Arthur, ???
O som do riacho engolfava meus ouvidos. A grama era macia, minhas costas apoiadas em alguma coisa que acreditei ser uma árvore. Estava tão confortável que meus olhos se recusavam a abrir.
Alguns minutos se passaram antes que olhasse ao redor pela primeira vez. Uma pequena cabana de madeira enfeitava a paisagem simples na beira do rio.
Uma clareira na floresta.
Sentia como se estivesse me esquecendo de algo. Que lugar é esse? Definitivamente era familiar, mas por quê?
Havia uma criança brincando na água rasa, espirrando água contra a corrente fraca. A criança tinha os cabelos divididos ao meio, metade pretos, metade brancos, assim como sua pele e plumas das asas.
Aquele sou eu?
Me aproximei com cautela. Ainda mais confuso com o motivo de me sentir feliz e tranquilo apenas ao ver a criança. Ele me olhou assim que cheguei na beirada do córrego. Não parecia ter mais que 3 anos.
Em um de seus olhos havia o vermelho-sangue, enquanto no outro havia o azul profundo.
De seu lado esquerdo, um único chifre despontava por baixo de seus cabelos escuros.
Chifre esse que passou a irradiar uma luz dourada conforme rachaduras de mesma cor surgiam nele. O garoto parecia sentir dor enquanto gritava.
Instintivamente corri para abraçá-lo, a água se tornou violenta conforme se debatia enquanto eu o pegava no colo. Sua aura me tomando, parecendo parte de mim. Eu senti medo. Sabia que algo viria. Que eu deveria tirá-lo daqui.
Liberei minha própria magia para suprimir a dele, forçando para que sua aura se dissipasse. Ele caiu inconsciente, se é que já não estava antes.
Minha própria magia?
Ao meu comando, asas de vinhas brotaram em minhas costas. Eu as sentia como extensões de meu corpo, sentia o vento passando por elas quando alcei voo com meu pequeno eu no colo.
Após alguns minutos, aterrissei em uma vila de Avianos cujo líder era um antigo amigo meu.
Que droga é essa?
Percebendo minha presença, um Aviano cuja cabeça lembrava uma águia, Gazoh, o líder de Alaéria, aproximou-se com o equivalente a uma sobrancelha levantada.
— Meryl, o que faz aqui? Esse é o garoto?
Suas palavras me atingiram como uma flecha. Só não tão forte quanto as palavras que saíram de minha boca, com uma voz suave e gentil, mas tomada pela urgência. A voz de minha mãe.
— Você é o único a quem eu poderia confiá-lo. Ele não pode mais ficar comigo ou será descoberto.
Lágrimas escorreram por suas bochechas enquanto levou seus lábios até a minha testa. Senti tanto o toque de seus lábios em mim, quanto de mim em seus lábios. Ela sabia que nunca mais nos veríamos.
Me entregou a Gazoh sem mais palavras. Apenas sorriu para mim, que não pude retribuir o gesto. Não vi quando ela me deixou, não me lembrava do que havia acontecido.
No dia seguinte, apenas estaria em um lugar desconhecido, uma realidade completamente diferente.
Meryl voou de volta para a clareira onde nossa cabana ficava. Empacotou suas coisas o mais rápido possível, mas quando estava prestes a partir, outra presença começou a se aproximar rapidamente.
Uma força menor que a de um deus, mas ainda poderosa.
A mulher pousou com dificuldade. Não tinha total controle sobre as asas dracônicas em suas costas. Uma humana transfigurada.
Imaginei que ela não arriscaria um apóstolo para me buscar.
Meus pensamentos estão misturados com os de minha mãe.
— Olá, Tami. Que gentileza a sua vir me buscar.
— Não precisa fingir, ou não vou ser mais gentil que isso. É uma pena que não tenho tempo de encontrar seu pequeno fracasso. Ele não abriu um buraco tão grande assim.
Ela dizia com uma voz esganiçada, era como se fosse quebrar a qualquer momento. Tropeçou para frente e me agarrou pelo pescoço.
— Está mesmo enferrujada. Dar a luz àquele lixo te deixou tão fraca assim?
Não podia me mover, ou mesmo falar. Era como se eu fosse catapultado dessa realidade. A paisagem se quebrou em infinitas cores enquanto meu corpo era forçado através de um muro invisível em uma passagem dolorosa. A mulher gritava enquanto se despedaçava em minha frente.
Tudo escureceu.
Jack, ???.
Me aproximei de Arthur, ainda inconsciente.
Ele será perigoso se mantido vivo. Quantos outros não perderam o controle ao serem expostos a uma pequena fração desse poder? Poder que é parte direta dele?
Apontei minha lâmina para seu pescoço.
Como se percebendo minha intenção, aquela aura dualística se intensificou. Seu chifre passou a emitir uma fraca luz dourada.
Dualística. Pensei, parando por um momento. Ele não é apenas um demônio. Ainda teria salvação? Mesmo não sendo filho de uma deusa, como diz ser, ainda pode ser algo próximo.
Nesse instante de hesitação o jovem começou a se mover lentamente, estava acordando.
Tsk. Não sei dizer se é sorte ou azar.
Embainhei minha espada esperando até que ele acordasse. Desde que começou a se mover e resmungar algo que não pude decifrar, o brilho diminuía gradualmente até desaparecer, então abriu os olhos.
Arthur, ???.
Meus olhos varreram o ambiente e depois se fixaram em Jack que me observava de perto.
— Onde a gente tá? Você tá bem?
— Provavelmente este é o palácio que Lether nos disse. — Respondeu, me oferecendo ajuda para me levantar.
Apertei sua mão e ele me puxou para que ficasse em pé, deixando para trás apenas marcas de meu suor na pedra fria. Eu tinha memórias vagas do que havia visto. Um sonho ou uma visão?
— Você parece abatido.
— Está tudo bem, não se preocupe. — Respondi, forçando um sorriso.
Olhando mais uma vez ao redor, percebi que estávamos completamente sozinhos.
— E então, por onde quer começar?
Ele sinalizou com o queixo na direção da entrada do palácio.
— Já estamos no caminho.
A porta dupla era alta e feita de madeira escura pesada, com adornos em ouro e prata.
— Será que a gente bate ou só entra? — Perguntei.
Suas manoplas metálicas ressoaram ao bater na porta, que abriu assim que não houve resposta.
No hall de entrada haviam diversas tapeçarias que representavam famílias bem vestidas. Todos os rostos estavam borrados, irreconhecíveis, como se a linha tivesse se desfeito. Inúmeros objetos dispostos em caixas de vidro, como espadas, adagas e joias complementavam a visão.
Procurei por nomes nas tapeçarias e quadros, mas todos também estavam distorcidos e ilegíveis.
O que mais chamava a atenção era a falta de movimento. O único som era o de nossos passos abafados no grande carpete de lã vermelha que cobria todo o chão. Não havia uma única pessoa ou animal por perto. Não havia vento que balançasse as árvores. O som do córrego já não podia ser ouvido.
O hall terminava em três portas e uma escadaria dupla e curva que se cruzava ao atingir o andar superior.
Uma porta ficava entre as duas escadas, enquanto as outras estavam nas laterais do cômodo. Olhei para meu companheiro e acenei para a primeira delas, a da esquerda.
Abri-a sem nenhum rangido ou dificuldade, revelando uma ampla sala de refeições com pratos postos à grande mesa retangular. Travessas de comida simples, mas de boa aparência também descansavam no centro.
Me aproximei, Jack me seguindo de perto e remexi um dos pratos, servido com um generoso bife e algumas batatas. A comida não tinha cheiro, mas ainda estava quente.
— Sem cheiro, será que tem sabor?
— Eu não arriscaria experimentar.
Deixei o prato de lado enquanto meu companheiro se movia em direção a outra entrada na lateral do cômodo, chegando em uma cozinha, onde as panelas se mantinham aquecidas mesmo com a lareira apagada. Toda a comida parecia ter sido preparada há pouco tempo, mas não havia alguém que a preparasse. Assim como na mesa, nada possuía cheiro.
Voltamos até a escadaria e abrimos a porta à direita. Um set de escadas simples descia até o subsolo.
— Descemos ou subimos primeiro? — Perguntei.
— Vamos descer.
Tochas iluminavam o caminho. No andar abaixo, encontramos um corredor com uma dúzia de portas.
— Olho nas costas. — disse o paladino, levando a mão ao cabo da espada enquanto abria a primeira porta.
Um quarto simples, sem janelas, com duas camas e um único armário. A única decoração era um pequeno vaso de plantas cuja terra estava úmida.
No armário havia apenas roupas simples que seguiam um mesmo padrão, como um uniforme de empregados.
A segunda porta revelou um cômodo idêntico, assim como a terceira e a quarta.
— Ei, a gente não vai olhar quarto por quarto, né?
— Não é como se tivéssemos um tempo limite aqui. Espero.
— Tomara que você esteja certo. Por que você acha que de todos que entraram antes de nós apenas um volta por vez?
— Não sei, mas acredito que descobriremos logo.
Continuamos olhando os dormitórios e acabei me distraindo até que um dos quartos destoou dos outros.
Havia apenas uma cama, que era maior e coberta em grossos lençóis, que agora estavam revirados. O armário era maior e tinha conjuntos de roupas mais refinadas que as outras, mesmo que não fossem de extremo luxo.
Na cama, algo parecia refletir a luz do lampião aceso no quarto, então retirei os lençóis, revelando uma tiara de cristais que descansava ali.
Quando toquei na joia, um flash surgiu em minha visão. Manchas de sangue apareceram por todo o quarto. Assim como um grito preencheu meus ouvidos. Soltei o objeto instintivamente e Jack olhou para mim.
— Encontrou alguma coisa?
— Você não viu isso?
— Isso o que?
— Essa tiara, ela reagiu e me mostrou algo.
Peguei o objeto mais uma vez, mas nada aconteceu.
— Vamos levar isso com a gente, vai servir de alguma coisa.
Voltamos para o andar de cima, me sentia um pouco desconfortável com o silêncio total do lugar e principalmente de Jack, ele parecia perdido em seus pensamentos, não sabia dizer se estava preocupado com esse lugar ou com outra coisa.
Nenhum de nós sabia exatamente o que deveríamos fazer aqui. Lether nos disse apenas que uma das pedras estaria aqui em algum lugar.
Abri a porta, que era a mais adornada das três, com entalhes ondulados e algo que se assemelhava a um brasão, mas parecia ter sido danificado.
Era uma sala com alguns sofás e poltronas, uma mesa circular ao centro. As paredes eram enfeitadas por quadros de pessoas novamente com rostos borrados. Em alguns deles, além de borrado, haviam rostos que pareciam ter sido rasgados, julgando pelo porte da pessoa, parecia ser sempre a mesma.
No centro da grande mesa havia uma lareira que parecia ter sido apagada recentemente.
Através de uma grande janela vi o córrego que passava ali perto, uma pequena cabana de pesca à sua beirada.
— Vamos dar uma olhada lá antes de subir. — Disse ao meu companheiro, passando pela janela.
— Espera… deixa pra lá. — Ele olhou para trás antes de me seguir, passando pela janela com dificuldade. — Essa armadura é pesada, vamos usar a porta na volta.
Autor: HaltTW
Revisão: Bravo
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