– 9° Mês, 1.546° ano, Calendário Continental – Capital do Principado, Van –
A cidade de Van, a capital principesca do Principado da Amidônia, era cercada por altas muralhas de castelo, e sua arquitetura era sem excessos estilísticos ou ornamentação. Colocada sob uma luz lisonjeira, poderia ser chamada de austera e robusta. Denominada de forma menos favorável, era enfadonha e monótona. O cenário não refinado da cidade se assemelhava muito às pessoas que a habitavam.
Este país, que havia perdido terras em uma guerra com Elfrieden há dois reinados, havia tornado a vingança contra aquele reino em uma política nacional. O que valorizavam acima de tudo era o ethos1Ethos é o conjunto de traços e modos de comportamento que conformam o caráter ou a identidade de uma coletividade. Em Antropologia, é uma espécie de síntese dos costumes de um povo. de guerreiro. De seus homens, exigiam austeridade. De suas mulheres, exigiam serviência a esses homens, bem como modéstia feminina. Graças a isso, não havia homens rindo pelas ruas, tampouco mulheres desfilando em roupas da moda.
Essa era a natureza de Van, a “cidade quieta”, mas recentemente havia uma estranha vertigem pairando no ar. Tudo começou quando o país vizinho, seu inimigo, o Reino de Elfrieden, passou por uma repentina mudança de líder.
No 1.546º ano do Calendário Continental, o Rei Albert de Elfrieden abdicou de seu trono.
Albert, o agora antigo rei, era um sujeito medíocre, mas, graças à sua natureza gentil, era respeitado por seus vassalos e pelo povo. Entretanto, também graças a essa gentileza, não implementou políticas drásticas que teriam erradicado a corrupção de seus vassalos perversos. Graças a isso e a uma variedade de outras coisas sobrepostas, o reino entrou em um lento, mas contínuo, declínio.
Albert entregou seu trono a um herói que se dizia ter sido convocado de outro mundo.
O herói parecia se chamar Souma Kazuya.
Ao mesmo tempo em que Albert confiou o trono a Souma, também providenciou o noivado de sua filha única, Liscia, com o novo rei, garantindo Souma no controle. Este Souma, aquele que recebera o trono, ainda não havia sido formalmente coroado, mas ele era, na verdade, o rei, e havia focado em uma série de reformas políticas.
Com esta repentina mudança de reis, houve quem inicialmente suspeitasse de usurpação, mas, com o apoio de Liscia, corrigiu os erros de seus vassalos, juntou outro pessoal, melhorou a situação da segurança alimentar em um período de escassez, e instalou uma malha de transporte doméstico para aumentar a capacidade de transporte. Com a constante implementação dessas políticas e muito mais, Souma foi conquistando o apoio da população. Para um herói, era bastante simples, mas como rei, era soberbo. Essa era a avaliação que as pessoas faziam dele.
Entretanto, o reinado de Souma não era completamente tranquilo.
Primeiro, os três duques que controlavam as forças terrestres, aéreas e marítimas de Elfrieden (havia também uma força diferente dessas, o Exército Proibido, que servia direto ao rei) ainda não haviam jurado lealdade ao novo rei.
O homem-fera leão que era General do Exército, Georg Carmine.
A serpente marinha que era Almirante da Marinha, Excel Walter.
O dragonato que era General da Força Aérea, Castor Vargas.
Desde a mudança de reis, os três tomaram seus exércitos e se isolaram em seus próprios territórios.
Como isso tudo estava acontecendo em outro país, suas intenções exatas permaneciam desconhecidas, mas estava claro que as relações deles com Souma eram tensas. Havia rumores de que o general do exército, Georg Carmine, em particular, estava reunindo forças em seu território, deixando clara a sua oposição a Souma.
Além disso, os nobres investigados por corrupção o pressionavam.
Aqueles que estavam envolvidos em delitos graves foram destituídos de seus títulos e tiveram suas terras e bens apreendidos. Aqueles cujos crimes eram ainda mais graves foram presos ou punidos de outras formas.
Os nobres corruptos não ficaram nada felizes com isso e tentaram pegar seus bens e fugir do país. Entretanto, as fronteiras já tinham sido fechadas e, sem outra alternativa, se reuniram sob o comando de Georg Carmine, que se opunha abertamente a Souma.
Assim, com a discórdia entre o rei e os três duques tornando-se evidente, os cidadãos da Amidônia estavam de ótimo humor. Existiam rumores plausíveis de que o Rei Souma começara a reunir tropas para subjugar os três duques, já que não buscaram esclarecer a posição de rebeldia. O reino estava passando por um conflito interno.
Esta era uma situação que deixava o Principado da Amidônia com água na boca. Parecia uma chance sem igual de perseguir os seus objetivos nacionais, para “recuperar a nossa terra roubada” e “vingar-se daquele reino”.
Graças a isso, não apenas entre os soldados, mas também entre a população em geral, o consenso avassalador era: “Agora é o momento para invadir o reino!”
Nesse estado militarista, o exército ficava em primeiro lugar e a vida das pessoas em segundo. Na distribuição de orçamento, a prioridade eram os militares, o que significa que o povo não se tornava mais próspero. Claro, devia haver descontentamento com isso, mas as pessoas aprenderam que “todo o nosso sofrimento é culpa do Reino de Elfrieden, que roubou a nossa terra”.
Em vez de direcionar a raiva para os políticos ou o exército, a população a direcionava ao Reino de Elfrieden. Não importa o quão mal governados eram, a culpa era sempre daquele reino. Do ponto de vista de um estadista, não poderia existir situação mais ideal.
Além disso, essa crença de que “aquele reino é o responsável pelas nossas vidas difíceis” naturalmente levou a uma crença de que “nossas vidas melhorarão quando pudermos derrotar o reino”. Era exatamente por isso que, dada a aparente oportunidade ideal, havia um ímpeto crescente pela invasão do reino.
Tendo pego o vento desse momento, palavras ousadas podiam ser ouvidas em cada uma das esquinas.
— Por fim chegou a hora de lutarmos contra aquele reino!
— Isso mesmo! Não vamos mais esperar!
— O valente e viril Lorde Gaius nunca perderá para aquele filhote!
— Uma guerra, hein…
Enquanto muitas pessoas ansiavam pela batalha, também existiam aquelas que se sentiam inseguras a respeito da guerra que parecia se aproximar. Temiam que elas próprias, suas casas ou suas famílias pudessem ser apanhadas no meio de tudo.
Entretanto, agora, o sentimento público nesta nação não permitia que expressassem essas preocupações. Não tinham escolhas além de suprimir a ansiedade, confiando-se ao fluxo.
Uma pessoa silenciosamente observava tudo das sombras de um beco.
Essa pessoa vestia um robe ocre, o capuz cobrindo toda a sua cabeça, então não era possível ver a sua expressão. Entretanto, era de constituição leve e média menos de 160 cm de altura. A pessoa suspirou com a forma como os moradores da cidade agiam e então saiu em um ritmo acelerado.
Seu destino era uma loja. Pelas mercadorias expostas na vitrine, parecia vender roupas masculinas. A fachada dizia “A Corça Prateada”.
Então entrou na loja e, no momento em que tirou o capuz, apareceram maria-chiquinhas trançadas. O capuz escondia o adorável rosto de uma jovem.
Em seguida, um homem de meia-idade com cabelos grisalhos, vestido como um bartender, surgiu dos fundos. Este homem tinha um comportamento cavalheiresco e, ao ver a jovem, cumprimentou-a com um “Bem-vinda de volta”.
— O que você achou, Lady Roroa? — acrescentou. — Como estavam as coisas pela cidade?
— Não tem duas rotas para isso, Sebastian… é terrível — disse ela.
A garota que se dirigiu ao dono desta loja em gírias mercantis (um dialeto de Kansai falso) era a primeira princesa da Amidônia, Roroa Amidônia.
— Quase todo mundo está ansioso pela guerra que se aproxima — continuou ela. — Estão pensando que o Rei Souma é jovem e não consegue controlar o próprio povo. Nem mesmo pensaram na possibilidade do meu velho perder.
— Afinal, Lorde Gaius é forte e viril — disse o dono da loja.
— Ele só parece robusto, isso é tudo — disse a princesa. — Mesmo que ele seja forte, ainda é apenas um homem.
Mesmo sendo pai e filha, Roroa foi implacável com as suas críticas. Entre Roroa, que tinha excelente senso econômico e queria usar o dinheiro ganho para reconstruir o país, e Gaius, o militarista que queria investir em poderio bélico, havia uma grande disparidade em seus modos de pensar.
Era triste ver tamanho abismo entre pai e filha, mas Roroa, como a primeira princesa da nação, se via em uma posição na qual tinha que fazer mais do que simplesmente lamentar o fato. Como alguém que estava acima dos demais, ela tinha que agir para se preparar para qualquer eventualidade.
Por consideração, talvez, Sebastian perguntou em um tom amigável:
— Bem, então, Lady Roroa, o que achou deste Souma?
— Não sei — disse ela. — As coisas que tenho escutado não são suas realizações pessoais, mas sim as de seus subordinados. É por isso que é tão difícil de entender ele. Mas parece ser um rei que é bom em ouvir os seus vassalos.
Com essas palavras, Roroa levou as mãos à cintura e gemeu.
— Se estamos começando uma guerra com alguém que não podemos ler bem, isso é perigoso. Isso não muda só porque o rei e os três duques não estão em bons termos. Seja território, poder ou população, o reino nos derrota em tudo. E, é claro, há também o número de soldados que podem mobilizar. Temos muitos recursos minerais, então a qualidade do nosso equipamento é boa, mas… isso é tudo que temos a nosso favor.
Com Roroa fazendo aquela avaliação pessimista, Sebastian perguntou:
— Lady Roroa, acredita que este país será derrotado…?
— Já te falei, não sei — disse ela. — Guerra não é a minha especialidade. Ainda assim, o que eu sei é que se perdermos, será muito ruim para nós. Não é apenas com o reino que devemos nos preocupar. Há aquela teocracia irritante ao nosso norte, o Estado Papal Ortodoxo Lunariano, e também a República de Turgis, que está procurando alguma abertura para avançar para o norte. Temos uma aliança com o Estado Mercenário de Rem, mas não tenho certeza se nos ajudarão se estivermos perdendo.
O Estado Papal Ortodoxo Lunariano era a sede da Ortodoxia Lunariana, uma religião que se erguia, ao lado do culto à Mãe Dragão, como uma das duas maiores religiões deste continente. O país era governado pelo Papa Ortodoxo Lunariano, que era uma autoridade tanto temporária quanto religiosa, e tinham um sistema de valores marcadamente diferente de outros países. Existiam muitos seguidores da Ortodoxia Lunariana no Principado da Amidônia e, com alguma agitação, seria possível que o estado derrubasse o principado.
A República de Turgis ao sul era uma terra de frio gélido. Durante o longo inverno, suas terras eram soterradas pela neve e seus mares bloqueados pelo gelo. Graças a isso, em sua busca por terras não congeladas e por portos de água quente, estavam sempre de olho no norte, em busca de qualquer oportunidade de expansão.
O Estado Mercenário de Zem era um país único. Professavam neutralidade eterna, mas obtinham garantias de segurança mútua despachando os seus mercenários para todas as nações. Haviam despachado mercenários para o principado, assim como para todo o resto, mas… os mercenários eram motivados pelo dinheiro. Se seu país algum dia acabasse em desvantagem, não havia como saber a seriedade com que os mercenários lutariam.
Se acontecesse o pior e acabassem derrotados, quais seriam as reações desses três países?
Era isso que preocupava Roroa.
— O sentimento que está se espalhando pelo país é o pior de todos — disse Roroa com um suspiro. — Não há ninguém pensando no que pode acontecer se perdermos. Mesmo assim, na pior das hipóteses, podemos acabar sendo invadidos pelos nossos três vizinhos de uma só vez.
Ela pensou um pouco e disse:
— É por isso que vou fazer o que vou fazer. Mesmo que signifique me separar do meu velho, preciso estar pronta para o caso de as coisas darem errado…
Ao dizer isso, ela revelou um enorme sorriso a Sebastian.
— Então, é isso, Sebastian. Que tal ajudar essa guria, hein?
— Suponho que terei de fazer isso, não é…? — disse ele encolhendo os ombros, como se tentando soar bem mal-humorado. Era essa a aparência que ele projetava, mas já havia decidido apostar a sua sorte nesta garota. As ações de Roroa às vezes traíam a sua juventude, mas ela tinha um certo encanto que atraía as pessoas.
Às vezes, acho uma pena que ela tenha nascido como mulher…, pensou ele.
Se Roroa conseguisse assumir o trono, este país não se tornaria um lugar melhor para se viver? Sebastian não pôde deixar de se perguntar isso.
Quanto à própria Roroa, ela já havia pensado no próximo passo.
— Bem, agora que isso está resolvido, ainda precisamos de ajuda, acho. Acho que gostaria de passar mais algum tempo em busca de colaboradores.
— E você está de olho em alguém em particular…? — perguntou Sebastian, tendo percebido algo no modo de falar de Roroa, e ela deu uma risada maliciosa em resposta.
Alguns dias depois…
Em seu castelo na capital principesca, Van, o Príncipe Soberano da Amidônia, Gaius VIII, reuniu os principais comandantes militares do país em seu salão de audiências. Gaius levantou-se do trono, dirigindo-se aos comandantes reunidos.
— Chegou a hora! Vamos reunir as nossas forças na fronteira com Elfrieden!
Foi essa a declaração que decretou a guerra com o Reino de Elfrieden.
Gaius recebera relatos de que o abismo entre Souma Kazuya e um dos três duques, Georg Carmine, havia se tornado intransponível e que era apenas questão de tempo até que os dois entrassem em confronto. O reino seria, em breve, lançado em caos. Meio a esse caos, tomariam as terras roubadas há cinquenta anos de volta.
— Ao mesmo tempo em que Georg faz a sua rebelião, começaremos a invadir Elfrieden! — anunciou ele. — Nosso alvo é a região produtora de grãos no sul! Agora é a hora de retomar as terras roubadas dos nossos antepassados!
— Viva! — Os comandantes reunidos soltaram gritos de alegria.
Por fim, chegou a hora de se vingar por suas perdas diante do reino. Esses comandantes, que eram completos militares, não podiam deixar de sentir o sangue fervendo e esquentando dentro deles. Nesse ambiente…
— Por favor, espere, Vossa Alteza!
Um único homem ergueu-se em oposição, avançando para prostrar-se em joelhos diante de seu soberano…
Era o jovem Ministro da Fazenda, Gatsby Colbert.
Com seu raro senso de economia, foi-lhe confiado o cargo de Ministro da Fazenda, apesar de ter pouco mais que vinte anos.
Enquanto o talento de Roroa consistia em gastar dinheiro para fazer a economia girar, Colbert se especializava em eliminar os gastos desnecessários e assim liberar mais fundos. Embora adotassem abordagens diferentes, os dois trabalhavam juntos para tirar de onde precisava e gastar onde era necessário. Eram os únicos que mal conseguiam impedir que a economia deste país acabasse em um precipício.
— Ah, é você, Colbert. — Gaius olhou severamente para ele. Estava claro o seu descontentamento.
Quando Gaius, um homem do qual até generais que sobreviveram a muitas batalhas temiam a raiva, voltou o seu olhar para Colbert, um simples burocrata, o ministro começou a tremer. Ainda assim, ele criou coragem para oferecer o seu conselho.
— Digo isso com todo o respeito, majestade — começou ele. — Por favor, reconsidere a invasão de Elfrieden! O povo da nossa nação está sofrendo com uma crise alimentar e uma economia debilitada! Se começarmos uma guerra agora, nosso povo morrerá de fome!
— Eu sei disso — rebateu o rei. — É por isso que existe tanta urgência para tomarmos a região produtora de grãos.
— Guerras exigem muitas despesas por parte do estado! — protestou Colbert. — Se você pode fazer esse tanto com o orçamento, deveria poder importar alimentos do exterior! Em vez de travar uma guerra, a qual não sabemos se ganharemos ou perderemos, e, mesmo que ganhemos, não teremos nenhuma garantia de que nossos esforços valerão à pena, este não é o momento em que devemos trabalhar em nossa força e…
— Silêncio! — rugiu Gaius.
Ele foi até o burocrata e deu uma bicuda nele que fez o homem voar.
— Urkh…
Ao olhar para Colbert jogado no chão, Gaius mostrou uma expressão de raiva no rosto.
— Vocês, ministros de assuntos domésticos, dizem sempre a mesma coisa! Trabalho doméstico, não é hora, isso é tudo o que eu ouço! Veja até onde isso nos levou! É fácil ver o quanto nosso país está exausto! Entretanto, em contraste conosco, aquele reino, apesar de ter estagnado sob o poder do último rei, um tolo, começou a se recuperar com a ascensão do novo rei ao trono!
— I-isso é porque… o novo rei, Souma, tem trabalhado para enriquecer o país…
— Você continua dizendo isso?!
Gaius deu outra bicuda em Colbert, ainda no chão.
Ele talvez tivesse acabado com um corte na boca, já que havia sangue escorrendo do canto de seus lábios. Mesmo assim, Colbert não desistiu de falar.
— Vossa Alteza… O efetivo total do exército da Amidônia é cerca de metade do exército de Elfrieden. Esse é… um plano muito imprudente!
— Eu sei disso mesmo sem que algum funcionário público qualquer venha me dizer! — rugiu o rei. — É exatamente por isso que agora, com o rei e os três duques em conflito, temos uma oportunidade!
— Mesmo assim, não há como dizer quanto tempo isso vai durar — protestou Colbert.
— Bwahaha! Não há necessidade para preocupação. O Georg Carmine iniciará uma rebelião. Não será fácil para aquele filhote derrotá-lo, disso tenho certeza. As guerras civis costumam se arrastar por muito tempo. E não faz diferença se Georg vencer. Se um traidor subir ao topo, não há como o país continuar unido!
Colbert mordeu o lábio, frustrado. É por isso que Sua Alteza está agindo com tanta ousadia?!
Porque era Georg Carmine, um dos três duques, aquele famoso general feroz, que erguia a bandeira da rebelião contra Souma, que provavelmente pressionava Gaius a agir.
A verdade era que não havia garantia de que uma oportunidade dessas voltaria a aparecer. Gaius já tinha 50 anos, era de forma alguma jovem. Ele não queria deixar essa chance ideal passar por seus dedos enquanto ainda estava apto a liderar um exército e dar ordens.
Enfim… Pensar dessa forma é otimista demais!, pensou Colbert, teimoso.
— Por favor, me escute, Vossa Alteza! — explodiu ele. — Se você invadir Elfrieden, nosso país ficará exposto a críticas de todos os outros países! Assinamos a Declaração Imperial da Frente Comum da Humanidade Contra a Raça Demoníaca!
— Ah, a Declaração da Humanidade, é…? — Nesse momento, pela primeira vez, Gaius pareceu tenso.
Liderada pelo Império Gran Caos, a Declaração da Frente Comum da Humanidade Contra a Raça Demoníaca (também conhecida como Declaração da Humanidade) se referia a uma declaração e tratado internacional de apoio pelo maior e mais poderoso império do continente. Isso afirmava que, à luz da expansão do Domínio do Lorde Demônio, todos os conflitos da humanidade deveriam cessar. E, para evitar que os monstros e demônios avançassem mais para o sul, toda a humanidade deveria trabalhar de forma unitária e cooperar.
Os fundamentos da Declaração da Humanidade eram moldados em três artigos:
Primeiro, a aquisição de território pela força entre as nações humanas seria considerada inadmissível.
Segundo, o direito de todos os povos à igualdade e autodeterminação seria respeitado.
Terceiro, os países distantes do Domínio do Lorde Demônio forneceriam apoio às nações adjacentes, que atuariam como uma muralha defensiva.
O segundo ponto foi adotado para proteger as raças minoritárias de cada país. Dado que a aquisição de território pela força era inadmissível, alguns países poderiam ter expulsado ou oprimido suas raças minoritárias para tentar se apoderar das suas riquezas. Era uma cláusula extra que havia sido adicionada para prevenir esse problema.
Além disso, embora não explicitamente delineado no texto, se algum país violasse algum desses três artigos, o Império, como líder do pacto, procederia com uma intervenção militar.
Simplificando, esta Declaração da Humanidade era um tratado de segurança que impedia os países de renunciarem o direito de invadir outras nações em troca da proteção do Império.
Colbert implorou:
— Se invadirmos Elfrieden, podemos estar oferecendo um convite para uma intervenção do Império! Senhor, eu imploro, por favor, reconsidere isso!
— Seu covarde! — Gaius levou a mão ao punho da espada pendurada em seu quadril.
Assim que todos os presentes tiveram certeza de que o homem estava a ponto de ser morto, alguém se colocou entre Gaius e Colbert.
— Sir Colbert, não se preocupe com isso.
Quem se interpôs entre os dois era o príncipe coroado, Julius Amidônia. Seus olhos frios, que não traíam nenhuma emoção, estavam fixos em Colbert.
— Isso porque Elfrieden não assinou a Declaração da Humanidade.
— Senhor… Julius — disse Colbert —, esse é um argumento ardiloso! Estaríamos recebendo proteção sob a Declaração da Humanidade e, ao mesmo tempo, atacaríamos um país que ainda não a ratificou. Se o fizermos, será como jogar lama na cara do Império!
— Entretanto, na diplomacia, apenas os tratados assinados é que importam — disse Julius friamente. — Isso foi tudo causado pela tolice e teimosia de Elfrieden em não apoiar os sublimes ideais do Império. O Império com certeza não poderá nos culpar por isso.
— Mas…
— Basta! — Gaius retirou a mão do punho da espada, virando-se para se dirigir aos comandantes reunidos. — Eu, neste momento, destituo Colbert de sua posição como Ministro da Fazenda.
— Majestade! — gritou Colbert.
— Colbert, a partir de agora você está em prisão domiciliar — rebateu o rei. — Você deve assistir tudo de longe. Observe enquanto recuperamos a terra de nossos antepassados.
Com essas palavras, Gaius conduziu seus comandantes para fora do salão de audiências, sem se dar ao trabalho de voltar a olhar para Colbert. O homem ficou lá por algum tempo, mordendo o lábio, mas eventualmente socou o tapete com raiva, levantando-se e enfrentando Julius, que havia ficado para trás.
— Julius! Este é realmente… realmente o único caminho?! — gritou ele.
Colbert falou com mais liberdade, ao contrário de quando estivera diante de Gaius. Em parte porque tinham mais ou menos a mesma idade, apesar de suas posições como príncipe coroado e vassalo, e Juluis e Colbert eram próximos o suficiente para serem chamados de amigos.
Em um tom frio, Julius disse:
— Ele está certo ao dizer que é uma chance única na vida. Além de Georg Carmine, muitos nobres têm laços secretos com nosso país. Se nos coordenarmos com eles, devemos ser capazes de tomar algumas terras no sul para nós mesmos.
— Mas, se perdermos, isso pode resultar na morte de nosso país — disse Colbert.
— Porém, por outro lado, se deixarmos essa chance passar, talvez nunca consigamos reconquistar o nosso território. Se, como você disse, o novo rei está trabalhando para enriquecer o seu país, isso não significa que a diferença só vai aumentar caso deixemos a chance passar?
Estava claro que Julius via a situação de forma mais calma e racional do que Gaius. Mesmo assim, a sua decisão permanecia inalterada.
— Recuperar as terras que perdemos e exigir a nossa vingança é um desejo antigo da Casa Principesca da Amidônia — continuou Julius. — Não, não apenas da Casa Principesca: os soldados e o povo também têm esse desejo.
— Isso é…
Isso é porque vocês não mostraram nenhuma outra opção! Colbert queria dizer isso, mas… não podia. Fazer isso seria ir além dos seus limites como um vassalo.
Enquanto ele baixava os olhos, sem palavras, Julius colocou a mão em seu ombro.
— Por favor, por enquanto fique calmo, Colbert. Avalio as suas habilidades como altíssimas. Para o meu próprio bem, como aquele que algum dia governará esta terra, prefiro não o perder para o temperamento explosivo de meu pai.
— Julius…
Colbert olhou para ele com olhos carregados, mas Julius não retribuiu essa emoção.
Algumas horas depois, enquanto o abatido Colbert arrastava os pés pelos corredores do castelo principesco, uma jovem com um rosto adorável colocou a cabeça para fora do lado de trás de um dos pilares de mármore.
— Olá, Senhor Colbert. Por que está tão para baixo?
— Princesa?! Uh, isso é, bem…
Quem saiu de trás do pilar foi Roroa Amidônia, a primeira princesa da nação. Colbert entrou em pânico ao perceber que deixaria Roroa vê-lo desanimado.
Ela tinha bom senso para a economia desde jovem e, à medida que crescia, passava a conviver cada vez mais com donos de grandes negócios e com os burocratas do Ministério da Fazenda. Para Colbert, que era o Ministro da Fazenda, Roroa era uma compatriota que entendia os meandros econômicos. Ela também era algo parecido a uma irmã menor carente.
— Olhando para essa cara… você tentou colocar um pouco de bom senso no meu velho por mim, não é? — perguntou Roroa, desculpando-se, olhando para os hematomas no rosto de Colbert.
— Hein? Ah, não… Isso é, uh…
— Não precisa esconder — disse ela. — Sinto muito pelo meu pai idiota. Minha nossa… Se ele está afastando os vassalos que tentam dar conselhos sólidos, então este país marchará direto para a ruína. Sério, no que ele está pensando?
Enquanto pensava nessas coisas que apavorariam qualquer um, Roroa deu uma grande demonstração do quanto estava zangada. Colbert ficou satisfeito só de vê-la daquele jeito por ele.
— Obrigado, princesa — falou. — Eu vou ficar bem.
— Você vai? Pois bem, então prepare-se.
— Hein…? Me preparar para o quê?
Incapaz de acompanhar essa repentina mudança na conversa, Colbert piscou várias vezes.
Em resposta, Roroa deu um aceno de mão enquanto ria.
— O velho acabou de te dar todo o tempo livre que poderia pedir, então você não tem nada para fazer, correto? Bem, assim, talvez possa me ajudar com o que estou fazendo. Já conversei com todos os burocratas que pareciam receptivos, mas ainda poderíamos conseguir mais gente para ajudar.
— Hein? Um, princesa? O que você está planejando fazer?
— Isso é óbvio — disse ela. — Vamos todos desaparecer juntos. Sebastian está cuidando dos planos, mas por agora acho que vamos ficar com o Tio Herman em Nelva.
— Hein? Quêêêêêêêê?! — exclamou ele.
Roroa o agarrou pela manga e se afastou com pressa, arrastando Colbert consigo.
Alguns dias depois, ao mesmo tempo que Gaius VIII e Julius partiram de Van, houve um incidente em que a Princesa Roroa e vários burocratas desapareceram.
Foi um incidente que deveria ter causado uma enorme comoção, mas foi astuciosamente encoberto por Roroa, e nem Gaius nem Julius perceberam.
Tradução: Taipan
Revisão: PcWolf
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