capital.
Os magos de terra escavavam fazendo fossos, elevavam a superfície do solo para fazer muralhas, usavam magia para endurecer o concreto Romano jogado pelos soldados e usavam magia de reforço para fortalecer as muralhas.
O senso comum ao construir uma fortaleza a céu aberto neste mundo era de que os magos de terra fariam todo o trabalho. Entretanto, como cada membro não mago das forças pessoais do rei era capaz de participar da construção, a velocidade de trabalho foi notavelmente mais rápida.
E, assim, embora o Exército Proibido só tivesse chegado ao local na noite anterior, quando a manhã chegou, a fortaleza já estava pronta. Do ponto de vista do povo de Randel, devia parecer que a fortaleza fora construída em uma única noite.
Historiadores posteriores viriam a chamar isso de “Fortaleza de Uma Noite de Randel”.
Esta blitz de construção foi realizada imediatamente após o ultimato, e o Exército e os nobres corruptos que estavam escondidos em Randel não puderam fazer nada para impedir.
— Mesmo assim, tenho que dar créditos ao Duque Carmine, sabe — disse Kaede. — Os únicos que estão visivelmente nervosos são das tropas privadas dos nobres. O Exército está silenciosamente se movendo para nos cercar.
— Ei! Não exponha o seu rosto! — exclamou Halbert. — Você será atingida por uma flecha perdida!
Kaede estava espiando por uma abertura feita por uma flecha, mas Halbert a puxou.
Justo naquele momento…
Boom!
Ouviram uma incrível explosão nas proximidades.
Halbert viu que Kaede estava prestes a cair para trás, então rapidamente a apoiou. O barulho repentino devia ter pego a garota de surpresa, já que Kaede não parava de piscar.
— O-obrigada por isso, Hal — disse.
— Vamos, fique comigo — disse ele. — Isso foi bem perto, não foi…?
Um feitiço inimigo devia ter acertado as muralhas.
As muralhas foram, tecnicamente, reforçadas por Kaede e outros magos de terra para suportar magia. Ainda assim, caso continuassem recebendo ataques diretos como aquele, elas não iriam durar muito.
Halbert envolveu uma lança de arremesso que estava por perto em fogo mágico, jogando-a em direção ao grupo que pensava ter lançado o último feitiço. A lança de fogo voou como se fosse um míssil, empalando um homem e explodindo para incinerar todo o resto.
— Arghhhhh!
Ele pôde ouvir seus gritos agonizantes mesmo de longe. Vendo que seu dever fora cumprido, Halbert voltou a se esconder na sombra da muralha.
— Espera, calma aí… não acha que o ataque aqui no lado oeste está extremamente intenso? — perguntou ele. — Parece que os outros lados só estão recebendo ataques esporádicos.
— Aqueles são os mercenários Zemezes, sabe… — disse Kaede enquanto espiava por trás da muralha. — Devem ter sido contratados pelos nobres corruptos. Eles estão literalmente com o pescoço em jogo. Se perderem esta batalha, a única coisa que os espera é uma viagem só de ida para o bloco de execução. É uma questão de vida ou morte para eles, sabe. Envolvendo pena de morte e tal.
— Sei que você pensa que está tentando parecer animada, mas aquele me fez estremecer — disse Halbert enquanto disparava sua segunda lança de fogo. Ele não errou o alvo e vários mercenários foram queimados.
— Arghhhhhhhhhhhh!
— Quente, quente!
— Isso queima, queimaaaaaaaaa!
Halbert observou com um sorriso aflito enquanto os mercenários se transformavam em bolas de fogo e rolavam pelo chão.
Para Halbert, esta era a sua primeira batalha real. Embora tivesse muito mais poder do que uma pessoa comum, ele não estava acostumado a matar.
Bem, ao menos é mais fácil do que lutar contra uma unidade do Exército com um monte de gente que conheço, pensou.
Como ex-membro do Exército, Halbert tinha sentimentos complicados a respeito da situação. Devido ao relacionamento próximo com o rei, ele e Kaede estavam entre os poucos que sabiam de toda a verdade por trás desta guerra. Era por isso que entendia o que o rei queria fazer. Ele entendia, mas… seus sentimentos ainda assim continuavam complicados.
— Hal! — gritou Kaede para ele, trazendo-o de volta aos sentidos.
— O que foi, Kaede?!
— Isso é terrível, sabe — disse ela. — Veja o que o inimigo acabou de trazer.
Ela apontou para os canhões gigantes que estavam sendo carregados para o campo de batalha no exato momento. Neste mundo, onde as armas de pólvora nunca foram desenvolvidas graças à existência da magia, as pesquisas sobre canhões para uso em batalhas navais continuaram. Embora não tivessem mobilidade, seu poder destrutivo que não dependia da magia chamou a atenção do Exército. Por isso mantiveram três deles para uso como armas de cerco, onde a mobilidade não seria tão importante.
No momento, a única força em Elfrieden que tinha canhões que poderiam ser usados em terra era o Exército.
— Ah é, eles têm aqueles… — disse Hal. — Eu tinha esquecido.
— Se vão usá-los, então tem que ser nos estágios iniciais da batalha — disse Kaede.
— Bem, por que estão resolvendo usá-los tão tarde assim? — perguntou ele.
— Os nobres corruptos provavelmente os trouxeram por causa do pânico, sabe.
— E isso é ruim…? — perguntou ele.
— É muito ruim — respondeu ela. — O reforço anti-magia só é eficaz contra magia e fogo, sabe. Contra impactos físicos, essas muralhas não passam de terra revestida com “concreto Romano”. São mais duráveis que as normais, mas se ficarem batendo…
Booooom!
Thunk…!
O disparo de um canhão foi acompanhado por um som que parecia que o ar estava sendo sugado, e a bala traçou uma parábola antes de atingir a muralha de pedra e cravar nela. O lugar acertado desmoronou.
As balas de canhão deste mundo eram pedaços de ferro sólido.
Parecia que também tinham pensado em projéteis explosivos, mas, embora fossem coisas chamativas, eram incapazes de infligir danos em muralhas reforçadas contra magia, então havia uma razão histórica para não serem usados. Danos de impacto simples funcionavam bem contra muralhas reforçadas. Os pedaços de ferro que acabaram sendo disparados contra as muralhas eram do mesmo tipo de projétil de grande massa contra os quais elas eram fracas.
Vendo esse poder, Halbert e Kaede se entreolharam.
— O-o que faremos?! — gaguejou Kaede.
— Não me pergunte! Você não pode fazer alguma coisa com a sua magia?! — exclamou Halbert.
— Fiquei sem magia depois de construir a fortaleza! E você, Hal, não pode interceptá-los com um arremesso de lança ou coisa assim?
— Eles são rápidos demais! — gemeu ele. — Isso é como me pedir para acertar uma flecha com uma pedra!
Enquanto ficavam discutindo um com o outro…
— Hmm. Então que tal um arco?
Ouviram uma voz calma dizer acima deles…
— Hein?
Os dois se viraram e se depararam com um jovem elfo negro (embora fosse difícil ter certeza da idade de um elfo, levando em conta apenas a sua aparência) segurando um arco impressionantemente grande. O guerreiro elfo negro preparou uma flecha, apontando-a para cima, em diagonal, e mirando.
Booooom!
Um canhão, mais uma vez, disparou.
Praticamente ao mesmo tempo, o guerreiro elfo negro disparou a sua flecha.
Naquele instante, Halbert e Kaede pensaram ouvir um lamento cortante. O guerreiro elfo negro provavelmente usou um encantamento de magia de vento na flecha. Dois segundos depois, a bala de ferro do canhão foi transformada em pedacinhos em pleno ar. Halbert e Kaede ficaram boquiabertos.
— Hmph — disse o elfo negro. — Mais fácil do que derrubar um falcão migratório.
— Q-quem é você…? — gaguejou Halbert.
— Perdão. Esqueci de me apresentar. Venho da Floresta Protegida por Deus. Meu nome é Sur — disse o jovem elfo negro com um enorme sorriso. — Prazer em conhecê-lo, Sir Halbert Magna.
— C-Como que você sabe o meu nome?
— Você pode não se lembrar, mas quando aconteceu o grande deslizamento na Floresta Protegida por Deus, minha filha estava entre as pessoas que você resgatou com o rei — respondeu Sur. — Depois, quando ouviu o seu nome, ela quis agradecer, mas a força de socorro inicial já havia retornado à capital, então… naquela época…
Booooom!
Smash…!!
— Lamento muito por não ter agradecido de forma adequada por ter salvo a minha filha… — concluiu ele.
Mesmo enquanto falava, Sur foi capaz de precisamente derrubar as balas de canhão que se aproximavam. Eles tinham ouvido que os elfos negros eram excelentes arqueiros, mas isso era mesmo impressionante.
— Não, eu só estava seguindo as ordens de Souma… as ordens do rei… — disse Halbert.
— Mesmo assim, ainda sou grato. Embora eu deva admitir, um pouco irritado, que, encantada com a forma como você parecia ao resgatar as pessoas, minha filha começou a dizer coisas como “Algum dia quero me juntar ao Exército Proibido e às operações de socorro, igual àquele homem.” Ha ha ha.
Mesmo enquanto continuava falando igual qualquer pai faria, Sur derrubava uma bala de canhão depois da outra. Halbert e Kaede ficaram simplesmente pasmos.
— Hm, por que você está aqui? Você não é do Exército Proibido, é? — perguntou Kaede, perplexa.
Diante disso, Sur soltou uma risada jovial.
— Soubemos que Sua Majestade Souma, o salvador de nossa aldeia, estava com sérios problemas. Para pagar as nossas dívidas, nós, guerreiros da aldeia dos elfos negros, fomos enviados ao seu auxílio. Costumamos evitar o envolvimento com o mundo exterior, tanto quanto possível, mas, desta vez, ninguém expressou oposição.
Para pagar uma dívida. Neste momento, as realizações simples e constantes do governo de Souma estavam revelando seus efeitos.
— Fico muito grata por isso, sabe — disse Kaede.
— Eu coço suas costas, você coça as minhas. — Sur deu de ombros. — Isso é algo que aprendemos com vocês, pessoas.
Ao ver o sorriso de Sur, Kaede sentiu a tensão se dissipando, mesmo que pouco.
Temos mais reforços do que imaginei, pensou ela. Nesse ritmo, acho que podemos conseguir nos defender.
O Exército Proibido recebeu mais reforços do que apenas aqueles da aldeia dos elfos negros. Havia também o pai de Halbert, Glaive Magna, e aqueles que, igual a ele, desertaram do Exército. Estavam participando da batalha como soldados voluntários, sendo liderados por Glaive. Combinado com os reforços da aldeia dos elfos negros, havia cerca de 5.000 deles.
Em outras palavras, havia cerca de 15.000 defensores nesta fortaleza.
Ouvi dizer que um atacante deve ter três vezes mais soldados do que o defensor, caso queira vencer em um cerco, pensou Kaede. O Exército teve muitos desertores, o pai de Hal é um deles, mas conseguiram manter seus números em 40.000, já que têm o apoio dos mercenários que os nobres corruptos conseguiram contratar. Seria difícil com apenas 10.000 soldados sob as ordens do rei, mas se adicionar os reforços, acabamos evitando que triplicassem o nosso número. Perceber isso foi motivo para alívio.
Incidentalmente, anos depois, a filha então crescida de Sur cumpriria com a sua palavra. Ela se alistaria ao exército e teria a sorte de ser colocada sob o comando de Halbert. De alguma forma, também astutamente arranjaria seu casamento com Halbert, criando uma situação com a qual Kaede não seria capaz de se sentir aliviada, mas essa é uma história para outra hora.
No momento, a única coisa com que Kaede tinha que se preocupar era em encontrar uma maneira de ela e Halbert sobreviverem a esta batalha.
Então…
— Kaede!
Ouvindo alguém repentinamente chamando o seu nome, ela olhou em direção ao portão, onde viu um grupo de cavaleiros, tanto eles quanto seus cavalos com armaduras de prata. Era a Guarda Real que protegia a capital e o palácio real.
Em pé diante do grupo, parecendo o mais impressionante de todos, estava o Capitão da Guarda Real, que também era o chefe do Exército Proibido, Ludwin Arcs. Ele era loiro e bonito, vestido com uma armadura prateada e montado em um cavalo branco. Era um visual que parecia “bom demais para ser verdade”, e Halbert o invejava por isso.
Algum dia quero ser assim… Ele sentia um poderoso desejo de fazer um nome para si mesmo.
Enquanto isso, Kaede não prestava atenção a sua figura arrojada e se aproximava furiosamente de Ludwin.
— O que você acha que está fazendo? Você é o nosso comandante-chefe, sabe!
— Lamento, Kaede — disse ele. — Assuma o comando daqui por algum tempo. Vamos lidar com aquelas coisas barulhentas. — Ludwin apontou com sua lança em direção aos canhões.
Kaede apertou a própria cabeça.
— Temos o Hal para essas tarefas menores, sabe!
— Ei! — exclamou Halbert.
— Ha ha ha, não seja assim — disse Ludwin. — Em comparação com os soldados que trabalharam tanto para construir esta fortaleza e defendê-la, nós, da Guarda Real, não tivemos nenhuma chance de nos exibir até agora. Se não consertarmos isso, será ruim para a nossa aparência.
— A aparência… os homens são todos estúpidos assim? — inquiriu Kaede.
— Ha ha ha, você entendeu — gargalhou Ludwin. — Bem, deixarei o resto com você.
Antes que Kaede pudesse dizer qualquer outra palavra, Ludwin começou a berrar ordens para a Guarda Real.
— Abram os portões! Os alvos estão logo à frente, são os três grandes canhões! Voltaremos após serem destruídos! Ignorem os soldados inimigos: não os persigam demais! Concentrem-se apenas na destruição dos alvos!
— Sim senhor!
— Se o caminho for bloqueado, usem a lança para chegar ao destino! — ordenou Ludwin. — Se alguém tentar interferir, pisoteiem com os cascos dos cavalos! Nós somos a lança que defende este país! Somos os porta-vozes da dignidade de Sua Majestade! Corram e não sejam detidos por nada!
E, assim, os portões foram abertos.
— Vamos lá! Vamos mostrar a eles que a Guarda Real não está aqui só de enfeite! — gritou Ludwin.
— Sim senhor!
Com a intensidade de uma barragem sendo rompida, a Guarda Real avançou.
Os mercenários no ataque entraram em pânico diante desse contra-ataque repentino, rompendo suas fileiras. Não podiam mais impedir o ataque da Guarda Real. Alguns foram empalados pelas lanças de Ludwin e seus homens, outros foram pisoteados sob os cascos dos cavalos.
Muitos deles eram mercenários que os nobres corruptos contrataram ao usar todas as suas riquezas pessoais. Eles eram individualmente fortes, mas não trabalhavam muito bem em grupo. Sem uma estrutura de comando unificada, cada um tomava as suas próprias decisões.
Por trabalharem visando apenas o dinheiro, careciam de lealdade ou patriotismo. Quando suas vidas ficavam em risco, não demoravam a fugir. Como resultado, eram especialmente inadequados para enfrentar uma força como a de Ludwin, que era disciplinada e podia se mover com uma vontade única. Os mercenários não podiam parar o grupo de forma individual, mas também não podiam trabalhar em conjunto com seus aliados. Com os mercenários sendo abatidos, um seguido do outro, quebraram suas formações e fugiram.
Então, quando Ludwin e seus homens alcançaram os canhões abandonados, os incendiaram.
Sua Majestade provavelmente reclamará do desperdício… mas são poucas as escolhas, pensou Ludwin.
Ele sentiu que era um desperdício, mas não podiam simplesmente deixá-los ali, e não podiam se dar ao luxo de perder o tempo que seria necessário para arrastar armas com tão pouca mobilidade por aí. A única opção era destruí-los.
Enquanto a Guarda Real lentamente fazia o seu triunfante retorno, houve um rugido alto enquanto os canhões explodiram logo atrás, soltando uma enorme nuvem negra de fumaça.
Pulando direto para a conclusão, o Exército retornou a Randel ao pôr do sol, incapaz de realizar qualquer coisa durante o dia. Se olharmos apenas para os resultados da batalha, podia ser considerada uma vitória para os supostos defensores.
Entretanto, aquele que foi o verdadeiro agressor acabou por ser o Exército Proibido. Não importa quantas batalhas defensivas ganhassem, acabariam ficando desgastados.
Isso estava claro para todos.
Naquela noite, na sala de reuniões do castelo de Georg Carmine, mais de uma dúzia de nobres pressionava o duque por respostas.
— Duque Carmine! O que foi que houve?! Como pode o Exército estar tão desmotivado?! — exigiu saber um nobre corrupto.
— De fato — disse outro com raiva. — Isso não faz o tipo de alguém como você, que já foi temido como um deus feroz do campo de batalha.
— Éramos os únicos levando a batalha a sério! — exclamou outro nobre.
Esses homens todos fugiram assim que Souma os acusou de corrupção. Eles tinham se reunido, iguais a mariposas ao fogo, sob a bandeira de Georg, que deixou clara a sua oposição ao rei.
Tendo desviado mais do que seriam capazes de pagar, e agora até mesmo se rebelando contra o rei, não tinham para onde fugir. Se perdessem a guerra para Souma, seria o fim deles. Era por isso que gastaram suas fortunas pessoais com mercenários Zemeses e desafiaram o Exército Proibido.
Entretanto, não estavam satisfeitos com a forma como Georg lutou.
O Exército tinha sido passivo demais durante a batalha. Sabiam que o moral dos soldados ficaria baixa por lutar contra as forças do rei, mas Georg não havia demonstrado intenção de sequer tentar encorajar as tropas. Essa atitude era diferente do seu usual, conhecido por suas ofensivas implacáveis, e irritou os nobres.
— O Exército está cheio de bundões covardes! — disparou um dos nobres. — A batalha com o rei já começou!
— Mostre-nos o poder que tornou o nome de Georg Carmine famoso em todo o reino!
— Ou vai nos dizer que agora está com medo?! — gritou outro.
— Oh…? — Georg encarou os nobres. Isso por si só foi o suficiente para encerrar as discussões, fazendo-os ficar em silêncio e dar um passo para trás, afastando-se. — De quem acham que eu tenho medo?
O silêncio reinou.
Com essas simples palavras, Georg assumiu o controle do ambiente.
Enquanto olhava para cada um dos nobres, que ficaram sem palavras diante da intensidade do general feroz, Georg falou em um tom calmo e composto:
— Algum de vocês entende a situação? O inimigo tem apenas dez, talvez vinte mil soldados. Foi uma verdadeira surpresa terem construído aquela fortaleza durante a noite, mas se nos aproximarmos com calma, são eles que acabarão se encontrando pressionados. Qual é a necessidade para atacar de forma imprudente?
— S-se for o caso… se são apenas dez mil, não deveríamos forçar um ataque e derrotar todos de uma só vez? — Um dos nobres reuniu coragem para falar, mas Georg apenas bufou com desdém.
— Você tentou isso e foi derrotado, não foi? — perguntou ele. — Além do mais, você pegou até três canhões do arsenal e, logo depois, fazendo aquelas burrices, eles foram destruídos.
— Urgh… Não posso pedir suficientes desculpas por isso. — O nobre que havia falado encolheu-se sob o olhar de Georg.
Na verdade, usar os canhões foi uma decisão tomada pelos nobres corruptos, frustrados por não conseguirem tomar a fortaleza. Haviam usado seus títulos para intimidar o encarregado pelo arsenal, forçando-o a emprestar as armas. Como resultado, perderam três canhões a troco de nada. Graças a isso, o Exército passou a ver as forças dos nobres com desprezo.
Georg continuou:
— Houve outra coisa que achei preocupante. Não pude sentir Souma naquela fortaleza.
— Ele não deixou a guerra para os vassalos, ficando todo trêmulo na capital real? — perguntou um dos nobres corruptos.
— Acha que aquele rei poderia fazer isso? — perguntou Georg. — Mesmo que não possamos vê-lo, ele com certeza está fazendo alguma coisa. É por isso que precisamos atraí-lo para o lado de fora.
— Em outras palavras, quer usar os soldados daquela fortaleza como isca? — perguntou um nobre.
Georg assentiu diante da sugestão.
— No momento, não há como saber onde Souma está ou o que ele está tramando, mas se deixar as tropas que enviou para morrer, tanto os soldados quanto o povo o abandonarão. Eventualmente, não terá escolha a não ser aparecer neste campo de batalha. Quando ele fizer isso, só precisaremos esmagá-lo junto com os soldados da fortaleza. — Ele sorriu.
Georg era um homem-fera com cabeça de leão. Quando sorria, suas presas acabavam expostas.
Quando os nobres as viram, sentiram um arrepio correndo pela espinha. Eles sabiam, ao menos, que jamais deveriam tornar este homem em um inimigo.
Georg levantou de seu assento.
— Entretanto, vocês todos devem estar cansados do ataque de hoje. Esta não é uma batalha que terminará amanhã ou depois. Nós, do Exército, vamos lidar com o ataque sozinhos, então podem aproveitar o dia de amanhã para descansar.
— S-Sim senhor!
Tendo recebido essas palavras confiantes de Georg, os nobres baixaram as cabeças e saíram da sala de reuniões.
Assim que o fizeram, um único homem entrou, como se trocando de lugar com eles.
— Perdoe-me, Duque Carmine.
— Beowulf… — disse Georg.
O nome do homem era Beowulf Gardner. Ele era um homem-fera com cara de lobo que usava um uniforme militar preto. No exército, ele e Glaive Magna, agora um desertor, eram os dois mais próximos de Georg Carmine. Ele era o atual segundo em comando.
Usando poucas palavras, Georg perguntou:
— Os preparativos estão completos, devo presumir?
— Sim senhor! Está tudo preparado.
— Bom.
Enquanto Beowulf o saudava, Georg acenou com a cabeça satisfeito, mostrando um enorme sorriso.
Enquanto isso, por volta do mesmo horário, Halbert e Kaede estavam sentados lado a lado, comendo juntos.
Estavam comendo a invenção de Souma, “udon de gelin instantâneo”.
O gelin udon primeiro era fervido, e depois bem temperado e seco. Quando queriam comer isso, jogavam água fervente por cima da porção e esperavam um minuto. (Isso absorvia a água mais rápido do que ramen instantâneo). Contanto que tivessem um copo de água fervente, poderiam comer em qualquer lugar. Graças a essa conveniência, isso era bem visto pelos soldados do Exército Proibido, que o recebiam como parte de suas rações.
— Ser capaz de comer essas coisas até em campo… slurp… é bom, não é? — comentou Halbert.
— Sua Majestade estava reclamando… slurp… “Eu queria fritar, mas sempre que coloco no óleo acaba derretendo! Mesmo comigo preferindo o sabor salgado do macarrão frito!”, sabe — disse Kaede.
— Realmente não entendo… slurp… por que ele seria tão exigente quanto a isso — disse Halbert.
Assim que terminaram a refeição enquanto conversavam, Kaede se encostou ao ombro de Halbert. O cheiro do cabelo dela, tão próximo, fez o homem piscar sem parar, confuso.
— E-ei, Kaede. O que você está fazendo?
— Hee hee. Hal, estou feliz, sabe.
— Hein?! Por quê?! — exclamou ele.
— Ter você ao meu lado, assim — disse Kaede com uma risadinha. — Fico feliz que tenha vindo para o Exército Proibido. Se você ainda estivesse no Exército, poderíamos ter nos tornado inimigos, sabe. Podíamos não estar aqui.
— Sim, mas, graças a isso, estou cercado por 40.000 soldados do Exército — disse ele.
Kaede sorriu ao ver Halbert esfregando a ponta do nariz, todo tímido, ao dizer isso.
— Será tudo decidido entre hoje e amanhã, sabe — disse ela. — Se pudermos resistir por esse tempo…
— Então o quê? — perguntou ele.
— Se superarmos isso, espero que o resto dê certo.
— Não mude de assunto! — exclamou ele. — Se vai dizer esse tanto, então conte logo o resto!
— Então certifique-se de me proteger, viu? Hal.
Com sua amiga de infância pedindo de um jeito tão fofo, Halbert coçou a cabeça com vigor.
— Ugh, tudo bem, eu entendi! Vou te proteger e tal!
— Estou contando com você, sabe, Hal — disse ela.
Em uma fortaleza no meio do campo de batalha, os dois se aninharam juntos e sorriram.
– 1º Dia, 10º Mês, 1.546º Ano, Calendário Continental –
A noite chegou ao fim e o Exército retomou o ataque.
No entanto, ao contrário do acontecido no dia anterior, surgiram apenas ataques esporádicos por todos os lados.
Enquanto flechas e magia voavam para todos os lados, não havia unidades tentando pressionar com força no ataque. Halbert ficou um pouco perplexo com a súbita mudança para um modo de luta tão passivo após os acontecimentos do dia anterior.
— O inimigo de repente diminuiu a intensidade — disse ele.
— Também não vejo nenhum mercenário de Zem — disse Kaede, estudando o inimigo. — A mudança nos avanços pode significar que o inimigo está optando por uma guerra de desgaste.
Halbert girou os ombros em círculos.
— Nesse caso, as coisas devem ficar um pouco mais fáceis.
— No campo de batalha é necessário estar sempre vigilante, Hal — disse ela. — Se não fizer isso, pode acabar sendo pego em uma armadilha, sabe.
— Eu sei…
E, assim, os ataques esporádicos do Exército começaram. Então, quando o sol chegou ao zênite, aconteceu.
O soldado no posto de vigia gritou:
— Várias unidades wyvern avistadas no céu a leste! É a Força Aérea!
Quando Halbert e Kaede olharam para o céu, alarmados com a voz do vigia, viram vários milhares de wyverns voando em sua direção, todos em formação.
Halbert inconscientemente forçou Kaede a ficar ao seu lado, puxando-a.
Ela colocou a própria mão sobre a que Halbert levou ao seu ombro, dizendo:
— Está tudo bem, Hal — e mostrando um sorriso gentil —, ganhamos a aposta, sabe.
Os wyverns passaram pela fortaleza onde estavam, voando em direção a Randel.
Lições das Expressões Históricas de Elfrieden: Número 2
“Fortaleza de Uma Noite de Randel”
Tipo: Estratagema
Significado: Usar tudo ao seu dispor para atingir um objetivo.
Origem: Quando o Rei Souma estava subjugando a rebelião de Georg, fez uso das capacidades do Exército Proibido como engenheiros de combate para reviver uma fortaleza abandonada.
Sinônimos: Trinta e Seis Estratagemas, 14º estratagema, “Use um cadáver para ressuscitar a alma”.
Tradução: Taipan
Revisão: PcWolf
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