Deixe-me contar uma história sobre Elaina.
Bem, sem dúvidas estive contando minhas histórias o tempo todo, mas agora vou contar uma história sobre Elaina.
Sou uma bruxa que usa um robe preto e um chapéu pontudo, e sou uma viajante. Estou sempre vagando sem rumo por este mundo, encontrando pessoas estranhas, visitando países estranhos e sendo pega em acontecimentos estranhos.
No entanto, isso não significa que estou sempre tendo experiências pessoais valiosas.
Se tentasse escrever minhas experiências em um livro, provavelmente pareceria que sempre me coloco no centro de histórias estranhas, mas a verdade é que não é este o caso. Na maioria das vezes, não acontece nada comigo. Eu faço um pequeno passeio, onde quer que esteja, e então sigo em frente. Esses estranhos encontros casuais são bastante raros. Na maioria das vezes, terei esperanças de encontrar alguma empolgação e nada acontecerá. Quando algo acontece, geralmente é no momento menos conveniente.
Viajar é uma série de encontros e separações e também uma série de decisões. Quando olho para trás, tenho certeza de que perdi alguns encontros interessantes, mas também fiz alguns conhecidos muito interessantes.
Não tem o que fazer, sempre vai sobrar algum arrependimento, certo? Isso porque, quando você viaja, não tem escolha a não ser seguir em frente.
Este dia não foi exceção.
Eu estava voando na minha vassoura há pouco tempo quando tive um palpite de que estava prestes a ter um encontro incomum.
— A Cidade dos Desejos Concedidos, hein? Hmm…
No meio da pradaria, encontrei uma cidade com aquelas palavras inscritas em seu portão.
Ora essa, o que temos aqui?
Mas que nome mais interessante.
Que negócio é esse? Se eu quiser ser muito, muito rica, vou ficar muito, muito rica?
No portão também estava escrito “TODOS OS PERSEGUIDORES DE DESEJOS SÃO BEM-VINDOS”. Eu não sabia quem estava lá, mas pareciam estar me recebendo de coração aberto.
Como diabos são capazes de conceder desejos? Qual é o negócio desta cidade?
A muralha tinha um portão, então não era possível espiar do lado de dentro. Eu não poderia dizer como era lá.
No momento, é um mistério.
Porém, eu tinha certeza de uma coisa: estava interessada.
— Perdão!
Por isso, abri o portão da cidade.
Do outro lado do portão estava a cidade, mas tive que me perguntar o que diabos estava acontecendo, já que não encontrei nenhuma outra pessoa.
Dentro, estava absolutamente silencioso, apenas com casas alinhadas em fileiras, sem nenhum sinal de outros humanos, muito menos vozes. Apenas os ecos solitários de meus próprios passos.
Não parecia que a cidade estava em ruínas, já que os edifícios dispostos em ambos os lados da estrada eram revestidos de tijolos vermelhos antiquados, ou tinham paredes de estuque branco ou pintura colorida, e pareciam muito inconsistentes. Era caótico, como se cenários de todos os diferentes tipos de cidades estivessem aglomerados em um só lugar.
Não havia sinais de pessoas, mas cordas com roupas penduradas nelas estavam amarradas entre os prédios, e havia barracas de rua nas laterais da estrada. Frutas e outros alimentos estavam alinhados em fileiras organizadas, mas as lojas pareciam desertas. Todas tinham cartazes com as palavras “POR FAVOR, DEIXE OS PAGAMENTOS NA CAIXA”.
Mesmo assim, não vi ninguém. Não havia uma única alma à minha direita ou esquerda.
Tudo o que restou foi a sensação de que alguém já morou no lugar.
Hã? Ninguém vai realizar o meu desejo? O que diabos é isso?
Inclinei minha cabeça em confusão com este quadro inexplicável. Seja qual fosse o caso, a única coisa da qual eu tinha certeza era que algo muito estranho estava acontecendo.
— Hmm…
Depois de caminhar um pouco pela estrada, pude ver um palácio. Parecia velho e deslocado com o resto da cidade. Suas paredes estavam cheias de rachaduras, e a coisa toda parecia que ia desmoronar a qualquer momento.
Não muito longe do palácio havia uma torre do relógio, marcando o tempo. De acordo com a torre, era pouco mais que meio-dia.
— …
Mas que diabos?
Isso é déjà vu?
Tudo no local, eu já tinha visto em algum outro lugar. A cidade parecia feita de pedaços dos vários lugares que visitei em minhas viagens, todos colados. O palácio era a imagem espetacular de onde conheci a rainha que era a única sobrevivente de um país em ruínas, e a torre do relógio tinha uma semelhança impressionante com a torre na Aldeia Relógio de Rostolf que eu havia visitado há pouco tempo.
O que diabos está havendo aqui?
Estava me dando a sensação de que aquele lugar havia sido preparado apenas para mim, e essa não era a parte mais estranha. Muitos dos edifícios eram claramente muito mais altos do que a muralha da cidade, então por que não os tinha visto de fora?
Definitivamente havia algo de peculiar acontecendo.
— Alôôôôôôô! Você mora nesta cidade?!
Eu estava intrigada com essa situação misteriosa, cantarolando para mim mesma e seguindo a estrada enquanto ela dobrava para a direita, quando de repente encontrei alguém. Parecia uma viajante, assim como eu, e veio em minha direção acenando com as mãos e gritando com uma voz despreocupada.
— Hmm, sem sorte, hein? Você não é das redondezas, é? É esse tipo de cara que você está fazendo.
— …
Havia algo muito estranho na pessoa que estava diante de mim. Ela usava um robe preto e um chapéu pontudo. Além disso, usava um broche em forma de estrela. Parecia ser uma bruxa. Seu cabelo era cinzento e seus olhos eram lápis-lazúli. Ela tinha quase a mesma idade que eu.
Essa bruxa, quem diabos era ela?
Isso mesmo. Euzinha.
Uma eu que não era eu… Uma garota que se parecia exatamente comigo estava diante dos meus olhos.
Como um doppelgänger.
— Olha só. Por acaso você é uma fã minha? Você está fazendo um cosplay meu, né! Não posso aprovar um cosplay não autorizado. Cobro royalties sobre as minhas roupas, sabe?
— …
A propósito, parecia que a única coisa idêntica era nossa aparência externa. Pelas palavras e ações dela, pude sentir a intensa fraqueza de seu intelecto.
— Meu nome é Elaina. A Bruxa Cinzenta. Sou uma viajante.
— Meu nome é Elaina. Sou a Bruxa Cinzenta e uma viajante. Ah, a taxa por violar meus direitos autorais e fazer cosplay sem permissão é de cem peças de ouro, por favor.
Ignorei o absurdo no final da frase.
— De qualquer forma, por que há duas de mim…?
— Hmm? Eu sou eu e você está brincando de se fantasiar, certo? Do que você está falando?
— …
Eu que deveria te perguntar do que você está falando. Você é idiota? Bateu a cabeça?
— Desculpe, eu sei que isso é estranho, mas poderia listar todos os lugares que visitou em suas viagens?
Decidi que, antes de tudo, precisava determinar se a outra “eu” parada ali era ou não era apenas uma impostora. Mantive um caderno escondido no bolso do meu robe para que pudesse sempre me lembrar rapidamente dos lugares que visitei. Eu nunca tinha o mostrado a ninguém, e era algo que nunca peguei na presença de outras pessoas. Se ela fosse realmente eu, imaginei que usaria o caderno como referência.
Mas…
— Por que você precisa que eu liste todos eles? Suponho que esteja planejando fazer uma peregrinação a todos os lugares que visitei, não é? Para adorá-los como um solo sagrado? Eu sabia, você está obcecada por mim!
— Essa garota é um saco…
Ela falou muito e muito pouco. Eu estava esperando desesperadamente que essa garota não fosse eu.
Então, para minha consternação, ela tirou um caderno do bolso.
Me recuso a acreditar, mas o que temos aqui? Nada do que ela faz ou diz tem sentido.
— Certo, primeiro…
Ela então enumerou minhas viagens até aquele ponto e, apesar de algumas pequenas diferenças, pelo que eu poderia dizer ao ouvir o seu resumo, ela era inconfundivelmente eu mesma. Eu não tinha nenhuma ideia do que diabos estava acontecendo, e isso foi o suficiente para fazer a minha cabeça doer. Como a própria cidade era uma espécie de confusão estranha, decidi parar de pensar na situação de doppelgänger por um tempo.
— Bem, deve ter sido o destino ou algo assim que nos encontrássemos aqui, então vamos dar uma volta juntas pela cidade?
— Ah, você ficou encantada com a minha fofura, não é? Não, você já devia estar apaixonada por mim quando começou a fazer cosplay! Bem, tudo bem, suponho que não há como evitar. Vou te agraciar com a minha companhia.
Depois disso, passei cerca de quinhentas palavras reclamando antes de finalmente dizer:
— Vou junto com você.
Caminhamos lado a lado pela cidade.
Na hora do almoço, eu estava com um pouco de fome, então peguei uma maçã na minha mão. Da mesma maneira descontraída, ela tinha um kebab na mão.
Espera, por que um kebab…?
Enfim…
— Um, então como devo te chamar?
— Hmm? Meu nome é Elaina?
— Mas eu sou a Elaina.
Fiquei confusa e franzi a testa, mas quase exatamente ao mesmo tempo, a garota, com o mesmo olhar cavalheiresco que eu, estufou as bochechas.
— Espera aí. Você só adotou esse nome depois que começou a se vestir como eu, certo? Eu sou a verdadeira Elaina!
— …
Do meu ponto de vista, você é a impostora…
Ainda assim, discutir com ela não me levaria a lugar nenhum. Assim como para um estrangeiro, você parece estrangeiro, era claro que nunca chegaríamos ao fim do debate, por mais que andássemos em círculos.
Isso está ficando problemático, então vou dar à garota despreocupada o nome temporário de Elaina Temperamental antes de continuar com a história. Porque ela é excessivamente temperamental.
— A propósito, o que você desejou quando veio aqui? Esta é a Cidade dos Desejos Concedidos, sabe? Você fez um desejo?
— Meu desejo? Bem, isso é óbvio, não é?! — Depois de roer descontroladamente o kebab, ela disse: — Nada em particular!
Nossa, mas que idiota.
— Bem, quando vim para cá, eu queria ficar rica.
— Nossa, mas que idiota.
— Desculpa, mas você é a única pessoa de quem não quero ouvir isso.
— O que você disse? O verdadeiro prazer de viajar está em viajar por instinto, sem pensar nas coisas! Estou errada?
Há alguma verdade nisso, mas no seu caso… o interior da sua cabeça não é apenas oco?
Apesar de nossos desejos serem completamente diferentes, porém, de alguma forma fomos colocadas juntas. Por quê?
Isso me faz sentir como se algum tipo de esquema invisível esteja em movimento.
Depois de explorarmos um pouco a cidade, duas coisas ficaram claras.
A primeira era que esse lugar era realmente feito de partes e peças de todos os lugares que visitei em minha jornada. Cada prédio, cada barraca de rua, eu já tinha visto cada um deles em algum outro lugar.
E mais uma coisa.
Não existia uma única coisa além disso.
Não havia absolutamente nada que eu não reconhecesse. Não importa por quanto tempo examinasse os meus arredores, não consegui encontrar um único acessório desconhecido. A cidade inteira era a própria personificação do déjà vu.
— Estou ficando meio cheia disso… — disse a Elaina Temperamental ao terminar de comer seu sétimo kebab do dia.
Você está comendo muito…
— Bem, isso é porque não há absolutamente nada de novo para ver por aqui — respondi.
Ela já havia passado bastante tempo circulando pela cidade. No entanto, não entendeu nada sobre ela e, consequentemente, isso se tornou um incômodo.
Reconheço que ver uma cidade feita de todas as coisas que eu já tinha visto era algo bem novo, mas se isso fosse tudo, bem, eu poderia ter feito isso na minha própria imaginação. Mesmo que todo o lugar possuísse um apelo misterioso, depois de várias semanas, provavelmente ficaria obsoleto.
— Mm… Estou cheia!
— Eu que o diga. Quantos kebabs você comeu…?
— Bem. Isso também é verdade, mas quis dizer que estou cheia desta cidade. Parece uma reprodução dos lugares por onde já estive. Isso é tudo que há para ver. Como você pode imaginar, estou cheia disso.
— Eu também…
Parecia que a minha versão que estava parada ao meu lado era um indivíduo muito sensível, assim como eu. Estávamos pensando a mesma coisa.
Entretanto…
Esta cidade parecia algo que alguém tinha criado depois de espiar dentro da minha cabeça. No exato momento em que nosso tédio estava atingindo um ponto crítico, a história sofreu uma nova reviravolta.
De repente, diante de nossos olhos, uma garota solitária apareceu.
Ela tinha dois chifres retorcidos na cabeça e asas como as de um morcego crescendo em suas costas. Infelizmente, essa pessoa também não era nada nova. Ela era simplesmente outra versão de mim, mas com asas, chifres e…
— Mas que duplinha exigente que vocês são. E depois que eu tive todo o trabalho de criar esta cidade só para a sua diversão.
A voz que saiu de sua boca não era nada parecida com a minha. Ela parecia um pouco mais velha do que eu e tinha um comportamento calmo.
Podia ter sido minha imagem cuspida e escarrada, mas não havia dúvidas em minha mente de que era uma pessoa totalmente diferente.
— Você é daqui?
Ela balançou a cabeça.
— De fato. Esta Cidade dos Desejos Concedidos é um lugar que criei para viajantes, assim como vocês duas.
— Oh-ho! Nesse caso, vamos direto ao assunto. Qual é o problema daqui? Só tem coisas que eu já vi antes. — A Eu Temperamental pegou o seu oitavo kebab.
— Ora, é a Cidade dos Desejos Concedidos. Para atender aos seus desejos, a cidade precisa olhar dentro da sua cabeça, certo? Claro que vai ser tudo coisas que você já viu antes.
Entendo.
— Não vim aqui para fazer uma viagem pela estrada das memórias. Vim para ficar rica.
— Tenho certeza de que você acreditou que o motivo era esse. No entanto, seus verdadeiros desejos são algo que ninguém conhece. Talvez, no fundo do seu coração, você estivesse pensando que gostaria de visitar esses lugares de novo.
— …
— Entendi! — A Elaina Temperamental estava comendo ao meu lado.
— Em outras palavras, esta cidade atende aos desejos adormecidos nos recônditos mais profundos da mente dos visitantes. Tente aproveitar isso. Você pode ficar aqui por três dias, então aproveite um descanso bem merecido.
— Huh.
— Quanta generosidade! — A Elaina Temperamental estava mastigando ao meu lado.
— A propósito, não há taxa de estadia.
— Sério?
— Incríííível!
— Bem, eu sou a fundadora da cidade, sabe. — A estranha em meu corpo colocou a mão no quadril com impaciência.
Vamos dar a ela o nome temporário de “Elaina Demônio”. Porque parece que alguém pegou um personagem secundário e fez dela um demônio.
A Elaina Demônio continuou:
— Bem, é isso que está acontecendo, então, por favor, descansem um pouco. Meu desejo era criar um lugar onde os viajantes pudessem relaxar, sabe.
Então ela abriu suas asas e voou para o céu.
Apareceu do nada e sumiu de repente.
— …
Parece bom demais para ser verdade, certo? Sinto um cheiro duvidoso. E sua aparência era claramente demoníaca.
— O que você acha…? Sobre aquela mulher, digo.
Depois que nossa anfitriã desapareceu no horizonte, me virei para a Elaina Temperamental.
— Ela é extremamente generosa, hein?! É o ideal para alguém que tem o mesmo corpo que eu.
— …
A Elaina Temperamental não era só despreocupada, como terrivelmente ingênua.
Ela é uma sem jeito. Estou surpresa que tenha sobrevivido por tanto tempo sozinha na estrada.
Então é isso.
Disseram-me para descansar e relaxar, mas não me sentia com vontade alguma de fazer isso.
A Elaina Temperamental e eu estávamos hospedadas juntas em uma pousada barata (deserta, é claro), e nós duas ficamos acordadas até tarde daquela noite.
Pense nisso, por favor. Havia uma pessoa que se parecia exatamente comigo, com uma personalidade despreocupada totalmente diferente da minha. Além disso, quando perguntei sua história, ela me disse que havia começado sua jornada da mesma maneira que eu e que havia visitado todos os mesmos lugares.
Foi tão estranho que não aguentei.
No entanto, precisava de um pouco mais de informações antes de juntar todas as peças. O que diabos eu poderia ter desejado para fazer com que outro eu aparecesse…?
Fiquei completamente perdida, mesmo sendo minha culpa.
Na manhã seguinte, retomamos nossa exploração.
— Vamos passar pelo palácio hoje? — perguntei.
— O palácio? Ah, não foi lá que conhecemos a Mirarose?
— Sim. Ontem só olhamos as redondezas, mas não entramos em nenhum dos prédios, não é? Então, hoje, vamos pesquisar cada centímetro de cada prédio que vimos antes.
— Oh-ho! Devo supor que há algum motivo para isso?
— Vamos descobrir.
Com isso, decidimos nos dirigir ao palácio.
Depois de transformar as portas de madeira em cinzas, assim como eu tinha feito antes, entramos.
— …
— …
Logo após fazermos isso…
— Não se mexam!
Reconheci aquela voz na mesma hora. Pelo visto, havia mais uma versão de mim. Ela estava parada no vestíbulo com sua varinha apontada para nós. Estava usando óculos de aro preto bem fora de moda, então vamos chamá-la de Elaina Quatro-Olhos.
— Vocês duas são Elainas boas? Ou Elainas más? — exigiu a Elaina Quatro-Olhos, olhando para nós duas.
Calma aí, não faço ideia do que você está falando.
— O que você quer dizer com “Elainas más”? Eu sou eu. E não sou mal algum.
— Quanto custou esses óculos?
Dissemos nós duas.
— … — Ela pareceu perceber algo em nossas respostas. A Elaina Quatro-Olhos abaixou a varinha lentamente. — Entendo… Quantas outras Elainas vocês duas encontraram até agora? Supondo que a Elaina com chifres e asas que parece um demônio não seja uma de nós, que número de Elaina eu sou para você?
O número de eu e nós e Elaina estava saindo do controle. Eu já podia sentir uma dor de cabeça chegando.
— Você, de óculos, é a segunda. Não encontramos muitas de nós. — Parando para pensar… — Hm, quantas de nós existem aqui?
— Não sei quantas são no total, mas… aqui temos quatorze.
— Hein?
— Uau, incrível!
— Ah, somando vocês duas, somos dezesseis.
— Hããããã?
— Tantas pessoas fazendo cosplay de mim… Minha nossa, sou tão popular assim…?
…
Sério? Dezesseis?
Minha cabeça vai explodir…
Exatamente como a Elaina Quatro-Olhos havia dito, na sala do trono do castelo estava uma multidão de mim. Ficamos diante de todas elas, conforme a orientação da Elaina Quatro-Olhos.
— Pessoal, é hora das apresentações. Estas são a décima quinta e a décima sexta Elainas.
Minha voz respondeu de todos os cantos da sala. “Ah, olá,” e “Não pense que são especiais só porque são os números quinze e dezesseis”, e “Tá, tanto faz” e assim por diante.
Agora entendo por que não fui muito bem recebida.
— Então tá bom, vou apresentar vocês novatas às outras. — Então, a Elaina Quatro-Olhos começou a apontar para elas, uma a uma. — Lá está a Elaina Idiota.
— Olá, quinze e dezesseis! Eu sou a Elaina mais fofa daqui! Tee hee.
Começando pela mais constrangedora, hein?
— Aquela que se move de forma suspeita por aqui é a Elaina Safista.
— Oh-ho-ho… dezesseis de mim… Ah, são tantas… Ah, será que isso é o paraíso?
Seria melhor chamá-la de Narcisista do que de Safista, não?
— Aqui está a Elaina Complexada-com-Peito.
— O que é isso? Se vocês duas também deveriam ser iguais a mim, por que seus peitos estão tão murchos, ao contrário dos meus? O que aconteceu? Vocês estão tomando leite? Hmm?
Isso é estúpido, mesmo para mim. De qualquer forma, parece que ela tem um monte de algodão enfiado na camisa. Que cabeça de vento.
— Esta é a Elaina Ligeiramente-Irritada.
— Hã? Não pode parar de me encarar só porque se atrasou para a festa? O que há com vocês, idiotas? Quer cair dentro? Quer fazer isso? Hein?
Ela parece fraca.
— Esta é a Elaina Desagradável.
— Heh-heh-heh… Eu poderia fazer uma grana e tanto se roubasse todas as Elainas daqui…
Esta parece normal.
— Esta é a Elaina Lamentável.
— Uff! A coisa parecida com um dragão negro aprisionada em meu olho está tentando atacar todas vocês… fujam!
Ela com certeza é lamentável. De várias formas. E está usando algum tipo de tapa-olho.
— Esta é a Elaina Maníaca.
— Eh-heh-heh… SayaSayaSayaSaya…
…? Por que Saya?
— Escondida ali está a Elaina que-Abriga-Profundas-Trevas-no-Coração.
— Eu quero morrer…
O que aconteceu ali?
— Lá está a Elaina que-Abriga-Profundas-Trevas-no-Coração (a Segunda).
— Ah, não… O lado de fora é assustador…
Então por que você está viajando?
— Lá está a Elaina que-Abriga-Profundas-Trevas-no-Coração (a Terceira).
— Eu não aguento mais… Todas as Elainas aqui deveriam simplesmente morrer…
Quantas dessas existem? Não estamos abrigando escuridão demais em nossos corações?
— Aqui está a Elaina com Afeição-Pelo-Estrangeiro.
— Privyet!
O que significa isso?
— Esta é Elaina Pegajosa.
Glorp.
Eeeeee aqui vêm as demi-humanas.
— Esta é a Elaina Carniçal.
— Auggh.
Algo terrível deve ter acontecido com ela… Embora eu provavelmente possa adivinhar o que foi.
— E eu sou a Elaina Inteligente.
— Você está mesmo se chamando assim, hein…?
— Porque é verdade. — Ela estufou o peito com orgulho. Até eu fiquei meio chateada com isso. Então, a Elaina Quatro-Olhos, rebatizado de Elaina Inteligente (autoproclamada), disse: — Acho que você já entendeu, mas cada uma de nós tem apelidos especiais que usamos para não nos confundirmos com as outras Elainas. Os nomes correspondem a cada uma de nossas características mais proeminentes.
— Uhum.
— Sendo esse o caso, eu gostaria de dar nomes à número quinze e à número dezesseis também, mas… o que seria bom, pessoal? Que tipo de características de identificação vocês acham que a Elaina número quinze tem? — A Elaina Inteligente colocou a mão no meu ombro e chamou as outras Elainas no cômodo.
Vozes responderam de todos os cantos.
— Características? Nenhuma, sério.
— Nada de especial.
— Tábua.
— Sem individualidade.
— Nadica de nada.
— Ela é extremamente não individual. Ela não tem tapa-olho, credo.
— Saya!
— Eu quero morrer.
— Eu também.
— Eu quero uma morte semelhante a um cochilo.
— Khorosho!
— Glorp.
— Uahh.
— Entendo, entendo. Obrigada, gente. Foi uma boa consulta.
— …
Então ninguém está levando isso a sério, suponho?
A Elaina Inteligente olhou para mim com entusiasmo.
— Já que é assim, eu gostaria de chamá-la de Elaina Protagonista, número quinze. O que acha disso?
— Que linha de pensamento você seguiu que a levou a um apelido tão sem sentido?
— Tentei reformular sua falta de quaisquer características proeminentes como uma força.
— Sinto muito, mas não estou particularmente feliz em saber que não há nada de especial em mim.
A isso, a Elaina Inteligente respondeu:
— Não é bom não ter uma única característica definidora? Você pode se tornar o que quiser! Assim como uma protagonista.
Você não está zombando de mim me chamando de protagonista?
— A propósito, e você, número dezesseis?
— Me chamo Elaina Temperamental.
Mas isso não era só na minha cabeça?
— Entendo, bem, então, vamos chamá-la assim.
Para alguém que se dizia inteligente, a Elaina Inteligente era uma garota bastante descuidada.
— Mas por que exatamente vocês estão todas enfurnadas em um lugar como este?
Depois de ouvir um rápido resumo das viagens de cada Elaina enquanto nos conhecíamos, confirmei que, como esperado, cada uma havia visitado os mesmos lugares que eu, embora cada uma de suas histórias fosse ligeiramente diferente.
A Elaina Inteligente foi quem me respondeu.
— Acho que mencionei isso quando nos conhecemos, mas… pelo visto, tem uma versão ruim nossa por aí. A Elaina Violenta. Ela ataca qualquer uma de nós que encontra, sem nem avisar.
— Huh.
— Ela é violenta, então a chamamos de Elaina Violenta.
— Bem colocado.
Pelo visto, enquanto a Elaina Temperamental e eu estávamos vagando sem rumo pela cidade, as outras Elainas foram atacadas por aquela Elaina Violenta.
Foi bastante sorte não termos encontrado ela, hein?
— Então, vocês estão se escondendo aqui para fugir da Elaina Violenta, é isso?
Entendo. Estou meio chocada.
— Mas a oponente também é uma Elaina, certo? Se vocês a confrontarem, não deveriam conseguir ao menos um empate?
Essa foi a minha suposição, mas a Elaina Inteligente encolheu os ombros e disse:
— Pense comigo, Elaina Protagonista. Pense mesmo. Nossa inimiga também é uma de nós, o que significa que seria o mesmo que cometer automutilação. Você pode imaginar o que poderia acontecer se ela morresse?
— …
— Nenhuma de nós tinha ideia do que fazer, então quatorze de nós nos reunimos aqui para discutir o assunto. Devemos esperar aqui até o terceiro dia, quando expira o prazo imposto pela cidade, ou devemos ir lá e lutar? No momento, estamos sem saber o que fazer.
— Entendo. E se este lugar for atacado?
— Bem, então não teríamos escolha a não ser lutar, embora preferíssemos manter isso como um último recurso. No momento, nossas duas opções são nos fecharmos aqui ou irmos lá e tentar capturar a Elaina Violenta. Em suma, a questão é se devemos agir ou nos esconder.
— Hmm…
— Então, o que eu quero saber é, qual você acha que é a melhor opção?
— Ah, eu não quero que você jogue essa decisão sobre mim.
— Do que está falando? Você é a Elaina Protagonista, não é? Se a protagonista não assumir o comando em um momento como este, estaremos todas em apuros.
Vou assumir o papel de conselheira e ajudar a protagonista – acrescentou ela, depois colocou força em um dedo e empurrou os óculos sobre o nariz.
Então você propositalmente decidiu me chamar de Elaina Protagonista para que pudesse me usar para tomar suas decisões, é isso…? Que conspiradora. Mas, essa sou eu.
Se ela vai ficar assim, então também tenho um truque na manga.
Sentei-me no trono e olhei para as outras Elainas.
— Pois bem, todas além de mim, vão e explorem a cidade. Vou esperar o retorno de todas bem aqui. O que acham dessa estratégia?
Na mesma hora, as vaias das outras Elainas explodiram sobre mim.
— Do que essa idiota maluca está falando?
— Abaixo a ditadura!
— Pare de brincar, por favor.
— Você é mais burra do que uma pulga?
— Não posso aceitar isso.
— Não há discussão a ser feita.
— Por favor, renuncie ao cargo de protagonista.
E por aí vai.
Causei um enorme rebuliço com uma única declaração.
Elas realmente falam o que querem, hein? Quero dizer, o que há com isso? Fui arbitrariamente elevada à posição de protagonista e agora, quando tento assumir o comando como uma protagonista faria, recebo isso. Digo, elas podiam mostrar um pouco de moderação, mesmo quando estivessem zombando de mim.
Eu também posso me transformar em uma Elaina Violenta, sabe?
— Nesse caso, cada uma decide por si.
Levantei minha voz de onde eu estava sentada no trono enquanto enfiava todos os meus sentimentos reprimidos no fundo do meu estômago.
Assim…
Wha-bam!
A porta da sala do trono foi aberta com um enorme impulso. Não, ao contrário, a própria porta voou para o espaço onde estávamos todas relaxando, esmagando duas de nós embaixo dela.
Squish. Um som úmido mal pôde ser ouvido nos intervalos entre os rugidos estrondosos.
— Ahh! A Elaina Carniçal morreu! Ela foi esmagada!
— Isso é super nojento!
— Ahh, o fedor de podridão é insuportável.
— Essa foi definitivamente uma morte instantânea.
— Aaugh…
— Ah, ela está viva.
O mais importante é que está segura.
— E a Elaina Pegajosa foi transformada em geleia.
— Espera, ela não era geleia desde o começo?
— Esse é um bom ponto.
— É mesmo…
— Foi mal, parece que as duas estão bem.
O mais importante é que elas estão seguras.
— Ah, eu estava começando a pensar que nunca iria lhes encontrar… Mas vocês estavam todas reunidas aqui, não é?
Interrompendo o ambiente descontraído, totalmente desprovida de qualquer tipo de tensão ou drama, uma voz fria soou. Claro, a voz era minha, e a pessoa que apareceu depois de explodir a porta era – para a surpresa de zero pessoas – eu.
— Isso é perfeito. Vou me livrar de cada uma de vocês aqui mesmo. — Enquanto ela falava, a nova Elaina sorriu e avançou em nossa direção.
Essa Elaina tinha um cabelo curto. Tinha exatamente o mesmo comprimento que o meu após ter sido cortado por uma boneca assustadora em alguma outra cidade em algum lugar. Quando ela se aproximou, uma atmosfera desagradável remanescente daquela época também a seguiu.
Talvez…
— Um, com licença? Aquela é a Elaina Violenta?
— É ela. — A Elaina Inteligente concordou na mesma hora.
— Você aí, sentada no trono… Você é a líder que governa essas Elainas? — A Elaina Violenta olhou para mim.
— Não sei se sou a líder ou não, mas me chamaram de Elaina Protagonista.
— Entendo, entendo. A protagonista, hein? Você, essa sentada aí sorrindo feito uma idiota, deveria ser a protagonista? — Ela apontou a sua varinha para mim.
Incontáveis lanças se materializaram no ar ao redor da ponta da varinha.
— Não gosto disso. Por favor, morra.
Acompanhando sua declaração fria, todas as lanças voaram em minha direção de uma só vez. Conjurei um número idêntico e atirei na direção dela, interceptando o seu ataque. Os sons metálicos de suas colisões encheram o ar, e pequenos fragmentos do que haviam sido lanças caíram como chuva, espalhando-se pelo cômodo.
Olhei para ela com desprezo.
— Eu não tenho absolutamente nenhuma ideia do que você estava pensando, atacando outra Elaina só porque não gosta dela. Acha que pode vencer dezesseis de nós?
— Ah, a Elaina Pegajosa e a Elaina Carniçal foram esmagadas, então são na verdade quatorze — disse a Elaina Inteligente ao meu lado.
— Você acha que pode vencer contra quatorze de nós…?
No entanto, a Elaina Violenta, apesar de sua esmagadora desvantagem numérica, riu. Foi uma risada destemida, fria e desprovida de qualquer uma das emoções que deveria estar sentindo.
— Não vivo em um mundo despreocupado como o resto de vocês. Eu sou diferente.
Ora, ora, do que diabos ela está falando?
— Suponho que nenhuma de vocês tenha se olhado no espelho ultimamente… Ugh, isso é tão eu.
A guerra estourou.
As outras treze Elainas e eu nos lançamos uma após a outra sobre a Elaina Violenta.
Ela cuidou de nós uma a uma, sem nunca perder a compostura.
Sua primeira vítima foi a Elaina Idiota. “Certo.” Com um grito sem entusiasmo, a Elaina Idiota tirou correntes de ferro da ponta de sua varinha, mas elas foram repelidas na mesma hora. “Ah!” Nossa primeira opção se transformou em uma lagarta presa por correntes.
A seguir foi a Elaina Complexada-com-Peito. A Elaina Violenta rapidamente diminuiu a distância entre elas e a chutou para o lado após arrancar os chumaços de algodão que estavam enfiados em sua camisa.
— Ahhh, meus seios…
Ela desmaiou no momento em que o enchimento foi removido.
Vai tarde.
Em seguida, foram as três Elainas que-Abrigam-Profundas-Trevas-nos-Corações. O trio lutou bravamente.
— Assustador, assustador, assustador, assustador…
— Eek! Não venha aqui!
— Quero ir para casa.
Enquanto gritavam tudo isso e mais um pouco para a oponente, as três Elainas atiraram fogo, água e raios com suas varinhas. Os pilares de energia mágica ondularam e se entrelaçaram enquanto se abatiam sobre a Elaina Violenta.
A Elaina Violenta recuou enquanto se esquivava do ataque e escapava do castelo. Só percebemos que se tratava de uma armadilha quando as três Elainas que-Abrigam-Profundas-Trevas-nos-Corações foram atrás dela. O solo do lado de fora já havia se transformado em um pântano molenga e engoliu as três Elainas Sombrias, deixando apenas suas cabeças projetando-se na superfície, antes de endurecer novamente.
— Heh-heh-heh… Parece que estamos prestes a ser executadas.
— Dentro do solo é fresco e relaxante.
— Quero ficar para sempre assim…
Olhando para as três, que por algum motivo estavam calmas, apesar de terem sido rapidamente plantadas no lugar, o resto de nós voou em nossas vassouras. A Elaina Violenta não estava em lugar nenhum, então nos espalhamos para vasculhar a área.
De repente, longas cordas se estenderam das casas abaixo, capturando quatro das nove Elainas restantes e arrastando-as para os telhados.
Quando a Elaina Violenta apareceu diante de nós novamente, a Elaina com Afeição-Pelo-Estrangeiro, a Elaina Maníaca, a Elaina Desagradável e a Elaina Safista haviam sido completamente eliminadas.
As cinco Elainas restantes tentaram de alguma forma se opor a ela, mas apesar do fato de que ela estava enfrentando cinco oponentes, a Elaina Violenta estava o mais calma possível. Claramente não estávamos no seu nível.
A Elaina Ligeiramente-Irritada soltou um grito de guerra encantador: “Sua idiota!”, e fechou a distância entre elas em sua vassoura, mas a Elaina Violenta evitou o seu ataque, jogou sua varinha para longe e, com um poderoso golpe de varinha na parte de trás do pescoço, a deixou inconsciente.
Depois que a Elaina Ligeiramente-Irritada caiu no telhado de uma casa em algum lugar, a Elaina Lamentável, a Elaina Inteligente e a Elaina Temperamental cercaram a Elaina Violenta, atingindo-a com os feitiços de suas varinhas.
As três avançaram lentamente sobre ela, tentando mantê-la presa com chuvas de lanças, ou uma torrente de água que se contorcia como um dragão, ou massas de luz mágica branco-azulada, mas como esperado, a Elaina Violenta as afastou com total indiferença.
Ela neutralizou a chuva de lanças acertando com um feitiço espelhado, assim como eu fiz dentro do castelo. A água se contorcendo ao redor dela se transformou em gelo e se estilhaçou. Depois de se esquivar das bolas de luz mágica e escapar das três Elainas, ela as atacou com os seus próprios ataques mágicos.
Este trio de Elainas foi empurrado de volta para a entrada do castelo, onde desabaram em uma pilha perto das três Elainas que-Abrigam-Profundas-Trevas-nos-Corações, ainda enterradas com apenas suas cabeças acima do solo.
— …
E então…
A Elaina Violenta, que havia se livrado de todas as Elainas, menos eu, em apenas alguns minutos, pousou sua vassoura no telhado de uma casa que parecia pertencer a um país distante onde uma vez eu havia ensinado magia a uma jovem de cabelo preto.
Eu estava lá esperando por ela.
— Estou vendo que você não está lutando. Mesmo que as outras Elainas estejam derrotadas, você se contenta em bancar a observadora despreocupada, é isso? — Ela lançou um olhar de reprovação para mim.
— Isso é porque você estava tão confiante. Ter a certeza da vitória é um esquema que vence por si só. Pude ver que, se voasse para lá sem pensar, não teria a menor chance.
— Então, a que conclusão suas observações a levaram?
— Bem, eu não acho que tenho zero chances de te derrotar.
Afinal, sou eu contra eu mesma.
— Você é atrevida, não é?
— Sim. Assim como você.
— …
A Elaina Violenta não respondeu. Ela apenas olhou para mim.
Enquanto eu olhava diretamente em seus olhos, perguntei:
— A propósito, por que seu cabelo está curto?
Não, acho que o que deveria ter dito é: Por que você deixou assim depois que foi cortado?
— …
Meu cabelo tinha sido cortado, ah, várias semanas antes, quando visitei uma cidade cercada de prédios de tijolos vermelhos. Se bem me lembro, prendi a criminosa um dia depois que meus preciosos cabelos foram roubados por uma Cortadora em Série, que andava usando bonecas mágicas para roubar o cabelo das garotas.
Por que a Elaina Violenta deixou o dela dessa forma?
— Você sabe o motivo pelo qual meu cabelo foi cortado, certo?
— Sim, porque aconteceu a mesma coisa com o meu.
Por outro lado, em algumas das histórias das outras Elainas, elas não tiveram seus cabelos mutilados. No palácio, perguntei a todas sobre as suas vidas, mas embora todas tenham encontrado Sheila, pelo visto, algumas a conheceram depois que ela já havia resolvido o assunto sozinha.
Isso significava que, embora fôssemos todas a mesma Elaina, não necessariamente seguimos o mesmo caminho.
— De fato, tive o cabelo cortado naquela cidade. Porém, não tive energia para restaurá-lo, então continuei minhas viagens, mantendo-o curto.
— …
Você não tinha energia? Por quê?
— Você foi para a Aldeia Relógio de Rostolf?
A Elaina Violenta olhou para mim duramente com olhos escuros e opacos como os de um cadáver.
— Eu fui. — Ela acenou com a cabeça, como se fosse uma coisa natural. Então apontou para a torre do relógio erguendo-se acima do mar de telhados e acrescentou: — Essa é a cidade com aquela torre do relógio, certo? Era um lugar bom.
— Um lugar bom, hein…? Aquela cidade era um lugar bom, você disse?
— Sim. A torre do relógio ficava no meio da cidade, sendo o destaque do teatro local e era linda de se ver. Ele fez uma aparição na popular peça Estelle do Distrito Dois, que era perfeita para matar o tempo. A peça retratava a vida de uma bruxa chamada Estelle, que passou a odiar o mal do fundo do coração depois que sua melhor amiga foi assassinada quando era jovem. O final foi um pouco decepcionante, quando ela disse: “Até eu encontrar o culpado que matou minha melhor amiga, a luta dela não acaba”, mas pelo menos foi bom para afastar o tédio.
— Bem, então, o que tem isso?
Inclinei minha cabeça em confusão e olhei para ela. Finalmente percebi o que havia transformado a Elaina diante dos meus olhos na Elaina Violenta.
— Como esperado, sou diferente de todas vocês. — Embora ela segurasse sua varinha com muita, muita força, sua voz estava calma. — Lá, naquela cidade, voltei dez anos no tempo. Voltei ao passado para salvar alguém. O que vi lá, porém, foi uma realidade mais terrível do que qualquer outra coisa e, no final, não consegui salvar ninguém. Você já passou por isso? O momento em que o amor se transforma em ódio diante dos seus olhos? O momento em que uma pessoa que você ama se volta contra você com intenção assassina…
— Não, não passei. — A interrompi. — Não sei o que diabos aconteceu, mas você está dizendo que por causa dessa realidade terrível ou algo assim, você perdeu a energia para recuperar seu cabelo e caiu em desespero?
Foi nesse momento que aconteceu. Ela acenou com a varinha na minha direção e disparou várias rajadas de gelo.
— Eu não caí em desespero. Estou fervendo de raiva!
— Ah. Raiva do quê? — perguntei enquanto me esquivava das explosões de gelo.
— Isso deveria ser óbvio. Estou com raiva de mim mesma! — Então a Elaina de cabelo curto disse: — Me ressinto de todas as diferentes versões de mim que continuaram suas viagens despreocupadas, ao contrário de mim. E estou com raiva de mim mesma, porque não pude fazer nada para mudar a terrível realidade diante dos meus olhos.
Portanto, esta é apenas uma forma confusa para ela desabafar.
Mas, essa sou eu.
E então travamos uma pequena guerra.
Primeiro, ela usou sua varinha para conjurar vários sincelos de gelo enormes. Desviei de um por um e, em retorno, usei um feitiço para levantar todas as telhas espalhadas ao redor dos meus pés e as fiz voar de todos os lados na direção dela.
Ela derrubou todas usando seus sincelos de gelo, como se soubesse desde o início que era isso que eu iria fazer. E então produziu uma enorme bola de gelo no ar. Parecia que a Elaina Violenta gostava de ataques que envolviam gelo.
Ela deixou a bola de gelo gigante cair direto onde eu estava, mas um grande ataque como aquele era só chamativo e dramático – nada para se preocupar, na verdade.
Pulei em minha vassoura e desviei do ataque. A casa em que eu estava foi esmagada pelo gelo… Não tinha nada que eu pudesse fazer quanto a isso.
O ataque com as telhas não fez muita coisa, então, desta vez, usei um feitiço para pegar uma casa inteira e jogá-la nela. No entanto, ela escapou ilesa. Se cercou com uma parede de gelo bem na hora certa.
Ela realmente adora gelo!
Depois disso, nosso conflito adotou um certo padrão. Ela usaria um feitiço para conjurar muito gelo e jogá-lo em mim. Ao me esquivar, eu usaria um feitiço para pegar uma das muitas casas ao redor e jogá-la nela.
Ela parecia gostar de ataques dramáticos e chamativos, então eu combinei com isso e também fiz um espetáculo e tanto.
Enquanto ela estava conjurando outra bola de gelo, a Elaina Violenta gritou:
— Pessoas como você… gah! Eu gostaria que pessoas como você simplesmente desaparecessem!
— Exatamente para quem você está dizendo isso? Para mim? Ou para você mesma?
— Fique quieta… — cuspiu ela. — Você sabe o que me trouxe a esta cidade? Esta é a Cidade dos Desejos Concedidos. Eu definitivamente não poderia perdoar vocês Elainas que viajam tão despreocupadas, sem nenhuma memória dolorosa, então vim aqui. Aqui encontrei a forma para fazer todas as outras Elainas se sentirem da mesma maneira que eu…
— Esse é o seu desejo, não o nosso — respondi o mais calmamente possível. — Esta cidade concede o meu desejo ao mesmo tempo que concede o de todas, então sua maneira de pensar está errada. Está muito, muito errada.
Quando vim para este país e encontrei as várias outras Elainas, tive uma ideia.
A Elaina Demônio – a pessoa que criou a cidade – disse algo assim, não foi?
No entanto, seus verdadeiros desejos são algo que ninguém conhece.
Talvez, no fundo do seu coração, você estivesse pensando que gostaria de visitar esses lugares de novo.
Em outras palavras, em vez do meu desejo superficial de riqueza e abundância, havia outro desejo mais poderoso, bem no fundo do meu coração.
— Nesse caso… — A voz da Elaina Violenta estava tremendo. — Nesse caso, o que você está dizendo?! Que força você está dizendo que reuniu todas nós aqui?!
— Você não sabe? — respondi com indiferença. — Ou está apenas fingindo que não?
— Não se atreva a tirar sarro de mim!
Com isso…
Ela enviou rajadas de gelo sobre mim, uma após a outra.
Enquanto isso, continuei reduzindo a cidade a escombros.
Nossas habilidades estavam miseravelmente combinadas, e não importa quanta magia jogássemos uma na outra, nenhuma de nós poderia levar a melhor. Embora, para ser honesta, ela provavelmente era mais forte do que eu, pois já havia derrubado as outras Elainas.
Enfim.
Suponho que você saiba como a luta, surgida de muitas camadas de nossa história compartilhada, chegou ao fim, não é?
Na verdade, havia apenas duas possibilidades. A primeira possibilidade era a vitória total para uma de nós. A vencedora ficaria na história como uma heroína justa e a perdedora seria lembrada como uma vilã do mal. Esse era o final que deixaria um gosto ruim.
Felizmente, não foi isso que aconteceu. Nossa luta foi equilibrada até o fim; não havia como decidir uma vencedora e uma perdedora.
Em outras palavras, estávamos indo para o segundo resultado possível.
— …
— …
Deviam ter se passado várias horas desde que começamos a lutar.
Nos encontramos olhando para o céu juntas, nas ruínas de uma cidade, mais da metade da qual havia sido reduzida a escombros.
No céu azul, claro como após a passagem de uma tempestade, cinza vibrante, quase branco, nuvens se espalharam, traçando padrões no ar.
Nós duas tínhamos usado quase toda a nossa energia mágica.
Estávamos ambas sem poder e, para melhor ou pior, nossa luta ainda estava indecisa. Essa era a segunda maneira que poderia acabar e a opção que havíamos escolhido.
Então, como costuma ser o caso, só havia uma maneira de proceder.
— Com que possível propósito vim para esta cidade…? — perguntou ela bruscamente.
— Antes de responder, deixe-me dizer o que eu, sem saber, desejei do fundo do meu coração — falei enquanto olhava para o céu. — Tenho certeza de que vim aqui para encontrar as outras Elainas.
É dito que esta cidade atenderá seus desejos.
Bem, não fiquei surpresa ao saber que queria examinar algumas outras possibilidades. Viajar é uma série de encontros e separações e, ao mesmo tempo, uma série de decisões. Quando você olha para trás, às vezes nota uma experiência estranha e às vezes a perde.
Mas e se houvesse uma versão de mim que não tivesse perdido? E se houvesse uma versão minha que teve um encontro estranho? E então?
E se fosse possível que existissem outras versões de mim?
Eu tinha certeza de que essa possibilidade era o que eu desejava. Foi por isso que vim a este lugar e conheci as outras versões de mim mesma.
— Mesmo assim, isso não explica por que eu vim aqui.
Você ainda não entendeu…
— Sim, isso explica. Você também deve ter sentido um anseio pelo seu outro eu, assim como eu. Seu anseio pela versão de si mesma que não foi pega na tragédia na Aldeia Relógio de Rostolf a trouxe a este lugar.
— …
— Você não odeia o resto de nós tanto quanto pensa que odeia. Você está desejando a possibilidade de uma você que não seja você, de uma eu que não vivenciou aquele terrível incidente. É por isso que veio aqui. Certamente não era para que pudesse machucar a si mesma, mas porque em algum lugar do seu coração, desejava a possibilidade de uma você diferente.
Decerto não foi para que pudesse machucar o resto de nós, Elainas.
Aqui você encontrou o seu caminho para curar as suas próprias feridas.
Tenho certeza de que é o mesmo para o resto de nós. Viemos aqui porque queríamos conhecer a possibilidade de uma eu diferente de nós mesmas.
— Isso seria puro egoísmo… — Ela parecia estar criticando alguém que fingia não conhecer.
— Desejar outras possibilidades para si mesma não é uma coisa ruim. Além disso, você disse que seria egoísmo, mas você é a única que pensa assim, sabe?
Peguei em sua mão.
Seus dedos finos e brancos tremeram de surpresa quando os toquei, como se fossem se afastar por um momento, mas depois disso, ela gradualmente entrelaçou seus dedos aos meus.
— Pode escutar…? A história de quando voltei dez anos no tempo? — Ela desviou o olhar do céu e olhou para mim.
A encarei de volta.
— Vim para cá por isso.
E foi assim que nossa guerra terminou.
Não com uma vencedora e uma perdedora, mas de outra maneira.
Com uma reconciliação.
Deixe-me contar o que aconteceu depois disso.
Junto com a Elaina Cabelo-Curto (anteriormente Elaina Violenta), fui buscar as outras Elainas. Tínhamos praticamente destruído a cidade, então eu temia que algumas das outras pudessem ter sido esmagadas sob os edifícios ou gelo. Felizmente, estavam todas ilesas.
— Foi uma luta incrível, hein?
— Sabe como tivemos que trabalhar duro para reunir todas?
— Mesmo quando estiver fazendo um barulho ridículo, por favor, não se empolgue muito, entendeu?
— Lutando entre nós! Eu realmente faço algumas coisas tolas, não é?
— Sua idiota.
Elas já tinham terminado de se recompor.
Algumas das outras Elainas levaram as outras de volta para o palácio.
— …
— …
A propósito, as Elainas que nos repreenderam um momento atrás foram as que reuniram as outras.
Aparentemente, todas elas tinham se escondido pela cidade e assistido ao desenrolar da batalha. Existiam todos os tipos de Elainas, então tenho certeza de que esses eram os tipos que sempre se contentavam em ficar de fora.
— Ter tantas de mim, porém, é… Como digo? Isso é estranho.
Ao ouvir minhas palavras, a Elaina Temperamental cuspiu:
— Você só percebeu isso agora? Digo, todas vocês estão fazendo cosplay de mim, não estão? Tenho certeza de que todas vocês pensam que são apenas a minha imagem cuspida e escarrada.
Parecia que ela ainda continuava com a cabeça em seu mundinho despreocupado.
— O que você está planejando fazer agora? De acordo com o que a Elaina Demônio; isto é, a Elaina que se parece com um demônio, disse, ainda temos cerca de um dia sobrando aqui.
As Elainas espectadoras fizeram caretas perplexas para a Elaina Inteligente, que tinha um dedo na ponta dos óculos.
— Em primeiro lugar, devemos decidir se podemos confiar na Elaina Demônio.
— Aquela garota parece suspeita.
— Acho que ela definitivamente está se escondendo em algum lugar por aqui.
— Ela definitivamente está fazendo algo por trás dos panos.
Elas estavam certíssimas.
Porém…
— Colocando isso de outra forma, não importa o que façamos, um dia não deve ser problema, certo? Nossa estadia neste país é limitada a três dias, o que significa que algo ruim provavelmente acontecerá assim que os três dias acabarem.
— Entendo.
— Esse é exatamente o tipo de coisa que uma autoproclamada protagonista pensaria.
— Então, isso significa que não há problema em ficarmos até o terceiro dia, certo?
— Seria uma ótima maneira de economizar com as despesas do hotel.
As Elainas espectadoras pareciam não ter basicamente nenhuma inclinação para trabalhar duro. Também era da natureza delas odiar o desperdício, então aparentemente ficaram muito entusiasmadas com esta cidade, onde podíamos adquirir tudo e qualquer coisa de graça.
Como resultado, passamos o resto do dia nos divertindo na cidade.
Comíamos o que queríamos e bebíamos o que queríamos. Depois de festejar o quanto queríamos, fiquei diante de todas as outras Elainas, segurando uma taça de vinho em uma das mãos.
— Pessoal, é bom se divertir, mas vocês vão ouvir a minha proposta?
É raro estarmos reunidas assim.
Seria um desperdício ficar apenas se divertindo.
— Pessoal, vocês têm um caderno no bolso do robe?
Então, vamos tentar fazer mais uma memória enquanto nos aquecemos com as memórias de nossas viagens.
Todas nós pegamos os nossos diários de viagem.
Como esperado, cada uma de nossas histórias parecia seguir seu próprio caminho. Por exemplo, quando eu estava tendo um dia totalmente entediante, no mesmo dia, uma Elaina diferente estava passando por um encontro fatídico e assim por diante. Elas eram todas diferentes.
Na Aldeia Relógio de Rostolf, onde desfrutei de vários dias de passeios inteiramente comuns, a Elaina, que agora tinha cabelo curto, aparentemente passou por uma provação muito amarga, então, embora fôssemos a mesma Elaina, contamos histórias muito diferentes.
Ocorreu-me, depois de encontrar a Elaina Temperamental e ir para o castelo, que poderia ser interessante coletar as histórias de todas. De qualquer forma, tínhamos mais um dia, então decidi fazer isso acontecer.
Todas nós nos reunimos na espaçosa sala do trono do castelo e repassamos cada um de nossos diários para ler.
— Entendo, fingir ser cartomante na cidade com preços altos é uma boa ideia…
— A Senhorita Fran é a mesma de sempre, não importa com qual de nós ela esteja, hein?
— Essas são algumas pessoas indescritivelmente horríveis, não são?
— Ah, O País dos Contadores da Verdade…
— A Saya desta história era a mais fofa.
— Do que você está falando?
— Você não quer dizer que ela era a mais louca?
— E ainda assim você ficou feliz em receber o colar.
— …
— Aauugh…
— Como será que a Elaina Carniçal acabou virando uma carniçal?
— Ela provavelmente não escapou do Paraíso dos Mortos-Vivos.
— Que idiota.
— Pois é.
— A propósito, por que você está usando um tapa-olho?
— Este é o lugar onde o dragão negro…
— Ah, já chega.
— Seus seios não são meio grandes?
— É só algodão.
— Ah, já chega
Me sentei no trono enquanto as observava fazendo um alvoroço a respeito dos diários espalhados pelo chão.
— Vou ouvir a sua história, como prometido.
— … — Sentada no braço do trono, encostando o ombro na parte de trás dele, a Elaina Cabelo-Curtos tirou seu diário de dentro do robe. — Naquela cidade, eu…
Então peguei o diário dela e entreguei o meu em troca.
Depois disso, por algum tempo, ficamos absorvidas ao ler as histórias umas das outras.
Havia também muitas coisas que todas tínhamos em comum.
Nos países que visitamos, sem exceção, todas encontramos as mesmas pessoas. Por exemplo, todas nós encontramos Saya no País dos Magos e a encontramos novamente na Terra da Honestidade. Dessa forma, todas nós encontramos as mesmas pessoas nos mesmos lugares.
E então, da mesma forma, nos separamos delas.
Além disso, provavelmente é uma questão de percurso, mas nossos motivos para começar nossas jornadas eram os mesmos, e nossas professoras eram todas iguais. Com apenas as menores variações entre nós, fomos inspiradas a nos tornar bruxas pelas As Aventuras de Nique e depois treinadas pela Senhorita Fran. Até então, nossas histórias eram exatamente as mesmas, como cópias.
Depois que todas terminaram de ler as histórias de todas, alguém de repente fez uma sugestão.
— Não seria interessante transformar isso em um livro? Algo como As Aventuras de Nique, por exemplo.
Nenhuma de nós rejeitou essa proposta. Pelo contrário, todas acenaram com a cabeça como se esperassem exatamente por isso.
O título do livro acabado foi a última coisa a ser decidida. Apresentamos muitas opções, mas, no final, acatamos minha sugestão com a maioria de votos.
Imitar nosso amado livro As Aventuras de Nique ao chamá-lo de As Aventuras de Elaina também teria sido bom, mas se fizéssemos isso, seria muito semelhante a um erro embaraçoso do passado que alguém em algum lugar gostaria de apagar da história, e mais importante, não era lá muito inteligente.
Claro, um título excêntrico seria mais adequado para uma protagonista excêntrica como nós.
E então decidimos por este título:
Chamamos isso de A Jornada de Elaina.
Era a manhã do terceiro dia.
A maioria de nós (especialmente as Elainas espectadoras) se opuseram veementemente à partida, mas não havia ninguém entre nós que soubesse o que iria acontecer a partir de então.
Depois de distribuir cópias de A Jornada de Elaina para todas, eu meio que as forcei a se dispersar.
Como éramos responsáveis pelos danos consideráveis que haviam sido causados à cidade, a Elaina Cabelo-Curto e eu ficamos para trás e procuramos para ter certeza de que não havia ninguém escondido em qualquer lugar.
— Não tem mais ninguém aqui, hein?
— Não, não há. — Balancei a cabeça para a Elaina Cabelo-Curto.
Depois de olhar para mim por um momento, ela olhou para trás, para a cidade ao nosso redor. O sol da manhã estava brilhando através de uma parte da cidade que tínhamos evitado nivelar por muito pouco, espalhando uma cor escarlate pálida sobre seu cabelo cinzento.
Com a bela paisagem atrás dela, ela tinha uma expressão que parecia um pouco solitária.
— O que você está planejando fazer a partir de agora?
Quando perguntei, ela penteou o cabelo curto suavemente.
— Pensei em ir buscar meu cabelo de volta. Provavelmente ainda está implantado em uma das bonecas.
— É mesmo?
— Sim, bem, uma vez que a culpada já foi capturada, devo ser capaz de encontrá-lo só procurando pelas bonecas.
— Espero que você o encontre.
— Aham.
Nenhuma de nós queria dizer adeus.
Para começar, ela era eu, então era estranho falar de separação. Dizer adeus a alguém que eu pudesse ver sempre que me olhasse no espelho… Achei de alguma forma estranho.
…
Bem, essa era a razão pela qual eu estava disposta a admitir isso.
Simplesmente não queria dizer essas palavras de despedida.
E então…
— Obrigada, Elaina — disse ela.
— Não diga isso, Elaina — respondi.
Com apenas essa troca de palavras, ela deixou a cidade.
Eu tinha uma última coisa que precisava fazer.
— Agora estou sozinha! — Chamei por ninguém em particular. Minha voz ecoou alto pela cidade, que respondeu apenas com silêncio e me fez pensar que poderia ecoar em qualquer lugar sem que eu tivesse que forçar a minha voz.
Na verdade, claro, aquela que eu estava esperando apareceu quando ouviu meu chamado. A garota adornada com dois chifres retorcidos desceu até onde eu estava, batendo suas asas de morcego.
— Você chamou?
A Elaina Demônio apareceu.
— Sim, porque há algo que eu realmente quero discutir com você.
— Mas eu não tenho nada a dizer.
— … — Encarei essa garota que tinha demonstrado que nunca perderia a chance de contar uma piada. — Percebi sua verdadeira identidade no meio da coisa toda.
— Antes de discutirmos minha verdadeira identidade ou qualquer outra coisa, gostaria que você assumisse a responsabilidade por destruir a minha cidade.
Ela é engraçada, sério.
— Este lugar é um sonho, certo? Não acho que haja qualquer responsabilidade a ser assumida.
— Hmm…
A Cidade dos Desejos Concedidos, onde encontrei todas as outras Elainas, foi construída inteiramente com partes de outros países que visitei. Essa foi uma conclusão que tirei do estado desse lugar, que estava cheio de todos os tipos de fenômenos impossíveis.
Este era o meu mundo onírico, e tudo neste sonho me estava sendo mostrado pela Elaina Demônio diante dos meus olhos.
Isso parecia irracional.
Era, porém, uma conclusão muito convincente.
— O estado desta cidade… este lugar, parece que você amontoou todas as coisas ideais em uma só… e isso me lembrou de outro incidente em um determinado país.
Todos os cidadãos caíram em sonhos, e enquanto todos dormiam, apenas uma garota solitária foi deixada para trás. Foi algo muito triste.
Todos os cidadãos dormindo pacificamente se perderam em sonhos de seus mundos ideais criados por um certo demônio, e quando três dias se passaram, morreram durante o sono.
Três dias – exatamente a mesma quantidade de tempo que a Elaina Demônio nos deu.
— Você se intromete nos sonhos das pessoas e consome sua força vital prendendo-as em seus mundos idealizados. E eu sou uma de suas vítimas. Estou errada?
— Oh-ho! — Ela sorriu e balançou a cabeça mais uma vez. — Você está um pouco errada. Você ainda não se juntou a essas pessoas.
— Isso mesmo. Porque ainda não se passaram exatamente três dias.
Ainda faltam algumas horas.
— Então, o que planeja fazer? Você vai ficar aqui e se tornar meu alimento?
— Claro que não. Por que você acha que destruí tanto a cidade e afastei todas as outras Elainas?
— …
Bem, a cidade ser destruída foi meio que uma coincidência, mas afastar todas as outras Elainas fazia parte do meu plano.
Era provável que as outras Elainas que apareceram tivessem sido reproduzidas de minhas memórias e fossem meus outros eus possíveis. Em outras palavras, eram imagens que criei devido ao meu anseio por possibilidades alternativas.
— Mesmo que este fosse o meu mundo dos sonhos e não o de qualquer uma das outras Elainas, não há mais nada que eu deseje por aqui. Não há absolutamente nenhuma razão para eu continuar neste sonho.
— Você se saiu bem… Mas que pena. Eu tinha certeza que a força vital de uma bruxa seria particularmente deliciosa.
— Se você esperava conseguir uma bruxa para o jantar, eu diria que seu plano improvisado saiu pela culatra. — Peguei a minha varinha. — Bem, então se apresse e me deixe sair daqui. Se não…
— Se eu não fizer isso, você vai me machucar? Ha-ha-ha, que idiota que você é. — Ela gargalhou e disse: — Se você sair pelo portão da frente, retornará ao mundo real. Em primeiro lugar, nunca impedi ninguém de sair e não persigo ninguém que sai. Se quiser escapar, pode ir. — Ela acenou para mim.
— Então você consumiu as forças vitais de muitas pessoas ao fazer isso…?
Suponho que, depois de esperar os três dias atribuídos, ela devora a força vital de qualquer pessoa que opte por ficar.
— Isso mesmo. É como eu me alimento, sabe.
— Você se alimenta da vida das pessoas…? Não se sente culpada por devorar humanos inocentes?
— Para mim, uma vida humana nada mais é do que uma refeição. Você acha que comer carne bovina é imperdoável?
— …
— Parece que você quer dizer que não consegue me entender. Não estou tentando fazer com que você entenda nem nada. Criaturas como eu são diferentes de vocês, humanos, nas partes mais fundamentais. Nunca pensei, por um segundo sequer, que poderíamos nos entender.
— Que pena… Se você pudesse usar seu poder de uma forma mais amigável, provavelmente teria sido útil para os humanos.
— Ha-ha-ha, você realmente é uma idiota! — disse ela com franqueza. — Por que eu deveria ser amiga do meu gado?
Diferente nas partes mais fundamentais.
Entendo. Com certeza, os seres que chamamos de demônios provavelmente são assim.
— Ah, certo, certo. Não vou te segurar aqui, mas deixe-me dizer uma coisa boa.
— O que é…?
Eu já estava prestes a partir.
Ela falou despreocupadamente, alegre como sempre.
— As Elainas que vieram aqui; elas não eram apenas sua imaginação… Todas elas eram seu eu real.
Nuvens cinzentas, quase brancas, desenhavam padrões à medida que se moviam pelo céu claro, como fazem depois que uma tempestade passa.
A brisa causou comoção enquanto corria pela grama, formando ondas de um verde brilhante. Fazendo cócegas em meu nariz estava a fragrância do início da primavera com o cheiro do inverno ainda persistente sob o sol quente.
Azul e verde, e um pouco de branco, se refletiram em meus olhos.
— Este lugar…
Pelo visto, eu estava dormindo profundamente, bem no meio de um campo.
Adormeci por exatamente quanto tempo? Minha memória antes de adormecer estava nebulosa e eu não conseguia me lembrar de muita coisa. Por que, como e por que razão estava dormindo no meio de um campo?
Embora me lembre dos eventos que aconteceram durante o meu sonho bem vividamente.
— …
Então de repente percebi.
Não consigo me lembrar do que aconteceu antes de eu adormecer, então vamos dar uma olhada no diário. Diários são coisas úteis quando sua memória está nublada. Acho que deveria estar no meu robe.
— Aqui…
Quando procurei em meu manto, um livro caiu junto com o meu diário.
Tinha uma capa bem simples com o título e meu nome escrito nela. À mão.
— …
Era, sem dúvidas, o livro que havíamos criado durante o sonho.
Ah, agora que penso nisso, as pessoas que saem desse tipo de sonho geralmente levam uma coisa com elas.
Entendo. Portanto, a minha é este livro.
Por um momento, comparei os dois livros em minhas mãos e coloquei um no bolso do robe.
— O diário pode esperar até mais tarde…
Vou voltar às minhas viagens depois de terminar de ler este livro. Isso não é grande coisa. Tenho tempo de sobra.
Além disso, agora, estou com vontade de fazer uma viagem pela estrada da memória.
Então cruzei minhas pernas e sentei no meio do campo.
Como se impulsionada pela brisa fresca, cuidadosamente abri o livro.
Dentro, com certeza, estava a minha história.
Tradução: Taipan
Revisão: Kana
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