Aconteceu na Sala de Voz da Joia, no Castelo Parnam.
Nesta sala em que flutuava a joia de dois metros de diâmetro usada para a Transmissão de Voz da Joia, também havia o equipamento para receber uma Transmissão de Voz da Joia. Os receptores em cada cidade usavam equipamentos instalados em fontes para produzir névoa, então usavam magia do tipo água para reproduzir o vídeo gravado e magia do tipo vento para reproduzir o som. O sistema desta sala, entretanto, projetava a imagem em um equipamento que era como um tanque grande e com uma fina camada de água.
Para diferenciar um do outro, eu estava chamando este de “receptor simples”.
Se o receptor da fonte fosse como um teatro, poderia dizer que este era como uma televisão. O receptor simples também produzia uma imagem mais nítida. As joias eram itens raros encontrados em masmorras, então parecia que não seria possível a produção em massa, mas talvez pudéssemos produzir esses receptores simples em grande quantidade. Se isso pudesse ser feito, algum dia as famílias talvez pudessem assistir à Transmissão de Voz da Joia em suas próprias casas.
De qualquer forma, retornemos à história. Havia três receptores instalados nesta sala.
Os três mostravam os rostos do General do Exército Georg Carmine, que era um homem-fera leão, do General da Força Aérea Castor Vargas, que era um dragonato, e da Almirante da Marinha Excel Walter, que era uma serpente marinha. Eu tinha certeza de que, do lado deles, também tinham uma projeção de mim e Liscia juntos.
— É a primeira vez que nos encontramos cara a cara, hein…? — falei. — Sou aquele a quem o anterior Rei de Elfrieden, Sir Albert, confiou o trono, o rei provisório, Souma Kazuya.
— Você é… — Após a minha apresentação, Castor arregalou os olhos, surpreso.
— Algum problema? — perguntei.
— Não, só que ouvi que você era um herói convocado de outro mundo, então esperava alguém mais forte e robusto…
— Duque Vargas! — interferiu Excel, como se o repreendesse. — Se você se considera um guerreiro, deve sempre mostrar o respeito adequado por aqueles com quem deve lidar.
Após a repreensão de Excel, Castor humildemente disse o seu nome.
— Certo… Sou o General Castor Vargas da Força Aérea.
Segundo as minhas informações, Castor era genro de Excel. A razão pela qual ele estava agindo com mais humildade do que eu havia escutado que costumava agir (alguém só com músculos na cabeça), podia ser por causa da dinâmica de poder entre eles.
— Peço desculpas por ter levantado a minha voz… — disse a serpente marinha, fazendo uma reverência para acompanhar as suas palavras. — É um prazer conhecer, Vossa Majestade. Me chamo Excel Walter, ao seu serviço.
— Sou o General do Exército Georg Carmine — disse brevemente o homem-fera.
Isso encerrou as apresentações.
Este homem-fera com cara de leão é Georg Carmine, hein…?, pensei.
Ele tinha um físico bem construído com o qual um cara comum como eu não poderia se comparar, uma juba que servia para acentuar a sua masculinidade e, por último, os olhos brilhantes e ferozes de um leão. Mesmo que eu estivesse vendo apenas a imagem transmitida dele, parecia que estava na mesma sala que eu.
Eu podia entender por que Liscia o admirava. A sua aparência era a de um guerreiro experiente.
— Duque Carmine… — começou Liscia, mas o duque não disse nada.
Ela soltou o nome dele sem querer, mas Georg sequer olhou em sua direção.
— Irei agora dar um ultimato aos três duques. — Para evitar que fosse oprimido pela presença de Georg, fiz este pronunciamento em um tom bem claro. — Desde que assumi o trono, todos vocês falharam em responder aos meus constantes pedidos de cooperação. Embora tenha sido ideia do próprio Sir Albert, tenho certeza de que a rapidez com que o trono mudou de mãos deve ter contribuído para isso. Assim sendo, não irei responsabilizá-los por não obedecer os meus comandos até então. Entretanto, caso continuem a ignorar as minhas ordens, não terei escolha a não ser declará-los traidores. Gostaria de ouvir suas opiniões a respeito.
— Tenho algo a perguntar, senhor. — A primeira a abrir a boca foi Excel.
— E o que seria…? — perguntei.
— O que você pretende fazer a respeito dos três ducados?
Fitei os olhos da imagem de Excel. Como era de se esperar da mulher que herdou o sangue das serpentes marinhas, seus olhos eram infinitamente frios, parecendo encarar as profundezas do meu coração.
— Se vocês me obedecerem… Não tenho intenção de tocar nos três ducados — falei.
Ela fez, na mesma hora, outra pergunta:
— E quanto aos três exércitos ducais?
Sua capacidade de ir direto ao cerne da questão me impressionou.
— Os três exércitos ducais serão agrupados ao Exército Proibido para criar um novo exército unificado… — falei. — Além disso, os nobres feudais serão proibidos de manter forças particulares além das que forem necessárias para o policiamento. As tropas excedentes também serão incorporadas ao Exército Proibido. De acordo com isso, os direitos especiais concedidos aos três ducados para manter um exército serão revogados. Doravante, serão tratados da mesma forma que qualquer outro nobre feudal.
— Então, no final das contas, é isso… — murmurou Excel.
— Entende o que está tentando fazer, certo…? — disse Castor, olhando para mim.
— Castor… — Excel parecia estar tentando repreendê-lo por sua atitude, mas Castor levantou a mão para impedi-la.
— Isso é importante, Duquesa Walter.
Quando ele respondeu com um tom de voz sério, Excel fechou a boca, de pura má vontade.
Tomando isso como um sinal de aquiescência, Castor me encarou e falou:
— Os três exércitos ducais formam um sistema estabelecido para evitar a ascensão de um tirano. Este é um estado multirracial, mas a família real é humana. Se um tirano subisse ao trono e instituísse políticas que favorecessem os humanos, as outras raças poderiam enfrentar a opressão. Para evitar isso, nossos predecessores criaram os três exércitos ducais. Nós, três duques de raças diferentes, apoiamos a família real, mas também a monitoramos, para que possamos intervir e depor um tirano, caso necessário. Está dizendo que quer destruir esse sistema?
Era uma pergunta direta, então olhei Castor nos olhos e respondi:
— Em tempos de paz, esse seria um ótimo sistema, tenho certeza. Entretanto, o mundo atual está repleto de instabilidades. Embora a expansão do Domínio do Lorde Demônio para o norte tenha parado, não há como dizer quando isso pode mudar repentina e drasticamente. As intenções da grande potência a oeste, o Império Gran Caos, também permanecem desconhecidas. O Principado da Amidônia, que anseia por vingança contra este país, e a República de Turgis, com sua política de Vá para o Norte, estão constantemente buscando qualquer abertura para tomar o nosso território. As disputas com a União do Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças ao nosso leste a respeito dos direitos de pesca também seguem intermináveis.
Eu estava falando sobre a atual situação deste país. Uma incrivelmente instável. Para ser sincero, não tínhamos tempo para essas disputas idiotas.
— Veja a situação do mundo, Duque Vargas — continuei. — Nesta situação instável, um exército com múltiplas estruturas de comando não terá um desempenho sequer perto de bom o bastante. É o momento para centralizar o poder.
— E se o centro estiver errado? — demandou ele. — Como pode dizer que com certeza não vai se tornar um tirano? Se deixarmos todo o exército em suas mãos, quem poderia contê-lo?
— Se isso acontecer, então venha você mesmo pela minha cabeça! — Bati minhas mãos com força na mesa, sabendo que era nesse momento que eu teria que lutar.
Pelo canto do olho, pude ver a imagem de Georg, seus olhos fechados e os braços cruzados. Aquele homem… Ele não iria mais parar. Entretanto, isso só tornava ainda mais importante que eu ganhasse Castor e Excel para o meu lado.
— Sou apenas um humano — falei. — Não posso garantir que não vou me tornar um tirano. Claro, dito isso, não tenho intenção de fazer nada que possa deixar Liscia e as outras tristes.
— Souma… — disse Liscia bem baixinho, mas continuei.
— Estarei desmantelando os três exércitos ducais, mas prometo manter suas posições dentro da força de defesa nacional. Assim sendo, caso eu me torne um tirano, então liderem os exércitos e encenem uma revolução, ou façam o que preferirem.
— Falar é fácil — disse Castor. — Se essa hora chegar, você não se moveria para se proteger?
— Há um pensador político do meu mundo, Maquiavel, que tinha algo a dizer sobre isso. “A melhor fortaleza existente é não ser odiado pelo povo.” Se as pessoas estiverem ao seu lado, qualquer um que planeje uma rebelião será rapidamente desmascarado. Por outro lado, se o povo o abandonar, pode esperar por uma rebelião ou duas, pode inclusive se esconder em um castelo, mas nunca haverá a falta de estrangeiros dispostos a ajudar um povo que pega em armas contra o governante. Se eu me tornasse um tirano, fazendo com que as pessoas me abandonassem, uma rebelião seria facilmente bem-sucedida.
Castor me ouvia falar em silêncio.
Minhas palavras estavam o alcançando…? Bem, neste ponto, eu não tinha como ter certeza.
Então, Excel falou:
— Gostaria de fazer uma pergunta a mais. Ouvi dizer que você está construindo uma nova cidade costeira. Quando essa cidade estiver pronta, o que acontecerá com a Cidade Lagoon?
A Cidade Lagoon era a cidade central do Ducado Walter.
Eu tinha ouvido falar que para Excel e sua raça, as serpentes marinhas, a Cidade Lagoon estava sempre em primeiro lugar. As serpentes marinhas, pelo visto, foram expulsas de seu antigo lar, o Arquipélago do Dragão de Nove Cabeças, e a Cidade Lagoon foi o lugar que encontraram para viver em paz depois de muitos anos vagando, ou coisa assim.
Como não queria incorrer na ira do povo das serpentes marinhas, fiz questão de me esclarecer com cuidado.
— A nova cidade está sendo planejada como destino turístico e porto comercial. Porque, do ponto de vista administrativo, a indústria do turismo e um porto militar se misturam incrivelmente mal, então não tenho qualquer intenção de que a nova cidade opere como um porto militar. Portanto, a Cidade Lagoon provavelmente continuará servindo a isso. Devo deixar, também, a construção de navios de guerra para a Cidade Lagoon.
Se a Cidade Lagoon fosse um porto militar e a nova cidade fosse um porto comercial, cada uma teria o seu próprio papel distinto. Deve ser possível que, assim, coexistam e prosperem juntas. Quando expliquei, Excel acenou com a cabeça, satisfeita.
— Ouvir isso me deixou à vontade. Senhor, a partir de agora, eu, Excel Walter e a Marinha de Elfrieden estamos sob seu comando. Aguardamos ordens.
Com essas palavras, a Duquesa Walter ajoelhou-se, jurando lealdade a mim como vassala. Isso significava que os 10.000 sob o comando de Excel na Marinha estavam agora do meu lado.
— Agradeço a sua sábia decisão, Duquesa Walter — falei. — Por favor, continue a trabalhar por esta nação.
— Continuarei.
Quando Excel se colocou a meu serviço, a expressão de Georg não mudou nem um pouco e Castor olhou com o que parecia resignação. Mais uma vez, tentei estender a mão para Castor.
— Duque Vargas. Por favor, empreste-me a sua força, pelo bem deste país.
— Sinto muito, mas não posso fazer isso…
— Castor! — repreendeu Excel.
Apesar disso, o homem balançou a cabeça, em silêncio.
— Você parece ter decidido confiar nele, Duquesa Walter, mas… Eu não posso. Protejo Elfrieden desde o tempo do rei antes do último. Eliminei invasores estrangeiros, tomando território deles, por quase cem anos. Apesar disso, por que o Rei Albert não nos consultou antes de passar o trono para outro, um outro que apareceu do nada…?
— Sim… Eu também gostaria dessa resposta. — Sem pensar, deixei que meus verdadeiros sentimentos escapassem. Desde que subi ao trono, trabalhei desesperadamente para evitar ser entregue ao Império e para salvar este país da sua crise.
Fiquei ocupado demais para pensar nisso, mas por que o velho de Liscia se apressou tanto para me entregar o trono, sendo que eu havia acabado de ser invocado? Neste país, um herói era aparentemente “aquele que lidera a mudança de uma era”, mas isso era mesmo tão confiável assim?
Castor tentou perguntar a Liscia, que estava ao meu lado.
— Princesa Liscia, você sabe de alguma coisa?
— Sinto muito… — disse ela. — Com relação a esse assunto, meu pai insiste que não irá se envolver. Pedi que ajudasse e convencesse vocês três, mas… Tudo o que ele diz é “Se eu agisse, isso causaria suspeitas desnecessárias. Sir Souma é que é o atual rei.”
— Entendo…
Castor parecia confuso e incapaz de entender quais eram as intenções do rei anterior, mas eu estava na mesma. Eu não fazia a menor ideia do que ele estava pensando. Isso foi algo que me fez pensar, mas… Sabia que, neste local, neste momento, não conseguiria nenhuma resposta.
Precisava me concentrar em persuadir Castor. Era nisso que eu estava pensando, mas…
— Simplesmente não consigo me fazer servi-lo — disse Castor, mais uma vez me rejeitando.
— Duque Vargas… — Comecei a falar.
— Não diga mais nada — disse ele. — Considerando que a Duquesa Walter concordou em obedecê-lo, sei que deve haver algum mérito no que você diz. Entretanto, não posso imaginar que o Duque Carmine ergueria oposição sem um bom motivo. Se a Duquesa Walter diz que está do seu lado, eu fico do lado do Duque Carmine.
Parecia ser uma decisão difícil para ele, já que Castor tinha uma expressão de dor no rosto. Uma vez que vi aquela expressão… Soube que não havia mais nada que pudesse dizer.
— É essa… a sua decisão, não é? — perguntei.
— Sim. Entretanto, é uma decisão apenas minha. Aqueles que estão do lado do Duque Carmine somos eu e cem das minhas tropas pessoais. Não convocarei as demais unidades da Força Aérea. Permanecerão neutras. Se… eu for derrotado, por favor, tome conta das que ficarem para trás.
— Entendo…
Ele agia com a suposição de que poderia perder. Se fosse esse o caso… não havia nada que eu pudesse dizer.
— Senhor, Castor é… — Excel tentou falar em sua defesa, mas levantei a mão para ela parar.
— Não adianta — falei. — Não posso perder mais tempo com isso.
— Urkh…
Eu entendia como Excel devia se sentir, mas os eventos já estavam encaminhados. Não poderia perder ainda mais tempo tentando persuadi-lo.
No final, eu não tinha Castor e a Força Aérea do meu lado. Isso tornaria as coisas muito mais difíceis, mas a maior parte da Força Aérea ao menos permaneceria neutra.
Tentando mudar de marcha para lutar contra a decepção, virei para o último dos três, Georg.
— Pois bem, General do Exército Georg Carmine.
O feroz general homem-fera com cabeça de leão olhou para mim. Embora estivéssemos conversando por meio de um monitor, ele era incrivelmente intimidante. Se eu houvesse o encontrado pessoalmente, minhas pernas teriam começado a tremer e eu teria feito uma tremenda de uma exibição patética.
— Duque Carmine — falei. — Não vou perguntar se você vai me obedecer. No momento em que abrigou os nobres investigados por corrupção, ficou claro que não tinha qualquer intenção de me obedecer. Tentar te persuadir é perda de tempo.
Ele não disse nada.
— Então, gostaria de lhe perguntar uma coisa — falei. — O que é que te levou a isso?
— Meu orgulho como guerreiro. — Essa foi a resposta de Georg. — Tendo mais de cinquenta anos de idade, meu corpo, a partir daqui, só ficará mais fraco, mas agora recebi a maior de todas as oportunidades. Vou decidir o destino de Elfrieden com minhas próprias mãos. Ao menos uma vez na vida, o desejo de todo guerreiro é realizar algo que será relembrado pelas gerações futuras.
— Por algo tão mesquinho assim… — murmurei.
Ele havia planejado tudo isso por razões tão simples como a frase da peça Noh1Nō, nô, nou ou noh (能; habilidade, talento) ou ainda nōgaku (能楽; talento que vem com facilidade) é uma forma clássica de teatro profissional japonês que combina canto, pantomima, música e poesia. Executado desde o século XIV, é uma das formas mais importantes do drama musical clássico japonês. Atsumori2Atsumori é uma peça japonesa Noh que se concentra em Taira no Atsumori, um jovem samurai que foi morto na Guerra de Genpei e seu assassino, Kumagai Naozane., “A vida humana dura apenas 50 anos”? Ele sabia como isso entristeceria Liscia, mas, ainda assim, era o único caminho que poderia escolher?
— Não consigo entender — falei. — Você é… um incrível tolo.
— Foi uma pergunta boba — respondeu ele. — Não é possível ser um guerreiro sem também ser um tolo. Quero que você testemunhe como eu vivo.
— Tem certeza de que não quer dizer como você morre?
— São ambas, uma e outra a mesma coisa — disse ele. — Aqueles que desejam viver morrem; aqueles que desejam morrer vivem. É isso que significa ser um guerreiro.
Ele falou com uma voz resoluta que lembrava o rugido de um leão. Não deu qualquer sinal de vacilo.
Assim sendo, eu também não poderia vacilar.
— Se quer ser uma grande árvore bloqueando o meu caminho, irei passar por cima de você — falei.
— Por mais apodrecido que possa estar, sou uma árvore com raízes fortes — respondeu ele. — Você não vai passar por cima de mim com uma resolução qualquer.
— Eu tenho determinação! — Há muito tempo eu havia encontrado a resolução para manchar as minhas mãos de uma vez com essa crueldade. — Georg Carmine e Castor Vargas.
O Duque Carmine não disse nada.
— O quê? — perguntou o Duque Vargas.
— Como em breve entraremos em batalha, tenho uma proposta — falei. — Duvido que algum de nós queira que esta guerra se arraste indefinidamente, envolvendo o povo que nada tem a ver com ela. É por isso que quero colocar uma regra em vigor. “Se um de nós for abatido ou capturado, os subordinados dessa pessoa ficarão imediatamente sob o comando do outro lado.” O objetivo é evitar que um exército perca o seu líder e busque vingança ou continue se rebelando.
Quando ouviram a minha proposta, ambos concordaram.
— Muito bem — disse Georg.
— Estou de acordo com isso — concordou Castor. — Irei informar meus homens que, caso eu caia, toda a Força Aérea deverá obedecê-lo.
— Obrigado…
— Agora, irei me retirar. — Georg se levantou de seu assento, movendo-se para encerrar a transmissão.
— Espera! — explodiu Liscia, depois de ficar o tempo todo quieta.
Georg semicerrou os olhos.
— Princesa…
— Duque Carmine…
Cada um se dirigiu ao outro, mas nenhum dos dois conseguiu encontrar palavras além dessas. Apenas se fitaram em silêncio.
Liscia e Georg. No palácio, eram princesa e vassalo. No exército, eram subordinada e superior. Só por isso, deveriam ser capazes de encontrar uma forma de se entender.
Por algum tempo, os dois se entreolharam em silêncio, mas então, no momento seguinte, Liscia sacou o florete que mantinha na cintura.
Enquanto eu ficava surpreso com a rapidez disso, ela levou a lâmina à parte de trás de sua cabeça, cortando seu rabo de cavalo loiro platinado.
Espera, quêêêê?!
Seu cabelo, seus fios dourados, caiu ao chão.
Foi tão repentino que não só eu, como também os três duques, ficamos sem palavras.
Liscia de repente ficou com um corte de cabelo meio curto, mas não deu mostras de que se importava. Após isso, ela empurrou seu florete em direção à joia. Então disse:
— É esta a minha decisão. Irei caminhar ao lado de Souma. — Ela declarou isso com olhos inabaláveis.
No começo, Georg ficou tão pasmo quanto eu, mas seus olhos logo brilharam e ele sorriu como um carnívoro encontrando a sua presa.
— Eu vi a sua resolução, princesa. Entretanto, devo pedir que me mostre essa resolução no campo de batalha.
— Espere por isso.
Os dois pareciam ter se entendido. Eu mesmo não conseguia compreender, mas isso provavelmente era só a forma como os guerreiros se comunicavam. A reunião acabou com todos surpreendidos por Liscia, mas… De qualquer forma, foi o fim do ultimato aos três duques.
— Está tudo bem… cortar o cabelo assim? — perguntei a Liscia logo após a transmissão para Georg e Castor acabar.
Com o ultimato aos três duques terminado, Aisha, que havia voltado da aldeia dos elfos negros, assim como Hakuya, Poncho e Tomoe, entraram na Sala de Voz da Joia. Quando notaram a mudança na aparência de Liscia, todos (exceto Hakuya; ele não mostrou qualquer mudança de expressão) arregalaram os olhos de surpresa.
Liscia brincou com as pontas de seu cabelo recém-cortado, corando.
— Fiz isso para deixar a minha posição clara. O visual novo não combina comigo…?
— Não, acho que combina com você — falei. — Certo, gente?
Todos concordaram com a cabeça.
— Você ficou com um semblante maravilhosamente galante, Princesa — disse Aisha.
— Também acho que o cabelo curto ficou bonito em você — disse Hakuya.
— I-isso combina com você, eu acho, sim — disse Poncho.
— Ficou fofo, Irmãzona — disse Tomoe.
Com todas essas pessoas a elogiando, o rosto de Liscia enrubesceu de vergonha. (Embora ela não parecesse se importar tanto com a atenção.)
A atmosfera na sala estava suavizando, quando…
— Senhor…
A única dentre os três duques que continuava conectada, Excel, me chamou…
— Minhas desculpas, Duquesa Walter… — falei.
— Não, eu já jurei a minha vassalagem a você, senhor. Por favor, me chame de Excel.
— Excel, então. Sinto muito — falei. — Por não ser capaz de convencer Castor.
— Não havia nada que você pudesse ter feito. Ele já havia tomado a sua decisão. — Ainda assim, os cantos da boca de Excel estavam tensos com a frustração.
Diziam que essa linda mulher, que parecia ter só vinte e poucos anos, tinha, na verdade, quinhentos, e que Castor era seu genro e que sua neta estava do lado dele. Sua família estava dividida entre lados opostos do conflito, então era perfeitamente natural que pensasse nisso como algo lamentável.
Ah, é mesmo. Falando na família de Excel…
— Excel. Ela está aí com você? — perguntei.
Excel prendeu a respiração bruscamente.
— Sim… Está.
— Chamou, Vossa Majestade? — Outra beldade de cabelos azuis apareceu, parada ao lado de Excel na tela. Ela tinha um rosto pelo qual qualquer um se apaixonaria, um estilo impecável e um ar que parecia mais maduro do que o condizente com a sua idade. Sim, era a cantora lorelei cuja popularidade estava aumentando em todo o Reino de Elfrieden, a Senhorita Juna Doma em pessoa.
— Obrigado, Juna — falei. — Como você nos atou a ela, não tivemos que lutar com Excel.
— Não. Eu só fiz o que foi pedido — disse ela. — Além disso, eu estava investigando você e ao mesmo tempo informando a minha Avó. Então imploro pelo seu perdão pela minha grosseria.
Sim, Juna era uma espiã enviada pela Duquesa Walter.
Com o seu conhecimento, Excel soube que se o pai de Liscia, o rei anterior, Albert, havia cedido o trono para mim, algo devia estar acontecendo, então começou a me investigar no mesmo instante.
A espiã que escolheu despachar foi Juna, que era na verdade comandante do Corpo Naval.
Além disso, Juna parecia ser neta de Excel. Uma das filhas de Excel se casou com alguém da família Doma, que era uma família de mercadores da Cidade Lagoon, e que tinha loreleis entre seus ancestrais, e foi assim que Juna nasceu. Aquele seu lindo rosto parecia ser uma herança do lado da família de Excel.
Quando Juna usou o evento da Proclamação de Dons como uma oportunidade para entrar em contato comigo, foi para investigar se eu tinha o necessário para ser rei. Então, quando me considerou apto ao cargo, relatou seus pensamentos a Excel e, por fim, decidiu nos revelar a verdade por conta própria.
Fiquei surpreso quando soube de tudo, mas entre a maturidade que desmentia a sua tenra idade e os movimentos rápidos que havia mostrado durante a discussão com Hal, algumas coisas logo passaram a fazer muito sentido, então fui capaz de aceitar isso com facilidade.
Após isso, Juna se tornou o meio conectando-nos a Excel, que foi, em outras palavras, a única a jurar lealdade a mim antes mesmo do ultimato.
Entretanto, para monitorar os movimentos inquietantes de Georg e tentar convencer Castor até o último momento, escondemos esse fato e, por algum tempo, ela lidou com os outros duques.
Enquanto Juna se curvava em sinal de desculpas, eu disse a ela:
— Não. Graças a você, conseguimos nos coordenar com Excel. Você ficou do meu lado, então tenho todos os motivos para ser grato, e não tenho intenção de culpá-la pelo que fez.
— É como eu disse a você naquele dia — disse ela. — “Eu, também, estou do seu lado.”
— Você disse isso, não foi…?
Naquela noite em que não consegui dormir, Juna me disse isso e cantou para mim até que eu adormecesse. Depois, ouvi que ela e Liscia tinham combinado tudo.
Liscia estava sempre tomando conta de mim. Fiel às suas palavras daquele dia, Juna ficou do meu lado. Mesmo Aisha, que na maior parte do tempo era uma desmiolada, poderia ser requisitada em minha defesa, caso necessário.
Pude ser o rei graças a todas essas pessoas me apoiando. Então eu também queria fazer o certo por elas.
— Hakuya, como estão os preparativos? — Olhei para ele.
Ele juntou as mãos e fez uma reverência.
— Está tudo como planejado. Sir Ludwin e os 10.000 soldados que constituem a parte diretamente controlada pelo Exército Proibido podem se mobilizar de imediato.
— Que movimentos vimos do exército Amidôniano? — perguntei.
— Parecem já ter se reunido na fronteira — disse ele. — Então é como previmos.
Tendo ouvido o relatório de Hakuya, me virei para todos com um aceno de cabeça, erguendo meu punho no ar.
— Vamos lá! Agora é uma batalha contra o tempo! Vamos nos livrar das faíscas que estão aparecendo e mostrar a Georg contra o que ele está lutando! Deixem-lhe ver o poder que, de agora em diante, apoiará este país!
— Sim senhor! — responderam todos ao meu comando. A hora era propícia.
Falei:
— Agora, vamos começar a guerra de subjugação.
– 30º dia, 9º mês, 1.546º ano, Calendário Continental –
Souma, Rei de Elfrieden, moveu um exército para subjugar Georg.
Com esta informação, foi entregue uma mensagem aos exércitos do Principado da Amidônia posicionados perto da fronteira.
Quando Gaius VIII ouviu esse relatório, disse:
— Chegou a hora! Agora, devemos realizar o nosso desejo de longa data!
Com essa declaração, ele finalmente liderou o poderoso exército de 30.000 homens do principado para iniciar a invasão de Elfrieden.
Existiam duas rotas da Amidônia para o reino.
Uma era a rota que passava pelo Ducado Carmine, no noroeste. Era uma planície aberta, fácil de atravessar, mas Gaius não a utilizou.
Isso porque a rota era totalmente bloqueada pelo Ducado Carmine. Mesmo que fosse só pelas aparências, Gaius alegou que estava ajudando tanto o rei quanto Georg, então precisava evitar qualquer rota que fizesse parecer que estava aliado a Georg. Além disso, o Ducado Carmine era onde as forças do rei e de Georg colidiriam, então, se o exército do principado aparecesse por lá, existia o risco de a guerra ser interrompida. O principado queria que o conflito entre os dois durasse o máximo possível.
Graças a isso, o exército do principado optou por avançar pela outra rota, aquela que passava pela região serrana ao sul. As Montanhas Úrsula ficavam ao longo da metade sul da fronteira entre o Principado da Amidônia e o Reino de Elfrieden, e o percurso passava pelo Vale Goldoa nas montanhas.
Embora o caminho fosse íngreme, assim que cruzassem o vale, chegariam à cidade de Altomura. Alimentada pelos riachos das montanhas que saíam das Montanhas Úrsula, era uma das poucas regiões produtoras de grãos de Elfrieden. Além do mais, também já havia feito parte da Amidônia.
Enquanto cavalgava entre os 30.000 homens do exército do principado, Gaius VIII tinha um brilho nos olhos e um sorriso ousado no rosto.
— Heh heh heh. Souma e Georg podem lutar o quanto quiserem. Enquanto fizerem isso, vamos recuperar as nossas terras perdidas.
Ao passar pelas sombras do vale, Gaius VIII não teve dúvidas de que seu maior desejo estava a ponto de ser realizado.
Tradução: Taipan
Revisão: PcWolf
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