Bom dia. Boa tarde. Boa noite.
Qual desses que é? Acho que isso na verdade não importa.
Esta é a primeira vez que troco palavras com você desta forma, então, permita-me oferecer minhas mais sinceras saudações. Prazer em conhecer.
Me chamo Elaina. Elaina, a Bruxa Cinzenta.
Sou uma bruxa com o cabelo cinzento e olhos lápis-lazúli. Uso um robe preto e um chapéu pontudo, assim como um broche em forma de estrela.
Acho que todo mundo já sabe disso, mas, por via das dúvidas, gostaria de fazer uma breve apresentação.
Por alguma razão, agora, estou presa dentro desta cidade – ou melhor, desta coisa que se parece muito com uma cidade. Infelizmente, devo informar que cometi um grande erro. Talvez porque subestimei o lugar ou, possivelmente, só fui descuidada. Poderia dar um monte de explicações, mas, para encurtar a história, me enfiei nisso tudo de cabeça.
Quando pensei em fugir já era tarde demais, então acabei presa aqui. Meu único meio de escapar foi completamente tirado, e tenho certeza de que, mesmo enquanto tentava escapar, os restos de sanidade que permaneciam em minha mente foram sendo devastados por alguma força externa. Às vezes até esqueço das coisas.
É por isso que quero te mandar para fora deste lugar.
Tenho um pedido a te fazer, para quando estiver lendo esta carta e estará muito além dos muros da cidade.
Não pode dar um jeito de me ajudar? Sem dúvidas estou em algum lugar desta cidade estranha que se estende diante de seus olhos, vivendo minha vida como uma escrava voluntária.
Só há uma coisa que eu gostaria que você fizesse por mim:
Quero que me leve – eu, que estou presa neste mundo bizarro – para fora. Se eu conseguir sair, todo o resto deve de alguma forma se encaixar. Eu devo recuperar a minha sanidade.
É possível que eu me recuse, talvez até force a permanência, mas, de alguma forma, você deve se assegurar de que me levará consigo.
Se não fizer isso, provavelmente morrerei aqui.
Entendo muito bem que isso não é algo que eu deveria estar te pedindo.
Entretanto, é improvável que alguém venha convenientemente para me ajudar no meio desta densa floresta, mesmo se eu conseguir enviar um pedido de socorro. Mesmo se, por alguma sorte, alguém aparecesse, eu ainda estaria viva? Não, em qualquer caso, a pessoa que aparecesse ao meu socorro teria o mesmo destino.
Além do mais, você não é humana.
Você é um objeto, igual todos os outros.
É por isso que decidi te pedir ajuda.
Sei que isso meio que é uma aposta.
Não uso esse feitiço faz muito tempo. Nem sei se você vai chegar tão longe depois de ler esta carta.
Mesmo supondo que a leia, você pode apenas rasgá-la e jogar fora na mesma hora. Não existe nada mais baixo do que eu te pedir isso em meus momentos de necessidade, ainda mais depois de te tratar com tanta dureza até agora.
Te pedir algo assim é muito egoísta, tolo e com certeza enganador, então, mesmo que eu tenha esgotado todo o afeto que você tinha por mim e você jogue esta carta fora na mesma hora, não tenho o direito de reclamar.
Mas não pude deixar de pedir.
Por favor, encontre uma maneira de me ajudar…
Quando acordei, aquela carta estava ao meu lado.
Um pedido de desculpas e um pedido para mim, tudo em uma caligrafia elegante.
— …
O lugar onde eu estava parecia uma floresta densa. Diante dos meus olhos, como escrito na carta, pude ver uma cidade se estendendo diante de mim.
Talvez porque tivesse chovido no outro dia, o solo estava coberto de pequenas poças. Quando dei uma olhada em uma, pude me ver refletida nela.
Minha expressão era de confusão.
Eu parecia ter vinte e poucos anos. Possuía um cabelo cor de pêssego ligeiramente bagunçado e parecia com ela, isso se desconsiderar a cor.
Minha roupa também imitava a dela. Eu estava vestindo um robe preto. Não sou uma bruxa, por isso não usava um chapéu pontudo nem um broche em forma de estrela.
— …
Então acho que minha forma humana realmente se parece com ela, hein?
Dizem que os animais de estimação se parecem com seus donos e, pelo visto, o mesmo vale para os pertences. É a primeira vez que vejo isso.
Mas que fato incrível.
Se eu algum dia a encontrar de novo – isto é, se eu conseguir resgatá-la – suponho que não há problema em dizer isso a ela.
— Então é isso… Vamos começar.
Tentei falar, mas não foi para ninguém em particular.
Minha voz era, como esperado, exatamente como a dela – assim como a da minha dona, Senhora Elaina.
Aconteceu quando eu estava voando pela floresta em minha vassoura.
— Ah, chuva!
E ainda pior, começou do nada, e bem forte.
O céu ficou cinza o dia todo. As nuvens estavam pretas, parecia que poderia chover a qualquer momento, então não fiquei nada surpresa com o clima. Na verdade, essa é a razão pela qual estava voando pela floresta, para que pudesse me abrigar a qualquer momento.
Entretanto, o aguaceiro se provou muito mais forte do que imaginei.
— Ah, ei…
Vamos lá, o que diabos é isso?! Graças à chuva, que facilmente atravessou a copa dos galhos das árvores, fiquei encharcada em um instante.
Estava em apuros.
Se continuar assim, provavelmente pegarei um resfriado. O que eu faço?
— Hmm… mm?
Estava me sentindo incomodada com meu infortúnio, com minhas bochechas estufadas, quando, convenientemente, avistei uma grande estrutura escondida em um caminho estreito da floresta.
Mas que sorte!
Na mesma hora decidi ir para aquela cidade.
— Olá! Perdão pela intromissão!
Enquanto a chuva continuava a cair, guardei minha vassoura e peguei meu guarda-chuva, depois bati na porta embutida no murinho. A hera rasteira e os ramos das árvores aninhadas cobriam o muro, como se a natureza o tivesse reconhecido como parte da floresta. Pude concluir que a cidade devia ser muito antiga.
Poderia concluir isso, mas na verdade não me importava. Eu estava implorando para que alguém se apressasse e abrisse a porta.
Foi aberta logo após o meu pedido.
Com um rangido alto, tive meu primeiro vislumbre do que estava do outro lado do portão…
— …
E fiquei rígida com o choque…
Fiquei encantada.
— …
Além da porta, um único livro estava flutuando no ar. Ele estava batendo as páginas com uma agitação, igual uma borboleta.
Na mesma hora percebi que não se tratava de uma cidade comum.
— Uh, olá. Você deixaria eu me abrigar da chuva?
Pensei em voltar assim que notei o que estava acontecendo, mas avançar mais no dilúvio era uma opção ainda mais desagradável.
— …
Talvez porque o livro pudesse entender o significado de minhas palavras, ele balançou seu corpo para cima e para baixo no meio do ar, então prosseguiu com uma agitação pelo caminho que seguia do portão.
— …? — Será que está me pedindo para ir com ele? — Obrigada.
Então pisei naquela cidade. Pelas minhas costas, ouvi a porta que tinha sido aberta há um momento se fechando. Quando me virei para olhar para trás, o mundo exterior já havia desaparecido de vista.
O lugar era muito velho para ser chamado de cidade, mas muito grande para ser chamado de ruína.
Estava cheio de lixo espalhado por todos os lugares. Do lado de fora do portão eu não sabia dizer, por causa da chuva intensa, mas agora que estava passando pelo interior dava para ver que estava horrível. A desordem cobria a estrada estreita comprimida entre fileiras de casas – a passarela estava enterrada sob placas quebradas, relógios quebrados, animais de pelúcia com seu estofamento para fora e todos os tipos de outras bugigangas.
Este era um lugar terrivelmente estranho.
— …
Finalmente, o livro voador aterrissou em um dos edifícios. A palavra estalagem estava rabiscada na entrada. Passei pela soleira e entrei.
— O que é isso…?
Por dentro, era ainda mais estranho.
— …
— …
— …
—…
Pelo visto, o livro não era o único objeto inanimado que podia se mover sozinho. Havia, por exemplo, um armário sem gavetas, uma cadeira sem algumas pernas e varinhas e vassouras que tinham sido despedaçadas vagando livremente. Suas pernas se moviam como se fossem coisas vivas andando sem se importar com nada. Assim que me viram, os objetos saltaram para cima e para baixo onde estavam.
Será que estão me cumprimentando…?
Não, mas…
— Um, você está dizendo que está tudo bem se eu ficar aqui?
— …
O livro balançou para cima e para baixo.
— Agradeço muito por isso. Onde devo dormir?
— …
O livro continuou flutuando e me levou a um dos quartos. Para dizer de forma gentil, tinha um certo charme antiquado. Para falar de maneira desagradável, ele estava desmoronando. Mas eu ainda estava grata.
Em contraste com o quarto pobre, a cama e alguns móveis pareciam novos, embora todos tivessem sinais visíveis de que foram reparados. O estranho estado da mobília de alguma forma me deixou ainda mais desconfortável.
— E quanto ao dinheiro?
— …
O livro balançou da esquerda para a direita. As gotas de chuva que haviam grudado nele espirraram contra o meu rosto.
— A propósito, eu só queria confirmar, mas a cama deste quarto não vai começar a se mover sozinha, vai…?
— …
— Por que você não está dizendo nada?
Digo, ele não falou nada durante o tempo todo, mas…
— …
Então o livro saiu lentamente do quarto.
— …!
Claro, como eu esperava, a cama começou a se mover sozinha, então a expulsei do quarto, junto com todos os outros móveis enquanto eu estava lá.
Depois de deixar meu alojamento vazio limpo e arrumado, troquei de roupa, peguei um saco de dormir da minha bolsa e tirei uma soneca no chão.
Quando fechei os olhos, o som da chuva torrencial invadiu meus ouvidos suavemente.
No dia seguinte também choveu.
Era realmente lamentável, mas eu teria que passar mais um dia sem viajar.
— …
Durante a manhã, o livro voador apareceu no quarto que eu estava pegando emprestado só para me cumprimentar.
— Ah, bom dia.
— …
— Sinto muito. Eu gostaria de ficar até a chuva passar, algum problema?
— …
O livro concordou e depois balançou para frente e para trás.
Venha comigo, parecia dizer.
Após fechar a porta do quarto e trocar de roupa, reapareci para seguir o livro. Saímos da estalagem e andamos brevemente, antes que um edifício semelhante a um castelo, bem maior do que os outros da cidade, surgisse à vista.
O livro voador parou aí.
— …
— Que lugar é esse?
Mesmo comigo perguntando, o livro não respondeu. Como se estivesse me ignorando, meu guia desapareceu sozinho do outro lado do portão aberto.
— Um…
Eu tinha algumas objeções, mas não tinha o que fazer, então o segui. Achei que ele devia estar querendo me mostrar algo.
O livro parou em frente a uma porta no final de um corredor do primeiro andar.
— …
A porta, é claro, se abriu sozinha.
Então, exatamente como depois de passar pelo portão para este país, fiquei sem palavras.
Fiquei encantada.
Depois de terminar de ler a carta cuidadosamente, bati na porta.
— Olá. Eu sou… uma viajante. Na verdade, sou um objeto, mas por algum motivo, assumi a forma humana.
Dei esta estranha saudação ao livro que flutuava do outro lado do portão. Quem já ouviu falar de um objeto viajante?
— Oh-ho. Um objeto, você diz? Então isso significa, suponho, que você está ouvindo a minha voz?
— Com certeza estou.
— Hmm… bem, isso é interessante. Você viveu por muito tempo, não é? Você foi um bom item.
— Obrigada.
— Mas por que razão você assumiu a forma humana? Se não se importar, gostaria de pedir que nos informe sobre suas circunstâncias.
— Claro, não me importo.
— Pois bem, vou te apresentar aos meus companheiros. Claro, também gostaria de ouvir você contando sua história na frente de todos. As histórias de um objeto de outro lugar serão uma ótima fonte de entretenimento para todos nós.
— Entendo… Claro. Isso deve dar certo. Em troca, seria útil se você pudesse preparar um lugar onde eu possa passar a noite.
— Com certeza. Devo preparar acomodações da mais alta qualidade.
Com isso, entrei na cidade com sucesso.
— Minha nossa. Ei, essa garota não é fofa?
— Pois é.
Pelas minhas costas, o portão soltou alguns comentários coloridos ao se fechar com um rangido.
— Parando para pensar nisso, qual era a sua forma original?
Mais à frente, o livro me perguntou algo e voltei minha atenção para a frente.
Era uma pergunta natural e não havia necessidade de esconder a resposta.
Então eu respondi:
— Eu sou uma vassoura. Sabe as vassouras que as bruxas usam? Sou uma dessas.
Caminhamos por parte do caminho da cidade, e chegamos a um edifício semelhante a um castelo que era visivelmente maior do que qualquer uma das outras estruturas locais.
— Agora, por favor, vá em frente, Senhorita Viajante. Por aqui.
O livro me mostrou o interior do castelo, e subimos a escada perto da entrada do segundo andar.
— Que diabos de lugar é esse?
— Isso costumava ser uma cidade, há muito tempo. Esta residência foi usada pelo monarca reinante daquela época. Bem, resumindo, é um palácio real.
— Oh-ho! — Continuei seguindo o livro. — Bem, então onde é que o rei está agora? — Levantei a minha cabeça.
Quando perguntei isso, meu guia não diminuiu o ritmo em nada e só disse:
— Ele não existe mais.
Sua voz soou terrivelmente fria quando disse isso.
Então, no final do segundo andar, em frente a uma porta, o livro parou.
— Bem, por favor, vá em frente, Senhorita Viajante. Vou apresentá-la aos meus compatriotas.
Fiquei estupefata. diante de mim, estavam pessoas, pessoas vivas – apenas algumas, claro, mas reais.
— Eh, isso é terrível. Todas suas pernas estão quebradas, não estão? Não se preocupe. Vou cuidar disso para você.
— Senhor Prato, Senhor Prato, você quase chegou ao fim de sua vida, então é melhor não forçar demais… eek! Sinto muito, sinto muito! Por favor, pare de jogar seus cacos!
— Ho-ho-ho. Mestre Coisinha, você está meio lascado aí. Tá bom. Vou te consertar.
As pessoas no local aparentemente tinham a tarefa de consertar todos os tipos de coisas. Espalhadas por toda a sala cavernosa, as pessoas sentavam-se diante de bugigangas que estavam muito gastas ou completamente quebradas. Havia homens e mulheres de todas as idades e, a julgar por suas aparências, pertenciam a todas as classes sociais. Havia muitas pessoas vestidas como viajantes, algumas que pareciam magas, e assim por diante.
Era uma cena bastante caótica.
Intrigada com essa visão curiosa, me aproximei de um dos que trabalhavam lá, um velho. Ele tinha a aparência de um mago e parecia bastante experiente.
— Com licença, o que você está fazendo?
O velho olhou para mim.
— Oh, uma recém-chegada, eh? E ainda por cima é jovem.
— Hein?
Uma recém-chegada?
— Hmm-hmm. Então você é uma bruxa? Que bom. Isso vai aliviar a nossa carga de trabalho.
— Um… carga de trabalho e recém-chegada… Do que diabos você está falando?
— Hmm. Pela sua atitude, acho que você ainda não sabe muito sobre este lugar.
— Cheguei aqui ontem.
— Entendo… — O velho coçou a barba branca como a neve e, enquanto falava, continuou costurando o braço do ursinho de pelúcia que pulava na sua frente. — Este lugar é onde consertamos itens quebrados, sabe. Mais cedo ou mais tarde, tudo se desgasta, então assumimos a tarefa de consertar tudo o que vier parar aqui.
— Huh.
— Também tem aquilo que chega depois de se quebrar de propósito, antes de chegar ao fim de suas vidas.
Aham.
Os objetos daqui são masoquistas ou o quê?
— Hmm…
Mas ele quis dizer que essas pessoas estão sendo forçadas a consertar coisas que estão quebradas?
— O povo desta cidade convidou todos vocês para ajudá-los?
Estava pensando que, se possível, gostaria de conhecer as pessoas que moram no local – porque queria saber mais sobre este lugar estranho.
Mas o velho balançou a cabeça lentamente.
— Receio que não seja isso. Estamos trabalhando aqui nesta cidade.
Compreendo.
— Entendo. Em outras palavras, todos vocês também foram pegos pela chuva torrencial de ontem e vieram até aqui para esperar a chuva passar?
E, como agradecimento, estão consertando seus anfitriões?
Entendo, entendo.
— Não… infelizmente também não é isso. Todos nós vivemos aqui. Moramos no local e oferecemos nossos serviços aos objetos desta cidade.
— Moram aqui? Por que diabos?
— Bem, eu já esqueci! Ho-ho-ho.
Pelo visto, a memória deste senhor era bastante fraca.
— Há quanto tempo você está aqui…?
— Bem, veja. Sei que já faz muito tempo. Sabe, eu estava viajando, procurando coisas que pudesse comercializar, até que encontrei este lugar. Antes que eu percebesse, estava trabalhando aqui! Ho-ho-ho…
— …
Neste ponto, pelas entrelinhas da conversa, finalmente percebi a natureza estranha deste lugar – parecia uma cidade, mas não era.
Digo, assim que pensei nisso, era muito estranho ver todos os objetos se movendo sozinhos.
Me virei e olhei para o livro solitário flutuando no ar. Ele ficou em silêncio, como sempre, batendo suas capas como se fosse uma borboleta.
— …
Talvez percebendo o meu olhar, o livro ficou ao meu lado. Continuava mudo e não dava nenhum indício de que pudesse falar. Eu não conseguia nem imaginar o que ele estava tentando dizer.
Então o livro parou bem na minha frente.
— …
Foi então que aconteceu.
Foi como se tivessem me batido com algo duro na cabeça – uma instabilidade repentina me assaltou, como se o chão estivesse girando e girando.
Antes que eu percebesse, estava deitada no chão, e quando olhei para cima, o livro voador estava balançando no ar acima de mim.
Minha consciência estava rapidamente se esvaindo e meu corpo parecia que estava ficando pesado, até que, finalmente, não pude levantar sequer um dedo.
Não me lembro nem do que aconteceu depois disso.
— São todos seus compatriotas?
Estávamos no segundo andar do castelo. A sala estava transbordando com todos os tipos de objetos. De pequenas coisas como canetas a itens grandes como estantes de livros e tudo mais. Estavam todos conversando com outros livros que tinham a mesma capa do que estava ao meu lado.
— Viu só? Ei, olha aqui! Estou totalmente quebrado! Nunca mais vou me mover assim!
— Isso é porque já vivi por muito tempo, sabe. Meu corpo já está revelando a idade aqui e ali. Venha e me conserte, certo?
— Já é tarde demais para mim… Agora sou apenas um item defeituoso que não consegue nem se mover direito… Ahh…
Os objetos que choravam junto com os livros estavam todos bastante gastos e quebrados.
O que diabos eles fazem neste lugar? Inclinei minha cabeça, confusa, e o livro me contou sobre isso.
— Esta é a área de recepção da sala de reparos.
— Huh.
— É aqui que enviam solicitações de reparo e recebem inspeções regulares antes de serem enviados para a sala de reparos no primeiro andar.
— Uhum.
— Além disso, é um lugar onde todos nós podemos nos reunir e conversar.
— Então, quando os idosos têm tempo livre, tendem a se reunir em lugares como este?
— Recentemente, os objetos têm… se reunido com mais frequência. Olha, vê todos aqueles grupos se divertindo nos cantos?
— Bem, agora se parecem só com um monte de lixo.
O livro riu das minhas palavras.
— Temos muito tempo livre e pouco a fazer. Não tem o que fazer. — Enquanto falava, o livro avançou mais adentro da sala. — Bem, venha comigo, Senhorita Viajante. Vou apresentá-la a todos.
Seguia trás dele e, como era de se esperar, por minha forma atual ser bem estranha, senti os olhares de todos os móveis antigos que estavam conversando por ali, assim como dos livros antigos com os quais conversavam, voltando-se em minha direção de uma só vez.
Quando o livro parou no centro da sala, girou em torno de mim e falou:
— Pessoal! Hoje uma amiga rara veio ao nosso país. Olhem para ela. É um objeto em forma humana.
Uma comoção se espalhou pela sala.
— O que ele disse? Um objeto em forma humana?
— Isso é raro!
— Ela já deve ter vivido bastante.
— Mas que dó, ser transformada em uma humana…
— Fiquem todos quietos. O fato de haver um objeto em uma forma como esta é, para nós, uma situação séria. É o tipo de coisa com a qual devemos nos preocupar. Vamos ouvir a história de como ela se transformou. Além disso, vamos nos tornar sua força e ajudá-la.
Então o livro disse:
— Se quiserem saber por que devemos fazer isso, é porque ela é um objeto como nós. Ela é nossa parente.
Depois de fazer esse pronunciamento, o livro saiu do meu lado, como se dissesse: “Tudo bem, vá em frente.” E descansou no chão por perto.
Eu podia sentir a atenção de todos os itens reunidos naquela sala focada apenas em mim.
— …
Após um breve momento de silêncio, falei.
Ao fazer isso, mantive em mente o que havia sido escrito na carta de Lady Elaina e o plano para ajudá-la a escapar deste lugar.
— Fui amaldiçoada por uma bruxa má e fui transformada nisso.
Após desmaiar minha memória ficou confusa.
Quando acordei, estava deitada no meu quarto e, misteriosamente, a cama e os outros móveis que eu tinha certeza de ter mandado embora estavam todos de volta. Entretanto, saí sem dar qualquer atenção extra a isso.
Eu estava indo para o primeiro andar do castelo.
Lá, assim como as outras pessoas, consertei as coisas.
— Ora, você está bem suja, não está? Mas não se preocupe. Sou uma bruxa, então posso limpar algo assim sem nenhum problema!
Apliquei minha magia ao objeto mudo na minha frente, falando com um tom de voz muito doce para ser meu.
— Hmm. Novata. Você tem bastante jeito para isso. Ho-ho-ho.
— É mesmo? Oh-ho-ho.
Infelizmente, aquilo fez meu rosto se iluminar e mostrei um enorme sorriso para o velho mago trabalhando ao meu lado após ser elogiada.
Naquele lugar, eu não era mais eu mesma.
Fiquei assim o dia todo, minha memória e consciência continuavam nebulosas como se eu estivesse em um sonho. Meu corpo não dava ouvidos às minhas ordens, era como se eu estivesse sendo controlada como uma marionete.
O mais assustador é que eu não tinha dúvidas quanto à minha nova realidade.
Minha consciência só voltava ao normal quando era tarde da noite, após retornar ao meu quarto.
— Ugh… o que diabos…?
Eu não conseguia parar de estremecer com a terrível realidade da minha situação.
Pensando bem, eu já tinha visitado um lugar como este antes.
Um país misterioso onde havia muitos gatos e o coração das pessoas era roubado por eles. Daquela vez, por pura coincidência, consegui escapar ilesa devido à minha aversão natural a gatos, mas…
Supondo que este lugar, da mesma forma que o país dos gatos, pudesse roubar o coração das pessoas, o que diabos poderia ter causado isso?
…
Essa é moleza. As pessoas locais eram apaixonadas por bens materiais, né? Sem dúvidas, assim como naquele outro país, começaram a banhá-los com um carinho infindável.
— Hmm…
Estou em apuros aqui. Não importa o que aconteça, eu tenho que escapar. Não importa se está chovendo. Este lugar é muito mais horrível do que sair na chuva.
Se possível, seria melhor fugir agora mesmo.
Aconteceu logo depois de tentar pegar a minha vassoura.
— Wah!
Sem que eu percebesse, os lençóis que voltaram para o meu quarto se estenderam na minha direção, agarraram minhas mãos e as puxaram com força.
Ah, este é um daqueles lugares dos quais você nunca pode escapar.
Senti isso depois de ser arrastada para a cama e ser coberta com uma colcha.
— Uhhh…
Isso é uma prisão.
No dia seguinte, como esperado, eu estava em meu estado sonhador e executei o meu trabalho assim como de costume.
— Certo! Agora você está arrumado. Tome cuidado!
Com um enorme sorriso, despachei o bicho de pelúcia que acabara de reparar. Até mesmo dei um aceno de adeus. Eu queria perguntar quem era aquela garota estranha, mas ela era eu.
Quando deu a hora do almoço, uma panela e uma tábua de cortar (velha igual tudo) nos serviram uma refeição de qualidade questionável. Era grama, grama e mais grama, que aparentemente crescia por perto. Em uma palavra, eram ervas daninhas.
— Ho-ho-ho, delicioso!
— O sabor das folhas dessas ervas é tão suculento!
— Ah… poder desfrutar dessa cozinha. Isso me deixa tão feliz!
Mas todos comeram muito satisfeitos.
Isso era alarmante, mas minha expressão continuava tão alegre quanto sempre.
— …
Eu ainda mostrava um sorriso radiante e tentei estender a mão em direção às ervas daninhas, mas, claro, elas eram muito repulsivas, então forcei minha mão a parar. Eu e a coisa que não era eu lutamos uma contra a outra no meio da ação, e a minha mão, que foi pega no meio disso, começou a tremer.
— Hmm? Parece que sua consciência às vezes ainda retorna — disse o velho enquanto me olhava desconfiado, mastigando algumas ervas.
— Parece… que sim…
Ah, eu falei!
— Ho-ho-ho. No começo eu também era assim. Odiava ser forçado a trabalhar aqui e pensei que tinha que dar um jeito de escapar.
Oh?
— E-e… agora…?!
— Não fale com essa voz rouca enquanto está com esse enorme sorriso. Isso é assustador, sabe. — Depois de esvaziar sua tigela de ervas daninhas, o velho continuou: — Agora eu nem penso mais nessas coisas. Muito pelo contrário, acho até que gosto de estar aqui.
— …
— Bem, mais cedo o mais tarde vai acontecer o mesmo com você. Foi assim comigo e com todos os nossos outros companheiros. — Então o velho disse:
— Não se irrite. Deixe tudo por conta dos objetos daqui. Isso vai ficar mais fácil.
Isso está definitivamente fora de questão.
Era assim que eu queria responder, mas, infelizmente minha consciência já havia se rendido.
No início foi bem assim.
O que significa que quanto mais tempo passava, mais limitadas minhas chances de escapar se tornariam. Olhando de outra forma, significava que, no atual momento, minha chance de escapar era maior do que zero.
— Hmm…
Naquela noite, eu ponderei.
Ah, será que consigo escapar na minha vassoura?
Felizmente, como ainda não estava confinada há muito tempo, podia usar não apenas minha boca, mas também todo o meu corpo com liberdade.
E isso também aconteceu no dia em que a chuva, que continuou caindo por vários dias, finalmente parou. Me descobri capaz de controlar e dominar todo o meu corpo.
Essa é uma boa oportunidade.
Eu não era tola o bastante para deixar uma chance dessas escapar.
Com bastante pressa, desejei que meu corpo entrasse em movimento. Bem, então vamos nos apressar com esse plano de fuga, eh?
— Ahh…
Primeiro passo. A mobília e a cama estão no caminho.
As expulsei do quarto. Enquanto fazia isso, usei um feitiço para selar a porta com gelo, trancando-as do lado de fora. Pude ouvir o som de batidas furiosas do outro lado, mas não dei bola.
— Certoooo…
Segundo passo. Pegar a minha vassoura. Pronto.
— Certo…
Terceiro passo. Lancei dois feitiços nela. O primeiro qualquer mago poderia reconhecer: um feitiço simples, mas usado de uma forma que eu nunca tinha visto antes. O segundo foi um feitiço que eu havia inventado enquanto tinha muito tempo livre durante meu treinamento com a Senhorita Fran. Era um muito peculiar.
Lancei ambos os feitiços.
— E lá vamos nós.
Agora, a etapa final.
Escrevi uma carta.
Pronto.
O plano estava correndo sem problemas.
— …!
— …!
— …!
— …! …!
Entretanto, não havia como a gangue além da porta me deixar fugir com tanta facilidade. Assim que terminei de escrever a carta, a cama e a mobília que eu havia expulsado, junto com um monte de seus compatriotas, finalmente irromperam pela porta congelada. Cristais de gelo se espalharam pelo quarto com um estalo assim que a cama, mesa, cadeira, pratos, talheres, corda, cobertores e lençóis entraram voando.
Fugi na mesma hora. Agarrando minha vassoura, de acordo com o plano, quebrei a janela e voei sobre a cidade em ruínas.
Claro, não iam me deixar escapar sem uma luta e, um após o outro, objetos fluíram para fora da janela quebrada, me perseguindo. Por mais estranho que pareça, eles se juntaram a vários cacos da janela que eu acabara de estilhaçar.
Agarrando minha vassoura com uma das mãos, usei minha varinha para convocar enormes rajadas de vento e soprá-las contra meus atacantes, derrubando-os um após o outro. Infelizmente, eram muitos. Mais e mais bugigangas se juntavam ao enxame, não apenas as que me perseguiram pela janela quebrada, mas também as coisas que estavam espalhadas pela cidade.
— Wahh…!
Segurando com força, me concentrei no caminho à frente. A saída deste lugar estranho estava logo à frente. Eu esperava poder dizer o meu adeus.
Mas não foi bem assim…
No momento em que estava me aproximando da saída, como se tivesse decidido fazer isso por conta própria, o meu corpo parou de ouvir o que eu estava lhe dizendo para fazer. Por mais que eu tentasse exercer minha vontade sobre ele, meu corpo apenas tremia, tornando-se inútil.
Em pouco tempo, independentemente das minhas intenções, caí da vassoura.
— No final das contas eu falhei, hein…?
Caí no topo de um telhado e rolei até ficar olhando para o céu. Nesse ponto, meu corpo parou de tremer. Eu só conseguia manter meu controle do pescoço para cima.
— …
Bem, eu sabia disso. De qualquer forma, já achava que acabaria assim.
Teria sido realmente demais se eu tivesse conseguido escapar na minha vassoura, mas ao ouvir o que o velho disse, já sabia que uma simples fuga dificilmente daria certo.
Mesmo se eu tentasse fugir, qualquer que fosse a força que estivesse sobre este país, provavelmente iria restringir a minha mente e assumir o controle do meu corpo. O mesmo resultado seria provável, mesmo que eu destruísse cada um dos meus captores com minha magia.
Porém…
Foi exatamente por isso que lancei aqueles dois feitiços na minha vassoura.
O primeiro foi um feitiço simples…
Um feitiço simples que manteria a vassoura voando sozinha por um certo período de tempo…
O segundo era a chave.
O segundo feitiço dava vida a objetos inanimados. Dava-lhes vida e os transfigurava em forma humana. Um feitiço incrivelmente estranho que nunca teve qualquer uso real. Um feitiço que desenvolvi apenas para matar o tempo enquanto deveria estar treinando com a Senhorita Fran.
Nunca pensei que ele seria útil em um momento destes.
A gangue de objetos estava perseguindo a mim e apenas a mim. Nenhum deles sairia de seu caminho para perseguir uma vassoura. Eu tinha certeza de que ela seria capaz de fugir para o mundo exterior sem grandes problemas.
Olhando para cima, pude ver minha vassoura voando sozinha pelo céu.
— Estou contando com você…
Custe o que custar, por favor me salve…
Havia mais coisas nessa carta.
A Senhora Elaina havia traçado um plano de fuga detalhado. Era tão detalhado que ninguém imaginaria que foi escrito às pressas. O que ela escreveu foi o seguinte:
Acho que é provável que os objetos desta cidade tenham enlouquecido pela constante energia mágica que irradia da floresta por perto.
Por alguma razão, não há mais residentes humanos aqui. As únicas pessoas são as almas infelizes que, como eu, por acaso se perderam. Cada um deles está sendo tratado como um escravo pelos objetos viventes.
Tenho certeza de que os itens deste lugar devem ter um preconceito extremo contra nós, humanos.
Então tive uma ideia.
É claro, os objetos daqui sentirão pena de você, um objeto em forma humana. Vão demonstrar toda compaixão por você. Quando te conhecerem, com certeza vão querer perguntar como você acabou em um estado tão lamentável.
Quando fizerem isso, diga o seguinte:
— Fui amaldiçoada por uma bruxa má e fui transformada nisso.
Minta e diga a eles que uma bruxa malvada transformou você, um objeto, em uma forma humana e está te atormentando.
Depois disso, pergunte o seguinte a eles:
— Essa bruxa é incrivelmente má. Ela é tão má que já até matou outras pessoas. Agora, estou procurando por ela. Alguém sabe alguma coisa sobre ela? É uma bruxa jovem, com cabelo cinzento e olhos lápis-lazúli.
Tenho certeza de que os objetos que ouvirem isso ficarão agitados. Alguns provavelmente demonstrarão até raiva.
Duvido que não vão lembrar de mim. Não vão conseguir se conter ao saber que a humana detestável que chegou ao país no outro dia é, na verdade, extremamente má.
O resto é balela.
Tente dizer algo assim para eles:
— Se, por acaso, alguém a tiver visto, fariam o favor de entregá-la para mim? Tenho que levá-la de volta para a minha cidade natal para que ela seja executada.
Tenho certeza de que vão ficar emocionados.
Parecem ser do tipo que se delicia com a desgraça humana, mais do que com qualquer outra coisa.
E por aí vai…
Procedi de acordo com o plano que Lady Elaina traçou.
Assim como ela havia previsto, os objetos reunidos reagiram seriamente a cada palavra que eu disse, lamentaram minhas circunstâncias mesmo quando menti para eles e mostraram seu ressentimento e ódio pela Bruxa Cinzenta.
Até aquele ponto, estava correndo tudo bem.
— Entendo… Sem dúvidas deve ter sido difícil ser transformada em gente, ficando igual uma humana. Você tem a minha simpatia.
— Obrigada por isso. Obrigada mesmo.
Retribuí as simpatias mal direcionadas do livro apenas com agradecimentos superficiais, ele não fazia ideia do que realmente estava passando pela minha mente. Esse grupo não poderia entender alguém como eu, que ficou muito feliz ao assumir a forma da minha senhora.
— Então, a bruxa veio a este lugar? — Decidi levar a conversa adiante. Queria levá-la embora o mais rápido possível.
— Sim. Ela está aqui. Agora, acredito que está sendo usada para ajudar nos reparos lá embaixo.
— Bem, então eu gostaria de pedir para levá-la.
Quando eu disse isso, o livro estremeceu em resposta às minhas palavras.
De ponta a ponta.
— Isso não será possível.
— Uh…
Fiquei abalada com o desenvolvimento inesperado. O livro prosseguiu dizendo algo em que não pude acreditar.
— Nós executaremos a bruxa. Infelizmente, não poderemos atender a sua solicitação e entregá-la.
— Hein…?
Não consegui esconder minha surpresa.
Senhora Elaina, o que eu supostamente deveria fazer?
Tive um ataque, dizendo que, antes de qualquer coisa, queria confirmar que a bruxa que possuíam era de fato a própria Bruxa Cinzenta. Fui conduzida ao primeiro andar.
Claro, lá estava a Senhora Elaina. Ela estava ocupada consertando uma vassoura.
— Ora! Isso é terrível, hein? Você está com pontas duplas, né? A ponta da sua escova está toda esfarrapada e rasgada, e seu adorável cabo está lascado — disse Elaina.
— Ah, essa garota é fofa. Heh-heh. Mostre-me a sua calcinha — gracejou a vassoura.
— Tá, vou resolver isso agora mesmo. Só fique quieta! — disse Elaina.
As duas não conseguiam se comunicar, é claro.
O livro se alinhou ao meu lado e observou o que estava acontecendo.
— É ela a bruxa má? — perguntou ele.
— Sim… É ela. Mas por que vocês vão executá-la?
— Ela é muito violenta, e, acima disso, também se provou muito teimosa. Os feitiços da nossa cidade não funcionam muito bem nela. Parece provável até que recupere toda a consciência mais cedo ou mais tarde.
— Então vocês a executarão? A maneira de vocês resolverem essas coisas é terrível, não é?
— Na verdade, nós nos tornamos bastante dóceis com a idade. No passado, cada objeto daqui teria matado um humano assim que o visse.
— …
Então, tendo tocado nesse assunto, compreendi algo.
Perguntei:
— O que diabos aconteceu aos humanos que originalmente viviam aqui?
O livro respondeu sem paixão alguma:
— Eles partiram. Nós os expulsamos.
— Aí está. Tão boa quanto nova!
— E aí bebê? Quer sair em um encontro comigo? Heh-heh.
— Próximo, por favor!
Lady Elaina continuou sua tarefa, completamente indiferente a nós.
O livro me contou a verdade sobre o que havia acontecido ali.
Acontecera há uns dez anos.
Naquela época, quando esta ainda era uma cidade próspera, muitos ricos viviam no local e, à sua maneira, a terra era próspera e os humanos abundantes.
No entanto, o povo era cruel e não cuidava de seus pertences.
Estavam cercados por florestas e cheios de recursos. Podiam fazer coisas novas sempre que quisessem, simplesmente cortando as árvores que estavam por perto. Reparos e reutilização eram bem desconsiderados. Sempre que algo quebrava, era substituído por algo novo.
Os humanos achavam que carregar velharias para o descarte era inconveniente, então empilhavam tudo o que não queriam mais em um canto da cidade e deixavam as coisas abandonadas por lá. Mesmo que ainda fossem úteis, mesmo que ainda estivessem vivos, vários antigos tesouros foram descartados só por causa de um arranhãozinho ou porque os humanos tinham perdido o interesse nos itens.
Os objetos, primordialmente abandonados pelos humanos, observavam seus antigos donos continuando a viver, criando ressentimentos, enquanto eram transformados em pilhas de lixo.
A montanha de lixo que se formava no canto da cidade foi ficando cada vez maior e maior, e o ressentimento reprimido pelos objetos descartados cresceu junto com ela.
Eventualmente, na época em que a pilha ultrapassava a altura das árvores, os humanos começaram a se perguntar o que deveriam fazer com todo aquele lixo.
— Se continuarmos assim, vamos ficar sem espaço.
— Isso está atrapalhando.
— A vista está piorando.
— Que tal enterrar tudo e transformar essas coisas em uma montanha de verdade?
— Vamos descartar isso em outro lugar.
As conversas continuaram por um longo tempo, mas durante as discussões, nenhuma vez as palavras vamos reaproveitá-los foram proferidas.
No final, o povo chegou a um acordo. Pegariam metade das coisas que haviam jogado fora, sem se preocupar se ainda eram úteis, e descartariam em outro lugar. A outra metade seria enterrada.
Nesse ponto, a raiva dos pertences descartados chegou ao limite.
Foi então que as mudanças começaram.
Os objetos, que haviam sido tratados pelos humanos com tanta crueldade, aprenderam a se mover sozinhos, e as pessoas se tornaram devotadas a eles. Era como naquele país onde todos começaram a amar os gatos.
A energia mágica que florescia nas profundezas da floresta talvez lhes tivesse dado a disposição para brincar com o coração das pessoas.
Enfim, todas as pessoas presentes naquele local passaram a servir aos objetos. As antigas posses ganharam a habilidade de andar por aí por conta própria, usando o ressentimento como uma força motriz.
No entanto, a raiva dos objetos não foi apaziguada. As coisas, que eram tratadas como lixo e jogadas fora, não podiam mais confiar nos seres humanos.
— De agora em diante, este país é nosso. Todos vocês, saiam agora e não levem nada com vocês.
Os objetos reuniram todas as pessoas que viviam na cidade, fizeram sua declaração e as expulsaram.
Na realidade, os humanos não podiam ouvir as vozes de seus antigos pertences, então provavelmente fugiram porque tinham medo dos objetos que do nada começaram a se mover por conta própria.
De qualquer forma, foi assim que surgiu a cidade dos objetos.
No entanto, houve um descuido grave.
Sendo objetos, perderiam a habilidade de se mover quando a sua vida acabasse. Por cerca de dez anos, viveram sozinhos em sua nova cidade, sem visitantes, mas um após o outro, começaram a ficar imóveis.
Quando quebravam, não havia humanos para consertá-los.
Sem qualquer plano, ficaram em apuros.
Os objetos desesperados abriram o portão e começaram a convidar os humanos para entrar.
Os viajantes que ocasionalmente se perdiam.
Ou os que procuravam abrigo para se esconder da chuva.
Sem exceções, os novos senhores da cidade recebiam seus visitantes, esperavam que suas vontades se quebrassem, então os obrigavam a consertar objetos danificados, tudo isso enquanto os tratavam como escravos.
Então, no outro dia, ela apareceu – pelo visto a situação era essa.
Foi isso que aconteceu naquela noite.
— Hã? A bruxa com o cabelo cinza? Ah, ela está hospedada naquela pousada ali.
Tarde da noite, saí de meus aposentos de alta classe (embora, graças ao passar do tempo, o palácio estivesse mais para um hotel degradado) e falei com cada objeto que encontrei e que ainda estava acordado para determinar onde a Senhora Elaina estava localizada.
Temia que ela pudesse ter sido transferida da pousada para a prisão, por causa de sua confusão anterior, mas, de alguma forma, ela ainda estava no mesmo quarto que o livro a mostrara a princípio.
— Quero ver aquela bruxa sofrer um pouco mais. Por favor, permita que eu a visite — blefei e os objetos logo me levaram a ela.
Posso até ter forma humana, mas na verdade sou um objeto. Não há necessidade para se preocupar com a magia daqui fazendo efeito sobre a minha mente, assim como na de Lady Elaina.
Em outras palavras, até que o feitiço passasse e eu voltasse ao normal, seria capaz de andar por aí com o meu próprio poder.
— Certo. Essa é a minha chance.
Então, pela primeira vez desde o dia anterior, voltei para o lado da Senhora Elaina.
— Sinto muito pela intromissão. — Abri a porta após bater, e lá estava a Senhora Elaina, sentada na cama, em transe, olhando para a lua flutuando do lado de fora da janela. Havia uma brisinha soprando, já que havíamos quebrado aquela janela no dia anterior, e o vento agitava seus lindos cabelos.
A janela, que ainda não havia sido consertada, com seus fragmentos espalhados pelo chão, gritava suas reclamações:
— Um… gostaria que você me consertasse!
Eu a ignorei.
— Você é a Senhorita Elaina, a Bruxa Cinzenta, correto? — perguntei, e ela se virou para mim.
— Isso mesmo. E você é? Eh, uma recém-chegada? Entendi.
— Eu ainda não falei nada.
— Mas já estou com sono, quero dormir.
— Não posso permitir que durma esta noite.
— Não enche.
— É brincadeira. — Tossi uma vez, limpei a garganta e voltei ao assunto principal. — Na verdade, hoje eu vim com algumas informações para você.
— Informações…? Mas quem é você? E de onde é?
— Sou uma pessoa importante nesta cidade — menti.
— Uma pessoa importante… hein? Existem pessoas assim?
— Existem. Na verdade, te vi trabalhando e decidi te encontrar pessoalmente.
— Ah, para me elogiar?
— Pelo contrário.
— Ah…
Tudo desse ponto em diante é mentira.
— Você tem consertado os objetos deste país muito bem. Para começo de conversa, nosso povo não quer ser consertado.
— O que você disse?
— Na verdade queremos ficar quebrados — menti.
— O quê? Mas as pessoas no castelo disseram que estamos aqui para fazer reparos.
— Eles estão todos enganados.
— Sério?
— Sério. Cada um dos objetos que vive neste país tem um plano. Vocês não conseguem entender o que eles dizem, e isso aparentemente criou um mal-entendido, mas eles são todos masoquistas.
— Masoquistas?
— Sim. E ser quebrado por uma jovem como você seria a maior alegria deles.
— Alegria?
— Ir até você para ser quebrado, e acabar sendo consertado… a frustração está aumentando sem parar.
— Frustração?
— A situação é essa.
— Eu nunca… — A Senhora Elaina abaixou a cabeça, cabisbaixa.
Estendi minha mão e apontei para ela.
— Mas fique tranquila, ainda não é tarde demais. Você ainda pode reparar os seus erros.
— Como assim?
Eu disse:
— De agora em diante…
Aconteceu logo depois que eu disse isso. Os lençóis da cama deviam estar escutando. Então eles dispararam e agarraram a minha mão. Fui rapidamente puxada para a cama e envolvida por um cobertor.
— Ei, qual é a sacada? Está planejando nos trair? — perguntou a cama. — Vou reportar esse seu comportamento estranho.
— Não vou te dar a chance para isso. — Continuei de onde fui interrompida. — Senhora Elaina, de agora em diante, por favor, certifique-se de quebrar qualquer objeto que estiver diante de você. É assim que você pode mostrar a eles que realmente se importa com todos.
— Hein, sério?
— Sério. Falando nisso, os portões da cidade, mais do que qualquer outro, querem que você os destrua.
— O quê?
— Vá e os destrua, por favor. Agora.
— Agora mesmo?
— Agora mesmo, por favor.
— … — Por um momento a Senhora Elaina pareceu perdida em pensamentos. Eventualmente, ela disse: — Entendo. Vou destruir os portões.
— Isso seria maravilhoso. E, por falar nisso…
— Mais alguma coisa?
Tirei minha mão do alcance dos cobertores e disse:
— Esta cama também é masoquista.
— Devo esmagá-la?
— Claro que sim.
A Senhora Elaina assentiu diante das minhas palavras e puxou a sua varinha. E então se moveu em direção à cama que estava me mantendo cativa.
— Espera aí. Você não pensa que se fizer isso vai acabar… ah, aaaaaahhh…!
Um lamento de partir o coração soou pelo quarto, mas não alcançou os ouvidos de Lady Elaina.
A estrada da pousada aos portões da cidade foi preenchida com os gritos de muitos objetos.
— Ahh…
— Ai! Ai! Ai! Aaaaaaaaahhh!
— Certoooo…
— Eeeeeekkk…! Misericórdia…
— Certo…
— Nããããão! Estou sendo esmagadooooooo!
— Muito bem…
— Como você ousa… ah, espere, pare com isso, nãããão!
A figura galante da Senhora Elaina, destruindo enxames de bugigangas, uma após a outra, era verdadeiramente magnífica.
— Um, isso está mesmo deixando eles felizes?
Mesmo com uma expressão de dúvida, a Senhora Elaina continuava soberba. Um verdadeiro colírio para os olhos.
— Está tudo bem. Eles estão muito felizes.
Claro, isso era uma mentira. Acompanhei a Senhora Elaina, calmamente a enganando o tempo todo.
De alguma forma, parecia que eu era adepta a mentiras.
Me pergunto: esse é outro ponto no qual me pareço com a minha senhora?
Cada pedacinho dela era o de uma bruxa. Os enxames que nos atacavam não eram páreos para Lady Elaina, e não demorou muito para chegarmos aos portões da cidade. Porém…
— Parece que nunca deveríamos ter confiado em um objeto em forma humana.
Pelo visto, escaparmos para o mundo exterior seria mais difícil do que pensei.
Cada um dos objetos restantes havia se empilhado, transformando-se em um monstruoso gigante humanoide. De alguma forma, se reuniram e criaram um gigante improvisado.
O monstro, grande o suficiente para se elevar sobre o portão da cidade e as árvores próximas, riu. Sua voz era composta de muitas vozes mais baixas, todas rindo ao mesmo tempo.
— Mua-ha-ha-ha!
Pensando bem, o livro tinha dito que nos últimos tempo os objetos estavam ficando bem próximos…
— Que comportamento deplorável — disse o livro embutido no rosto do monstro. — Graças a vocês duas, um grande número de nossos parentes morreu. Vocês não serão perdoadas. Aqueles de nós que ficaram vivos formaram este gigante e vamos enviar vocês direto para o infer…
— Yaah!
Um braço do gigante de lixo foi estourado.
— Espera aí, eu ainda estou falando!
— Senhora Elaina, por favor, espere um momento.
— Ah, foi mal.
Depois de ver o braço descartado destruir uma casa, o gigante (e o livro) disse:
— Os humanos são sempre assim. São egoístas, nos trazem à existência e nos descartam assim que não precisam mais de nós. Como são tolos! Eles nos criam, então não assumem nenhuma responsabilidade pelas vidas que criaram. Além disso, nossas palavras nunca chegam até eles… você não vê? Não consegue entender nossa raiva por sermos deixados de lado no meio da vida?
— Receio que não. — Balancei a minha cabeça.
Fui valorizada pela minha senhora desde o dia em que nasci, então não conseguia entender.
— Isso é a nossa fúria. Este corpo gigante é a personificação do rancor que guardamos contra os humanos! Com isso, devemos erradicar os humanos que tanto desprezamos…
— Certo!
O outro braço do gigante foi estourado.
— Espera!
— Senhora Elaina.
— Hmm, ainda não?
— Por favor, espere mais um pouco.
— Nossa…
A Senhora Elaina ainda continuava incrivelmente bonita, mesmo enquanto estava de mau humor, mas agora estávamos no meio de uma conversa importante.
Vamos voltar à parte principal da história.
— Eu entendo a sua raiva. No entanto, essa não é uma boa razão para fazer mal às pessoas.
— O que você está dizendo? Nós os machucamos porque eles nos machucaram. Isso não é justiça?
— Estou dizendo para aprender qual é o seu lugar. Aprenda a ser usado quando for necessário e descartado quando não for necessário. Esse é o nosso destino.
— Bem, então, como somos melhores do que escravos?
— Ainda não terminei — falei. — Se você for descartado porque não é mais necessário… continue esperando. Continue esperando até nascer de novo ou até voltar a ser necessário. Se você guardar suas memórias de quando foi tratado como importante, deve ser capaz de esperar para sempre.
Portanto, seus rancores e ódio são totalmente sem sentido. Era essa a mensagem por trás do olhar que direcionei ao gigante.
— Quer seja sem sentido ou não, nossa raiva é real! Todos os humanos… incluindo você! Jamais os perdoaremos! Vocês duas vão morrer aqui!
— …
Pelo visto, minhas palavras não os alcançaram.
— Você está enganado. — Apesar disso, continuei. — No entanto, entendo sua tristeza por não ter sido bem cuidado.
Com isso, coloquei a mão no ombro da Senhora Elaina.
Como se ela entendesse exatamente o que eu queria dizer, preparou a sua varinha.
A magia explodiu de sua mão, deixando o corpo do gigante em pedaços.
— Descanse em paz.
Acho que dessa vez minhas palavras também não os alcançaram.
Quando passamos pelo portão, a Senhora Elaina finalmente recuperou o controle sobre a sua mente. Na floresta, sob o luar, ela exibia uma expressão de dor.
— De alguma forma, sinto que acabei de acordar de um sonho muito longo e muito ruim…
— Lamento dizer que foi tudo real.
Quando dei essa resposta, a Senhora Elaina disse:
— Você é, um… a minha vassoura, não é…?
— Sim. Claro que sou.
— …
— Você me acha desagradável?
Ela balançou a cabeça com força o suficiente para fazer seu cabelo balançar um pouco.
— Eu só estava pensando que você se parece um pouco comigo. Fiquei surpresa.
— Uma posse sempre se parece com o seu dono.
— Como um animal de estimação, hein?
Só balancei a cabeça e não respondi.
— …
O silêncio pairou entre nós.
Sua expressão estava complicada, tanto que não sei nem como descrever. Parecia que ela estava pensando muito em alguma coisa, ou se preocupando, mas, de qualquer forma, não havia dúvida de que estava sombria.
— O que foi? — Inclinei a cabeça.
Em resposta, a Senhora Elaina disse:
— Um… Muito obrigada… por, uh… me ajudar. Além disso…
Eu não queria ouvir as palavras que viriam depois disso.
Como ela havia escrito em sua carta, suponho que queria se desculpar por nunca ter tentado me conhecer, apesar de ter um feitiço que a permitia conversar com objetos e apesar de saber que eu poderia falar com ela.
— Eu entendo os seus sentimentos — interrompi. — Mas não há nada com o que se preocupar. Mesmo que eu não possa falar com você, mesmo que minha voz não te alcance, sou sua posse, apesar de tudo. Não vou ficar ressentida com você, mesmo se você abusar de mim.
— …
— Mas não fico entusiasmada com a ideia de voar por aí com algo como a cabeça de um zumbi presa em mim.
— Ah, foi mal por aquilo.
Eu disse:
— Não estou especialmente preocupada com isso, mas… Mas se você realmente quer se desculpar comigo por alguma coisa, tenho um favor a pedir.
— …?
— Você vai me ouvir?
A Senhora Elaina assentiu na mesma hora.
E então eu, sem hesitação, fiz um pedido egoísta.
— Por favor, me ajude com uma coisa.
A cidade onde os objetos podem se mover por conta própria… várias semanas se passaram desde que visitamos aquele lugar.
O clima estava bom. Uma brisa agradável do início do verão soprou por entre as árvores da floresta, passando pela minha bochecha.
— …
Pude ver uma grande mudança no estado do lugar, visitando-o várias semanas depois dos acontecimentos.
Será que é por causa do bom tempo?
Não, essa não é a única coisa.
— Ora, ora. Isso é realmente incrível.
— Céus, são tantos…
— Fiquem em ordem! Não brinquem por aí!
— Ei! Eu vi isso primeiro!
— Cale a boca, quem se importa!
— Quem chega primeiro, pega primeiro, eu acho.
— Ho-ho-ho!
Os mercadores reunidos ao redor do portão estreito lutavam entre si enquanto carregavam tesouros para fora da cidade. Eles empilharam muitos itens quebrados em suas carroças, e os cavalos que as puxavam soltavam relinchos tensos.
— Mas, e aí, este lugar é realmente incrível, não é? Está cheio de coisas incríveis. Se consertarmos e vendermos tudo, isso deve render uma nota preta. — Um dos comerciantes se virou para mim. — Sério, muito obrigado por ter encontrado isso.
— Encontrei por acidente enquanto procurava abrigo da chuva.
Os objetos empilhados nas carroças podiam estar quebrados, mas ainda poderiam ser usados se fossem consertados. Suas vidas ainda não haviam acabado. Minha vassoura esperava dar a eles uma chance de florescer por uma segunda vez, para dar-lhes outra chance de alcançar a verdadeira felicidade.
— Senhorita Bruxa. Aqui! — Um dos comerciantes colocou um pacote em minha mão. Era bastante pesado e, quando olhei para dentro, vi o brilho de muitas moedas de prata.
— Todos os comerciantes aqui fizeram uma cotinha. Por favor, fique com isso. Como agradecimento por nos mostrar esse tesouro.
Devolvi para o comerciante sem qualquer hesitação.
— Não precisa. Não mostrei este lugar por querer dinheiro.
— Eh? Bem, então por que você fez isso?
Para o comerciante com uma expressão perplexa, eu só disse:
— Me pediram isso. Uma amiga muito querida pediu.
Uma garota de natureza muito, muito boa.
Eu não tinha conversado com ela desde que a conheci.
Mesmo tendo desenvolvido um feitiço que tornaria isso possível, por algum motivo, nunca o usei nela.
O motivo era simples.
Eu estava com medo. Não queria saber que tipo de coisas minha vassoura geralmente pensava. Não queria imaginar que forma ela assumiria ou sobre o que ela falaria quando meu precioso bem assumisse forma humana.
Então, até o momento, não tinha usado esse feitiço em nenhuma das minhas próprias coisas.
— …
No entanto, fiquei feliz por conhecê-la naquela cidade de objetos quebrados.
Fiquei muito feliz por ela ter me ajudado.
E também fiquei muito feliz por quem minha vassoura acabou por ser.
— Bem, então que tal, vamos?
Não coloquei meus pensamentos em palavras.
Eu sou uma pessoa e ela um objeto.
Minha voz não a alcançava.
Mas creio que, de qualquer forma, ela entendeu os meus sentimentos.
Sentada na minha vassoura, dei um pontapé no chão.
Como se me respondesse, ela voou suavemente para o céu.
Aos poucos, todos os vestígios da cidade antiga e dos mercadores desapareceram de vista, e um novo mundo se espalhou diante dos meus olhos.
Após alguns dias de descanso em minhas viagens, finalmente estava pronta para retomar a minha jornada.
Junto com meu precioso bem.
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