No 32º dia do 4º mês do 1546º ano do Calendário Continental, o trono foi cedido a Souma Kazuya.
Isso aconteceu na capital do Reino Elfrieden, Parnam.
Esta cidade era a capital, onde ficava a residência do rei do Reino Elfrieden, o Castelo Parnam. Uma cidade havia se erguido ao redor do castelo, e as muralhas circulares que o cercavam lembravam uma cidade-estado na Europa da Idade Média. Os telhados no bairro dos nobres e dos camponeses eram uniformemente laranja, o que se adequava bem à imagem clássica da cidade.
O Castelo Parnam ficava no centro, conectado aos portões norte, sul, leste e oeste por grandes estradas que sempre estavam ocupadas com carruagens e grandes bestas montadas. Além das estradas principais, havia também inúmeras estradas menores de paralelepípedo que se espalhavam do castelo, e essas pequenas estradas eram conectadas por ainda mais estradas pequenas. Visto do ar, pareceria com uma teia de aranha, ou talvez com um floco de neve. Essas estradas ficavam repletas de mercadores e comerciantes em ambos os lados, e estavam sempre movimentadas.
Como era feriado, e também o primeiro dia de folga desde que o novo rei, Souma (embora, como a cerimônia de coroação ainda não havia ocorrido, ele era tecnicamente apenas rei em exercício), recebera o trono, o mercado estava ainda mais ocupado do que o normal. Essa mudança repentina de monarca causou tensão na cidade-castelo por um tempo, mas assim que souberam que o trono havia sido cedido ao herói convocado, e que o ex-rei, Albert, havia anunciado sua abdicação por sua própria vontade, e que Souma estava prometido à Princesa Liscia, a filha do ex-rei, a confusão naturalmente diminuiu.
Como o ex-rei governou por meio de “ser amado”, os rumores se estabeleceram em:
— Bem, se o rei está de acordo, acho que está tudo bem.
— Sim, a pressão realmente parecia estar afetando ele. Estou feliz que agora tenha tirado esse peso dos ombros.
— Agora ele vai conseguir pegar leve. Isso é o melhor para todos.
As interpretações das pessoas sobre o que aconteceu foram amplamente favoráveis. Parecia que os modos indolentes do rei estavam em sintonia com o caráter nacional. Tendo o trono forçado a ele, Souma temeu que um movimento de resistência pudesse se levantar contra a mudança repentina, mas ficou um pouco desapontado quando isso não aconteceu. Apesar de tudo, foi outro dia tranquilo em Parnam, enquanto pessoas de várias raças cuidavam de seus negócios.
Como se cortando através daquela tarde pacífica, um cavalo branco galopou pelos paralelepípedos.
O cavalo foi estimulado por uma bela jovem em um uniforme militar vermelho que parecia ter saído do Rosa de Versalhes[1]. Ela tinha dezesseis ou dezessete anos, com pele clara e cabelo loiro platinado que esvoaçava atrás dela com o vento. Seu uniforme justo acentuava as linhas bem equilibradas de seu corpo.
Uma linda garota cavalgando um cavalo branco representava, por si só, uma cena pitoresca. As pessoas pelas quais ela cruzou soltaram suspiros de admiração, que se transformaram em aplausos quando perceberam que era a princesa de seu país.
— Parabéns pelo seu noivado, Princesa!
— Desejamos felicidades!
As pessoas lhe deram saudações calorosas, sem nenhuma ideia de como ela mesma se sentia sobre o assunto. Claro, era improvável que pudesse ouvi-los no momento, de qualquer maneira.
— Pai, Mãe… Por favor, estejam bem! — sussurrou ela, Liscia Elfrieden, para si mesma com uma expressão de dor no rosto.
— Pai! Qual o significado disso? — exigiu Liscia, levantando a voz com a cena diante dela.
O quarto do rei. Era um quarto grande o suficiente para que a cama king-size não o preenchesse, e cada peça de mobília foi primorosamente projetada. A princípio, este cômodo deveria ser o aposento privado do casal real, por isso deveria ter sido entregue a Souma quando ele subiu ao trono, mas o novo rei não queria ter o trabalho de se mudar, então deu permissão para o ex-casal real ficar, e eles ainda estavam usando. Souma, aliás, levou uma cama simples para o escritório de relações governamentais e dormia lá.
Quando Liscia entrou correndo naquele quarto, sem fôlego, foi saudada pela visão de seus pais não apenas elegantemente saboreando o chá na varanda anexa, mas mergulhando scones[2] no creme, levando-os à boca um do outro e dizendo:
— Diga ah, querida.
— Ah.
E alimentando um ao outro.
Liscia caiu no chão, mas rapidamente se levantou e marchou até o ex-rei, Albert, com raiva nos olhos.
— Pai, quando soube que seu trono havia sido usurpado, voltei correndo de minha patrulha fora da capital! Então, por que agora encontro vocês dois se alimentando sem se importar com o mundo?!
Liscia, além de seu título de princesa (embora, após a abdicação, agora fosse a noiva do novo rei), também se formou na escola de oficiais e ocupou um posto de oficial no exército. Ela não estava especialmente acima na hierarquia, mas devido ao seu nascimento nobre, era quase sempre incumbida de comparecer a funerais do exército real ou de outras missões de natureza especial. Desta vez, estava em uma patrulha regional, então ao saber da abdicação de seu pai, correu para a capital.
— Não houve usurpação, na verdade. Eu abdiquei por minha própria vontade — disse seu pai calmamente.
— Por que você fez isso?!
— Tive a certeza de que aquele homem seria um rei melhor para esta nação do que eu. Esta é uma decisão que tomei como o encarregado por este país, e assumo total responsabilidade por isso. Não vou tolerar objeções.
Naquele momento, Liscia viu a autoridade digna do homem que carregava, até recentemente, uma nação nos ombros, e se viu incapaz de se opor a mais nada.
— Urkh… Mas como você pôde decidir meu noivado sem me consultar?
— Vocês podem discutir isso entre si. O noivado foi algo que o forcei a aceitar. Se não quiser, duvido que Sir Souma irá forçá-la a isso.
— Mãããããããe! — gritou Liscia. Ela se voltou para a mãe em busca de ajuda, mas Elisha apenas sorriu.
— Primeiro conheça Sir Souma. A vida é sua, então você deve decidir o que fará com ela sozinha. Seja qual for a sua decisão, nós a respeitaremos.
Sem nem mesmo um fio de esperança para agarrar, os ombros de Liscia caíram.
Ela saiu do quarto do ex-casal real e caminhou rapidamente pelo palácio.
Fazia algumas semanas desde que deixou este palácio para suas patrulhas regionais. Algo sobre o palácio do qual esteve longe por pouco tempo chamou sua atenção. Muitos dos servos corriam… Os guardas, as criadas, os burocratas, até os ministros… qualquer um e todos corriam. A visão de ministros gordinhos correndo e ofegando com o suor escorrendo em suas testas era tão surreal que ela só conseguia olhar, estupefata.
Antes não era assim. O castelo do qual se lembrava era um lugar tão relaxado que parecia que o tempo fluía mais devagar ali. As criadas, os ministros… todos andavam devagar e era tão silencioso que seria possível ouvir os guardas do palácio treinando no pátio de qualquer lugar do palácio. Liscia não havia entrado para a academia de oficiais porque estava farta daquela atmosfera?
Mas e agora? Não importava onde fosse no castelo, o som de passos ecoava.
Liscia chamou uma das criadas que estava passando correndo.
— Posso ter um minuto?
— Ora, Princesa! Como posso ser útil? — perguntou a criada, diminuindo a velocidade.
— Hmm… Todo mundo no castelo parece estar com muita pressa. Tem algo acontecendo?
— Não? Nada em especial.
— Você tem certeza? Parecia que todos estavam correndo para fazer algo…
— Tenho. Ah, mas, talvez seja a influência do nosso novo rei. Quando vemos como aquele homem trabalha, ficamos mal se não trabalharmos também. Eu não suportaria ser lenta… Ah, agora estou no meio de algo, então vou me retirar!
— E-entendo… Dê o seu melhor.
Enquanto ela observava a criada sair em alta velocidade, Liscia ficou pasma.
Para ele fazer até as criadas se sentirem assim, quão duro o novo rei trabalha?! Com que tipo de cara fui comprometida?!
Ela descobriu-se querendo enterrar ainda mais a cabeça nas mãos.
Por fim, foi ao escritório de assuntos governamentais do rei. Quando abriu a porta, a primeira coisa que viu foi uma montanha de papéis. Em uma mesa grande o suficiente para que dois adultos crescidos pudessem dormir em cima dela, os papéis estavam empilhados e pareciam prestes a desmoronar. Isso não era tudo. Quando olhou em volta, viu vários burocratas sentados em outra mesa comprida, lutando uma batalha perdida com ainda mais maços de papéis.
Enquanto Liscia ficava lá, estupefata, um jovem falou com ela do outro lado da montanha de papel.
— Você, que acabou de entrar.
— Hã…?! O quê?! — Recuperando os sentidos, Liscia soltou um gemido estranho, mas aquele que falou não pareceu se importar.
— Consegue ler? Sabe calcular?
— N-não zombe de mim! Eu com certeza aprendi ao menos isso!
— Perfeito. Venha aqui e me ajude com o trabalho.
— Quem você pensa que é, me pedindo para ajudar…?
— Apenas faça. Essa é uma ordem real.
Dizendo isso, a pessoa atrás da montanha de papel se levantou.
Então, finalmente, pela primeira vez, os dois ficaram cara a cara. Foi o primeiro encontro entre o novo rei, Souma, e sua noiva, Liscia.
Liscia mais tarde descreveria sua primeira impressão dele como “um jovem com olhos cansados.”
Em histórias em que um herói é convocado para outro mundo, ele às vezes ganha poderes como resultado de ser convocado. Parecia que todas as pessoas deste mundo tinham alguma habilidade para usar magia, então onde estava o mal em esperar que eu pudesse ter ganhado a habilidade de usar magia também? Tecnicamente, fui convocado como um herói.
Então, logo depois que tive o trono cedido a mim, alguns caras parecidos com sacerdotes fizeram uma inspeção de minhas habilidades.
Pelo visto, havia vários tipos de magia que as pessoas podiam usar e eles tinham dispositivos que podiam testar isso. Parecia uma espécie de chapa de pedra. Quando uma pessoa tocava a chapa, seu tipo de magia e suas habilidades eram exibidos em sua cabeça. Nem mesmo as pessoas deste mundo compreenderam os princípios por trás de como funcionava, mas parecia que havia um bom número desses tipos de artefatos descabidos neste mundo.
Então, recebi meu diagnóstico, e aqui estava o poder que ganhei:
[O Poder de Transferir Consciência Para um Objeto e Manipulá-lo]
Era uma habilidade que me permitia transferir minha consciência para objetos que toquei e podia manipular até três deles ao mesmo tempo.
Parecia mais um poder psíquico do que mágico, mas quanto mais leve o objeto, mais livremente eu poderia controlá-lo. Poderia até mesmo ter uma visão geral de tudo o que estava controlando. Além do mais, além da minha própria consciência, também poderia fazer com que o objeto se movesse sob uma consciência independente. Usando um objeto como um tipo de meio, poderia pensar em várias coisas ao mesmo tempo.
Embora houvesse a limitação de que só podia mover as coisas perto de mim, ser capaz de fazer as coisas se moverem à vontade era legal. Como se estivesse ativando um efeito poltergeist.
Então, foi por isso que chamei minha habilidade de “[Poltergeists Vivos].” Será que estou sofrendo com um caso de síndrome do ensino médio?
Tendo ganhado meus [Poltergeists Vivos], uma coisa logo me veio à mente:
— Isso vai ser muito útil para cuidar da papelada!
Sim… Copiando minha consciência em três canetas, poderia revisar vários documentos ao mesmo tempo com o pensamento paralelo e, ao manipular as três canetas, poderia assiná-los. Cara, desde que descobri que tenho essa habilidade, trabalhei muito mais. Na verdade, sem essa habilidade, a montanha gigante de papéis que se acumulou na confusão desde que subi ao trono provavelmente já teria me enterrado em uma avalanche.
Sim… Sei o que você quer dizer. Adquiri uma habilidade, e ela acabou sendo boa principalmente para lidar com o trabalho de mesa com mais facilidade?
Enquanto fazia bom uso dela, sempre que pensava nisso como um poder de herói, só conseguia pensar: “Como as coisas acabaram assim?” Quero dizer, mesmo se eu não tivesse uma magia superpoderosa que me permitisse enfrentar hordas de inimigos ao mesmo tempo, teria gostado de alguma magia defensiva que pelo menos me deixasse me proteger.
Bem…, desejar coisas que eu não poderia ter não iria me levar a lugar nenhum. E era, na verdade, um poder útil para mim.
Neste dia, como de costume, estava lutando contra a montanha de papéis com meus [Poltergeists Vivos]. Enquanto fazia isso, alguém entrou na sala com um barulho tão estrondoso que parecia que estava tentando derrubar uma porta perfeitamente boa. Quando espiei por uma brecha na montanha de papel, vi que era uma jovem com uniforme militar.
Com suas feições regulares, pele tão pálida que parecia translúcida e cabelo loiro platinado sedoso, era tão linda que em qualquer outro momento eu teria ficado cativado por sua beleza. No entanto, depois de ter virado três noites consecutivas, não vi uma garota bonita, mas apenas uma nova fonte de trabalho.
Depois de chamá-la e praticamente forçá-la a se sentar ao meu lado, empurrei duas pilhas de papel em sua direção.
— Compare esses dois conjuntos de documentos e procure lugares onde os valores, ou o número de itens, não batem e marque-os.
— Hã? O quê? Que tipo de trabalho é esse?
— O quê, você pergunta? Isso é cavar em busca de um tesouro enterrado. É isso que é — expliquei para a perplexa garota de uniforme. — Para “despesas não contabilizadas”, para ser mais preciso. Uma pilha é de solicitações de apropriações orçamentárias, a outra é de relatórios de receitas e despesas. Mesmo que o valor solicitado e o valor gasto batam, se o número de itens for diferente, isso pode ser um indicativo de um desperdício de investimento realizado para esgotar todo o orçamento ou de peculato disfarçado de investimento. Iremos verificar tudo e, se alguma lei tiver sido violada, faremos cada uma das partes responsáveis pagar para compensar a perda. Se descobrirmos um peculato pessoal, exigiremos o reembolso e, caso não possam pagar, prenderemos o infrator e confiscaremos seus bens.
— E-entendi.
Talvez ela tivesse se sentido intimidada pelo ar ameaçador de um homem que não dormiu, já que a garota acenou com a cabeça enquanto eu falava.
Bom.
Talvez tenha se passado cerca de duas horas com ela trabalhando em silêncio ao meu lado.
Por fim, a garota de uniforme militar falou comigo, suas mãos nunca parando de verificar os documentos enquanto fazia isso.
— Ei…
— O quê? Se você estiver cansada, pode fazer uma pausa quando quiser.
— Não, não é isso… ainda não me apresentei. Me chamo Liscia Elfrieden. A filha do ex-rei, Albert Elfrieden.
Parei de mover minha caneta.
— Você é a princesa, hein…?
— Não pareço uma?
— Você está de uniforme, então não percebi. Mas… Sim, talvez você pareça uma princesa…
Nesse ponto, ela finalmente me fez notar o quão atraente que era.
— Meu nome é… Souma Kazuya. Tecnicamente, sou o novo rei.
Liscia se virou para mim. Ela estava bem próxima, e nos olhamos nos olhos. Ao contrário de mim, que estava surpreso, seus olhos dourados pareciam estar me avaliando. Depois de nos fitarmos por algum tempo, Liscia abriu a boca lentamente.
— Não sou mais uma princesa. Já que você usurpou o trono, minha posição atual é um pouco incerta.
— Usurpei…? Seu pai empurrou o trono e todos os seus deveres para cima de mim, se você não sabe. Honestamente, por que eu tenho que passar por todo esse sofrimento e aborrecimento?
— Sério, o que aconteceu…? Eu sei que você é o herói convocado, mas como isso de repente se transformou em você assumindo o trono?
— Diga você. Só fiz o que senti que precisava fazer para me proteger…
Expliquei o que havia acontecido na cerimônia de convocação para Liscia.
Quando fui convocado para este mundo, estive a ponto de ser entregue ao Império. O rei não parecia entusiasmado com a ideia, mas, visto que não tinha outro plano, se o Império o pressionasse, provavelmente não teria outra escolha. Não havia como dizer o que poderia acontecer comigo se eu fosse entregue ao Império, então pedi ao rei para escolher a opção de “não entregar o herói”.
Minha proposta ao rei e ao primeiro-ministro era que pagassem os subsídios de guerra para ganhar tempo e, com esse tempo, impulsionassem políticas que iriam construir um país forte e próspero. Se eles estavam dizendo “entregue o herói no lugar dos subsídios de guerra”, tudo o que tínhamos que fazer era pagar os subsídios. Se fizéssemos isso, perderiam qualquer justificativa para interferir em nossos assuntos. Não era uma ameaça real, não importa o que parecesse. Para manter as aparências, o Império não insistiria mais nisso. Esse foi o meu raciocínio. Usaríamos o tempo ganho dessa maneira para buscar políticas de fortalecimento do país que nos permitissem ficar em pé de igualdade com o Império.
Os dois tinham suas objeções, é claro. Disseram que este país não tinha meios de pagar os subsídios de guerra. Mas, depois de inspecionar o material que me trouxeram, pude mostrar que, se vendêssemos algumas instalações estatais, decretássemos limites para gastos do governo, e o rei entregasse alguns de seus “bens pessoais”, seria possível pagar.
Eu havia ingressado na Escola de Estudos Socioeconômicos da universidade (a propósito, a matéria que havia escolhido para a parte socioeconômica do vestibular era História Mundial) e meu sonho para o futuro era ser funcionário público. Tudo isso estava dentro da minha área de especialização.
Ao ouvir esse plano, o rei assumiu uma expressão ponderada, mas o primeiro-ministro, Marx, ficou entusiasmado. Ele devia ter decidido que, em vez de entregar o herói para preservar o status quo, a implementação de reformas econômicas provavelmente deixaria o país com algum futuro. O rei ficou mais entusiasmado à medida que prosseguíamos.
Como o cara que sugeriu tudo, sabia que provavelmente seria esperado que eu trabalhasse muito nessas reformas, mas apenas como um burocrata no ministério das finanças… era o que pensava.
— E então ele empurrou o trono para cima de mim.
— Hmm, bem… Sinto muito.
— Não precisa se desculpar por isso. De qualquer forma, você é uma vítima de tudo isso, de repente se descobrindo como minha noiva.
— Bem, sim… Espera, hein? Qual de nós está em uma posição superior? Eu preciso ser super educada e formal? — Ela parecia insegura se deveria falar comigo como um plebeu faria com um rei ou como uma princesa que era candidata a rainha.
— Não podemos manter isso de forma casual…? — falei.
— Certo…
— Além disso, não se preocupe com a coisa do noivado. Só estou no trono por enquanto. De qualquer forma, provavelmente vou desistir de toda essa coisa de rei em alguns anos.
— Hã? Por quê?!
— Porque só planejei trabalhar duro o suficiente para ganhar os subsídios do Império para que eu não fosse entregue. Agora que recebi o trono, farei o suficiente para colocar este país no caminho certo, mas depois disso, deixarei para as pessoas daqui lidarem com o resto. Claro, então poderemos romper o noivado.
Dei um sorriso tranquilizador para Liscia.
— De qualquer forma, provavelmente vou desistir de toda essa coisa de rei em alguns anos. — Arregalei os olhos quando ouvi Souma dizer isso.
Ele faz parecer tão simples. Ao menos sabe como isso seria difícil? Mesmo alguém como eu, que se concentrou tanto em questões militares que meu conhecimento político ficou um pouco fraco, podia ver a situação em que nosso país se encontrava. Acredito que a expressão seja “xeque-mate”. A escassez de alimentos, o mal-estar econômico, o influxo de refugiados causado pela invasão de demônios, além da pressão do Império Gran Caos. Não tínhamos nada além de incertezas caindo sobre nós.
Por esse motivo, eu poderia de alguma forma entender a decisão de meu pai de abdicar imediatamente ao trono para alguém que sentiu ser mais capaz. Mas, mesmo assim. Considerando tudo isso, seria mesmo possível colocar este país de volta nos trilhos? Mesmo supondo que ele pudesse de alguma forma fazer isso, o povo permitiria que um rei que havia realizado uma façanha tão grande se aposentasse tão facilmente?
— Então…, você acha que pode garantir os fundos para os subsídios de guerra?
— Hm? Sim. Já assegurei os fundos para enviar ao Império.
— Hã…?
— No momento, estou tentando espremer os fundos para minhas reformas. Afinal, custarão ainda mais do que os subsídios de guerra.
Espera… Espera, espera, espera, espera! Ele já garantiu os fundos? Pelo que ouvi, o montante que o Império solicitou foi tão grande que equivalia ao orçamento nacional!
— Onde é que tínhamos tanto dinheiro…?
— Eu vendi, tipo, um terço do cofre do tesouro.
— O cofre do tesouro… Nossos tesouros nacionais?! Não me diga que vendeu nossos tesouros nacionais! Você não fez isso, não é?! — Me aproximei de Souma, que parecia muito indiferente diante da coisa toda. — Os tesouros nacionais pertencem a todo o país! Apenas vendê-los arbitrariamente é uma traição ao nosso povo!
— Ora, ora, apenas se acalme. Se você disser que são propriedade do povo, eu diria que vendê-los para o benefício do povo é bom.
— Mesmo assim, havia objetos com valor histórico e cultural…
— Ahh, se isso é de seu interesse, eu os separei. Tudo que vendi foram joias e objetos ornamentais que tinham valor material.
Souma olhou para papelada do inventário do cofre do tesouro.
— Os tesouros foram divididos em três categorias: Categoria A (itens com valor histórico ou cultural), Categoria B (itens sem valor histórico ou cultural, mas com valor monetário) e Categoria C (todo o resto). Vendemos apenas itens da Categoria B. Em vez de vendermos os itens da Categoria A, se os colocarmos em exibição rotativa em um museu, é provável que sirvam como uma fonte de renda mais pontual.
— Bem, talvez… E quanto à Categoria C?
— Ferramentas mágicas, grimórios e assim por diante. Honestamente, não tenho certeza da melhor forma de lidar com eles. Você poderia dizer que são como armas, de certa forma. Não podemos vendê-los ou exibi-los sem as devidas precauções. Mas aquele conjunto completo de Equipamento Heroico parecia que poderia render um bom preço… Se importa se eu vender aquilo?
— Por favor, não faça isso…
Tecnicamente, você deveria ser o herói… Ah, espere, agora você é o rei, não é?
— Mas, se temos todo esse dinheiro, não deveria enviar para os militares? Na escola de oficiais, aprendi: “Gaste sempre com a defesa, nunca com tributos.”
— Deixe-me responder a essa frase forte com outra. “Tempo é dinheiro.” Ou seja, ao oferecer subsídios de guerra como sacrifício, podemos obter o único recurso de que nosso país mais precisa no momento: tempo.
— Por que você tem que falar de uma forma tão indireta…?
— Não se preocupe com isso. De qualquer forma, mesmo se pudéssemos fortalecer nossas forças, seria em vão se também não pudéssemos colocar as questões internas sob controle. Até que as questões de comida e refugiados sejam resolvidas, só vamos continuar perdendo o apoio das pessoas. Assim que isso acontecer, ficaremos com um estado frágil que é facilmente lançado em desordem com um pouco de agitação criada por agentes desconhecidos.
— Não… As pessoas também amam este país. Não iriam se revoltar…
— Você está sendo idealista. “Apenas quando alguém está vestido e alimentado, aprende-se boas maneiras.” No final das contas, você não pode ter moral ou patriotismo com o estômago vazio. Se uma pessoa está muito ocupada cuidando de si mesma, não pode se dar ao luxo de cuidar dos outros.
Os olhos de Souma estavam frios quando ele disse isso. Era uma visão dura e realista. Só isso me fez sentir que ele estava certo. Pela sua aparência, qualquer um esperaria que fosse um homem fraco, mas de alguma forma…
Parecia tão confiável…
Depois de mais um dia, finalmente consegui garantir uma certa quantia de dinheiro. Embora não estivesse exatamente cheio da grana, teria o dinheiro de que precisava para minhas reformas. Consegui extrair todo esse valor apenas de minhas participações diretas, sem ter que tocar nos Três Ducados, então gostaria de receber ao menos alguns elogios por isso.
Olhando ao redor da sala… Foi um desastre. Burocratas estavam desmaiados em suas mesas, outros estavam recostados e dormindo em suas cadeiras, seus rostos olhando para o céu. No sofá, Liscia estava deitada e roncava baixinho.
Me aproximei dela em silêncio, sentei no braço do sofá e a observei dormir. No final, a garota ficou acordada até quase o amanhecer me ajudando no meu trabalho. Mesmo provavelmente querendo dizer uma ou duas coisas sobre ser forçada a um noivado comigo…
Afaguei sua cabeça adormecida. Seu cabelo sedoso deslizou suavemente entre meus dedos. A emoção de ser libertado após um trabalho tão longo deve ter me afetado. Normalmente, eu ficaria com vergonha de fazer isso enquanto sóbrio, mas apenas ficar sentado assim me deixava feliz.
— Mrm…
Liscia gemeu, então tirei minha mão de seu cabelo. No momento seguinte, ela abriu os olhos e deu um pulo. Talvez ainda estivesse um pouco grogue, já que estava olhando para todos os lados.
Com um sorriso irônico, desejei-lhe bom dia.
— Bom dia, Liscia.
— B-bom dia… Huh? Eu dormi…?
— Já chegamos a um bom ponto de parada. Quer voltar a dormir?
— Ah, não. Estou bem. E você, Souma? Você não dormiu, não é?
Parecia que ela estava totalmente acordada. Também fiquei feliz em vê-la mostrando preocupação por mim.
Me levantei do apoio de braço e estiquei bem os braços.
— Pretendo ter um bom descanso depois disso, mas… primeiro poderia vir comigo por um momento?
— Hm? Para onde?
— Para uma caminhada antes de dormir — falei.
À luz do amanhecer, Liscia e eu cavalgávamos.
Enquanto respirava a névoa da manhã, o cavalo de Liscia acelerou junto com um clip-clop, clip-clop, sem se incomodar nem um pouco com o peso de duas pessoas. Ela sentou-se na frente segurando as rédeas, enquanto eu fiquei atrás, com meus braços em volta de sua cintura fina, segurando como se a vida dependesse disso.
— Ei, não aperte minha barriga com tanta força — objetou ela.
— Sem chances. Isso é muito assustador.
— Lamentável. Normalmente você não deveria, como o homem, ser aquele que segura as rédeas?
— Bem, não é como se eu tivesse escolha. Já que nunca andei a cavalo antes.
No Japão moderno, raramente havia qualquer chance de andar a cavalo.
Na melhor das hipóteses, havia montado em um pônei no zoológico quando criança, enquanto outra pessoa o conduzia pela corda.
— Neste país, praticamente todo mundo, desde fazendeiros até a nobreza, pode cavalgar, sabe? — disse ela.
— No meu mundo, havia muitos veículos mais convenientes.
— Seu mundo… Fale-me sobre ele, Souma.
— Hm?
— Você… deixou alguma família, uma amante, talvez, no outro mundo? — perguntou Liscia, hesitante. Ela estava tentando ter consideração pelos meus sentimentos?
— Não, ninguém. Meu último parente, meu avô, faleceu faz alguns dias… é.
— Sinto muito…
— Não precisa se desculpar. O Vovô teve uma vida plena. É por isso que, bem… Ninguém deve estar esperando pelo meu retorno, então acho que não preciso de pressa para voltar.
— Ah… Você não precisa. — Liscia parecia um pouco aliviada.
À medida que conversávamos, o cavalo continuou avançando. Eram cerca de seis da manhã, talvez. O momento em que as pessoas finalmente começavam a se levantar. Ao passarmos pela rua comercial, nenhuma loja estava aberta e quase ninguém estava do lado de fora. Passando pela cidade do castelo, chegamos à muralha que contornava a capital. Alcançamos um portão enorme, do tipo que eu só tinha visto em filmes de fantasia estrangeiros, e depois de falar com os guardas de lá, saímos por uma pequena porta ao lado dele.
Liscia conduziu toda a conversa. Se o rei recém-coroado tivesse dito que queria sair da cidade sem guarda-costas, duvido que tivessem permitido. Então, ela, que tinha uma patente de oficial, disse: “Fui enviada para fora por ordem do rei”, e cumpriu isso como parte de seus deveres.
Depois que passamos pelo portão com segurança, Liscia acrescentou:
— Já que eu disse que era uma ordem real, haverá um registro dela. Quem sabe o que Marx vai nos dizer mais tarde…
Ignorei suas reclamações.
Depois de uma curta viagem pelas ruas da cidade, finalmente chegamos ao nosso destino.
— Pare aqui… — falei.
Ao parar o cavalo, Liscia me olhou interrogativamente.
— É aqui que você queria vir? Tudo o que vejo são os campos dos agricultores.
Na verdade, não havia nada além de campos verdejantes por perto. Campos verdes, molhados com o orvalho da manhã, até onde a vista alcançava. Este era o lugar… Sem dúvidas.
— Este é o lugar que eu queria mostrar a você, Liscia.
— Esses campos? Suponho que são bonitos quando estão molhados com o orvalho da manhã desse jeito…
— Bonitos… huh. Mesmo que seja por isso que as pessoas estão morrendo de fome.
— Quê? — Liscia arregalou os olhos com a surpresa.
Suspirei.
— Dê uma olhada de perto. Esses “campos não comestíveis” são a raiz da crise alimentar do país.
Campos não comestíveis… Era assim que Souma chamava os campos espalhados diante de mim, olhando para eles com amargura. Ele disse que queria me mostrar esses campos, mas ainda não entendi o motivo.
— Como assim…?
— Exatamente o que eu disse. Todos os campos que você vê aqui são campos de algodão.
— Campos de algodão… Ah! Isso é o que você quis dizer com não comestível!
Flores de algodão foram cultivadas para produzir fios de algodão. Com certeza, esses campos não cultivavam nada que se pudesse comer.
Souma sentou-se ali, apoiando os cotovelos nas coxas.
— Pulando direto para a minha conclusão, é o aumento excessivo no número dessas plantações de algodão que causou a escassez de alimentos neste país.
— Pode repetir…?
Ele simplesmente falou algo incrível? A causa da nossa escassez de alimentos?
— Enquanto eu classificava a papelada, percebi. Com a expansão do Domínio do Lorde Demônio, a demanda por roupas e outras necessidades diárias disparou. É claro que a demanda por matérias-primas também aumentou. Com o preço de venda das flores de algodão subindo e sendo capaz de vender o máximo que puder da produção, os agricultores pararam de cultivar as safras de alimentos que haviam produzido até aquele momento. As safras cultivadas para vender a terceiros em vez de para comer são chamadas de safras comerciais. Isso quer dizer: nossos agricultores passaram a cultivar apenas safras comerciais, o que levou a uma redução da taxa de autossuficiência alimentar deste país.
Fiquei sem palavras. A causa da escassez de alimentos deste país…
Sempre presumi que era mau tempo ou que nosso país tinha apenas solo pobre. Aqui estava um motivo concreto, mas eu, que vivia neste país há mais de dez anos, não o tinha visto. Enquanto isso, Souma, que havia sido chamado apenas alguns dias antes, viu.
— Se eu fosse um pouco mais longe, poderia dizer que também é a causa para a economia fraca do país. Quando o índice de autossuficiência alimentar cai, é preciso importar de outros países para evitar a fome. No entanto, os alimentos importados também envolvem custos de transporte, então o preço dos alimentos aumenta. Isso pressiona os orçamentos familiares, mas você só consegue cortar os custos dos alimentos até certo ponto. Afinal, se não comer, vai morrer de fome. Claro, se pretende comer menos para fazer alguma dieta, removerá apenas produtos não essenciais e de luxo. Essa mudança nas práticas de gastos está causando uma espiral descendente na economia.
O que eu estava olhando? Se fosse apenas uma cidadã comum, não teria problema para rir com desdém da minha falta de visão. No entanto, eu era uma princesa.
A ignorância dos que estão no topo mata os que estão na base.
— Eu sou… um fracasso como membro da realeza. — Perdi todas as forças, caindo de joelhos ali. Em toda a minha vida, nunca senti tanto a sensação de impotência como neste momento.
Ao me ver assim, Souma soltou um “Uh” e um “Um”, coçando a cabeça antes de pousar a mão na minha cabeça.
— Não deixe isso te colocar tão pra baixo. Asseguramos o financiamento de que precisamos. Ainda não é tarde demais para as reformas agrícolas.
— O que você está planejando fazer…?
— Limitar o crescimento de safras comerciais, trazer de volta o cultivo de alimentos e melhorar nossa taxa de autossuficiência. O país vai pagar subsídios para ajudar a apoiar essa transição. Primeiro, vamos replantar os campos com feijão, que tem uma ampla gama de usos, e batatas, que são boas contra a fome, e com o tempo gostaria de aumentar o número de arrozais. Depois disso…
Souma falou com eloquência sobre seus planos de reforma agrícola. Ele usou muitas palavras como “arrozais” que não eram familiares para mim, mas quando olhei para seu rosto, ele parecia radiante.
Senti que podia entender por que meu pai abdicou do trono para ele. Era dele que o país mais precisava. Tínhamos que fazer o que fosse necessário para mantê-lo amarrado no lugar. Nosso noivado provavelmente tinha sido concebido como outra forma de amarrá-lo.
Acho que não posso ficar chateada com o noivado que está sendo decidido sem minha participação.
Souma havia dito que assim que colocasse o país nos trilhos, devolveria o trono, mas não podíamos deixá-lo fazer isso. Ter um homem com um talento tão raro partindo seria uma grande perda para o país. Isso precisava ser evitado a todo custo.
Ele disse que não tem família em seu velho mundo. Se eu fosse me tornar sua família aqui, poderia mantê-lo neste país? Me perguntei. Como sua noiva, se puder tornar o casamento em um fato consu… Espera, a melhor maneira de torná-lo um fato consu… seria basicamente… fazer aquilo com ele…
Os pensamentos que vieram à minha mente deixaram meu rosto vermelho.
— Então, nas montanhas nós vamos… Ei, Liscia, você está ouvindo?
— Eek! C-claro que, sim, estou ouvindo.
— Hm? Seu rosto está todo vermelho, sabe.
— É só o nascer do sol! Não estou pensando em nada disso!
Minhas bochechas estavam em chamas. Eu estava pronta para morrer de vergonha.
A partir de então, acho que não ouvi uma única palavra das explicações de Souma.
Notas:
1 – Versailles no Bara ou Rosa de Versalhes, também conhecido como Lady Oscar, é um mangá shōjo de Riyoko Ikeda de 1972, adaptado para uma série anime e uma versão de ato real Franco-Japonesa ambos em 1979.⇧
2 – São bolinhos cozidos de trigo ou aveia.⇧
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