Nossa cidade não é como a grande maioria. Pode-se dizer que o que nos torna únicos está escrito em todo o lugar, claro para qualquer um ver.
Esta é minha cidade natal, onde nasci.
Chama-se Cidade da Corrida.
Para um cidadão local como eu, o cenário estranho que se vê por toda a cidade — dos arcos curvos dos telhados às cordas estendidas como teias acima de estradas e becos — parece completamente comum, mas os recém-chegados à nossa cidade são cativados no mesmo instante pelo terreno peculiar, e isso faz seus olhos brilharem com a vista.
Elaina, caminhando ao meu lado, não era exceção.
— Entendo… Portanto, encostar em uma das cordas seria uma desqualificação instantânea. Isso? — Ela estava mantendo uma expressão calma e contemplativa, mas eu era capaz de ver que estava bastante animada.
Balancei a cabeça para Elaina.
— Exatamente. Portanto, os jóqueis precisam pilotar suas vassouras com habilidade para evitar encostar nas cordas.
— Mas se voarem muito alto, vão desperdiçar muita energia mágica, certo?
— É por isso que todos voam o mais baixo possível, optando por deslizar no solo, em vez disso.
— Hmm…
— Além disso, magia ofensiva é proibida. Esta corrida é uma competição de velocidade e nada mais.
— Entendo… — Elaina acenou com a cabeça, com a boca aberta.
Imediatamente após nossa conversa, magos voando em vassouras passaram logo acima.
Eles dispararam pelo céu, cortando agilmente o vento e evitando os telhados curvos — virando bem na hora certa — e desaparecendo pela cidade. Eles eram atletas no meio do treino.
E é por isso que este lugar se chama Cidade da Corrida.
Atualmente, a grande mania são as corridas de vassouras mágicas. Todos na cidade apostam dinheiro nos resultados, alternando entre alegria e tristeza a cada resultado. Em outras palavras, é simplesmente um jogo de apostas.
De qualquer forma, fiel ao seu nome, Cidade da Corrida é o lugar ideal para esse tipo de competição.
Elaina observou os magos competidores no alto do céu, depois olhou para mim e disse com um sorriso:
— Então, o que você queria me perguntar?
— Quer tentar entrar em uma das corridas? — perguntei a ela diretamente. — Comigo, quero dizer.
Essas competições de alto nível são conhecidas genericamente como corridas de vassouras — CV, para abreviar — e eu sou um dos jóqueis. Ou seja, sou competidora nas corridas. E não quero me gabar, mas, apesar da minha idade, posso me destacar entre os outros jóqueis.
Eu sou, sem dúvida, a pilota mais jovem de todos os tempos. E depois que fiz minha estreia profissional, ganhei nove campeonatos consecutivos.
Então peço perdão por ter uma opinião elevada sobre mim mesma. Mas muitos adultos obstinados sentem que é sua missão reduzir as ambições desta jovem e talentosa pária.
— Esta corrida vai ser diferente das outras. Há uma pequena diferença.
Quando desci para o campo de corrida para me inscrever para a competição daquele fim de semana, o homem da recepção me disse algo surpreendente.
Fiquei impressionada com suas palavras como um raio surgindo do nada.
— Em homenagem ao quinquagésimo aniversário das corridas de vassouras, estamos realizando uma corrida em equipe para duas pessoas. Portanto, devo pedir a todos que participem em duplas.
Em outras palavras, o que você está dizendo é…
— Que precisa de outra pessoa com você para entrar.
No momento, há onze pessoas registradas como jóqueis de vassouras, o número exato de magos ativos na cidade. E cinco equipes já enviaram suas inscrições.
Ou seja, eu não tinha o necessário para participar do que seria meu décimo campeonato. E o prêmio pela décima vitória consecutiva era uma bolsa considerável; um prêmio que ninguém jamais havia conseguido reivindicar.
Os adultos provavelmente não aguentariam a ideia de uma jovem como eu ganhando o prêmio. É por isso que estão conspirando para me forçar a sair da corrida.
— Minha nossa. Você também estava planejando participar da corrida?
Uma voz me chamou zombeteiramente por trás enquanto eu estava na recepção.
Sem nem mesmo me virar, eu sabia a quem aquela voz pertencia. Aquilo me perfurou como um espinho.
— Sherry…
— Hmm? Mostre um pouco de respeito, garotinha. — Ela parecia irritada. — Você sabe que o prazo para inscrição é até hoje, certo? Não está achando que pode aparecer no último minuto e ainda correr, né? Desista.
Quando me virei, ela estava com uma expressão triunfante.
Sherry tinha sido a campeã invicta… pelo menos até eu começar a correr. Agora, ela me odiava e constantemente reclamava de mim, como se seus xingamentos amargos pudessem de alguma forma quebrar minha sequência de vitórias.
— Ah, maravilhoso. Uma corrida sem você. Eu estaria mentindo se dissesse que não estou ansiosa por isso! — Ela colocou a mão no meu ombro. — Bem, certifique-se de assistir das arquibancadas, beleza? Veja-me vencer, quero dizer.
— …
— …
Olhamos uma para a outra por um momento, e então Sherry bufou e caminhou para o campo de corrida para praticar. Depois de um momento, eu também me afastei… para encontrar um parceiro para correr comigo.
— …
Depois da minha estreia como jóquei, tornei-me uma espécie de pária no circuito de corridas. Imagine só: uma garotinha de quinze anos vencendo em uma área de adultos em sua partida de estreia e depois defendendo o título. Acho que se eu estivesse no lugar deles, estaria sentindo a mesma inveja.
Eu não era tão chata a ponto de não perceber que, embora as pessoas em toda a cidade estivessem empolgadas com minha aparição, os outros jóqueis, assim como a gerência, não estavam felizes.
Mas…
Quem poderia imaginar que usariam um método tão dissimulado para encerrar minha sequência de vitórias?
Havia apenas onze magos em toda a cidade. O que significa que eu teria que encontrar um forasteiro, um mago estrangeiro que soubesse lidar com uma vassoura, se tivesse alguma esperança de entrar na corrida.
Como se tal pessoa simplesmente fosse aparecer de maneira conveniente na minha frente…
— Ah, ei, você aí. Qual é o problema? Parece muito chateada. Algo está te incomodando?
De repente, alguém me chamou enquanto eu caminhava com dificuldade.
Era uma garota com longos cabelos cinzentos. Ela estava usando um manto preto e um chapéu pontudo e, se eu tivesse olhado, teria visto um broche em forma de estrela em seu peito. Ela parecia um pouco mais velha do que eu.
— Se você quiser, posso ler a sua sorte. — Ela estava sentada com tranquilidade ao lado da estrada, segurando um cristal e parecendo uma vidente. — Minhas previsões têm fama por serem precisas.
— …
— Hmmmm… — Eu não tinha pedido a ela, mas a garota segurou sua mão acima do cristal e começou a fazer uma previsão. — Ah, entendo, entendo. Está claro para mim… Sim, perfeitamente claro. Há algo te incomodando agora, não é? Bem? Acertei na mosca, não é? Minhas previsões costumam ser certeiras.
Qualquer um pode ver que estou chateada só de olhar para mim!
— …
— Oh, a taxa de uma previsão é de uma moeda de ouro.
— Isso aí é uma facada…
— Minhas taxas são altas porque sou uma bruxa.
— Uma bruxa?
Hã? Uma bruxa? Tipo, o posto mais alto dos magos? Esse tipo de bruxa?
— Isso mesmo. Aqui, olhe meu broche. Viu? Eu sou uma bruxa, entendeu?
Eu não havia percebido até ela apontar. Assim que vi direito, percebi que ela estava usando um manto, o que mostrava que era uma maga. Ela também tinha um broche em forma de estrela, prova de que era uma bruxa. Eu estava totalmente fora de mim, então acho que não tinha notado.
— Beleza, agora tem que pagar. — A bruxa estendeu a mão para mim e exigiu dinheiro.
Se esta pessoa estiver disposta a se juntar a mim… Bem, vencer a corrida não seria improvável, seria?
— …
Então agarrei sua mão com as minhas e olhei em seus olhos.
— Hmm… tenho algo que quero te perguntar…
— Oi?!
Ela de repente pareceu apavorada.
Arregalou os olhos e gritou com uma voz estridente:
— O-Oi?! Deixe-me adivinhar. Você está quebrada, então quer me pagar com seu corpo… É isso? Sinto muito, mas esse tipo de coisa está um pouco fora da minha área de especialização…
Ela disse algumas coisas que eu realmente não entendi, então as ignorei.
Pouco depois de nossa conversa, a garota de cabelo roxo extremamente claro, amarrado em cachos de cada lado da cabeça, me disse que tinha quinze anos. Ela então se curvou, os rabos-de-cavalo balançando, e formalmente fez seu pedido sincero:
— Por favor, entre na corrida comigo.
Ela manteve a cabeça baixa por exatos três segundos, depois me encarou com olhos azuis brilhantes.
Ela me disse que seu nome era Dorothy.
Para competir na próxima corrida, precisava de um parceiro — um mago, para ser mais específica.
Está falando de mim? Estou ficando vermelha.
Eu estava sorrindo quando Dorothy olhou para mim com seriedade.
— Se vencermos a corrida, seremos pagas…
— Oh?
— E se você me ajudar, vou dar toda minha parte a você, Elaina.
Então seu plano era me atrair com dinheiro, hein? Desculpe, não me vendo por pouco. Enfim…
— Mas então você fica sem nada. O que tem a ganhar com isso?
— Não se preocupe. Se eu ganhar desta vez, será minha décima vitória consecutiva, então terei um prêmio especial além dos ganhos habituais.
— Entendo… Também vou querer isso.
— Mas se for assim, vou mesmo sair de mãos abanando…
— Bem, é certo que não vai ganhar nada se não entrar na corrida, então qual seria a diferença?
— Você não vai entrar?
— Ainda não me decidi.
Conseguir esse dinheiro parece muito bom, mas…
Com o pouco que sabia da situação, pensei que seria muito descuidado apenas acenar com a cabeça e concordar com o que quer que ela dissesse.
Isso realmente faria parecer que me vendo por pouco.
— Por favor, pense nisso com o seu coração… Eu te imploro… Entre na corrida comigo, por favor… — A garota curvou-se profundamente, três vezes seguidas. — Eu tenho que vencer esta corrida, não importa o que aconteça… Eu não suportaria perder para todos os adultos perversos por aqui…!
Meu ato de adivinhação deve ter feito Dorothy ter vontade de desabafar, pois ela começou a me contar tudo sobre sua vida. Ela me contou tudo mesmo, desde quando se tornou jóquei de vassouras até o momento presente.
Quanto mais me contava sobre sua situação, mais louca ficava a história.
Ela era a jóquei mais jovem e possuía um verdadeiro talento para o esporte, e estava bem ciente disso. Claro, estava ressentida com os adultos ao seu redor, e entendia isso também.
Algo sobre sua história… parece terrivelmente familiar.
— Por que você quer tanto ganhar a corrida? — perguntei por simples curiosidade.
Ela me respondeu sem um momento de hesitação:
— Há alguém que preciso vencer, não importa o quê.
Esta garota estava sendo evitada por ter ambição. Ela não tinha feito nada de errado, mas estava prestes a ser ignorada pelos adultos simplesmente por causa de sua juventude.
Então…
Provavelmente era minha imaginação, mas, por algum motivo, senti certa afinidade por esta garota. A situação dela me lembrou de minha própria juventude. Infelizmente.
E, assim, por um motivo ou outro, concordei com seu pedido.
— Beleza, vou te ajudar.
— Oh, conseguiu encontrar outro mago para se juntar a você, hein?
Dorothy me levou para o campo de corrida. O homem da recepção se virou para nós, surpreso.
Além do recepcionista, os atletas voltando para casa após o treino também pareciam surpresos, ou melhor, aqueles magos demonstraram sua repulsa abertamente, até cuspindo algumas palavras rudes em nossa direção ao passarem por nós.
— Quem é esta mulher?
— Hã? Só pode estar de brincadeira! Quem é esta mulher? Não há nenhuma maneira de você deixar alguém como ela participar, certo?
Havia até uma maga que gritava histericamente, fora de controle.
Uau, Dorothy com certeza é impopular…
Mas há algo muito nostálgico nesse sentimento, com todos olhando para mim…
— Eu vou correr também. Por favor, deixe-me participar — disse Dorothy com confiança.
— Claro, eu não me importo se você participar. Afinal, seguiu as regras e trouxe um parceiro.
O homem da recepção falou de maneira profissional e nos entregou os formulários de inscrição.
Enquanto preenchia o meu, notei alguém se aproximando de mim. Era a maga que gritava histericamente.
Ela olhou para mim enquanto desrespeitava completamente o meu espaço pessoal.
— Você tem alguma experiência em corridas?
— Nenhuma.
— Sério? Bem, nesse caso, tente não se envergonhar enquanto corre com esta menina. Especialmente porque vamos vencer.
Suponho que saber que eu era inexperiente produziu uma espécie de calma nela. E suponho que ela estava me olhando com desprezo porque eu era jovem como a Dorothy.
Mas nada disso me incomoda mesmo.
Ainda assim, eu não poderia deixá-los escapar impunes de tanto desrespeito.
Eu olhei para os magos ao nosso redor e disse:
— Vocês todos deveriam ter cuidado também, beleza? Cuidado para que eu e esta “garotinha” não pisemos em vocês.
Ignorando os magos que fizeram uma careta para minhas palavras, Dorothy e eu partimos para o treino.
Aparentemente, os jóqueis guardavam suas vassouras em armários fornecidos pelos zeladores. Com movimentos experientes, Dorothy pegou sua própria vassoura e montou.
— Tudo bem, pode subir.
Havia algo selvagem em seu gesto quando sinalizou com o polegar para que eu embarcasse atrás dela.
— Valeu.
E, com isso, a cortina subiu para a nossa montagem de treinamento.
Bem, com uma bruxa como eu pilotando com ela, tenho certeza de que esta vassoura vai voar bem.
— Kyaaaaaaaaaaaaaaaaaahhh!
Um grito adorável ecoou pela cidade. Claro, eu nunca gritaria assim, então não era meu; pertencia a Dorothy.
— Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhh!
Esse era meu. Nem um pouco fofo, certo? Eu sei.
Nós duas tombamos da vassoura simultaneamente, fomos apanhadas pelas cordas que esperavam abaixo e enfim paramos, suspensas no ar.
Deveríamos estar treinando para a corrida, mas… para ser franca… não estava indo bem. Nosso desempenho foi além de terrível. Éramos tão ruins que provavelmente deveríamos ter jogado a toalha ali mesmo.
O que aconteceu com o cruzeiro a dois? Este navio está praticamente afundado!
Falamos com tanto orgulho antes, mas por que somos tão patéticas?
— Elaina… será que você é péssima no manuseio de vassouras? — perguntou Dorothy enquanto se pendurava em uma corda ao lado de algumas roupas que haviam sido penduradas para secar.
Que falta de educação.
— Eu sou uma bruxa, sabe! De jeito nenhum eu seria ruim nisso, não é? Está me subestimando? — Minhas bochechas incharam de raiva enquanto eu pendia da minha própria corda.
— Não… mas posso voar com mais habilidade quando estou sozinha.
— Bem, agora que mencionou, também posso voar muito melhor sozinha.
Mas, estranhamente, quando nós duas voamos na vassoura de Dorothy, sentadas uma atrás da outra, as coisas não correram bem.
Conforme exibido um momento atrás, a vassoura de repente se tornou impossível de controlar e nós caímos em perfeita harmonia.
Mas o que exatamente poderia estar causando isso…?
— Será que a vassoura que não é boa…? Talvez não seja adequada para duas pilotas? — Dorothy levou um dedo aos lábios, pensativa, e então acenou com a cabeça. — Elaina? Se estiver tudo bem, podemos tentar na sua vassoura?
— Ah. Minha vassoura é projetada para um piloto, então… não.
— Você não tem coração.
— Mais importante, minha vassoura é a que eu uso para viajar, então, se possível, prefiro não a mandar para corridas e coisas do tipo.
Além disso, parece que as vassouras de corrida precisam ser deixadas no campo de corrida. Se for esse o caso, estou ainda mais inclinada a recusar.
— … — Enquanto cambaleava no varal, Dorothy ria. — Mandar para a corrida? Parece que você trata sua vassoura como uma pessoa!
Aquele dia foi o início de nossos treinos juntas, mas no final foi um fracasso total.
O que diabos poderia estar errado…?
— Elaina, pode ser que… você é muito pesada ou algo assim?
— Tá querendo que eu esmague a sua cabeça?
Colaborar com a garota também tinha mais do que um pouco de mérito para mim.
— Elaina, você é uma viajante, certo? Gostaria de ficar na minha casa até a corrida deste fim de semana?
Foi ela quem propôs tal arranjo.
Enquanto ela estava nisso…
— Também temos comida saborosa.
E…
— Nossa banheira é grande.
Além disso…
— Temos um quarto extra, para que você possa dormir confortavelmente em sua própria cama.
Ela tentou várias táticas diferentes para me seduzir, e teve sucesso. Eu fui com ela de boa vontade. Permita-me alterar minha declaração anterior sobre não me vender por pouco.
— Por favor, me acompanhe. Bem-vinda à minha casa.
Dorothy me levou a um conjunto habitacional em um terreno de esquina.
Lá estava uma casa comum de classe média. O prédio não era muito antigo, mas também não era novo, e se encaixava perfeitamente no cenário do resto da cidade. Entramos por um vestíbulo e subimos as escadas para o segundo andar, que aparentemente era onde ela morava. Depois de subirmos as escadas, ela gritou: “Mãe, estou em casa!” então destrancou a porta e entrou.
— Ah, bem-vinda… de volta…? — Do outro lado estava uma mulher de cabelo roxo claro, que foi cumprimentá-la com um sorriso. — E quem é ela?
— Esta é a Elaina. Ela vai entrar na próxima corrida comigo — disse Dorothy.
— Oh…
A expressão da mãe de Dorothy pareceu turvar por um momento.
Mas assim que percebi, ela voltou ao normal.
— Mais importante, Mama, você está acordada hoje. Está bem? Tomou seu remédio?
A mãe de Dorothy sorriu com as palavras da filha, mas parecia um pouco cansada.
— Estou bem. Hoje me sinto melhor. — Sua pele era tão pálida e delicada que parecia que poderia se dissolver se a tocasse, e seu corpo estava terrivelmente magro.
Ficou claro que estava sofrendo de algum tipo de doença.
— Espere um pouco, tudo bem? Vou preparar o jantar agora mesmo.
Dorothy correu apartamento adentro. Ela rapidamente localizou todos os ingredientes, vestiu um avental e pegou uma faca de cozinha.
Enquanto a garotinha se dirigia para a cozinha, tinha a cara de uma filha amorosa ajudando sua mãe com o jantar. Mas, neste caso, não havia alegria nos olhos da mãe.
— …
De qualquer forma, foi assim que comecei a me intrometer em suas vidas diárias.
A partir do dia seguinte, começamos a dedicar nosso tempo ao treinamento. Depois de acordar de manhã, partíamos para o treino, voltando para casa apenas depois de esgotadas e exaustas. Era uma rotina brutal.
Sempre começávamos bem, mas depois de um curto voo, nossa vassoura inevitavelmente despencava e a gente caía. Por diversas vezes, nos vimos penduradas desajeitadamente nas cordas de segurança. Depois de vários dias e muitas, muitas, muitas, muitas tentativas, tudo o que conseguimos realizar foi parecer um par de bonecas desajeitadas.
— Olha só! Como eu suspeitei, você nem consegue voar direito! Hahaha, que hilário. Mesmo se acabar participando da corrida, isso não mudará o resultado!
Alguém estava lá, rindo alto e olhando nós duas com desprezo, embora estivéssemos passando todas as nossas horas livres treinando.
— Sherry…
— Hã? Diga meu nome com respeito, garotinha! — Pft! A mulher cuspiu no chão. — Se vocês duas voarem assim na partida de verdade, sua derrota está garantida!
Ela nos cobriu de insultos do alto antes de finalmente retornar à sua prática.
Não pude evitar, cansei de sua atitude arrogante antes mesmo da corrida acontecer. Mas, para ser honesta, eu não poderia culpá-la por rir de nosso desempenho lamentável.
Eu estava muito infeliz.
Toda a situação era absolutamente mortificante.
— Por quê? Por que as coisas não vão bem quando eu voo com a Elaina…?
Infelizmente, eu não tinha a resposta para esta pergunta.
— …
Ao meu lado, Elaina estava simplesmente olhando para o céu. Ela tinha o olhar fixo nos outros magos e permaneceu em silêncio.
Pergunto-me sobre o que está pensando.
Ugh, aposto que não está pensando nada.
Aposto que sou a única incomodada com nosso baixo desempenho.
Posso voar bem quando estou sozinha. Sou muito rápida. Mas quando Elaina se junta a mim, as coisas não vão bem, não importa o que tentemos. Quando voo com ela, sinto que fui algemada. O que poderia estar causando esse fenômeno estranho?
Um dia depois do treino, Elaina e eu voltamos para casa acabadas, jantamos e relaxamos na sala de jantar. Já era o fim do dia. Mamãe estava dormindo, então nós duas estávamos sozinhas.
— Amanhã quero começar a praticar à tarde — falei para Elaina enquanto bebíamos o chá depois do jantar.
— Hmm? Há algo de errado?
— Tenho que trabalhar. Portanto, não posso praticar de manhã — falei, decisiva.
Elaina respondeu:
— Bem, sem problema então… — E acenou com a cabeça.
Depois disso, conversamos um pouco, depois voltamos para os nossos quartos e pronto.
— …
A noite foi ficando mais profunda e meu quarto foi envolvido pela escuridão total.
Quando estava prestes a adormecer, ouvi um som abafado. Pude ouvir vozes conversando no quarto ao lado do meu, o quarto onde Elaina estava hospedada no momento.
— Sim, e isso é…
Ela poderia estar falando com alguém? Pelos trechos que pude entender, não parecia que estava falando sozinha.
— Isso mesmo, então nós…
No entanto, achei um pouco estranho que Elaina, que estava nesta cidade há pouco tempo, tivesse convidado alguém para seu quarto.
Desde que me conheceu, Elaina permaneceu ao meu lado… Ou era o que eu pensava. Pelo menos, eu não poderia imaginar que ela tinha mais alguém viajando consigo.
Se tivesse algum conhecido local, isso significaria que já havia formado um relacionamento com alguém antes mesmo de me conhecer.
— … mexendo na vassoura…
O pouco que pude ouvir da conversa no quarto ao lado não ficou muito claro.
Mexendo na vassoura.
Foi quando eu tive uma compreensão.
Desde que conheci Elaina, desde que decidimos entrar na próxima corrida, esse tempo todo, eu confiava cegamente nela.
Mas ela é alguém em quem posso confiar? É mesmo apenas uma viajante comum?
Minha mente gerou outras possibilidades.
Uma delas era que Elaina era uma agente plantada pela gerência de corrida. Ou talvez ela estivesse trabalhando para Sherry e tivesse a tarefa de ficar de olho em mim…
Como posso saber se é possível confiar nela?
Especulações terríveis giravam em minha mente, me mantendo acordada até tarde naquela noite.
Cedo na manhã seguinte, acordei antes que alguém se levantasse, preparei o café da manhã para dois e saí de casa.
Fui para o meu trabalho de meio período. Quando não estava praticando, trabalhava muito para ganhar um dinheiro extra.
— Ainda tenho economias suficientes, então você realmente não precisa trabalhar, sabia? — Minha mãe sempre me dizia isso, mas eu podia imaginar que, se eu não tivesse um emprego quando minha carreira atlética chegasse ao fim, com o tempo, nossas finanças acabariam no fundo do poço.
Também aceitei um emprego de entregadora de jornais, pois isso serviria como um treinamento extra com a vassoura. Esquivando-me das cordas amarradas por toda a cidade enquanto voava, andei jogando jornais em cada casa.
Depois de voar por várias horas, fui para o consultório médico.
— Por favor, me dê o de sempre.
Eu já era cliente regular do médico local. Quando eu disse “o de sempre”, o senhor da clínica disse “Aqui está” e me entregou um pacote.
— Como ela tem estado recentemente? — O homem olhou para mim enquanto empacotava o remédio.
— Como ela está…? — Eu me esforcei para responder. — Bem, a condição de minha mãe não mudou. Eu adoraria que ela fosse curada… Se eu tivesse dinheiro suficiente…
— Entendo… Bem, não se esforce demais, tudo bem?
— Claro…
Mas se eu não me esforçar, não vou conseguir curar a doença dela, então tenho que ganhar meu décimo campeonato consecutivo, custe o que custar, certo? Embora do jeito que as coisas estão indo… quem sabe se isso é possível.
Depois de terminar meu trabalho de meio período, fui direto para casa, mas Elaina já tinha ido embora.
— Eu tinha certeza de que deixei uma mensagem dizendo a ela para esperar aqui, pois eu voltaria à tarde…
Será que não percebeu o bilhete que deixei junto com o café da manhã que fiz para ela?
— Se você está procurando pela Elaina, ela foi na frente. Disse que tinha uma tarefa ou algo do tipo para cuidar antes do treino. — Enquanto eu tentava entender o que tinha ouvido, Mamãe continuou: — Ela provavelmente estará lá se você for ao campo de corrida, eu acho.
— …
O que diabos ela poderia ter que fazer?
O incidente da noite anterior girou em minha cabeça, enchendo minha mente com pensamentos terríveis.
A partir do momento em que caí neste conjunto preocupante de circunstâncias — a partir do momento em que por acaso conheci Elaina —, por algum motivo, coloquei minha confiança nela.
Mas ela era realmente alguém em quem eu podia confiar?
Eu não tinha mais tanta certeza.
No fim, com meus pensamentos em desordem, arrastei meus pés por todo o caminho até o campo de corrida.
E então eu vi.
Lá estava Elaina, de frente para Sherry e rindo com ela.
Elas pareciam estar em uma conversa agradável.
E então… vi aquelas mãos segurando minha vassoura.
— Então era isso que estava acontecendo…
De onde eu estava escondida, ficava atrás deles. Eu só podia imaginar como meu rosto parecia desolado.
Elas provavelmente trabalharam juntas desde o início.
Elaina estava se encontrando em segredo com outros atletas da cidade.
Ela deve ter mexido na minha vassoura, e é por isso que não voa direito.
Então não vou conseguir disputar… e não vou conseguir ganhar meu décimo campeonato.
Esse era o plano o tempo todo.
Eu nunca deveria ter confiado em um estranho.
Eu podia sentir os espinhos gelados do arrependimento serpenteando em volta do meu coração.
Quando acordei na manhã seguinte, Dorothy já tinha ido embora, exatamente como ela disse que faria. Esfregando os olhos para espantar o sono, fui para a sala de jantar, onde encontrei o café da manhã servido, junto com uma mensagem que dizia: Aproveite. Voltarei à tarde. Por favor, não saia sem mim.
— Bom dia.
A propósito, já havia alguém na sala de jantar.
A mãe de Dorothy estava sentada em uma cadeira, vagarosamente tomando o seu café. Ela me notou e sorriu com gentileza,
— Bom dia. Se você está procurando minha filha, ela já saiu para o trabalho. — Talvez ela tenha entendido que eu estava preocupada com os movimentos de sua filha. Falou como se pudesse ler minha mente.
— Exatamente o que ela faz? — perguntei, sentando-me de frente para ela.
Ela calmamente apontou o dedo para fora da janela.
Não havia nada lá, exceto a cena de uma cidade com cordas esticadas de parede a parede.
Mas, então, por um instante, uma única vassoura passou, escorregando entre as cordas. Assim que percebi, observei um jornal ser jogado em uma janela do outro lado da rua.
Entendi, entendi.
— Entrega de jornal?
Você poderia dizer que é o trabalho perfeito para praticar o manuseio de vassouras.
— Isso mesmo. Ela tem praticado o manuseio da vassoura desde que era pequena. Foi assim que chegou onde está. Hoje em dia, acho que quase todo mundo nesta cidade conhece minha filha. Ela é uma garota muito especial e a mais jovem jóquei de vassoura a ganhar nove campeonatos consecutivos.
A mãe de Dorothy estava olhando pela janela, apertando os olhos sob a luz forte.
— Muitas pessoas aqui sabem o quão duro ela trabalhou. Muitas estão torcendo por ela do fundo de seus corações. Mas você sabe, ser uma garota jovem e talentosa atrai a atenção, nos bons e nos maus sentidos.
— Sei como é.
Porque no momento em que você demonstra um pouco de entusiasmo, dizem que você é arrogante, ou emotivo, ou o que seja. Entendo isso muito bem, de fato.
— Tenho certeza de que, entre todas as pessoas que a aplaudem, há mais do que algumas que secretamente esperam que ela fracasse. Assim como os outros jóqueis que entram nas corridas, eles esperam que ela ceda em algum momento, que sua estrela não continue a brilhar para sempre.
— E você não quer que isso aconteça, certo?
— De fato. É por isso que quero que você seja uma boa aliada para ela.
— … — Eu não respondi. — A propósito, de que tipo de doença você está sofrendo?
Não é como se ela estivesse tentando esconder ou algo assim.
— Ah. — Ela fez um pequeno ruído como se tivesse acabado de se lembrar de algo, então disse: — É um problema de coração. Uma doença terrível, na verdade. Está tão ruim que eu não consigo nem sair da cama sem medicação.
— …
— Então minha filha faz o trabalho doméstico em vez de mim, e economiza todo o seu dinheiro. Com a minha saúde como está, não consigo mais nem pilotar uma vassoura. Eu me tornei tão inútil.
— …? — Nesse momento, de repente percebi algo.
O canto da sala de jantar estava decorado com muitos troféus. E não apenas um ou dois. Havia tantos que eu não conseguia contá-los, e eles brilhavam intensamente.
Exibida com destaque próximo a eles estava uma única foto. Ela mostrava uma jovem de aparência tímida e uma mulher segurando uma vassoura em uma das mãos, sorrindo para a câmera.
Era uma bela foto que parecia ter capturado um momento particularmente precioso.
— Esta é uma foto antiga nossa. — A mãe de Dorothy seguiu meu olhar e disse. — Eu mesma já fui jóquei de vassouras. Há muito, muito tempo atrás.
E então, aos poucos, ela me contou uma velha história.
Era a história de uma certa pilota.
Esta pilota era uma jovem maga que fez uma apresentação espetacular no circuito de manuseio de vassouras. Enquanto criava sua filha, continuou entrando nas corridas e continuou ganhando.
Claro, perdeu algumas vezes, mas nunca deixou que isso a impedisse e desfrutou de muito mais vitórias do que derrotas. No entanto, quanto mais velha ficava, mais difícil se tornava para vencer.
Ela desenvolveu uma doença cardíaca. No entanto, escondeu do mundo, e continuou como se estivesse tudo bem.
Aparentemente, sua filha foi incrivelmente inspirada por ela.
“Algum dia eu quero ser como minha mãe!”, costumava dizer ela.
Mesmo quando as coisas ficaram cada vez mais difíceis, a mulher continuou a lutar. Ela continuou a competir e vencer. E até estabeleceu um recorde impressionante, algo que ninguém antes dela jamais havia feito.
Nove campeonatos consecutivos.
No entanto, como estava se aproximando de uma possível décima vitória consecutiva, com toda a cidade assistindo, acreditando que iria ganhar…
— Bem no meio do que teria sido meu décimo campeonato, a doença me derrubou da vassoura. Acabei perdendo minha décima competição.
— Portanto, agora sua filha está tentando seguir seus passos. Não é?
Quando conheci Dorothy, ela disse que havia alguém que queria vencer, não importa o quê.
Então é isso que quis dizer.
Mas sua mãe balançou a cabeça lentamente.
— E isso não é tudo. Aquela garota quer usar o dinheiro do prêmio para encontrar uma cura para minha doença.
— …
Em outras palavras, Dorothy estava atribuindo tudo ao resultado da próxima corrida. Se ela perdesse, não apenas teria falhado com a pessoa de quem gostava, mas também poderia ter perdido sua única oportunidade de encontrar uma cura para a doença de sua mãe.
Ela só tinha uma escolha, desde o começo.
É por isso que, mesmo agora, estava constantemente trabalhando duro.
— A propósito, você ainda não respondeu ao que eu disse antes — disse a mãe de Dorothy de repente.
— O que quer dizer com isso? — Inclinei minha cabeça interrogativamente.
— Eu pedi a você para se tornar uma boa aliada de Dorothy.
Ela olhou diretamente para mim.
Então a encarei de frente.
— Você não precisa ouvir minha resposta.
Pois eu também só tinha uma única escolha, desde o começo.
Eu não iria apenas esperar lá por Dorothy, então vaguei em direção ao campo de corrida.
Eu sinto que sua mensagem dizia algo sobre esperar aqui, mas por que se preocupar com coisas pequenas?
Atravessei o terreno, indo para o armário onde a vassoura de Dorothy estava armazenada.
— Bem, se não é a amiga daquela garotinha! O que você está fazendo em um lugar como este? Não me diga que está praticando. Por que se preocupar quando se é tão ruim?
Uma voz estranha me chamou.
Hmm… se bem me lembro, aquela mulher é…
— Sherry?
— Hmm? Diga meu nome com algum respeito! Tanto desrespeito ultimamente, credo! — Sherry cuspiu no chão e olhou para mim. Então, por que veio até aqui? E onde está sua amiga?
— …
A ignorei.
— Ei! Espera aí! — gritou ela atrás de mim. Abri a porta do armário para bloqueá-la de vista, tirei a vassoura e me virei para sair.
Mas ela ficou bem na minha frente, bloqueando meu caminho.
— Você tem coragem para ficar me ignorando.
Ao som de sua voz profunda, abaixei meus olhos.
Não porque estava com medo.
Eu olhei para a vassoura de Dorothy.
À primeira vista, era apenas uma vassoura velha e gasta. Nada de estranho nisso. Quando tracei meus dedos ao longo da madeira áspera do cabo, pude sentir uma parte lisa em que o piloto se segurava, polida pelo toque de muitos dedos ao longo dos anos.
No entanto, quando olhei mais de perto, vi que estava cheia de minúsculas rachaduras, pequenas demais para serem percebidas apenas por tocá-la.
Vassouras são objetos sensíveis. Os magos aplicam energia mágica a elas e as fazem flutuar no ar, mas quando o cabo desenvolve rachaduras ou a escova começa a se partir, a vassoura para de voar, como esperado. É possível que esse dano tenha perturbado tanto a vassoura de Dorothy que ela se recusava a voar.
Na verdade, na noite anterior, eu havia animado minha própria vassoura para pedir sua opinião, e ela disse:
“Se a garota pode montar bem a sua vassoura, sozinha, mas há problemas assim que você sobe com ela, então é natural concluir que há algum problema com a própria vassoura. Por exemplo, mexendo na vassoura ou coisa do tipo.”
Mexendo na vassoura.
Claro. É isso.
Após uma investigação mais aprofundada, havia, sem dúvida, vestígios de sabotagem em toda a vassoura de Dorothy.
— Foi você quem fez isso?
Eu sorri o mais amigavelmente que pude enquanto fazia a pergunta a ela, mas Sherry apenas bufou e se fez de boba.
— O que você quer dizer?
— Só vou te perguntar mais uma vez, tudo bem? Foi você quem fez isso? — perguntei novamente.
Como esperado, ela apenas riu e não respondeu.
Foi então que aconteceu.
— …
Ouvi um som atrás de mim.
Quando olhei para trás, vi uma garota fugindo.
Ela tinha cabelo roxo claro, parecido com o meu, preso em rabos de cavalo em cada lado da cabeça. Suas pequenas e indefesas costas estavam voltadas para mim.
— …
Eu a persegui assim que terminei de lidar com a mulher perversa.
Depois de fugir do local, encontrei-me no lugar onde conheci Elaina. Era apenas uma esquina comum, sem nada de especial.
Quase não havia ninguém por perto quando cheguei ao lugar onde, há apenas alguns dias, Elaina estivera realizando sua suspeita adivinhação. As pessoas estavam apenas passando.
Elas olharam para mim com expressões confusas enquanto caminhavam.
— Nguh. Uwa… uwaahh…
Foi quando percebi que as lágrimas escorriam dos meus olhos. Soluços lamentáveis escaparam da minha boca e lágrimas miseráveis caíram no chão.
Por que estou tão chateada?
— O que está fazendo?
Fui surpreendida.
Quando me virei, Elaina estava olhando para mim, parecendo preocupada.
Tentei me afastar para não mostrar a ela meu rosto lamentável, mas Elaina colocou a mão na minha bochecha e me impediu de fazê-lo.
— Você está chorando?
Cobri meu rosto com as mãos novamente.
— … — De uma forma ou de outra, eu podia ver que além da barreira dos meus dedos, Elaina estava com uma expressão preocupada. Ela disse:
— Dorothy, não é o que você está pensando.
— Eu sei o que vi.
— Não, não sabe.
— Sei.
— Estou te dizendo, você não sabe.
— E eu disse que sim, não disse?! — Fiquei surpresa. Eu não sabia que podia gritar assim. — Acontece que você é igual aos outros pilotos, Elaina, rindo de mim pelas minhas costas, hein? “Ela é só uma criança”, dizem. “Ela é tão arrogante”, dizem. A verdade é que ninguém sabe o quão duro eu trabalho!
— …
— Não é como se eu tivesse chegado tão longe por acidente! Eu pratiquei mais do que ninguém, até que não pude perder e, no fim, cheguei longe assim! Antes que percebesse, eu havia perdido todos os meus amigos e qualquer outra pessoa em quem pudesse confiar! Mas… Mesmo assim, nunca desisti e lutei até chegar aqui! Por que todo mundo fica no meu caminho?!
— Eu sou diferente.
— Não é! Você estava lá, rindo com a Sherry, não estava…?!
— …
Elaina parecia preocupada novamente e ficou quieta.
Acho que a fiz se sentir mal.
Bem… que bom!
Elaina colocou a mão em meu ombro enquanto eu soluçava e disse apenas uma coisa:
— Por que você não dá outra chance à sua vassoura, pode ser?
— Sem chance. Não estou mais competindo.
— Bem, então, o que pretende fazer? Realmente vai deixar acabar assim? Tem certeza de que está tudo bem para você?
— …
Eu não sabia como responder, e Elaina soltou um suspiro exasperado.
E então…
— Só um segundo, beleza? — disse ela, calmamente, enquanto dava a volta atrás de mim.
— Ah, espere… Elaina, o que você…? — Em minha perplexidade, esqueci da tristeza. Elaina ignorou meus protestos e me puxou para a vassoura ao lado dela. Então, de repente, estávamos suavemente nos erguendo no ar.
— O… O que você está fazendo? Me solta! Eu disse que não queria mais correr, não disse?! — Eu me debatia contra Elaina.
— Que pena — disse ela. — Se você realmente odeia, pode pular fora a hora que quiser, sabia? No entanto, se cair desta altura, não acho que acabaria muito bem. Não há nem mesmo redes de segurança abaixo de nós.
Sem mencionar que tenho alguém sussurrando ameaças em meu ouvido.
Esta mulher acabou sendo muito pior do que eu pensava…
— … — Mais ou menos na hora em que a vassoura subiu entre os telhados, desisti de vez. Estávamos vagando lentamente em direção ao campo de corrida, como se Elaina quisesse começar a praticar de imediato.
— Tente canalizar um pouco de energia mágica para a vassoura, por favor.
Ela foi um pouco agressiva. Logo depois que disse isso sem rodeios, pegou minhas mãos nas dela e me forçou a agarrar a vassoura.
— Mas se eu fizer isso, cairemos de novo.
— Apenas confie em mim. Eu cuidei disso.
— … — Já tendo chegado a esse ponto, fiz o que me foi dito. Afinal, se eu a desafiasse, Elaina provavelmente apenas me chutaria da vassoura, e isso seria o fim dos meus protestos (e muito mais).
E então, por mais hesitante que eu estivesse, canalizei um pouco de energia mágica para a vassoura.
Minha energia mágica se misturou com a dela, e a vassoura mais uma vez começaria a perder altitude…
Mas, desta vez, isso não aconteceu. A vassoura cortou o céu de forma limpa e continuou correndo pela cidade a uma velocidade que eu nunca tinha experimentado antes. Antes que eu percebesse, a brisa agradável secou todas as minhas lágrimas.
— Eu soube assim que a toquei — disse Elaina. — Esta vassoura era da sua mãe, certo? É bastante antiga e teve muito uso, mas… vê estas rachaduras incomuns no cabo? Alguém as colocou lá para machucar a sua vassoura, e isso está dificultando o transporte de duas pessoas. Portanto, trate-a com cuidado de agora em diante, beleza?
Eu sorri novamente.
— Você quer dizer tratar minha vassoura como uma pessoa, certo?
Era o dia da corrida.
O campo de corrida fervilhava de emoção, talvez por causa da celebração do quinquagésimo aniversário. Era como se fosse um festival.
As ruas estavam repletas de gente, as janelas das casas ao longo do percurso estavam todas abertas e os cidadãos exibiam o rosto para fora, esperando ansiosamente o início da corrida.
— Uau… está totalmente lotado! — Fiquei boquiaberta com a cena animada.
— Parece que há mais pessoas hoje do que o normal. — Ao meu lado, Dorothy falava com a facilidade da experiência. — Vai começar logo. É melhor irmos.
Agarrando levemente a minha manga, ela me puxou enquanto cruzávamos o campo de corrida.
Os outros magos já estavam montados na linha de partida.
Os pilotos estavam ajustando suas vassouras, ou flutuando suavemente no lugar tentando se aquecer, cada um fazendo suas próprias coisas, mas todos nos ignoraram completamente, como se nem mesmo existíssemos.
Claro, como a corrida estava prestes a começar, ela também estava lá.
— Sherry.
A maga que encolheu os ombros de surpresa e se virou quando Dorothy chamou seu nome, Sherry, aquela que eu tinha certeza que mexeu na vassoura.
— Ah, bem… se não é a Dorothy. Há algo de errado?
Ela tinha claramente perdido sua energia descarada do dia anterior. Poderia dizer que parecia desanimada. Era quase como se estivesse com medo de alguma coisa.
— Hmm? O que aconteceu? Hoje você não está com a raiva de sempre. — Dorothy parecia confusa.
— S-Sim… hoje estou um pouco… bem, estou nervosa, então… — O olhar de Sherry disparou para mim. Ela parecia uma pessoa totalmente diferente.
Depois de inclinar a cabeça com curiosidade para Sherry, Dorothy disse:
— Bem, tanto faz. Vamos dar o nosso melhor na corrida de hoje, tudo bem? — Ela sorriu e foi embora, deixando eu e Sherry para trás.
— Vamos fazer o nosso melhor, beleza? Sherry?
— C-Claro. — Ela parecia assustada, como um pequeno animal encurralado por um predador faminto. Para acalmá-la, coloquei um braço em volta de seu ombro.
— Durante a corrida, estaremos em pé de igualdade, então realmente não me importarei se você vier até nós com tudo o que tem, sabe? — Inclinei-me e sussurrei em seu ouvido. — Mas fora da corrida, não vou fazer vista grossa se usar qualquer um de seus truques sujos.
— Ah, s-sim… Eu sinto muito mesmo…
— Sente? Se fizer alguma dessas coisas de novo…
Você não vai escapar tão fácil…, pensei, depois fui atrás de Dorothy.
Eu tinha certeza de que ninguém, nem mesmo Sherry, ameaçaria Dorothy ou tentaria sabotá-la nunca mais. Eu tinha me assegurado disso.
— Sobre o que vocês conversaram? — perguntou Dorothy, inclinando a cabeça bruscamente.
— Isso é segredo. — Eu sorri.
Um único tiro da arma de partida foi o sinal para o início da corrida. O som fez meu coração pular no peito. Parecendo pássaros se espalhando de surpresa, seis vassouras voaram para longe da linha de partida.
As vassouras, cada uma com dois pilotos sentados um ao lado do outro, percorriam a cidade em linha reta. Diretamente abaixo de nós fluía a paisagem da cidade e os sons de aplausos.
O manuseio de nossa vassoura havia sido totalmente confiado a Dorothy, embora eu só pudesse ver suas costas posicionadas na vassoura na minha frente. Quanto ao meu papel, bem, sentei-me atrás, canalizando energia mágica para a vassoura. Em outras palavras, parecia que eu estava sentada lá sem fazer nada. Era assim que me sentia, de qualquer maneira.
Dorothy, por outro lado, era incrível.
Não havia ninguém que pudesse acompanhá-la.
A longa reta terminou e, quando entramos em uma curva, Dorothy puxou a vassoura bruscamente em uma inclinação, e fizemos a curva sem perder velocidade, o céu azul se espalhando acima de nós.
Eu me virei e vi que as outras vassouras estavam gradualmente ficando para trás.
Ninguém conseguia alcançar Dorothy.
Os aplausos da cidade ficaram mais altos à medida que nos aproximamos da linha de chegada. Eu podia ver as pessoas acenando com as mãos. Das janelas das casas, do meio da estrada, as vozes do povo a conduziam.
A casa de Dorothy ficava perto da linha de chegada.
Da janela, pude ver uma única pessoa, sua mãe, acenando lentamente.
Dorothy podia ter sido evitada por seus colegas concorrentes, e alguém podia ter tentado sabotá-la, mas desde o início, nada disso teria sido capaz de detê-la.
Porque havia alguém torcendo por ela.
— Elaina…
Quando a chegada estava bem diante de nossos olhos, Dorothy disse meu nome baixinho, sem se virar.
Em meio aos aplausos clamorosos, em meio ao fluxo incessante do vento, só sua voz era muito, muito clara.
— Muito obrigada.
Não tenho certeza do porquê destas palavras.
Mas tem apenas uma coisa a dizer em troca.
— Não há de quê.
E então a bandeira foi abanada, marcando o momento em que uma certa garota conquistou seu décimo campeonato consecutivo.
— E ela acaba de ganhar seu décimo campeonato consecutivo! Incrível! É a primeira vez que alguém consegue isso desde a fundação desta cidade!
O locutor agitou a multidão descontroladamente, e os clamores ficaram ainda mais altos. Era impossível distinguir aquilo de um grito.
Depois de cruzar a linha de chegada, pairamos lá, flutuando sobre uma cidade que havia se transformado em pista de corrida. Parecia que tínhamos ficado famosas. A cidade abaixo foi engolfada em aplausos. E então, acenamos para eles, e antes que percebêssemos, nós duas estávamos sorrindo.
Por fim, eu disse:
— Dorothy, você conseguiu! Agora, a doença da sua mãe…
Eu estava prestes a dizer algo quando ela me interrompeu, um pouco envergonhada.
— Ficou sabendo da mamãe? Bem, agora, finalmente, acho que posso dar toda a minha atenção ao tratamento da mamãe. Teremos muito dinheiro — disse ela, ainda acenando para a cidade abaixo.
Bem, sobre isso…
— A propósito, sobre o prêmio em dinheiro…
— Hã? Falando sobre dinheiro tão cedo… que rude… — Dorothy semicerrou os olhos para mim.
Não, não, não. Você não entendeu o que estou tentando dizer…
— Eu ia dizer que não preciso disso, mas…
— Hm?
— O prêmio em dinheiro e o grande bônus do campeonato também… Você deveria ficar com eles. Não preciso de pagamento. Não precisa se preocupar com isso.
— …
Dorothy parecia confusa. Ela exibia um leve sorriso, mas, ao mesmo tempo, suas sobrancelhas se ergueram em choque.
— Mas, nesse caso, você…
— Não sou o tipo de pessoa que aceitaria dinheiro de uma menina com uma mãe doente.
Antes de saber sobre sua situação, pensei em tomar o bônus do campeonato dela… Tipo, considerei um pouco. Não, sério, eu só pensei sobre isso um pouquinho, e então também pensei em ganhar parte do prêmio em dinheiro normal, mas… depois que conheci a mãe dela, qualquer desejo de fazer isso evaporou por completo.
— Esta é a mesma Elaina que estava aplicando um golpe na cidade…?
— É isso que eu estou dizendo.
De qualquer forma, não era como se eu precisasse tanto assim de dinheiro. Até mesmo ganhar dinheiro na cidade era algo temporário. Agora parecia-me que não havia muita pressa. Eu não precisava pegar o dinheiro dela. Embora talvez esse sentimento tenha sido reforçado pelo agito de nossa recente vitória.
— É melhor você ir em frente e usar o dinheiro antes que eu mude de ideia, vai que né…
— Em outras palavras, você está dizendo para me apressar e encontrar uma cura para a minha mãe?
— Pode entender como quiser.
Eu desviei o olhar e Dorothy soltou uma risadinha.
Não tinha absolutamente nada da arrogância que se esperaria de alguém que acabara de deixar sua concorrência comendo poeira.
Ela era apenas uma garotinha, rindo como se estivesse se divertindo.
— Elaina — após rir um pouco, ela de repente disse: — Meu objetivo era quebrar o recorde da mamãe. Minha meta era curar a doença dela. Eu alcancei meu objetivo e minha meta. Posso dizer que foi um sucesso. — Dorothy parecia de alguma forma revigorada.
— Então, você vai se aposentar das corridas?
— Claro que não. — Ela sorria enquanto falava. — Eu só alcancei um objetivo, quebrar o recorde da mamãe. Ainda demorarei muito para terminar. De agora em diante, vou começar do zero.
Muito bem.
De uma forma ou de outra, e poderia ter sido apenas minha imaginação, senti que algo sobre o novo começo desta garota tinha algo em comum com minha própria jornada. Foi apenas uma sensação.
— Isso aí. — Concordei com a cabeça.
E, assim, a partir daqui, isso começa.
— Heh heh heh…
A propósito, havia um bom motivo para uma pessoa como eu, sempre ansiosa para ganhar um dinheiro extra, se gabar de não precisar do prêmio.
Naquele dia, depois de terminar a corrida e me separar de Dorothy, voltei para o campo de corrida. Não para fins de corrida. Óbvio.
— Vou sacar esses, por favor.
Devolvi várias tiras de papel no balcão da recepção.
Eram bilhetes.
Os quais eu havia preenchido com minha previsão para o vencedor da corrida.
Era apenas algo que eu tinha ouvido falar, mas aparentemente poderia apostar em quem achasse que iria ganhar. O que significa que, se as previsões estivessem corretas, poderia levar uma bolada para casa.
Bem, de jeito nenhum eu poderia ter deixado passar uma oportunidade tão gostosa, sabe? Principalmente porque eu tinha quase certeza de que venceríamos.
Não tem mesmo problema existir uma maneira tão fácil como esta de ganhar dinheiro? Ohohoh!
— Certo, pode deixar. A garota da recepção pegou os bilhetes e, depois de olhar de baixo para cima, dos bilhetes para o meu rosto, ficou bastante pálida.
Isso era o que eu poderia esperar. Investi uma grande quantidade de dinheiro nesses bilhetes, então o retorno deve ser inimaginável. Talvez seja um exagero sonhar que serei uma bilionária! Ah, o que devo comprar primeiro? Hmm, talvez eu comece comprando minha própria padaria, hein? Ohohohohoh…
E assim por diante. Minhas ideias malucas corriam soltas, quando a recepcionista disse:
— Hmm, senhorita… as regras afirmam que os competidores não podem apostar na corrida… — Seu tom era profundamente apologético. — Então… esses bilhetes são inválidos.
— …
— Hm… senhorita…?
— E… reembolsos… são possíveis…?
— Sinto muitíssimo, mas os regulamentos afirmam que não podemos reembolsar…
— …
— Hm… senhorita…?
— Não tem mais nada que você possa fazer…?
— Receio que não.
— Não importa o quê?
— Regras são regras.
— …
— …
E então, a bruxa que havia tentado executar um esquema sujo para ganhar dinheiro se viu mais uma vez sem sorte.
E feliz para sempre.
Tradução: Taiyo
Revisão: Sonny Nascimento
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