Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 01 – Cap. 05.2 – O Lendário Velho

Lembra de antes, quando falei sobre como a tecnologia deste país estava toda em caos, que mencionei que existiam navios de guerra feitos de aço, mas que eram puxados por enormes dragões marinhos? Quando eu e Liscia chegamos ao local designado para a nova cidade, fomos recebidos por um daqueles navios de batalha de aço.

Navio de Batalha Albert.

Com o nome do ex-rei, era o único navio de guerra em posse do Exército Proibido e o navio almirante da Marinha Real.

Seu formato era semelhante ao Mikasa, que era o navio almirante da Frota Combinada na época da Batalha de Tsushima. Havia duas baterias principais, uma na vante e outra na popa, para um total de quatro canhões, com canhões auxiliares nas laterais, embora as baterias principais e canhões auxiliares estivessem todos carregados no navio, e não a artilharia fixa. Além disso, como não possuía um motor de combustão interna, a falta de uma chaminé era mais uma diferença entre os dois.

Sua fonte de energia era um dragão marinho. (Pareciam plesiossauros, mas com pescoços curtos e grossos e chifres de cabra.) Com um dragão marinho gigante o puxando, o navio de guerra poderia correr pela água. Para um navio comum, um dragão era o suficiente, mas este navio era um modelo de dois dragões.

Agora parece um bom momento, então deixe-me explicar sobre alguns dos desequilíbrios na tecnologia deste país.

Pode até achar estranho que um país que ainda não tenha passado pela revolução industrial tivesse esses tipos de navio de guerra quase modernos. Entretanto, graças à magia e às misteriosas criaturas deste mundo, eram capazes de fazer coisas que de outra forma não poderiam.

Mesmo que algo fosse feito de ferro, se fosse construído com os cálculos adequados para a sua flutuabilidade, poderia acabar flutuando. Em outras palavras, a estrutura externa de um navio de guerra poderia ser construída até mesmo com a tecnologia da Idade Média. A razão pela qual não foram construídos até depois da revolução industrial era porque os motores que seriam necessários para a sua locomoção não existiam. Em uma época em que os únicos meios de impulsionar um barco era apanhando o vento com velas ou remando, um navio de ferro não poderia fazer nada além de ficar flutuando.

Entretanto, neste mundo, existiam poderosos dragões marinhos que eram fortes o suficiente para rebocar um navio de ferro. Ao treiná-los para puxar os navios, a navegação oceânica tornou-se possível. Era por isso que os navios de ferro eram construídos.

Acontecia o mesmo com enormes canhões a bordo do navio de guerra.

Este mundo já tinha pólvora. Agora, isso, por si só, não era estranho. Mesmo na Terra, existem vestígios de pólvora sendo usada antes do aparecimento da pólvora negra, que foi uma das três grandes invenções da China. No segundo século, durante a época do Romance dos Três Reinos, o general que defendia Chencang usou uma arma explosiva (algo como um foguete) para pulverizar o exército invasor liderado por Zhuge Liang.

Porém, neste mundo, não existiam arcabuzes.

Por terem magia para os seus ataques de longo alcance, nunca desenvolveram armas de fogo. Os magos de terra podiam disparar pedras igual uma metralhadora, os magos de fogo podiam lançar ataques que eram como bombas napalm, os magos de vento podiam lançar golpes de vácuo com um alcance incrível, enquanto os de água podiam, a um alcance menor, penetrar obstáculos com a pressão da água.

Além disso, havia aquilo que era chamado de “feitiços fixáveis.” Ao anexar feitiços com vários efeitos a um objeto, ele poderia se tornar mais forte ou até mesmo cortar melhor. Graças a isso, armas com uma massa maior, que poderiam ter mais feitiços embutidos nelas, tendiam a ser mais poderosas.

Assim, uma flecha era mais forte do que uma bala, e uma lança mais forte do que uma flecha. Para explicar melhor, com a pouca massa de uma bala, mesmo se embutisse um feitiço de ataque nela, não poderia perfurar uma armadura com um feitiço defensivo embutido. Seria possível dizer que era por isso que nunca desenvolveram armas.

Entretanto, embora não tivessem rifles, tinham canhões.

Isso porque, sobre a água, o uso de outros elementos era limitado, então eles foram desenvolvidos como um meio de fazer ataques de longo alcance.

Era dito que a magia deste mundo se tratava de uma mistura de ondas especiais emitidas por pessoas, que se deparava com uma substância chamada magicium na atmosfera e produziam uma variedade de fenômenos. Magicium tinha um alinhamento elementar (com exceção das trevas), e a composição do magicium na atmosfera era muito influenciada pelo terreno. Sobre a água existia principalmente magicium aquático, o que significa que a magia dos outros elementos ficava enfraquecida por lá… e assim por diante também com as outras áreas.

Por causa disso, se usassem magia em batalhas navais, todos os elementos, exceto a água, seriam enfraquecidos, e terminariam em uma situação em que a magia elemental da água não teria um alcance longo o suficiente. (Mas ainda poderia ser usada para controlar as correntes para a direção, então os magos de água eram designados para a marinha).

Era exatamente por isso que os canhões foram desenvolvidos como forma de atacar os navios.

Ou seja, a tecnologia só se desenvolve onde há demanda por ela.

Fim da digressão. Agora vamos voltar ao Navio de Guerra Albert.

Quando vi o Albert, eis o que pensei:

O que devo fazer com um navio? Somente quando são defendidos por destróieres e cruzadores é que um navio de guerra ou porta-aviões pode exibir o seu verdadeiro poder. O que tenho aqui não passa de um espantalho.

— Bem, sabe, presumia-se que isso estaria operando ao lado da Marinha. — As palavras de Liscia só tornaram isso ainda mais triste. Essa coisa era claramente um elefante branco.

— Nesse caso, se deixarmos a nau capitânia para a Marinha, não acha que isso nos pouparia alguns dos custos de manutenção? — perguntei.

— M-mas… conseguimos usá-lo para transportar materiais, não é? — perguntou ela.

— Bem… Sim, eu acho…

Tínhamos usado este navio de guerra desnecessariamente grande para transportar materiais para a cidade costeira. Uma vez que retiramos os armamentos de dentro dele, isso havia liberado uma boa quantidade de capacidade de carga. Como neste estágio a rede de transporte ainda não estava estabelecida, isso nos permitiu mover os materiais muito mais rápido do que poderíamos fazer por terra.

— Mas, nesse caso, teria sido ainda mais eficaz se o tivéssemos construído como um navio de transporte desde o começo — falei.

— Ugh! Não seja tão negativo com tudo! — protestou ela.

— Estou lutando com o orçamento, então, quando vejo algo devorando os fundos, não consigo evitar…

Então Aisha apareceu, trazendo Ludwin com ela.

— Vossa Majestade, chamei Sir Ludwin em seu nome — disse ela.

— Vossa Majestade, Vossa Alteza, dou as boas-vindas ao local designado da nova cidade.

O belo capitão da Guarda Real, Ludwin Arcs, saudou com um sorriso. No castelo, ele sempre usava armadura de prata, mas aqui estava vestido de forma mais casual. Com a camisa branca e o colete de couro que vestia, parecia um belo marinheiro que poderia aparecer em um filme de piratas.

Eu estava usando o Exército Proibido para trabalhar na construção da cidade. Claro, também estava contratando um grande número de artesãos da guilda de engenharia civil e construção, mas com a escala do projeto, não poderiam dar conta de tudo.

É por isso que eu estava usando o Exército Proibido, pensando em terminar isso rapidamente com táticas de ondas humanas. Depois de me dar ao trabalho de ensinar aos soldados as habilidades de engenharia de combate, seria um desperdício não usá-las. Eu tinha dois décimos das forças permanentes do Exército Proibido presentes, com os oito décimos restantes construindo a rede de transporte que conectaria todas as cidades.

— Então, como está o andamento da construção? — perguntei.

— Já terminamos de isolar a área. O trabalho está indo bem… ou estava… — disse Ludwin, hesitante e com um sorriso amargo no rosto.

— Continuo te dizendo, você precisa parar a construção! — gritou uma pessoa.

— Escute, velho. Estamos construindo esta cidade por ordem do rei, entendeu? — respondeu alguém.

Ouvi vozes discutindo dentro da tenda que servia como escritório de construção.

— Estou te dizendo isso pelo bem do rei! Vocês não devem construir uma cidade aqui!

— Você simplesmente não entende, não é, velho? Não é como se estivéssemos tentando despejá-lo ou algo assim.

— São vocês que não entendem!

Não, não era uma discussão, era mais como se o velho estivesse unilateralmente gritando com todos…

Falei com Ludwin.

— Então, resumindo, um velho que mora na área se opõe veementemente à construção da nova cidade?

— Sim. Um pescador local. Senhor Urup.

— Eu te disse para não comprar as terras por meio de agressão, não disse…? — perguntei.

— É claro. Estamos oferecendo lotes de terra na nova cidade para que os residentes anteriores possam ficar exatamente onde estão. E não vamos nem cobrar pelos lotes. E por conta do paisagismo, planejamos reconstruir as suas casas sem custo nenhum.

— Hmm… Essas me parecem boas condições — falei.

Pelo que eu podia ver, não havia nada além de vilas de pescadores desertas pelo local. Devia ser difícil sobreviver em um lugar tão rural assim. Se uma cidade fosse construída, com o afluxo de pessoas, muitos dos inconvenientes de morar por perto iriam acabar. Não estavam sendo expulsos de um lugar que lhes ofereceria um futuro melhor, como também teriam as suas casas reconstruídas de graça, então qual o motivo para a oposição?

— Por que aquele velho se opõe a isso? — perguntei.

— Bem…

— Estou te dizendo, você incorrerá na ira do deus do mar! — Voltei a ouvir gritos de dentro da tenda.

O deus do mar?

— Veja, ele diz que este é o domínio do deus do mar e construir casas o deixará com raiva ou algo assim.

— O quê, vocês ainda têm deuses do mar neste mundo? — perguntei.

Liscia e os outros balançaram as cabeças vigorosamente.

— Nunca ouvi falar de nenhum antes — disse ela.

— Também não tenho conhecimento algum a respeito — concordou Aisha.

— Provavelmente é só bobagem de um velho senil… — acrescentou Ludwin.

Parecia que ninguém tinha ouvido falar sobre um.

Um deus do mar, hein? pensei.

— Nunca ouvi falar desse deus do mar na minha vida — disse uma voz lá de dentro. — Você poderia, por favor, não interromper a construção com a sua religião estranha?

— Não é religião! O deus do mar é real! Se você violar a santidade da sua terra sagrada, eventualmente irá irritá-lo e ser destruído! Na verdade, mais ou menos uma vez a cada cem anos, o deus do mar fica furioso! — gritou o homem.

Hm?

— Quando eu era garoto, o deus do mar uma vez fez um massacre. Na época, todas as pessoas que construíram casas na terra sagrada do deus do mar foram engolidas por ele! — acrescentou.

Poderia estar falando sobre o que eu penso ser…?

Entrei na tenda. Lá dentro estava um jovem soldado do Exército Proibido e um velho todo bronzeado usando uma toalha enrolada como uma bandana.

— Sinto muito, senhor. Poderia me contar os detalhes do que está dizendo? — pedi educadamente.

— Quem é você? — demandou ele. — Estou ocupado conversando com esse sujeito…

— O-ora, Vossa Majestade! — gaguejou o soldado.

— Vossa Majestade?! — Quando ele viu o soldado se levantar e me saudar, o velho soltou um grito bizarro.

— Olá — falei. — Sou o Rei de Elfrieden (provisório), Souma Kazuya. — Me movi para apertar a sua mão.

— Meu nome é Urup… — respondeu o velho com uma expressão tensa no rosto.

Assim que terminamos de nos cumprimentar, fui imediatamente ao cerne da questão.

— Pois bem, Urup. De volta ao que você estava falando antes.

— Hm?! C-certo! Vossa Majestade, por favor, reconsidere a construção desta cidade!

— Velho, você realmente vai incomodar Sua Majestade com essas bobagens…? — demandou o soldado.

— Não, eu quero ouvi-lo. — Fiz um gesto para o soldado que estava tentando impedi-lo se retirar. — Pode me falar mais sobre isso?

— M-mas é claro.

E assim, Urup me explicou a lenda local.

Aparentemente, esta terra tinha a princípio pertencido ao deus do mar, mas ele a perdeu depois de ser derrotado pelo deus da terra em uma batalha. No entanto, o deus do mar ainda acreditava que esta terra era sua, e quando as pessoas construíam casas nela, ele destruía as pessoas que viviam nelas.

Era por isso que havia uma regra na vila de pescadores próxima de que ninguém deveria construir casas no local.

Assim que ouviram a história de Urup, Liscia disse:

— Isso é muito vago. Acho que não entendi muito bem.

— Ouvir isso foi pura perda de tempo — acrescentou Aisha.

As duas pareciam exasperadas, mas eu me sentia diferente.

No meio da história, pedia a Ludwin que trouxesse um mapa, perguntando a que distância se estendia a terra sagrada do deus do mar. Então, depois de ter reduzido o alcance da “terra sagrada do deus do mar” o suficiente, olhei para o mapa e disse a Ludwin:

— Precisamos fazer grandes mudanças no plano da cidade.

— Espera, Souma, por que você está falando isso do nada?! — demandou Liscia.

— Você acredita no que este velho está falando, majestade?! — gemeu Aisha.

— Se fizermos mudanças agora, haverá um grande atraso na construção… — protestou Ludwin.

Eu conseguia entender muito bem os seus sentimentos. E também não queria fazer algo tão incômodo. Entretanto, quando considerando a paz da nova cidade, isso precisava ser feito.

— Souma, não vai me dizer que você acredita mesmo neste deus do mar? — perguntou Aisha.

— Não, provavelmente não existe nenhum deus do mar — falei a ela.

— Então…

— Liscia, as lendas são as memórias das pessoas. — Apontei para a minha têmpora. — Lendas são algo que transmitimos. Então, por que as transmitimos, consegue imaginar? Porque nossos antepassados decidiram que isso era importante. Histórias inúteis não seriam repassadas. Se isso foi transmitido, então há uma “lição” a ser encontrada na lenda, ou então “sabedoria para a vida cotidiana” no meio dela.

— E você está dizendo que essa maldição do deus do mar é isso? — perguntou ela.

— Sim. Nesta lenda, a “lição” é não construir casas em uma área específica. Se as pessoas ignorarem essa lição e construírem casas nela, com certeza serão destruídas.” Olhei para Urup e acrescentei: “Por um tsunami, não é?

Urup arregalou os olhos e de repente começou a tremer.

— S-sim! Por um tsunami! Todas as casas por lá foram levadas, com teto, piso e tudo mais!

— E aconteceu um grande terremoto antes da chegada do tsunami? — perguntei.

— C-como você sabe?! — gemeu Urup, como se tivesse acabado de se lembrar disso. A visão das pessoas sendo levadas pela água, com casas e tudo mais, talvez fosse tão chocante que ele não sabia que esteve inconscientemente suprimindo a memória.

— Em outras palavras, a verdadeira identidade do deus do mar é “uma onda provocada por um terremoto submarino” — falei.

Mesmo na Terra, foi só nos últimos tempos que o funcionamento por trás dos terremotos foi descoberto.

Tivemos que esperar até o século 20, quando a estrutura interna da Terra foi descoberta. Até aquele ponto, mesmo se passássemos pelo fenômeno de um terremoto, dizíamos que era por motivos como “atividade vulcânica” ou “água subterrânea se transformando em vapor e causando a formação de uma cavidade oca”.

Usei minhas mãos para demonstrar uma placa afundando sob a outra, como se costuma ver na cobertura do terremoto em programas de notícias, mas tudo que consegui foi um monte de olhares vazios.

— Ummm… Desculpa. Realmente não entendi — disse Liscia.

— Placas? Vibração? Está falando sobre magia, majestade? — perguntou Aisha.

— Também estou perdido — acrescentou Ludwin.

— Quando se trata de coisas tão avançadas, não sei se há algum ensino, mesmo na Academia Real.

Ninguém entendeu. Isso estava à frente do seu tempo, então não poderia culpá-los.

— Certo, então esqueçam sobre o funcionamento do mecanismo — falei. — O importante é que, quando há um terremoto debaixo d’água, ele às vezes provoca um tsunami. Em outras palavras, a “ira do deus do mar” de Urup não ocorre porque as pessoas constroem as casas; essa é uma coisa periódica.

— Minha nossa… Isso vai acontecer mesmo se não construirmos casas lá? — Urup arregalou os olhos.

Tracei os contornos das linhas costeiras no mapa e os mostrei.

— Também posso dizer que a costa deste país está em forma de < e este ponto fica bem no canto dele. Locais como este serão mais danificados pelo tsunami do que as outras áreas costeiras. A razão para isso é… algo que vocês não entenderiam mesmo se eu tentasse explicar, então aceitem, pois é assim que funciona.

Se eu tivesse construído um modelo da costa em miniatura e derramado um pouco de água para que pudessem ver as ondas convergindo, poderiam ser capazes de entender. Mas isso exigiria algum esforço, então podia ficar para depois.

— Ainda assim, se este lugar é tão perigoso, a nova cidade não estará em risco? — apontou Liscia.

Soltei um gemido.

— Hrm… Podem haver alguns pontos melhores do que esse, mas todas as regiões costeiras são quase iguais, e posso dizer, com certeza absoluta, que este é o porto mais próximo do centro do país. Pelo que estou ouvindo, há um longo período de tempo entre os acontecimentos, que só ocorrem uma vez a cada cem anos, então, se projetarmos a cidade presumindo que será atingida por um tsunami, deve dar tudo certo.

Com isso, Ludwin e eu olhamos o mapa, elaborando os detalhes do nosso plano.

— Primeiro, devemos empilhar terra e elevar o nível do solo — falei.

— Agora mesmo? Se fizermos isso manualmente, vai demorar um pouco — respondeu ele.

— Faça com que os magos de terra do Exército Proibido priorizem esse trabalho. Isso terá um enorme impacto no tempo de construção, mas é a única escolha.

— Entendido. — Ele balançou a cabeça. — Agora que penso nisso, ouvi dizer que a cidade costeira da Duquesa Walter tem essas coisas chamadas paredões. Também devemos fazer isso aqui?

— Paredões, hein… Isso vai estragar a vista… — Dei alguma consideração a isso. — Se possível, quero que este porto comercial também seja utilizado como um destino turístico. Além disso, de qualquer forma, os paredões não seriam capazes de resistir a um enorme tsunami sem qualquer precedente.

— Então não devemos construí-los? — perguntou ele.

— Vejamos… Na verdade, prefiro construir uma cidade que não dependa de paredões. Parece que a guilda de engenharia civil e construção tem um especialista em controle de enchentes, então vamos chamá-lo e ouvir a sua opinião.

— Entendido — disse ele. — Agora, quanto às especificidades do plano da cidade…

— Graças ao velho Urup, sabemos até que área o tsunami pode atingir — falei. — Vamos evitar ele ao designarmos os distritos residenciais, comerciais e industriais. Claro, isso também vale para as instalações mais importantes, como os consulados.

— Você não vai desenvolver a área que o tsunami atinge? — perguntou ele.

— O porto de pesca e o cais não podem ir para outro lugar. Quanto ao resto, vamos desenvolver tudo como um parque à beira-mar.

— Entendo. Você vai desenvolver supondo que será tudo levado.

— Sim — falei. — Ah, mais uma coisa, velho Urup.

— Hm? O que houve?

— Vou torná-lo um contador de histórias registrado pelo estado, então providencie para que a Lenda do Deus do Mar seja transmitida, por favor. Vou torná-lo um empregado público que requer uma certificação, então trabalhe duro para, antes de morrer, treinar a próxima geração de contadores de histórias.

— E-eu, um servidor público?! — exclamou ele.

— Sim. Além da lição anterior de “Não construa casas onde o tsunami possa atingir”, trabalhe em “Se você sentir um terremoto, suponha que haverá um tsunami” e também “Já que um tsunami está chegando, evacue para um terreno elevado”. Você pode culpar a ira do deus do mar, apenas certifique-se de que a história seja fácil de contar.

— Entendido…! Vou dedicar o resto da minha vida a isso! — exclamou ele.

— Bom. Aliás, sobre a muralha do castelo que vai circundar a cidade…

Três homens falaram com entusiasmo sobre o projeto da cidade. Liscia e Aisha os observavam com sorrisos irônicos.

— Sua Majestade… parece estar se divertindo — comentou Aisha.

— Ele está se divertindo — concordou Liscia. — Comparado com a caça aos fundos, está.

— Me pergunto o motivo, mas acho que finalmente vi o lado jovial de Sua Majestade.

— Jovial… huh. Tenho quase certeza que o motivo pelo qual Souma não parece jovial é…

— Hm? Qual seria, Princesa? — perguntou Aisha.

— Não. Não é nada…Ei, Aisha.

— Pois não?

— Aisha, você… gosta do Souma? — perguntou ela, hesitante.

— Sim! Tenho muito respeito e afeição por ele!

— Entendi… Então, bem. Vamos trabalhar para apoiar o Souma para que ele continue sorrindo.

— Sim! Mas é claro! — exclamou Aisha.

Na época, eu não tinha percebido que uma conversa como essa havia acontecido.

Trinta anos depois, um terremoto e um grande tsunami sem precedentes atingiram essa área.

A terra foi inundada por águas turvas e muitos barcos foram arrastados para o mar, mas pouquíssimas vidas foram perdidas. Como todos na área cresceram ouvindo a Lenda do Deus do Mar dos contadores de histórias, puderam começar a evacuar assim que sentiram o terremoto.

Após o desastre, uma estátua intitulada “O Rei e o Velho” foi construída no parque à beira-mar.

Era uma estátua para homenagear o velho que, na época da construção da nova cidade, havia arriscado a vida para fazer um apelo direto ao rei e dizer-lhe como se preparar para o tsunami, e o sábio rei que tinha ouvido os seus dizeres. Se os dois pudessem ter ouvido a respeito dessas coisas, teriam rido ironicamente, dizendo: “Isso está embelezado demais.”

Principalmente o velho Urup, que já fora um contador de histórias, mas agora aparecia nas histórias de seus descendentes como o Velho Lendário, que tipo de expressão teria no rosto enquanto os observava do outro mundo?

 


 

Tradução: Taipan

 

Revisão: Roelec

 


 

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