Bruxa Errante, a Jornada de Elaina

Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 3 – Cap. 12 – O Muro em que os Viajantes Escrevem

Me deparei em um país dividido em dois. As metades leste e oeste não se davam bem, então as pessoas construíram um muro bem no meio e concordaram em não voltar a se envolver.

Claro, quando visitei o lado leste daquele país, o muro continuava de pé. A barreira toda cinza bloqueava toda a outra metade. A coisa era tão fria e imponente quanto o outro lado, ao qual impedia o acesso.

Quando o toquei, estava bastante frio e achei bacana.

— Ah, que dor, mas que dor. Essa coisa é a pior de todas. — Enquanto eu estava ali, esfregando minhas bochechas contra a pedra fria para matar o tempo, um funcionário do governo do lado leste apareceu por trás de mim enquanto eu reclamava.

Com minha bochecha ainda contra o muro, perguntei:

— O que é tão penoso?

— O que você está fazendo aí…? — O oficial balançou a cabeça. — Bem, a verdade é que a relação entre as metades leste e oeste do nosso país é muito ruim. Quer dizer, se você me perguntar, todas as pessoas do outro lado desse muro deveriam ir direto para o inferno, mas a questão é… dê uma olhada aqui. Não acha que é um pouco chato ter esse enorme muro no meio de tudo?

— Eh…? O que você quer dizer…?

Quando ouvi o que ele tinha a dizer, se tornou fácil de entender. Parecia que, mais do que qualquer outra coisa, um lado odiava perder para o outro.

Tanto um lado do muro quanto o outro tinham a mesma aparência chata e acinzentada, e era isso que irritava o oficial. Ele tinha certeza de que a sua metade do país era muito melhor do que a contraparte, mas não havia como demonstrar isso.

Em outras palavras, o que o funcionário queria dizer era: “Olhe para este muro. Isso é a maior prova de que o nosso lado é melhor que o outro. É disso que eu quero poder me orgulhar.

Essa parecia ser a situação, simples e clara. Era um dilema bastante leviano. Poderia ser dito que era uma frustração típica dos cidadãos que construíram o muro todo cinzento, sendo que na verdade só queriam fazer tudo preto e branco.

— Pelo que ouvi, você é uma bruxa viajante, não é? Não tem nenhuma boa ideia para usarmos? — continuou o funcionário do governo.

— …

Por alguns momentos, pressionei minha bochecha contra o muro e cantarolei.

— Bem, não é que eu não tenha uma ideia.

Dei a ele uma sugestão.

No final das contas, as pessoas do outro lado do país eram exatamente iguais.

— Olá. Então você é uma bruxa viajante, hein? Dê uma olhada neste muro, que tal? Não acha que é simplesmente horrível? Na verdade, tenho algo que quero discutir com você.

Visitei o outro lado do muro – ou seja, o lado oeste do país – e pressionei minha bochecha contra ele, assim como fiz no lado leste.

Foi então que um funcionário do governo do oeste, é claro, fez o mesmo pedido que o oficial do outro lado tinha feito.

Como antes, gemi, e depois de agir como se estivesse pensando um pouco, apresentei uma proposta ao oficial deste lado.

— Bem, não é que eu não tenha uma ideia — falei

Os olhos do oficial brilharam de alegria.

— Sério?!

— Sim. Não é que eu não tenha uma, mas há uma condição. Senhor Oficial, você tem uma faca?

— Hmm? Um, eu tenho, mas… — Com um olhar cético, o funcionário do governo me entregou a faca que estava em seu quadril. “O que diabos você está planejando fazer com isso?”

— Eu vou fazer isso.

Enquanto falava, enfiei a faca no muro.

Raspando e arranhando, esculpi na pedra cinza.

O oficial franziu as sobrancelhas como se dissesse: “O que diabos esta garota está fazendo?” enquanto a faca em minha mão entalhava uma única declaração no muro.

Este lado do país é realmente esplêndido – uma bruxa errante

— Exatamente o que é isso…? — O oficial continuou carrancudo. Ele aparentemente era péssimo adivinhando as coisas.

— Pra resumir, esse muro é um símbolo, separando esse lado daquele lado, mas ao mesmo tempo, você quer mostrar o quão magnífico é o seu lado, certo? Portanto, você deve fazer com que os viajantes visitantes gravem suas palavras aqui. Quanto mais coisas escritas tiver, melhor o seu lado parecerá.

— Mas… não sou um grande fã desse método… — O oficial ocidental não estava só franzindo a sobrancelha, como também estava com a testa enrugada.

Ele saiu do próprio caminho para me consultar, então mostrei a ele um bom caminho a se seguir, e é essa a reação que recebo?

Lutei para não dar de ombros, exasperada.

— Ah, pensando bem… — falei, agindo como se de repente tivesse me lembrado de algo, pouco antes de dizer as palavras mágicas. — O outro lado do muro já está cheio de inscrições dos viajantes visitantes.

Pelo que soube, após minha partida, um novo costume começou naquele país, o de entregar facas aos visitantes para que gravassem suas palavras naquele muro.

É maravilhoso que aquelas pessoas, que viviam prontas para discutir sobre quase tudo, tivessem alegremente concordado em algo.

Trecho do Capítulo 5 de As Aventuras de Nique

Quando ela visitou aquele país, junto com sua professora, não fazia muito tempo que se tornara aprendiz de bruxa.

A viagem delas começou quando sua professora disse, como se de repente tivesse se lembrado de algo:

— Ah, pensando bem, eles têm uma comida realmente boa naquele país. Ah, quero comer algo saboroso… Vamos lá agora mesmo.

A garota inclinou a cabeça, muito confusa com a proposta repentina, pensando: Do que ela está falando assim de repente? Embora ela realmente não tivesse nenhuma alternativa a sugerir.

Então a garota acenou com a cabeça em resposta ao capricho inesperado de sua professora, e as duas decidiram fazer uma visita. No entanto, como foi a professora que propôs a viagem, a garota usou sua posição de cúmplice designada e respondeu: “Eu vou, se a comida for por sua conta.” Em troca ela recebeu um olhar muito desagradável.

Depois disso e daquilo, as duas voaram em suas vassouras sobre amplas pradarias por vários dias antes de chegar ao seu destino.

Como a professora havia dito, a comida era incrivelmente, inacreditavelmente boa.

A professora não disse nada sobre isso antes de elas chegarem, mas no centro daquele país em particular havia uma grande barreira, separando-o em duas metades.

— …

— …

As duas olharam para o muro.

Uma delas tinha o cabelo cinzento. Ela era uma jovem bruxa. Parecia estar no meio da adolescência. A outra era a aluna daquela bruxa. Era uma aprendiz de bruxa com um cabelo lindo, longo e liso que era preto como a noite.

Agora então, para a questão principal:

A garota, a aprendiz.

Aquela cujo desejo de se tornar uma bruxa de verdade ficava mais forte a cada dia enquanto estudava com sua professora. Quem diabos poderia ser?

Por favor, responda com no máximo e no mínimo quatro letras.

Tudo bem, o tempo acabou… Vamos agrupar e comparar as respostas.

Quem era ela?

Isso mesmo, ela era…

— Fran.

Me virei quando ouvi minha professora chamar o meu nome.

— Sim, senhorita?

— Olhe esse muro. Incrível, não é?

Minha professora estava muito animada.

— Você não esteve aqui antes?

Minha professora balançou a cabeça com a minha pergunta, parecendo que queria dizer: “Ah, você realmente não entende nada, não é?” E deu de ombros. “Estou dizendo que ficou ainda mais incrível desde que vim aqui.”

Muitas palavras, muitas para contar, estavam gravadas no muro. Estava escrito “Este país é o melhor!” e ”Esta é a primeira vez na minha vida que venho a um país tão bom!” e ”Vamos nos casar em breve!” e “Melhores companheiros de viagem de sempre!” e assim por diante, cada mensagem não relacionada com a próxima. Todos os tipos de pessoas gravaram lembranças de suas visitas.

Quando minha professora fez sua primeira visita, aparentemente era um muro recém-construído.

— Ah, então é isso? — respondi.

Ela continuou com orgulho:

— Você sabe quem começou com a tendência de gravar mensagens neste muro? Isso mesmo, fui eu — gabou-se ela, com uma expressão estranha.

Eu realmente não entendi o que ela estava dizendo, então deixei passar.

— Mas o que quer dizer com isso? Qual é o propósito de entalhar palavras no muro?

— Não há nenhuma real razão. As pessoas deste lado do país queriam competir com as pessoas do outro lado. Queriam provar que o seu lado era o melhor. É por isso que encorajaram as pessoas a deixar mensagens em seu lado do muro. E do lado oposto, fizeram exatamente a mesma coisa.

— Hmm, hmm…

Então, falando francamente, é um concurso de popularidade.

Entendo.

Mas se for um concurso de popularidade, isso possui um pequeno problema.

Puxei a manga da minha professora.

— Então, qual lado é melhor? — perguntei.

— Nossa, você realmente quer saber qual lado é o mais popular?

— Claro que quero. O lado mais popular obviamente terá a melhor comida.

— …

Depois de passar algum tempo em silêncio, minha professora fez outra cara feia.

— Você ainda está com fome…?

Vou pular o desnecessário e contar o resultado. Após examinar os dois lados do muro, descobriu-se que…

— Eles são virtualmente idênticos.

Frases semelhantes foram gravadas em números semelhantes. “Nós vamos nos casar!” alterado para ”Você está brincando, certo? É melhor já ir pensando no divórcio” enquanto “Melhores companheiros de viagem de sempre!” tinha se tornado ”Que piada terrível. Apenas acabem com isso logo.” Apareciam algumas diferenças, mas era mais ou menos idêntico.

Em outras palavras, era impossível dizer se era a metade ocidental ou oriental do país que era melhor, já que era impossível se basear apenas no muro.

Bem, provavelmente podemos fazer uma distinção a julgar pela culinária, pensei, então arrastei minha relutante professora e me dirigi a um restaurante no lado oposto do país, apenas para descobrir que a comida lá era igualmente deliciosa.

De barriga cheia, ficamos mais uma vez em frente ao muro.

— Comi demais… Não consigo andar…

Embora eu estivesse satisfeita por ter comido tanto, minha professora parecia que ia ficar doente.

— Mas, senhorita, o que quer dizer com ambos os lados são exatamente iguais?

— … — Minha professora esfregou a barriga, soltou um suspiro e olhou para mim. — A maioria das pessoas que pensava que um lado era ótimo também achava o outro lado ótimo; é isso que significa.

Em outras palavras, não havia diferença entre os dois rivais. Essa era a única verdade.

No entanto, também era assim que deveria ser. O país agora estava dividido em metades oriental e ocidental, mas originalmente, elas haviam sido unidas. Acabaram se separando apenas por um desejo sincero de não serem derrotados pelos vizinhos.

Ambos os lados se desenvolveram juntos, como uma imagem no espelho.

— Por que nenhum dos lados percebe que está indo na mesma direção de seus concorrentes…?

Minha professora sorriu suavemente.

— Isso não é óbvio? — respondeu ela. — É porque nunca olharam para o outro lado do muro. Nenhum deles.

— Ouvi dizer que este é um lugar maravilhoso, onde um grande muro cinza foi erguido no centro do país.

Seguindo esses rumores, uma única bruxa pousou sua vassoura na frente da nação em questão.

Ela era uma bruxa viajante. Usava um robe preto e um chapéu pontudo, além de um broche em forma de estrela provando que era uma bruxa. Ela dava a impressão de estar no final da adolescência, embora parecesse muito jovem para a sua idade.

— Nossa. Isto é incrível!

A garota parou em frente ao enorme muro e murmurou para si mesma. Mensagens de todos os tipos de pessoas que haviam visitado estavam gravadas lá.

A propósito…

Essa bruxa viajante…

Aquela garota, tentando ser uma bruxa errante…

Quem diabos poderia ser?

Isso mesmo, é…

Brincadeira…! Sou eu! A Saya!

— Ah, você é uma bruxa da Associação de Magia, certo? O que acha do muro? — Um funcionário do governo me abordou. Desta vez fui despachada a pedido de oficiais municipais.

— Isso é incrível. Você pode ver que um grande número de pessoas visitou este país!

Estou viajando por hobby, mas, a trabalho, resolvo os problemas das pessoas em todos os lugares.

Basicamente, a Associação de Magia trata de incidentes e acidentes causados por magia, mas também aceitamos comissões para problemas que parecem poder ser resolvidos com magia.

Por exemplo, comissões como esta.

— Madame Bruxa, eu acredito que você já olhou o formulário de solicitação, mas por favor, faça algo a respeito deste muro. Por dez anos, permitimos que os visitantes inscrevessem mensagens no muro por sugestão de outra bruxa viajante… mas, ultimamente, talvez porque os modismos vão e vêm com o passar do tempo, não tem havido muitos visitantes que querem escrever novas mensagens. Parece que o nosso muro saiu da moda.

Será que ele está pensando que algo que foi iniciado por uma bruxa pode ser resolvido por outra bruxa?

Em outras palavras, parece que as pessoas deste país colocaram em suas cabeças que podem simplesmente deixar que as bruxas viajantes lidem com todos os seus problemas enquanto elas viajam, vivendo uma vida doce e fácil.

Se estão dispostos a se dar ao trabalho de pedir a ajuda de uma bruxa, devem realmente querer que o muro continue popular. Honestamente, acho que já é impressionante o suficiente.

— E então, Dona Bruxa? Você não tem nenhum tipo de boa ideia?

— Hmm…

Olhei para o muro e pensei um pouco.

A barreira possuía muitas mensagens de muitos viajantes. Havia todos os tipos de palavras e impressões.

Hmm? Hã? O que é isso? Diz: Este lado deste país é realmente esplêndido – uma bruxa errante

Comparado com o resto das coisas escritas, parecia que tinha sido escrito há muito tempo e, dado que estava cercado por uma moldura dourada, era claramente de alguma forma mais importante do que o resto.

— Ah, essa é a primeira mensagem, escrita pela bruxa que teve a ideia de escrever no muro. Graças a ela, nosso país floresceu desde então.

Ehh? Ora, ora. Então, uma bruxa incrível visitou este lugar, hmm?

Hã?

— Espere, esta letra, algo nela é…

Era um pouco diferente da que eu lembrava, mas tinha certeza de que já a tinha visto antes. Especificamente, vários anos antes, em uma pousada específica em um determinado país. Não tive dúvidas de que a viajante que esculpiu esta linha era uma bruxa com cabelos cinzentos e olhos cor lápis-lazúli. Deve ter sido obra da minha amada Elaina – não, após um exame mais detalhado, eu estava captando apenas uma vibração parcial de Elaina, então deve ter sido a mãe de Elaina ou algo assim… ou, não me diga, não poderia ter sido a filha dela, certo? Claro que não! Sem chances! Então isso significa que era sua mãe. A mãe de Elaina visitou este país e foi a primeira pessoa a gravar uma mensagem neste muro. Incrível! Sensacional! Me encontrar com a mãe de Elaina em um lugar desses só pode ser o destino. Eba! Agora não há nada a fazer a não ser casar, meu doce anjo, Elaina! Sensacional! É um prazer conhecê-la, mãe, eu sou Saya, sua filha tem sido muito gentil comigo, a propósito, você é tão incrível e linda, assim como Elaina, mas é claro, Elaina é ainda mais incrível e linda, mas Elaina é, Elai, Elaina, Elaina, Elaina, Elaina, Elaina, Elaina, Elaina, Elaina, Elaina, Elainaaaaaaaaaaaaaaa!

— Eh, heh-heh…

— Madame Bruxa, você está bem? Seu olhar parece o de uma maníaca.

— Ah, estou bem. Só entrei em um breve transe.

— Ah, um… entendo…

Quase me perdi por um momento.

Mas eu estava bem.

Na verdade, estava em perfeita forma.

Minha cabeça começou a girar com tremenda velocidade quando imaginei o rosto da mãe de Elaina.

Naquele exato momento, uma solução para o problema do muro do país passou pela minha mente.

— Senhor, me empreste essa faca, por favor.

— Te dar uma faca não poderia acabar em nada bom…

— Vamos lá, vamos lá, vai ficar tudo bem.

— Hmm…

Com um olhar relutante, o oficial do governo me entregou sua lâmina.

Rapidamente a usei para gravar algumas palavras no muro.

— Tudo bem, pronto? Faça assim. Assim é bem melhor.

Enquanto falava, esculpi as palavras Eu amo a Elaina, Elaina, Elaina, Elaina, Elaina, Elaina, Ela…

Não consegui terminar, porque o oficial correu e me agarrou.

— Mas que diabos você tá fazendo?! Este muro é um precioso monumento histórico! Não é uma parede de banheiro esperando pelo seu graffiti obsceno! — Ele parecia bastante zangado.

Continuei alegre e desviei de sua raiva.

— O que você está dizendo? Isso é algo super importante!

— O que há de importante nisso?! É neste muro que os visitantes escrevem todas as coisas maravilhosas sobre este país!

— Sim, essa tem sido a regra, mas que tal mudá-la a partir de hoje?

— O que você está dizendo…?

Ele não parecia entender o que eu queria dizer.

Expliquei da maneira mais simples que pude.

— A partir de hoje, você permitirá que qualquer pessoa no país escreva o que quiser no muro. Pensamentos apaixonados sobre a pessoa que amam ou o que esperam para o futuro, por exemplo… Faça com que seja um lugar para as pessoas escreverem o que está em seus corações, assim como eu.

— Por quê? Você com certeza deve ter um motivo para que façam isso.

Pensei que já tinha explicado de um jeito simples até para um jumento, mas ele ainda não parecia entender. Ou isso ou ele ainda estava com raiva, e isso o estava deixando estúpido.

Que tolo teimoso.

Vamos ver se consigo acalmá-lo com uma explicação à prova de idiotas.

— Olha, as pessoas que moram aqui construíram esse muro, certo? Portanto, ele deve ser algo de que todos possam desfrutar.

Não é um muro para viajantes.

Eu disse a ele que deveriam fazer um muro que as pessoas quisessem olhar.

Uma bruxa solitária visitou aquele país.

Ela tinha cabelo cinzentos e olhos cor lápis-lazúli. Usava um robe preto e um chapéu pontudo, bem como um broche em forma de estrela que exibia orgulhosamente sobre o peito. Ela era uma bruxa e uma viajante.

Parecia estar no meio da adolescência.

Aliás, a garota era muito bonita. As pessoas sempre diziam que ela era bonita, incrível e um doce anjo.

Quem era ela?

Isso mesmo. Euzinha.

— …

Em As Aventuras de Nique, um dos livros que mais me influenciaram, a protagonista visita um determinado país e grava uma mensagem no muro. Existem muitos lugares do mundo que se passam por esse país. Para os fãs do livro, é uma espécie de santo graal.

Esse era o lugar. A autora visitou o país e realmente escreveu no muro. Era um lugar de peregrinação, um lugar que qualquer pessoa que se dizia fã visitaria pelo menos uma vez para ver a escrita com os próprios olhos e fazer suas súplicas.

E agora era minha vez de visitar.

Cheguei com expectativas muito altas, mas…

— Mas que fiasco…

Estava completamente destruído.

Não havia vestígios do muro, absolutamente nada. Era apenas um país comum.

Inclinei a cabeça, confusa. O que está havendo? Não me diga que vim ao lugar errado.

Mas não havia dúvida de que esse era o lugar que a autora havia visitado.

Este lado deste país é realmente esplêndido – uma bruxa errante

Este lado deste país é realmente esplêndido – uma bruxa errante

Duas inscrições idênticas estavam lá como uma placa comemorativa. As letras gastas pelo tempo foram cercadas por molduras douradas e colocadas no centro do país, onde o muro deve ter estado.

— Bem-vinda! Muro baratinho!

— Pegue uma lembrança da sua viagem!

— Estas não são ruínas comuns; são destroços do muro.

— Estes são raros, raros, raros!

Na praça central, onde o muro havia sido demolido, os cidadãos circulavam vendendo pedaços da antiga construção que haviam quebrado em tamanhos pequenos o suficiente para segurar na mão.

Pareciam mais populares do que eu esperava, pois os viajantes estavam se aglomerando em torno de muitos vendedores.

Bem, são apenas escombros comuns, certo? Embora eu suponha que tenha algum valor, já que fazia parte do muro…

Eu não tinha interesse em escombros, então me afastei rapidamente daquele lugar.

Parecia que o país não estava mais dividido em leste e oeste, cada um com seus próprios líderes sociais. Agora todos se reuniram.

Enquanto fazia uma curta caminhada pela cidade, me deparei com um prédio em construção.

NOVA PREFEITURA EM CONSTRUÇÃO .

Aparentemente, era isso mesmo.

É o que estava na placa, então deve ser.

— Hmm… isso não está correto. A porta está muito longe para o oeste.

— O que você tá dizendo? São as janelas que estão muito ao leste. Só pode.

— Do que diabos vocês estão falando?

— …

Dois velhos vestidos como oficiais do governo olhavam para o prédio em construção, envolvidos em uma modesta disputa.

— Com licença, vocês dois estão no comando por aqui?

Os dois tinham um ar sobre eles, como se fossem as melhores pessoas para me contar toda a história da demolição do muro, então fiquei diante dos dois e perguntei obsequiosamente, com uma voz muito doce. Se eu fizer isso, os homens vão dizer quase tudo o que quiser saber. Principalmente homens mais velhos.

— Eh? Suponho que você seja uma bruxa viajante?

— Ora, ora, que nostálgico. Já faz dez anos.

— Eh? Vocês sabem sobre mim?

— Você não veio aqui uma vez há muito tempo?

— …? Mm, mas você não envelheceu.

— Não mudou nem um pouco.

— Hmm? Se você olhar de perto, ela parece ainda mais jovem do que da última vez.

— Com certeza.

— E se você realmente olhar de perto, os peitos dela são diferentes.

— Com certeza.

— Acho que ela é outra pessoa.

— Que pena.

— …

Eu podia sentir seus olhares vulgares.

Calmamente coloquei uma tampa na raiva que borbulhava em meu peito e perguntei:

— Então vocês são as autoridades do país? Ou são só simples velhos gagás?

— Nós certamente somos oficiais do país.

— Embora eu suponha que também sejamos velhotes gagás.

— Nesse caso, isso é perfeito. Na verdade, há algo que eu gostaria de perguntar a vocês.

Comecei a contar a eles o que tinha visto na cidade e os motivos da minha visita.

— Uhum. Entendo. Eu diria que essas são algumas perguntas adequadas.

— A verdade é que não há mais tantas pessoas que visitem este país. Talvez seja um ponto importante daquele livro ou algo assim, mas isso significa apenas que qualquer um que o visitar deve ficar terrivelmente desapontado.

— Por que derrubaram o muro? — perguntei.

Os dois me contaram.

De acordo com seu relato, mais de uma década atrás, por sugestão de uma bruxa viajante, começaram a pedir aos viajantes que gravassem seus pensamentos sobre o país no muro. Recentemente, entretanto, as pessoas que moravam lá começaram a escrever seus próprios pensamentos e sentimentos.

Os nomes de quem gostavam. Suas esperanças para o futuro. Desejos estúpidos. Coisas que nunca poderiam dizer em voz alta. Uma piada sobre as orelhas do rei. Simples ideias selvagens.

O povo do país escreveu tudo isso e muito mais, sem se conter. Pelo muro todo, fizeram o que quiseram.

Com o passar dos anos, muitos viajantes gravaram mensagens ali, mas, de repente, o muro que se erguia sobre o país começou a ficar sem espaço. Acontece que as pessoas que moravam no lugar tinham muito a dizer.

Esse foi apenas o começo dos problemas do país. Os residentes rapidamente se cansaram de ler as mesmas palavras dia após dia, semana após semana. Seus próprios pensamentos transitórios, permanentemente preservados em pedra. Por fim, não conseguiram suportar a visão do muro.

— Ah cara, isso é constrangedor.

— Só pode ser brincadeira… quem escreveu coisas ruins sobre mim?!

— Nós terminamos um dia depois de escrevermos sobre compartilhar um guarda-chuva! Eu não quero mais ver isso!

— Ugh… eu escrevi algo inacreditável enquanto estava bêbado…

Et cetera, et cetera. As reclamações dos residentes surgiram uma após a outra.

Isso não foi nenhuma surpresa. Ao contrário dos viajantes de passagem, essas pessoas viviam à sombra do muro. Teriam que olhar para essas coisas todos os dias de suas vidas.

Um homem longe de casa não precisa sentir vergonha, mas…

O muro se tornou um testemunho de lembranças constrangedoras. No final, o número de queixas continuou aumentando diariamente, até que, em certo momento, o muro teve que ir abaixo.

Sem perceber, os moradores deixaram de lado qualquer ressentimento que sentiam por seus vizinhos do lado oposto. Por terem olhado para a enorme construção e visto a si mesmos e ficado constrangidos com o que viram, não puderam mais se convencer de que eram muito melhores do que as pessoas do outro lado, como eram no passado.

Não somos excelentes em tudo.

Veja como somos tolos.

Temos que nos desculpar.

 

Pela primeira vez em muito, muito tempo, as pessoas daquele país cruzaram o muro e conversaram entre si. Ficaram surpresos ao descobrir que todos de ambos os lados estavam pensando a mesma coisa, e tudo correu bem, desde as discussões iniciais até a decisão de derrubar a barreira.

— No final, este país não precisava de um muro. Desde o início, éramos todos iguais de cabo a rabo.

— Bem, suponho que a partir de agora começaremos a viver vidas comuns como um país único e comum.

Isso foi tudo o que eles disseram sobre o assunto.

E então…

Destruíram a única coisa que atraía os turistas…

— Ora, olá, sua bruxa adorável! Que tal uma lembrança?

— Deixe-me pensar. Tudo bem, vou levar uma para lembrar disso.

— Obrigado!

Voltei para a praça no centro do país e, depois de comprar um pedaço do muro do tamanho de uma palma, me virei em direção ao portão e comecei a andar.

O pedaço de entulho que eu tinha acabado de comprar tinha as letras Elai gravadas nele.

Não tem como alguém ter escrito meu nome nele, certo…? Simplesmente não tem como…

— …

Tomada por uma sensação que não conseguia identificar, enfiei o pedaço de entulho na minha bolsa.

No final, não fui capaz de ver o que queria ver. Por enquanto, o lugar mal sobrevivia como atração turística com a venda de fragmentos do muro, mas quando eles se esgotassem, o país se tornaria um lugar comum, sem nada que valesse a pena lembrar.

Continuaria a existir nas margens do mundo, sendo apenas mais um local completamente comum, não se considerando nada surpreendente.

Bem, provavelmente é o melhor, no que diz respeito ao país.

Um país não é algo que existe só para viajantes e turistas. Não há necessidade de alterá-lo apenas para trazer turistas ou convencê-los de que é um ótimo lugar para se visitar. Em vez de tentar atender aos estranhos, as pessoas provavelmente deveriam trabalhar para tornar suas cidades um lugar melhor para viverem.

Afinal, um país pertence às pessoas que nele vivem.

 


 

Tradução: Taipan

 

Revisão: Kana

 


 

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