Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 01 – Cap. 08.1 – História Extra 01 – A História de um Certo Grupo de Aventureiros

Aventureiros.

Como pessoas que desafiavam e limpavam masmorras e os muitos mistérios dentro delas, sua profissão era repleta de aventuras romantizadas. Entretanto, ao mesmo tempo, eram pau para toda obra, realizando missões certificadas pela guilda (protegendo mercadores, matando feras perigosas e muito mais) em troca de recompensas. Agora, aqui está algo sobre eles. Entre as mais novas lendas urbanas que se espalham por Parnam, a capital de Elfrieden, há uma conhecida como…

— O Aventureiro Que Usa um Kigurumi1Kigurumis são aquelas fantasias de corpo inteiro de personagens de desenhos ou animais. Exemplo..

Era dito que esse aventureiro usava um kigurumi, uma espécie de traje de peça única, com 1,7 metros de altura. Sua arma era uma naginata, pendurada em suas costas. Ele tinha um corpo roliço, mas era capaz de se mover rapidamente e parecia ser muito talentoso. Não formou nenhum grupo, assumindo missões de subjugação de feras perigosas sozinho, mas, ocasionalmente, se houvesse um grupo em busca de membros temporários, se juntaria para dar uma volta pelas masmorras.

A propósito, seu nome foi registrado na guilda como “Pequeno Musashibo”.

— Uh… Então, é você o aventureiro que está temporariamente se juntando ao nosso grupo? — perguntou um guerreiro em dúvida.

Um kigurumi rechonchudo estava parado na frente do quadro de missões na guilda. Ele estava diante de um grupo de quatro aventureiros (composição do grupo: um guerreiro, um sacerdote, uma ladra e uma maga).

Nas mãos dele estava uma naginata, nas costas uma cesta de vime, seu rosto coberto de seda branca (na verdade, estava costurado), e os olhos de bolota e sobrancelhas espessas que se projetavam disso eram adoráveis.

Quem era ele? Era um homem de neve? Era um boneco de base arredondada? Não, ele era o Pequeno Musashibo!

— … — (O Pequeno Musashibo agitou os braços freneticamente, querendo dizer: “Isso mesmo”.)

— Ah, será que você é o aventureiro kigurumi do qual as pessoas têm falado…? — perguntou Dece. Ele era um espadachim com um rosto atraente que conseguiria um lugar fácil em uma boy band.

— … — (O Pequeno Musashibo balançou a cabeça.)

— V-você é…? — A expressão de Dece tornou-se um pouco tensa.

Considerando a aparência pateta do Pequeno Musashibo, era uma reação a se esperar. O resto de seus camaradas também pareciam perplexos.

— Ah, vamos lá, sei que estamos precisando de gente para a linha de frente, mas precisamos mesmo de um cara assim? — questionou uma bela jovem cujos olhos desafiadores deixaram uma forte impressão. Sua voz estava cheia de veneno. Essa garota com um senso de moda meio punk era a ladra, Iuno. Uma aventureira da classe ladra, é claro, não uma ladra de verdade. Era um papel de suporte do grupo que detectava inimigos e desativava as armadilhas pela masmorra e também poderia lidar com combate corporal.

O sacerdote de aparência gentil, Febral, a repreendeu.

— B-bem, a roupa dele pode ser idiota, mas tudo o que ouvi indica que é um aventureiro confiável. Não acho que deve haver algum problema. Hoje não vamos nos enfiar em nenhuma masmorra, e a dificuldade, de qualquer forma, deve ser de nível iniciante.

Seu papel como sacerdote também incluía o que as pessoas chamavam de curandeiro. Não indicava nenhum tipo de crença religiosa.

— Ah, claro, qual é o problemaaaa? E ele é meio fofoooo! — Uma beldade iluminada e aérea, a maga Julia, começou a se encostar no Pequeno Musashibo, apreciando a sua suavidade. O Pequeno Musashibo ficou um pouco irritado com isso.

Com uma risada seca diante da cena, Dece estendeu a mão para ele.

— De qualquer forma, trabalhar com você por hoje será um prazer.

— … — (O Pequeno Musashibo apertou a sua mão.)

— Você não consegue falar…?

— … — (O Pequeno Musashibo balançou a cabeça.)

Dece ficou um momento sem dizer nada. Então explodiu:

— Ah, vamos lá, isso vai mesmo dar certo?

Ninguém poderia responder essa pergunta.

Com o Pequeno Musashibo se juntando a eles, o grupo seguiu para uma passagem subterrânea da capital.

Esses túneis, pelo visto, foram originalmente criados para permitir que a família real fugisse no caso de algum ataque inimigo alcançar a capital. Por isso, para confundir os intrusos, as passagens foram construídas como um complexo labirinto com três níveis.

Nesta ocasião, os aventureiros receberam uma missão pedindo por “Exploração das passagens subterrâneas e investigação das criaturas que nelas vivem (e, se possível, a remoção das mesmas)”.

Como este país esteve livre da guerra e do caos desde o rei anterior, o Rei Albert, a importância desses túneis havia diminuído e não recebiam mais os cuidados adequados. Como resultado, ratos gigantes e outras criaturas superdesenvolvidas logo fizeram seus ninhos neles. Com a situação dentro dos túneis assim, não seria impróprio se os chamasse de masmorras.

Agora, aqui estava a coisa real sobre os túneis subterrâneos. Pelo visto, o rei recém-entronado queria reaproveitá-los e, por isso, colocou essa missão na guilda. Até que as passagens subterrâneas estivessem seguras e protegidas, qualquer número de pessoas seria bem-vinda para desafiá-las. A recompensa paga dependeria das criaturas caçadas. Era uma missão de baixo risco e baixa recompensa adequada para iniciantes.

O grupo de aventureiros, agora com a adição do Pequeno Musashibo, estava progredindo por esses túneis subterrâneos. No ar frio e úmido, uma Iuno irritada cutucou a cabeça dele.

— Ei, não deixem esse cara ficar na frente! Ele está bloqueando a minha linha de visão.

— Ter alguém da linha de frente na retaguarda seria desperdício — retrucou Dece. — Lide com isso.

Com Dece repreendendo-a, Iuno estalou a língua com desgosto. Foi então que aconteceu.

Uma cobra gigante apareceu do nada diante dos aventureiros. A cobra tinha dez metros de comprimento e era mais grossa que dois braços juntos. Ela ergueu a cabeça, sibilando ameaçadoramente para os aventureiros. Na mesma hora, Dece e o Musashibo se moveram.

— Nós cuidaremos da linha de frente! Todos os demais, nos apoiem da retaguarda!

— … — (O Pequeno Musashibo fez um sinal de positivo.)

No momento seguinte, a cobra gigante atacou. Avançou em Dece. A partir daí, ela por algum motivo ignorou o Pequeno Musashibo, tentando atacar apenas Dece.

— Espera, por que isso só avança em mim?! — gemeu ele.

— ?! — (O Pequeno Musashibo ficou confuso.)

Deixe-me explicar. Como as cobras procuram as suas presas detectando o calor corporal, não conseguem detectar nada no Pequeno Musashibo, já que se trata apenas de um kigurumi.

Dece levou um tapa da cauda da cobra gigante e, embora tivesse conseguido bloquear com o escudo, perdeu o equilíbrio. Aproveitando a abertura, ela deslizou entre os dois, atacando as três pessoas que estavam mais atrás. A primeira a ser alvejada foi Iuno, que vinha atuando como apoio de médio alcance.

— Whoa, por que isso está ignorando aquele kigurumi e vindo até mim?! Eu… eu não suporto cobraaaaaas!

Parecia que o repentino ataque da cobra havia feito as pernas de Iuno fraquejarem. Com ela caindo de bunda e incapaz de se mover, a cobra abriu bem a boca e foi até Iuno. Naquele momento, justo quando ela tinha certeza de que morreria…

Slash!

Quando a cobra estava prestes a cravar as presas em Iuno, o Pequeno Musashibo usou sua naginata para cortá-la em duas. Com um corte bem no meio, separando cabeça de cauda, as duas metades da cobra continuaram se debatendo por um tempo até que finalmente pararam.

O Pequeno Musashibo balançou a sua naginata para limpar o sangue dela.

Tendo recuperado os seus sentidos, Iuno timidamente falou:

— O-obrigada…

— … — (O Pequeno Musashibo fez um sinal de positivo com o polegar e deu um tapinha na cabeça dela.)

Quando ela viu que ele não se gabava, mas sim mostrava preocupação, levou a mão ao peito. Ela devia ter ficado terrivelmente assustada, pensou, já que seu coração estava, por algum motivo desconhecido, disparado.

E-ele é um esquisitão… mas parece que não é um cara mau.

Tendo reavaliado sua opinião a respeito do homem (?), Iuno seguiu atrás do resto do grupo.

O grupo continuou a exploração. Quando chegaram ao segundo nível, os ataques das criaturas gigantes se tornaram bem mais intensos. Agora não estavam mais enfrentando apenas inimigos individuais; alguns atacavam em bandos.

— … — (O Pequeno Musashibo abateu uma revoada de morcegos gigantes com um ataque em redemoinho.)

— Ah, você é muito bom.

— … — (O Pequeno Musashibo fez um sinal de positivo para Dece.)

— Hm…? Ei, parceiro…

— … — (O Pequeno Musashibo inclinou a cabeça para o lado, como se dissesse: “O quê?”)

— Tem um monte de morceguinhos pendurados nas suas costas, sabe… — disse Dece.

— ?! — (O Pequeno Musashibo se debateu.)

— Viish… Aqui, vou espantar eles para você — falou ele.

Deixe-me explicar. O Pequeno Musashibo não sentia dor e, portanto, não percebeu que estava sendo mordido.

Alguns minutos depois…

Splish, splash.

— … — (O Pequeno Musashibo havia caído em um buraco cheio de água e estava se debatendo.)

Splish, splash.

— … — (“Depressa, ajudem-me”, apelava aos membros do grupo.) A visão fez Julia e Febral se sentirem aquecidos e confusos por dentro.

— Parece que ele está brincando… — disse ela.

— Parece — concordou Febral.

— Ei, vamos nos apressar e ajudá-lo! — disse Iuno. — Vamos lá, você também. Agarrem ele.

Iuno estendeu a mão, puxando o Pequeno Musashibo para cima. Tendo sido resgatado, ele fez várias reverências a ela.

— … — (“Muito obrigado! Nunca esquecerei a sua bondade!” estava dizendo.)

— V-você não precisa me agradecer — gaguejou Iuno. — Eu te devia por antes. E é natural que os camaradas ajudem uns aos outros.

— … — (“Você está disposta a me reconhecer como um camarada?!” Ele foi dominado pela emoção.)

— T-tanto faz! Venha, vamos logo.

— … — (“Ah, espere por mim!” Ele seguiu Iuno.)

Os passos lentos e leves do Pequeno Musashibo desapareceram na distância. Os membros restantes do grupo ficaram pasmos.

— Iuno… Ela estava conversando com aquele kigurumi? — perguntou Dece.

— Era isso que me parecia — assentiu Febral. — Mas o kigurumi não falou nada.

Julia soltou uma risadinha.

— Se ela estava, pode ter sido o poder do amor…

— Amor?! — A resposta simultânea dos dois homens ecoou pelo túnel escuro.

Algumas horas depois, os aventureiros finalmente alcançaram o terceiro nível… Isso talvez tivesse sido construído para ser espaçoso, já que os tetos pareciam ter uns vinte metros de altura e os caminhos eram largos. Este terceiro nível era o mais baixo entre todas as passagens subterrâneas. Embora tenham aparecido alguns pequenos contratempos pelo caminho, o progresso não foi nada, senão suave.

— Isso não é nem desafio — disse Iuno. — Posso entender porque disseram que era de nível iniciante.

— … — (O Pequeno Musashibo inclinou a cabeça como se dissesse “Sério?”)

— Sabe, estamos acostumados com os monstros de masmorras — explicou Iuno. — Não importa quão ferozes sejam, não vamos ser derrotados por alguns animais.

— … — (Ele olhou para ela como se dissesse: “Você diz isso, mas estava com muito medo daquela cobra…”)

— A-aquela não conta! Todo mundo tem medo de alguma coisa! — explodiu ela.

— … — (Ele encolheu os ombros como se dissesse: “Claro, claro, entendi.”)

— Ei, se quer dizer algo, diga logo! — resmungou Iuno. — Se eu ficar séria…

O resto do grupo ficou pasmo enquanto os dois discutiam por todo o túnel subterrâneo. (Embora Iuno fosse a única falando.)

— Sério, como é que funciona essa conversa? — perguntou Dece.

— Estou inclinado a acreditar na sugestão de “amor” da Julia — falou Febral.

E então aconteceu.

— Hein?! Fiquem todos em guarda! — gritou Iuno.

A atmosfera relaxada foi soprada para longe e todos se posicionaram para uma batalha. A maneira como podiam fazer isso, igual se apertassem um botão, era parte do que os tornava aventureiros tão impressionantes.

Dece perguntou:

— Iuno, quantos são?

— Um — respondeu ela. — Mas é incrivelmente grande.

Ladrões tinham sentidos aguçados e podiam se aproveitar do menor som ou vibração para julgar o número e tamanho exato dos oponentes.

— De quão grande estamos falando? — perguntou Dece.

— Aquela cobra gigante não serve nem para comparação — respondeu ela.

— Esta é apenas uma passagem subterrânea, certo? — perguntou Julia. — Por que há algo tão grande aqui?

E Febral respondeu:

— Ouvi dizer que, em espaços subterrâneos assim, as criaturas podem crescer até tamanhos que seriam inimagináveis em circunstâncias normais. Uma vez que alcançam certo tamanho, não têm mais predadores naturais e, como as temperaturas permanecem iguais durante o ano todo, ao invés de morrer, continuam simplesmente crescendo.

— Então está dizendo que à frente há algo que ficou grande assim? — perguntou Dece.

No momento em que essas palavras deixaram a sua boca, o ar tremeu. Não era preciso ter as habilidades de um ladrão para saber que o enorme seja lá o que fosse estava quase sobre eles.

— Está vindo! — gritou Iuno.

A criatura apareceu. Seu corpo maciço batia quase no teto, que já era bem alto para um túnel subterrâneo. Tinha a pele viscosa e, ao contrário da boca, que parecia ser capaz de abrir muito, os olhos eram tão pequenos que a princípio nem dava para perceber o que eram.

— Uma salamandra! — gritaram os quatro ao mesmo tempo!

Só uma pessoa (?), o Pequeno Musashibo, disse:

— … — (“Uma salamandra ridiculamente enorme ?!”) — Sua reação foi diferente dos demais.

Dece não conseguia acreditar em seus olhos.

— Ah, vamos lá… As salamandras normalmente têm só uns dois metros de comprimento, no máximo, sabia?

— … — (“As salamandras deste mundo são geralmente do tamanho de dragões de Komodo?!”) O Pequeno Musashibo ficou surpreso, mas ninguém percebeu.

— Esta claramente parece ter mais de dez metros de comprimento — disse Dece.

— E pensar que podem crescer e ficar tão grandes… — Febral parecia impressionado. — Entretanto, é um problema que seja uma salamandra. Seu muco é extremamente ácido. Atacar com armas de curto alcance seria perigoso, e ela é resistente ao calor. Por outro lado, se pudermos congelá-la, pode ser uma luta fácil…

— Não temos ninguém capaz de usar magia de gelo — disse Dece. — Se as chamas funcionassem, Julia poderia resolver tudo com a magia dela, mas… E quanto a você, Senhor Kigurumi?

— … — (“Nuh uh.” Ele balançou a cabeça.)

— Bem, então não temos opções. Vamos correr… — disse Dece, o líder do grupo, pedindo por uma retirada. — Nossa missão era explorar e investigar. Não precisamos extrapolar. Se só relatarmos que encontramos aquela coisa, o castelo deve ser capaz de enviar uma equipe de subjugação.

— Entendo o que você está dizendo, mas podemos escapar com essa facilidade toda? — perguntou Febral.

Conforme Febral apontou, a salamandra tinha focado a sua mira nos aventureiros. Dece cerrou os dentes, erguendo o escudo e avançando.

— Precisamos nos separar. Febral e Julia são os mais rápidos, então vão primeiro. Iuno não tem muito equipamento, então ela pode ir depois. Senhor Kigurumi, posso contar com você para me acompanhar na retaguarda?

— … — (“Okie-dokie!” Ele fez um sinal de positivo.)

— Certo… Separem!

Todos se mexeram assim que Dece deu a ordem.

Febral e Julia correram de volta pelo caminho de onde tinham vindo, enquanto Dece e o Pequeno Musashibo ficavam para trás, controlando a salamandra. Iuno fazia bom uso das pernas, correndo agilmente e confundindo-a. A salamandra tentou ir atrás dos dois que fugiram, mas, com Dece e o Pequeno Musashibo bloqueando e os movimentos de Iuno a desorientando, não conseguiu avançar muito.

Eventualmente, ela devia ter ficado impaciente, já que soltou um grito e balançou a sua enorme cauda. Quando isso aconteceu, o muco aderido à cauda voou para todos os lados.

— Ah, merda! Ei, atenção! — gritou Dece.

— Eek! — gritou Julia.

Aquele muco extremamente ácido caiu como chuva e acertou os aventureiros. Aquilo grudou no escudo de Dece, no peitoral de Iuno, na parte inferior das vestes de Febral e na saia de Julia, sibilando e exalando um cheiro desagradável ao dissolver o tecido e o metal.

— O muco da salamandra também derrete carne! Tirem qualquer equipamento em que tenha respingado! — gritou Febral enquanto tirava as vestes.

Ao ouvir isso, Dece largou o escudo e Julia tirou a saia, começando a correr com a calcinha à mostra.

— Espera, acertou o meu peitoral! — gritou Iuno.

— Bem, então anda logo e tira isso! Se não fizer isso, pode esquecer os seios, você vai mostrar até o osso das costelas! — gritou Dece.

— Urgh…

Após esse grito, Iuno tirou o peitoral e a camisa, ficando de topless. Ela fez o possível para se cobrir com o braço direito enquanto segurava a espada curta com o esquerdo, mas estava ficando vermelha de tanta vergonha.

— Iuno, vai logo! Senhor Kigurumi, você está bem?

Assim que Dece confirmou que Iuno havia começado a correr, olhou para o Pequeno Musashibo só para se deparar com o seu rosto coberto por muco.

— E-ei! O que você está fazendo?! Tire já esse kigurumi!

— …

Apesar das preocupações de Dece, o Pequeno Musashibo balançou a cabeça de um lado para o outro. Olhando mais de perto, embora estivesse cheio de muco, não havia qualquer sinal de derretimento.

— Espera aí, o seu kigurumi é resistente a ácido…? — perguntou Dece.

— … — (O Pequeno Musashibo fez um sinal de positivo.)

Deixe-me explicar. Para a “pele” do Pequeno Musashibo, seu criador abastado não teve dó de dinheiro, já que não tinha nada com que gastar, e por isso era feita com fibras especiais de alta qualidade, à prova de lâminas e balas, resistente ao frio e calor, e também ao ácido.

Por um momento, Dece ficou mudo.

— Ha ha ha…! Certo, em mais dez segundos, também vamos correr. Prepare-se… Três, dois, um.

Ao chegar no um, os dois giraram nos calcanhares e fugiram. A salamandra deu início à perseguição. Entretanto, talvez graças ao tamanho do seu corpo maciço, ela não era muito rápida.

Assim que começaram a pensar Podemos conseguir escapar!, a salamandra balançou a cauda mais uma vez. Por ter feito isso desta vez correndo, o muco voou em direções aleatórias.

— Ugh! — uivou Iuno.

— Iuno! — gritou Dece.

O muco não atingiu Dece nem o Musashibo, mas infelizmente atingiu a perna de Iuno. Ela se agachou, segurando a perna com força. Parecia que não conseguiria se mover graças à dor extrema. Nesse ritmo, seriam alcançados. Foi então que…

— …! — (O Pequeno Musashibo correu para frente.)

— Uwah! — gritou Iuno.

O Pequeno Musashibo a ergueu em seus braços, jogando-a na cesta de vime em suas costas… Então, com Iuno ainda na cesta, o Pequeno Musashibo saiu correndo com passos lentos e leves. Iuno enfiou a cabeça para fora da cesta, olhando de perfil para o rosto do Pequeno Musashibo enquanto corria.

— Uh, um… Obrigada.

— … — (O Pequeno Musashibo fez um sinal de positivo.)

Então, bem a tempo, Dece e ele correram por um buraco estreito.

Tendo terminado a difícil fuga da salamandra e retornando à superfície, os aventureiros fizeram o seu relatório na guilda. Já que não obtiveram sucesso ao matar a salamandra, seu relatório de avistamento foi considerado válido, e receberam uma boa quantia por isso. Parecia que uma força de subjugação em breve seria enviada para lidar com aquela salamandra. Independentemente disso, a missão estava concluída.

Com a recompensa em mãos, o grupo decidiu dividir os despojos. Entretanto, por algum motivo, o Pequeno Musashibo não fez nenhuma tentativa de tomar algo para si. Dece não sabia o que fazer.

— Isso não é justo, te devemos por ter salvo a Iuno! Por favor, aceite a sua parte — implorou Dece.

— … — (O Pequeno Musashibo balançou a cabeça em silêncio.)

— Tem certeza de que não quer nada?

— … — (O Pequeno Musashibo balançou a cabeça. Então acenou, “Até mais.”)

O Pequeno Musashibo se afastou do grupo com passos lentos e calmos. Julia e Iuno, que já tinham se trocado, viram aquele homem (?) partir com olhares perplexos.

— Me pergunto, o que aquela pessoa (?) é? — perguntou Julia.

— Não me pergunte — disse Iuno. — Aquilo era mesmo uma pessoa?

— Aposto que devia ter uma fada deeeentro… — brincou Julia.

— Duvido — disse Iuno. — Mas, se houvesse… Tenho certeza… — Tenho certeza de que era uma boa fada, pensou Iuno.

O Pequeno Musashibo partiu, deixando para trás apenas um mistério. A maga estava correta e era ele uma fada?

E, assim, nasceu outra lenda urbana na capital.

Dentro do grande banheiro coletivo do Castelo Parnam…

Ali estava o torso de um Pequeno Musashibo de grande porte mergulhado em uma banheira, Souma, que lavava o ácido e a lama, e Liscia, que o observava com uma expressão fria no olhar.

— É só a minha imaginação ou ficou ainda maior desde a última vez que eu vi…? — demandou ela.

— Aquele era um protótipo — explicou Souma. — Usei como modelo quando enviei o pedido de trabalho aos artesãos da cidade castelo.

— Ah! Não me diga que o “Aventureiro Kigurumi” de quem estão falando por toda a cidade é…

— Sim, provavelmente é esse cara… Espera, Liscia? Qual é o motivo para o olhar assustador?

— Primeiro o manequim, agora isso! Você está tentando convencer as pessoas de que Parnam é a capital demoníaca?! — gritou ela.

— Ow, isso machuca…! Espera, whoa! — quando Liscia jogou um balde nele, Souma acabou mergulhando, ainda vestido, no banho de água fria. Enquanto na água, pensou em tudo pelo que o Pequeno Musashibo tinha passado.

Eu nunca teria imaginado que houvesse uma criatura gigante como aquela sob a capital. Estou feliz por termos conseguido encontrá-lo antes que os relatórios de danos começassem a chegar, mas coloquei Iuno e seus amigos em perigo…

Ele havia sido otimista ao assumir que mesmo os aventureiros novatos deveriam ser capazes de lidar com os animais selvagens que viviam lá, então se confundiu e definiu o nível de dificuldade como muito baixo. Isso quase resultou na morte desnecessária de aventureiros em uma missão que ele mesmo havia criado. A razão para no final não ter aceito uma recompensa foi por sentir que era o mínimo que poderia fazer depois dos problemas que causou a todos.

Embora o maior dos motivos fosse porque seria errado aceitar a recompensa de uma missão que ele mesmo propôs…

Apesar de tudo, tenho que refletir a respeito do que aconteceu hoje. Mas…

“Uh, um… Obrigada”, disse Iuno.

Quando ele se lembrou de seu rosto enquanto ela timidamente agradecia o Pequeno Musashibo que a carregava, os cantos da boca de Souma, claro, se ergueram um pouco.

A aventura em si foi divertida… Espero ter a chance de fazer isso de novo.

Foi isso que Souma pensou enquanto se sentava encharcado na água suja.

 


 

Tradução: Taipan

 

Revisão: PcWolf

 


 

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