Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino

Como um Herói Realista Reconstruiu o Reino – Vol. 01 – Cap. 03.5 – Intermissão 01: Serina e o Pânico do Espírito da Morte

Castelo Parnam na capital do reino, Parnam.

Você já sabe que este era o palácio real onde reside o rei, mas, recentemente, havia uma história sobre fantasmas circulando pelo lugar. O que aconteceu foi o seguinte:

Em uma noite de verão, na hora da bruxaria, quando até a grama e as árvores dormiam.

Uma das criadas que moravam no castelo estava dormindo em seu quarto quando acordou graças ao calor do verão. Ela tentou voltar a dormir, mas não conseguiu.

Aceitando que seria obrigada a ficar acordada, decidiu ao menos pegar algo para beber e se dirigiu ao refeitório usado pelos guardas e criadas. A água era coletada em uma montanha que ficava perto do refeitório do castelo, e as criadas eram bem-vindas para beber quando bem quisessem.

E aconteceu quando ela entrou no refeitório. A criada viu algo que parecia uma luz bem fraca perto do forno da cozinha. Quando cerrou os olhos, também pôde ver o que parecia ser a silhueta de uma pessoa.

Ah… Uma das cozinheiras ainda está aqui. A criada ficou aliviada ao ver outra pessoa. Sendo este o palácio real, a segurança era muito rigorosa. Não era o tipo de lugar em que intrusos poderiam entrar.

Foi por isso que a criada pensou que era só uma das cozinheiras que ainda estava na cozinha. Assim que se aproximou, parecia que a pessoa estava misturando algo em uma panela. A criada estava prestes a chamar, mas no momento seguinte, um arrepio correu por toda a sua espinha…

— Heh heh heh…

A pessoa soltou uma risada assustadora…

A criada sentiu algo de anormal naquela risada e, sem querer, olhou para a panela na qual a pessoa mexia. Na panela, flutuando em um líquido oleoso parecido com lama, estavam vários ossos, ossos, ossosossosossosossosossosossosossosossos…

Lá, a criada perdeu a consciência.

— Então, aqui está… Um necromante apareceu no castelo e pode ter tentado invocar algo. Está todo mundo falando sobre isso! O que você acha disso, Criada Chefe? — perguntou uma das colegas de trabalho que havia desmaiado à Serina.

Serina não deixou sua cara lisa de sempre desaparecer.

— Entendo… E o que aconteceu com a criada?

— Hã? O que quer dizer com isso?

— Isso não acabou com algo tipo, “Pare! Você vai fazer coisas perversas comigo, não vai?! Igual nas impressões shunga!”?

— Não?! Em vez de rasgar as roupas dela, na verdade, colocou uma capa por cima do seu corpo, e a criada foi encontrada pela equipe de cozinha na manhã seguinte, estava dormindo lá.

— Bem, isso é cha… Digo, bom.

— Você ia dizer “chato”?!

Serina deixou a pergunta da criada de lado enquanto mostrava um sorriso vago.

Ela era a assistente pessoal da princesa deste país, Liscia, além de ser suficientemente capaz para ser colocada à frente de todas as criadas do castelo, mas havia um sério problema com a sua personalidade. Ela era um pouco sádica.

Além do mais, quando se tratava de garotas bonitas, sempre queria “traquinar” com elas. Não “bulinar”, “traquinar”. Isso é brincar um pouco psicologicamente, nada insidioso; só gostava de fazer coisas como obrigá-las a usar roupas ousadas para incitar um pouco de vergonha. E seu alvo número um no momento era sua própria mestra, Liscia, e isso tornava tudo ainda mais incrível.

Ainda assim, um necromante, é…? perguntou-se ela.

Em sua base, Serina era uma mulher boa para o seu trabalho. Se histórias de fantasmas estavam se espalhando em um castelo que havia sido deixado sob seus cuidados, ela não seria tão irresponsável a ponto de ignorá-las.

Na hora da bruxaria, é…? Dizem que as madrugadas são inimigas da pele, mas…

Enquanto se afundava em muitos pensamentos que exigiam uma resposta inteligente, Serina soltou um suspiro.

Então, na hora da bruxaria…

De lanterna na mão, Serina foi em direção ao refeitório. Ela caminhava com passos tão ousados que nunca se imaginaria que estava andando por um castelo no meio da noite. Logo, chegou diante do refeitório.

Já é um pouco tarde para pensar nisso, mas… Se o necromante não aparecer nesta noite, fico pensando por quantas noites terei que ficar acordada até tarde…

Soltando um suspiro, Serina entrou no refeitório. Para a sorte do belo rosto dela, logo avistou a pessoa em questão.

Perto do forno da cozinha havia uma luz e, perto dela, alguém estava fazendo algo. Serina se aproximou em silêncio, espiando a panela por cima do ombro da pessoa. Dentro da panela havia um líquido oleoso borbulhante e um grande número de ossos flutuando nele.

— Heh heh heh… Logo… Logo estará completo…

A pessoa mexia na panela enquanto deixava risadas como aquela escapar. Era uma visão que faria outras criadas desmaiarem, mas a capaz Serina conseguiu identificar exatamente que tipo de ossos que eram.

Não são ossos humanos. Será que são de um javali gigante? Vejo vários ossos de pássaros e de peixes grandes misturados. Além disso, embora não pareça apetitoso, o líquido turvo tem um cheiro tentador.

Serina decidiu dar um tapinha no ombro da pessoa.

— O que você está fazendo aí?

— Wah?!

Ela devia ter assustado a pessoa, já que o enorme corpo redondo saltou no ar.

Quando ele se virou, ela foi capaz de ver seu rosto com clareza.

— M-Madame Serina?! O que você está fazendo aqui?!

— Devo te perguntar o mesmo, Sir Poncho.

A mexer a panela estava o homem que outro dia recebera de Souma o nome do evangelista alimentar “Ishizuka” e que fora nomeado Ministro de Estado para a Crise Alimentar, Poncho Ishizuka Panacotta.

— O que, por favor, diga, você está fazendo no refeitório a esta hora? — demandou ela.

— I-isso é… Bem… — Poncho balançou os braços, ansioso. Ele era completamente suspeito.

Serina estava prestes a pressioná-lo ainda mais, quando…

— O que vocês dois estão fazendo…?

Pega de surpresa, se virou e lá estava o Rei Souma Kazuya.

— Existiam histórias de fantasma como essa por aí? — disse ele. — Liscia vai ficar brava comigo de novo…

Depois que Serina contou sobre os rumores para Souma, ele ficou lá, coçando a cabeça.

— Afinal, o que vocês estavam fazendo, senhor? — perguntou ela.

— Ah, bem… estávamos fazendo exatamente o que você está vendo aqui — disse ele. Souma apontou para três tigelas que estavam sobre a mesa. — No mundo de onde venho, isso é chamado de ramen.

— Ramen… é?

Como dito por Souma, as três tigelas estavam cheias de ramen. Além disso, era daquele tipo oleoso feito com frutos do mar e ossos de porco. Ele sem querer enfiou os hashis em uma tigela e começou a sorver o macarrão enquanto fazia barulho.

— Aham… A sopa está quase perfeita. Mas, como estamos usando udon de gelin, está um pouco sem graça.

— Não há nada que possa ser feito quanto a isso. No momento, o trigo é algo precioso, sim.

— Mais uma razão para cuidar da crise alimentar o quanto antes…

Enquanto assistia a conversa entre Souma e Poncho, Serina provou o seu ramen. Envolvendo o macarrão em torno do garfo, ela o levou à boca.

Assim que o fez, o sabor rico e saboroso dos frutos do mar e do caldo de osso de porco surgiu. Era espesso, rico e forte, mas o sabor dos vegetais havia derretido no caldo, evitando que ficasse rico demais. Mas que sabor mais complexo. Era bem gorduroso, mas seus instintos demandavam por mais.

Souma e Poncho observavam Serina, sorrindo.

— Eu estava pensando se poderíamos usar os ossos e restos de vegetais que de outra forma jogaríamos fora para fazer uma sopa, sabe — disse Souma. — Pedi para o Poncho estudar isso. Ele fazia isso bem tarde da noite, para que não incomodássemos os cozinheiros.

— Ah, foi um trabalho bem duro, sim — disse Poncho. — Afinal, era um prato que eu mesmo nunca tinha provado.

— Entendo… então era essa a verdade por trás do necromante — disse Serina, limpando a boca com um guardanapo. — Mesmo assim, isso é delicioso… Sir Poncho?

— S-sim. O que foi?

— Posso te incomodar e pedir que me ensine a fazer esta sopa?

— É claro que pode, sim.

Parecia que Serina também tinha ficado encantada com a magia dessa sopa oleosa.

Depois disso, uma história de fantasmas sobre dois necromantes se espalhou.

Quase ao mesmo tempo, Serina, cuja pele tinha se tornado estranhamente lisa (efeito do colágeno?), disse:

— Sir Poncho, sobre os ossos que você usa naquela sopa, por que não torrá-los e amassá-los antes de usá-los?

— I-isso faz sentido! Estou impressionado, Serina! Você vê as coisas de uma forma diferente, sim!

— Esta noite… Se tiver a chance de tentar fazer isso, deixe-me provar um pouco.

— É claro que deixo, sim.

Quando as criadas viram os dois conversando de forma tão íntima, a imaginação delas disparou, mas essa é uma história para outra hora.

 


 

Tradução: Taipan

 

Revisão: Roelec

 


 

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