Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 5 – Cap. 01 – Contos de Uma Certa Bruxa

— Então veja, ela me abraçou e… pensei comigo mesma: Oh, então é aqui que nos separaremos. Eu sabia que sentiria falta dela, mas sou uma aventureira, uma viajante, na verdade, e agora ela tem que viajar em direção ao seu próprio passado e futuro. Por isso precisamos seguir por caminhos diferentes…

O vento frio do outono sacudiu as vidraças da casa decrépita.

Não havia outras residências ao redor e, através da janela, os bordos estavam ficando vermelhos e amarelos. Alguma coisa fazia barulho lá fora, como se uma força invisível estivesse tentando atrapalhar a sua história.

Isso foi irritante aos ouvidos. O que eu não daria por um momento de paz…

No entanto, sua longa história não havia terminado. E, assim, a garota de cabelos acinzentados continuou, contando histórias de suas viagens anteriores. Relembrar sobre o passado a fazia perder a noção do tempo, mas isso era inevitável, não era?

— …

Ao franzir o cenho para as janelas barulhentas, a garota de cabelos acinzentados percebeu que o sol já havia se posto. Ela começou sua história à tarde… Isso significava que tinha acabado de passar metade do dia conversando?

Ah não… Eu sou uma tagarela? Ela se perguntou.

Após uma pequena introspecção, a bruxa voltou-se para a garota sentada em frente a ela.

— Sinto muito, não queria ter falado tanto…

Todos se perguntavam sobre a identidade dessa bruxa.

E é claro. Essa sou eu.

— Não precisa se desculpar. Deixe-me ouvir um pouco mais — incitou a garota de frente a mim, inclinando a cabeça e balançando seu cabelo azul-brilhante como águas rasas na primavera. Seus lábios formaram um pequeno sorriso.

Hesitei um pouco enquanto seus olhos cristalinos se fixavam em mim. Ela me assistiu pegar meu diário na ponta do sofá e folhear ruidosamente as páginas, em busca de algum tipo de história que pudesse satisfazê-la.

— Vejamos… Neste caso, aqui está a história de um homem que se tornou super bombado para procurar sua irmã mais nova…

— Ah, já ouvi essa ontem.

— … — Jura? — Bem, que tal a história de um país repleto de gatos…

— Já ouvi essa também.

— … — Ah, sério? — Entendo, talvez uma história sobre quando cortaram meu cabelo…

— Também já!

— … — O que está acontecendo aqui? — Tudo bem, o que você não ouviu?

Eu estava começando a ficar mau humorada, já que ela descartou a maior parte do material que eu mantinha em segredo no meu diário.

— Não acho que posso saber sobre o que ainda não ouvi. — Ela deu de ombros forçosamente, parecendo exasperada.

— Tudo bem. Certo. Quais histórias você já ouviu?

— Vejamos… — Ela colocou um dedo sobre a boca, olhando para o teto, e começou a recitar as histórias que eu já havia contado.

Por exemplo, sobre quando ensinei feitiços para uma noviça em um país onde só viviam magos, quando a encontrei novamente e quando passei um tempo com minha professora. Ela recontou minhas viagens até hoje, os encontros e despedidas com pessoas nos lugares que visitei.

— E a história com Amnésia foi a última, eu acho… Você não tem nenhuma que esqueceu de contar?

— …

Para agradá-la, folheei meu diário mais uma vez, mas parecia que tinha contado quase tudo que havia registrado lá.

Tá, tá.

Também aconteceram algumas coisas desde que me separei de Amnésia.

Minha história continuava, mesmo depois das páginas em que registrei meu tempo com ela. Essa garota não deveria ter ouvido nenhuma das histórias que aconteceram depois daquilo.

— Suponho que eu tenha mais algumas…

— Imaginei que teria. — Ela assentiu com a cabeça, como se soubesse o tempo todo.

— Quer ouví-las? — perguntei, apenas por garantia.

— Claro — respondeu ela de imediato.

Já estava ficando tarde, e eu realmente esperava evitar mais dessa conversa interminável…

Eu estava com fome, com muito sono, minha garganta estava seca e eu já estava me sentindo meio lenta.

— Elaina! Boom! — Ela bateu com os punhos na mesa.

— Sim, senhora.

Pois bem, com sua licença — comecei a ler o meu diário.

Essa história aconteceu recentemente, uma simples lembrança de minhas viagens, então não havia necessidade de me dar ao trabalho de abrir para ler, mas, de qualquer forma, baixei os olhos e olhei para as páginas.

Fiz isso para escapar de seu olhar que me encarava fixamente.

A garota, cujo cabelo azul-claro estava preso em um único e elegante rabo de cavalo que descia pelas costas, era uma pessoa comum, da mesma idade que eu. Ela não era uma maga nem nada, apenas uma garota totalmente normal.

Se havia uma coisa que a diferenciava das demais pessoas, era que estava irracionalmente interessada em ouvir as histórias de minhas viagens. Sempre que eu começava a falar, seus profundos olhos azuis me encaravam como se ela não conhecesse boas maneiras. Ela acenava com a cabeça várias vezes, parecendo um pouco eufórica.

Como uma donzela apaixonada.

Como uma garota protegida que não sabia nada do mundo lá fora.

— Hm, Anêmona? Poderia não me encarar assim? — Me deixa constrangida.

— Apenas me ignore! Continue, conte uma história!

— …

Não consigo ignorar você me encarando assim…

Acho que ficar discutindo isso não vai resultar em nada de bom. Acho que já tivemos essa mesma discussão várias vezes, mas ela sempre me provoca e diz: “Eu não consigo me conter; é tão interessante!”

Eu já sabia que seria tudo uma perda de tempo desnecessária, não importa o quanto argumentasse.

— Uff…

E, assim, cansada como estava, comecei a narrar a minha história.

Esta é uma história de encontros e separações.