Bruxa Errante, a Jornada de Elaina

Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 3 – Cap. 06 – Doces Guloseimas e uma Viajante Novata

O som de trombetas e acordeões soou alto na praça da cidade barulhenta. Não havia nenhum senso de contenção no clamor, que estalava e gritava terrivelmente. A cacofonia estava abafando a comoção.

Do outro lado de onde as pessoas do país se reuniram em busca do barulho, músicos de rua observavam os transeuntes com sorrisos fixos e às vezes podiam ser vistos baixando o olhar para as caixas de instrumentos aos pés, seus rostos ficando momentaneamente sérios.

O conteúdo de suas caixas, com as bocas bem abertas para o ar fresco, nunca passava de algumas moedas.

Hahh…

Soltei um único suspiro de onde estava, sentada em um banco.

Este país era lindo, com seus prédios brancos fazendo fila. Só de andar devagarinho já era satisfatório. A música aguda e o tumulto dos clientes não eram realmente uma boa combinação para o cenário, mas, ah, que seja.

Na verdade, este lugar era aparentemente famoso como uma terra de celebridades, onde pessoas de alto escalão representavam a maior parte da população. Claro, a cidade além desta praça estava envolvida em uma atmosfera calma. Ou melhor, uma vez que grupos imponentes de soldados patrulhavam as ruas a plena vista, parecia ser bastante rígida. De qualquer forma, tirando essa seção, não havia dúvida de que, no geral, a cidade estava envolta em silêncio.

O barulho da praça podia ser atribuído aos forasteiros nela reunidos.

Era um lugar incrível, popularmente conhecido como Cidade Doces. Na verdade, a praça estava lotada de lojas que vendiam macarons, chocolates, waffles e todos os tipos de guloseimas. Lojas especializadas se amontoavam de ponta a ponta nas ruas.

Parecia que os doces feitos no local também eram populares em outros lugares, e por essa razão, comerciantes e viajantes de países distantes, bem como muitos turistas e curiosos, estavam reunidos, todos comprando guloseimas.

Tanto para revenda quanto para consumo próprio.

— Oh-ho-ho-ho…

Sentada no banco, olhei para o lado e vi minha bolsa, cheia de doces. Eu tinha comprado o máximo que pude, usando a maior parte do dinheiro que tinha em mãos.

Talvez porque os preços fossem dirigidos a estranhos, a maioria das guloseimas tinha sido ridiculamente cara, mas as críticas eram todas excelentes. Pareciam tão deliciosas quanto as etiquetas de preço sugeriam. Pelo que ouvi, qualquer tipo de confeito derreteria na boca, desde que fosse feito com um monte de ingredientes de alta qualidade. Só esperava que estivessem à altura de seus preços exorbitantes.

— Senhorita! Ora, ora, seus sapatos estão sujos! Que tal um engraxate?

— …

Qualquer lugar onde muitos visitantes se reúnem também se torna um ponto de encontro popular para pessoas estranhas, como este engraxate tentando ganhar alguns trocados.

Mas, claro, não há necessidade para preocupação. Com pessoas assim, se você mostrar a eles a sua carteira vazia (uma reserva), geralmente vão embora sem dizer uma palavra.

Isso é especialmente eficaz quando se adiciona a palavra Desculpa.

— Tch…

A propósito, às vezes as pessoas eram rudes e estalavam a língua, independentemente de eu ter dito Desculpa ou não. Mas eles não me importavam.

— …

A cidade estava cheia de celebridades, mas é claro, havia pessoas diariamente passando fome neste país.

Parecia haver uma grande disparidade entre ricos e pobres.

Eu podia ver a figura de uma criança ziguezagueando no meio da agitação, andando por aí vendendo frutas comuns. Ela estava vestida com roupas esfarrapadas, com uma placa pendurada no pescoço que dizia FRUTA DE ULTRA-ALTA-QUALIDADE. UMA PEÇA DE OURO CADA.

Também havia os garotos engraxates. Ainda não pareciam estar nem na idade para trabalhar.

Depois, vinham os músicos de rua, fazendo seu barulho horrível. Seus instrumentos eram tão desgastados que não conseguiam nem tocar direito.

Esse mercado para turistas também era um antro de oportunidades para os pobres da cidade.

— …

A maioria dos visitantes nem olhava para eles. Pude até ver algumas pessoas que os afastaram com expressões irritadas, como se a simples visão deles fosse um incômodo. Parecia meio frio, mas essa era a resposta mais comum. Os viajantes acostumados a vagar pelo mundo não demonstravam interesse pelos pobres garotos de rua.

— Hmm…

Quando uma viajante novata apareceu isso se tornou ainda mais óbvio.

— Ora, que música adorável! Ouça aquele autêntico som de rua, é o melhor! Faz nosso coração bater mais forte do que qualquer outra música no mundo! Estamos profundamente comovidos!

Havia uma garota dançando euforicamente na frente dos ditos artistas de rua, jogando peças de ouro de sua carteira. Ela era loira, vestindo roupas excessivamente vistosas e de estilo gótico, carregando uma mochila verde discreta nas costas, com uma boina na cabeça. Era uma garota estranha, que se autodenominava “Nós”.

Parecia que ela não era uma viajante de longa data, já que estava fazendo uma lista de coisas que só os de primeira viagem fariam.

Primeiro, deu dinheiro aos artistas de rua. Os novatos têm essa ideia de que, não importa que tipo de música seja, têm que pagar no momento em que o som chega aos ouvidos. Eu também costumava ser assim.

— Ora, ora! Uma garota sendo forçada a trabalhar… Que corajosa! Uma peça de ouro por fruta, hmm? Tudo bem, vou levar todas elas, por favor!

Se vissem uma criança miserável vendendo frutas, é claro que iriam comprar. Sempre que os novatos se encontram na presença de uma criança oprimida, o valor de seu dinheiro cai de repente, criando uma espiral deflacionária localizada que resulta na abertura dos zíperes da carteira e perdas substanciais. Eu também costumava ser assim.

— Hã? Um engraxate? Ora, ora! Na verdade, estávamos pensando em como nossos sapatos estão sujos!

Naturalmente, também engraxam os sapatos sem necessidade. A alegria de chegar a um novo país faz com que sintam como se coisas triviais de repente se tornassem assuntos urgentes. Eu também costumava ser assim.

Dessa forma, um viajante novato gastará seus fundos em um instante. Seu senso de valor, uma vez que as coisas saem do controle, não se normalizará até que chegue ao fundo do poço.

Falando nisso, o fundo do poço dessa garota apareceu bem rápido.

— Eh? Meu dinheiro acabou… E agora há pouco eu tinha até umas peças de ouro…

No entanto, ela estava bastante composta mesmo estando falida.

— Ah, bom. Acho que por enquanto vou fazer um tour de doces. Olá, você aí, na loja. Vou levar uma de cada massa. Todos, de cabo a rabo, por favor.

Os olhos do lojista se arregalaram com sua atitude imponente e seu pedido, mas ele embalou a mercadoria conforme solicitado.

A propósito, o custo foi aparentemente de “Dez peças de ouro.” Tenho certeza de que foi isso que ouvi. Um preço ridículo.

— É claro. Por favor, aceite isso.

A garota de porte altivo entregou ao lojista dez peças de frutas nada notáveis, como se a troca fosse totalmente natural.

O lojista ficou compreensivelmente chocado com a proposta dela e sua expressão endureceu como se dissesse: “Do que você está falando?

— Você não viu? Acabamos de comprar essas frutas por dez peças de ouro, o que significa que elas valem dez peças de ouro, certo? Então, por favor, aceite-as em troca desses doces.

— …

O lojista ficou em silêncio por um momento, mas não demorou muito e gritou:

— Ah, nãããão! Encontrei outra mulher perversa! Pessoal, vamos pegá-la!

Com seu grito, a música se silenciou, a conversa parou e homens vestidos com roupas de chef saíram voando de todas as lojas da rua, lançando-se sobre ela.

— Hã? Hããããã? Ei! O que é isso?! Parem com isso!

Ela foi rapidamente detida e presa ao chão pelos homens, suas bochechas pressionadas contra os paralelepípedos.

— Outra mulher perversa, hein?!

— Parece que você andou roubando nossas lojas com seus modos perversos, não é?!

— Me dá um tempo!

— Não vamos ceder às suas ameaças!

— Heh-heh-heh… você tem um corpo muito bonito, né…?

— Que tal fazermos você pagar por sua insolência?! Heh-heh-heh-heh…

— Heh-heh…

— Hee-hee-hee…

Nossa.

Que situação perturbadora.

— O que vocês todos estão fazendo?! Simplesmente tentamos comprar alguns doces!

— Cale a boca! — Um dos lojistas que apareceu correndo olhou para a garota com severidade. — Nós sabemos que você roubou nossas lojas usando a mesma tática suja por vários dias! Achou mesmo que deixaríamos você pagar com frutas baratas de novo? Como se fôssemos! Você será executada!

— Executada?! O quê?! Você não pode estar falando sério!

— Heh-heh… isso é… bem. — O homem fixou o olhar no peito da garota.

Ela seguiu seu olhar, notou os olhos do homem brilhando, então finalmente pareceu entender sua situação.

Seu rosto ficou vermelho e ela gritou.

— Já sei! Vocês todos estão planejando fazer coisas comigo, bem aqui e agora, não é?!

— Hein…? Agora? Não, não, não.

— É claro que não faríamos isso aqui, nem agora. Tenha um pouco de bom senso!

— Nós não faríamos isso, não importa o quê.

— Já chega! Não somos esse tipo de garota!

— E que tipo de garota seria?

— O que essa garota está dizendo?

— Será que ela é idiota?

Ela havia feito um pouco de confusão, mas isso não mudou sua situação. Os homens começaram a amarrar uma corda em torno dela. Se ninguém fizesse nada, parecia que iam arrastá-la para uma loja próxima e atacá-la.

— …

Ugh, eu não posso só assistir.

Levantei-me, peguei um macaron amarelo e, depois de enfiá-lo na boca, bloqueei o caminho dos homens.

— Olá. Então, qual é o problema? — Eu mastigava enquanto falava.

Um dos homens olhou para mim e inclinou a cabeça:

— Quem você deveria ser? Uma viajante?

Eu concordei.

— Sim. Sou uma bruxa viajante. Já faz algum tempo que estou observando a situação daquele banco ali… Ela cometeu algum tipo de crime escandaloso?

— Isso mesmo. Esta pessoa aqui é uma mulher perversa que tem roubado lojas nesta área durante os últimos dias.

— Hmm.

— Os rumores já estão correndo. Ouvi dizer que ela é uma ladra suja que rouba todos os nossos produtos sem pagar uma única moeda, usando frutas que comprou nas proximidades para trocas!

— Uhum. E é por isso que você a prendeu? Por tentar trocar frutas por doces?

Eu estava começando a entender, e a loira gritou para mim:

— Foi um mal-entendido! Estávamos apenas tentando trocar as frutas que havíamos comprado por dez peças de ouro!

Bem razoável.

— Eu vi a cena toda. Ela realmente comprou as frutas a um preço exorbitante da garota que a vendia e então pensou que poderia trocá-las por doces. Não passa de uma idiota. Ela não é uma mulher perversa nem nada, e eu nem tenho certeza se tem cérebro para dar um golpe desses.

— Vocês não acham que estão sendo um pouco rudes? Vamos lá…

— Dito isso, pessoal, vocês me disseram que há um boato circulando sobre uma mulher perversa, mas não têm nenhuma informação sobre a aparência da criminosa?

Eu fiz a pergunta aos lojistas, ignorando a interjeição da vítima, e os homens gaguejaram: “Hmm…” e começaram a falar todos de uma vez.

— Pensando bem, sinto que a mulher perversa que veio até a minha loja era um pouco mais jovem que você…

— Ela não era loira.

— O cabelo dela não era preto?

— Os peitos dela também eram um pouco menores.

— Sinto que ela também agiu com um pouco mais de calma…

Entendo, entendo.

— Bem, então está bastante claro que essa mulher não é a que você está procurando, então, por favor, solte-a. Se não o fizer, vou chamar alguém.

Dito isso, já temos espectadores o bastante para que não exista a necessidade de chamar ninguém. Estamos em uma praça pública com muito tráfego em uma hora movimentada do dia. Nossa discussão está atraindo uma quantidade desconfortável de atenção e todos estão ouvindo.

Do ponto de vista das pessoas ao nosso redor, que não sabiam muito da situação, esse espetáculo deve ter parecido como se um grupo de homens sem integridade capturou injustamente uma garota e uma bruxa interveio para detê-los. Todos, desde os mercadores estrangeiros às celebridades e turistas que iam à praça para comprar doces, olhavam friamente para os homens.

— Urgh… — Os lojistas estremeceram.

Eles pareciam ter percebido que não havia um único sinal de que a situação mudaria a seu favor. Afrouxando a corda que prendia a garota, assumiram a postura de gente com algum bom senso, e um deles disse:

— B-bem… De agora em diante, você precisa comprar coisas com dinheiro, não com frutas, entendeu? — Rapidamente empurrando a multidão para o lado, os homens retornaram aos seus respectivos locais de trabalho.

— …

Não tendo digerido totalmente a situação, a garota atordoada caiu no local e olhou para mim.

— Um… obrigada…?

— Não há de quê. Qual é o seu nome?

Estendi a mão e ela agarrou-a levemente, com alguma hesitação.

— Sabine. Esse é o nosso nome.

— É mesmo? Bem, eu me chamo Elaina. Elaina, a Bruxa Cinzenta.

A propósito, reconheço que estou mudando de assunto, mas a mulher perversa de que os homens estavam falando antes…

Quem diabos poderia ela ser?

Isso mesmo. Euzinha.

— Hã? Desculpe, estamos com problemas auditivos. Pode repetir?

Bem, eu pensei que me afastar naquele momento seria um desperdício, então estava tomando café em frente à garota, em uma cafeteria que ficava em um canto elegante e tranquilo do bairro, um pouco longe da praça, tentando meu melhor para explicar a situação para Sabine.

Claro, isso era por minha conta.

Porque ela passou por tal provação depois de ser confundida comigo, sabe. Também era uma oportunidade para se desculpar.

— Então, como falei antes, sou eu quem eles estão procurando. Sou eu que estou passando a perna nas lojas de doces da cidade. Então sinto muito. Isso foi culpa minha.

Eu não teria pensado que uma pessoa tão despreocupada realmente existisse, alguém que tentaria comprar doces com frutas. Nem havia considerado isso como uma possibilidade.

Na verdade, originalmente pretendia entregar um pouco de dinheiro junto com a fruta, mas… de uma forma ou de outra, parecia que a fruta havia sido aceita sozinha.

— Por que você fez uma coisa dessas…? Não tinha dinheiro para comprar os doces?

— Não, eu tenho dinheiro. Só não queria pagar, então não paguei.

— Nossa! Que arrogante.

— Não, não. Eu gostaria que você dissesse que, em vez disso, sou humilde.

— Mas você não está enganando as pessoas e pegando suas coisas? Isso é horrível. Como pode ficar tão calma, mesmo quando está agindo assim? — Sabine olhou para mim.

Desviei meus olhos como se fosse para fugir dela.

— Bem… com relação a esse assunto, olha, há uma razão mais profunda.

— Eh. Qual?

— Você quer ouvir?

— Gostaria de saber sobre isso.

Bem, isso é perfeito.

— A propósito, Sabine, você está com algum tempo livre?

— Somos uma viajante.

— Como assim?

— Não temos nada além de tempo.

— Oh-ho.

Resumindo, você tem muito tempo, mas não tem dinheiro nenhum.

Nesse caso, é ainda mais perfeito.

Caminhamos um pouco a partir do café, voamos juntas em minha vassoura sobre os telhados de todas as casas e chegamos ao portão dos fundos da cidade.

Em contraste com o portão da frente, que era ricamente adornado, essa entrada era bastante simples e larga apenas o suficiente para a passagem de uma única carroça. Eu tinha o encontrado no primeiro dia desde que cheguei à cidade, enquanto passava algum tempo voando com a minha vassoura.

— Aqui, dá uma olhada nisso.

Quando espiamos o portão do telhado de uma casa próxima, pudemos ver muitos dos mercadores da cidade se reunindo em uma carroça puxada por cavalos.

— Você finalmente conseguiu. Obrigado, como sempre.

O cocheiro curvou-se um pouco e desceu da carroça. Ele começou a descarregar os pacotes, um por um.

— Hoje trouxe mais. Como você pode ver, são todos defeituosos. Fiz minha própria espécie de vistoria, então não acho que haja algum que você não possa usar, mas…

Um dos comerciantes olhou para um pacote. Estava cheio de ingredientes essenciais para a confecção de confeitos. Frutas e manteiga, açúcar e leite, farinha e cacau.

— Que coisas são essas? — Ao meu lado, Sabine inclinou a cabeça, confusa.

— É exatamente como o comerciante disse. São produtos defeituosos. São, por exemplo, coisas que foram jogadas fora devido a alguma falha no processo de fabricação ou coisas que não têm um gosto muito bom… É um monte de porcaria. É claro, essas não são coisas de alta qualidade.

— Espera aí… As pessoas desta cidade disseram que fazem seus doces com ingredientes cuidadosamente selecionados.

— Certo. Bem, eles, com certeza, são cuidadosamente selecionados.

Selecionados por estar com defeito.

— Mas os doces artesanais feitos nesta cidade são famosos pelo sabor, sabe? É por isso que visitamos este país. Não resistimos depois de ouvir as histórias.

— Já faz vários dias que estou comprando doces e já coloquei muitas guloseimas na boca, e todas tinham sabores muito comuns. Você pode comer um, se quiser. — Peguei um macaron da sacola que estava carregando e entreguei para Sabine.

Ela parou por um momento antes de pegá-lo, então colocou em sua boquinha e mastigou.

— …

A garota fez uma expressão extremamente ambivalente.

— É… gostoso, mas não pagaríamos uma peça de ouro por isso…

— Não é? — Isso vale no máximo um cobre. — As pessoas que vêm a este país para comprar doces estão apenas sendo manipuladas pela propaganda de ingredientes de alta qualidade.

— …

Então, no fundo, para ser clara e concisa:

— Tenho comprado doces com frutas e pequenas quantias de dinheiro, indiretamente aludindo ao fato de que sei o que realmente está acontecendo aqui.

— Isso é chocante… E esperávamos encontrar doces perfeitos aqui. Aqui, de todos os lugares… coisas comuns e baratas…? Produtos de terceira categoria…? Gostaríamos, pelo menos, que usassem um pouco de moderação, já que vão nos humilhar!

— Você está chateada, não está?

— Claro que estamos! O que é isso? Estão fazendo os visitantes de idiotas! Pior ainda, por que as pessoas ricas vendem mercadorias baratas? Nós não entendemos isso!

Tínhamos voltado à cafeteria. Sabine estava batendo descontroladamente na mesa, suas bochechas estufadas de raiva. O segundo café do dia estava eletrizando seu espírito.

Peguei minha xícara na mão.

— Bem, eu acho que na verdade é o oposto… provavelmente não é que estejam vendendo coisas baratas por preços altos porque são ricos, mas sim que as pessoas daqui ficaram ricas porque foram capazes de vender coisas baratas por preços altos de uma maneira habilidosa.

— O que quer dizer com isso…?

— Exatamente o que eu disse.

Os mercadores conseguiram muita riqueza e prestígio para sua cidade, tendo a ousadia de vender produtos baratos por preços altos. Suspeitei que os adultos vendiam doces baratos como itens de alta qualidade, usavam crianças carentes para vender frutas, enriqueciam e aproveitavam o estilo de vida elegante das celebridades.

No entanto, não havia dúvida de que existia, de fato, uma lacuna de riqueza, e havia pessoas ganhando sua renda diária por meio de métodos como engraxar os sapatos, apresentações de rua e venda de frutas a pedido dos ricos.

Levei meu café aos lábios. O gosto ligeiramente amargo se espalhou pela minha boca.

— As coisas nem sempre são o que parecem, Sabine. Imagino que ainda não tenha entendido isso, já que recém começou a viajar, mas o mundo está cheio de pessoas que tentam ganhar dinheiro enganando os outros.

Ela pareceu um pouco surpresa.

— Como você sabe que acabamos de começar a viajar?

— Porque quem já está acostumado a isso não compra frutas de garotas mascates por preços exorbitantes. E também engraxa os próprios sapatos. — Às vezes, dão algum dinheiro para artistas de rua, mas, no mínimo, não jogam peças de ouro neles.

— Hein… Mas aquelas crianças não estavam passando por maus bocados? Se viajantes despreocupados como nós não os ajudarem, então… Especialmente a garota que vende frutas… parecia que ela estaria à beira da morte se não estendêssemos uma mão amiga, não é?

Eu, lentamente, balancei a cabeça.

— Mesmo que gaste seu dinheiro comprando aquelas frutas, isso não ajuda as crianças em nada. A verdade é que são os adultos que puxam as cordas por trás dos panos. O espetáculo de crianças pobres e infelizes andando por aí vendendo frutas é o suficiente para arrancar lágrimas de quem está vendo do lado de fora, não é? Deixando este país de lado, existem adultos nefastos em todo o mundo que ganham dinheiro explorando crianças. Ganham com avidez a maior parte do dinheiro que as crianças conseguem, deixando apenas uma pequena quantia nas mãos delas.

— …

— Se você realmente quer ajudar as crianças, então não compre nada delas. Se ninguém comprar as coisas das crianças pobres, então ninguém as obrigará a vender as coisas, para começo de conversa.

Resumindo, o ato de comprar frutas de crianças miseráveis nada mais é do que um bálsamo temporário para sua paz de espírito.

— É mesmo…?

Me pergunto o que ela pode estar pensando.

A garota estava apenas olhando para a xícara em suas mãos, franzindo a testa.

Eu também fiquei extremamente chocada quando percebi que os adultos maus por trás das crianças estavam prosperando.

— Por que você começou a viajar? — Eu fiz a pergunta e Sabine de repente abriu um sorriso.

— Em nosso país, não existem doces propriamente ditos. Então pensamos em fazer um tour de doces. Isso foi há poucos dias.

— Ah.

— Assim, poderíamos estudar as guloseimas que descobrimos nos países para os quais viajamos. Achamos que gostaríamos de vender doces em nosso próprio país.

— Uhum.

— Mas parece que não conseguimos aprender nada de útil por aqui…

— Mas você aprendeu um pouco mais sobre a mentalidade de um viajante, não é?

— Provavelmente sim.

— …

— …

Então, nós duas bebemos um pouco de nossos cafés e passamos o tempo em silêncio.

— Perdão pela intromissão! Somos soldados do reino. Vamos tomar a liberdade de vasculhar este estabelecimento.

Nosso tempo de silêncio chegou a um fim abrupto.

Soldados de aparência perigosa irromperam pela porta, gritando. Seus sapatos de sola grossa marcharam pela cafeteria.

— O-o-o-o que é isso? Ei. Eles parecem bem chateados. Houve algum tipo de incidente?

Inclinei-me para Sabine, que se sentou de frente para mim, e sussurrei:

— Eles estão procurando pela mulher perversa que apareceu nos últimos dias. Para eles, a canalha não passa de um estorvo.

— Essa não é… você…?

Levei um dedo aos lábios.

— Shh!

— Não, shh nada!

— Está tudo bem. Eles não devem ser capazes de me descobrir. — Peguei minha varinha debaixo da mesa e apliquei um pequeno feitiço no meu cabelo. — Quando estava fazendo minhas coisas nas lojas de doces, mudei a cor do meu cabelo bem assim.

Por um segundo, pintei meu cabelo de preto e depois voltei rapidamente ao tom acinzentado normal. Claro, quando estava realmente disfarçada, não mudava apenas meu cabelo, mas também minhas roupas, então não havia como me descobrirem.

É por isso que, em uma última análise…

— Com licença. Recentemente, recebemos relatos de que uma mulher está cometendo maldades nesta área. Tem em mente alguma coisa relativa a esta questão? Ela parece ser assim.

Claro, consegui manter a calma mesmo quando o soldado se aproximou de nós.

A imagem que ele estava segurando mostrava uma jovem com cabelos negros. Ela também não estava vestida como uma bruxa. Não passava do desenho de uma garota com cabelo preto comum.

Balancei minha cabeça em teimosia.

— Nada? E quanto a você?

Sabine aparentemente era uma péssima mentirosa.

— Hã? Ah, hmm…

— … — Pisei no pé dela por baixo da mesa. — Você não sabe de nada?

— Eee! N-n-não!

O soldado que se aproximou de nossa mesa acenou com a cabeça lenta e desconfiadamente.

— Hmm, é mesmo…?

Eu teria ficado extremamente feliz se ele tivesse saído naquele momento, mas de alguma forma parecia que esse não tinha sido o seu único ponto de interesse, pois me mostrou uma segunda imagem.

— A propósito, parece que a princesa do país vizinho desapareceu recentemente… Devo supor que você não saiba de nada? Ela é assim.

— …

Eh, que surpresa!

A imagem mostrava uma linda garota loira. Sorrindo gentilmente para a câmera, ela era muito bonita. Se estivesse usando uma boina e roupas de estilo gótico, seria a imagem cuspida e escarrada da pessoa sentada à minha frente.

— A propósito, aparentemente o nome dela é Princesa Sabine.

— …

Ou seja, é a própria Sabine.

— Dizem que ela desapareceu há vários dias. Estão com medo de que possa ter sido sequestrada ou algo assim, então estamos fazendo rondas à sua procura até por aqui. Se você encontrar alguma informação, por favor, deixe-nos… huhhh?

Só então, os olhos de Sabine e do soldado se encontraram, e ele segurou a imagem perto de seu rosto, olhando várias vezes para um lado e para o outro.

Enquanto ele fazia isso, também olhou várias vezes para mim, sempre de soslaio.

Se pensava que Sabine era a princesa desaparecida, do ponto de vista do soldado, como diabos me via, a pessoa com ela?

Ah, nada bom.

— Você deve ter sequestrado a Princesa Sabine!

— …

Eu pensei que isso iria acontecer.

Não tenho o que fazer.

Já que chegou a isso…

Puxei minha varinha de debaixo da mesa.

Toquei minha varinha no chão da cafeteria, e a hera ondulou daquele ponto como se fosse uma criatura viva, contendo os soldados.

Logo após isso, corri para fora do estabelecimento, puxando Sabine pela mão, mas é claro, mais soldados estavam à nossa espera. Eu havia deixado o interior da cafeteria cheio de hera, então provavelmente já era tarde demais para qualquer explicação. Envolvi todos os soldados do lado de fora do lugar com mais hera e escapei em direção à praça da cidade.

Desaparecemos em meio à multidão e mantive minha compostura enquanto continuava puxando Sabine comigo.

— …

Pega pelo momento, arrastei sua alteza real a reboque durante minha fuga, mas pensando um pouco, decidi que realmente não havia necessidade para fugirmos juntas.

— Obrigada, Elaina, por cuidar de nós.

— Eh, ah, claro. Certo, foi exatamente o que eu fiz. — Isso é mentira. — Então você é a princesa de algum outro país?

— Sim. Começamos um tour de doces para que pudéssemos levar doces para o nosso país.

— … — O que há com esse motivo superficial?

— Mas nunca pensei que descobririam que estávamos nesta cidade… Isso é ruim.

— Por que não volta para casa?

— Não podemos fazer isso! Não há doces lá! Pelo bem de todas as garotas de nosso país, nossa jornada não deve terminar aqui!

— A propósito, o que você disse quando saiu de casa?

— …

— Entendo.

O soldado disse que a Princesa Sabine havia desaparecido, então ela provavelmente só deu o fora sem dizer nada. Imprudências podem acabar indo longe demais.

— O que você está planejando fazer agora?

— Claro, vamos continuar viajando. Nossa jornada apenas começou!

— Isso se conseguir sair desta cidade, é claro.

— Isso mesmo. Esse é um ponto preocupante.

A notícia do desaparecimento de Sabine já deve estar se espalhando entre os soldados. Se ela continuar apenas valsando em direção ao portão, não acho que permitirão sua passagem.

— Nós te imploramos, Elaina. Teremos a certeza de retribuir toda a sua gentileza, por favor, pode nos tirar daqui?

— Hmm… bem, eu não me importo, mas…

— Se usarmos o feitiço que você nos mostrou antes, acho que nós duas podemos dar um jeito de fazer funcionar.

Tenho um mau pressentimento quanto a isso.

— Bem… provavelmente, tá… sim…

— O que houve? Você não está falando claramente.

— Contanto que você esteja comigo, não terei nada além de problemas.

— Ora! Que rude!

Sabine ficou completamente indignada. Mas, bem, ela também era o tipo de pessoa que tem dificuldade em acompanhar quando a situação fica complicada, então decidi que o melhor curso de ação seria aquele que não lhe desse a chance de falar.

Hmm-hmm-hmm.

— Neste ponto, não temos escolha. Vamos usar um truque secreto.

— Um truque secreto? O que você está planejando fazer?

— Em primeiro lugar, uma técnica fantástica que me permitirá silenciá-la.

Então, apontei minha varinha para ela.

— Pare, pare. Temos ordens para revistar toda a bagagem devido a distúrbios recentes… Aparentemente, a mulher que sequestrou a princesa de um certo país está se escondendo aqui. Assim sendo, estamos revistando todas as bagagens…

Mesmo no meio do dia, havia uma fila se formando no portão de entrada do país (aquele decorado de forma ostensiva), e os soldados vasculhavam a carga de todas as carroças de comerciantes, verificando se duas mulheres não tinham se escondido em alguma delas.

Eles estavam andando para frente e para trás ao longo da fila e finalmente chegaram ao fim da fila, ao local onde eu estava.

Um dos soldados se agachou à minha frente.

Provavelmente para que pudesse fazer contato visual.

— Hmm…? Por que você está deixando a cidade, mocinha? Onde está a sua mãe?

No momento, estava vestida como uma garota muito jovem, uma com cerca de nove anos. Em uma mão, estava segurando minha varinha e, na outra, um ursinho de pelúcia. Estava usando um vestido de estilo gótico.

Claro, eu tinha o mesmo cabelo cinzento e olhos lápis-lazúli de sempre, mas parecia ter a metade da minha idade normal. Não havia como me descobrirem.

— Minha mãe está me esperando do lado de fora da cidade — respondi com segurança.

— Huh. É mesmo? Então você vai passar pelo portão sozinha. Que corajosa! Quer que eu vá com você?

— Não, obrigada.

— Eh, ah, tudo bem…

— Apresse-se e tire-nos daqui! — uma voz bem baixinha soou debaixo do meu braço.

O feitiço para alterar a aparência de alguém é muito esgotante. Além disso, estava transformando a de Sabine, assim como a minha. Eu já estava totalmente exausta só por esperar na fila.

— Você realmente é alguma coisa, hein… e tem uma língua afiada. — O soldado parecia ter muito tempo livre ao seu dispor. — A propósito, esse bicho de pelúcia que você está segurando é fofo.

— Você acha mesmo? O nome dela é Sabine.

— Eh, nossa. Tem o mesmo nome da princesa que estamos procurando.

— Isso mesmo. — Eu furtivamente apertei o bichinho de pelúcia com mais força, evitando que se movesse, então ri e disse: — Talvez este ursinho de pelúcia seja a Senhorita Sabine.

— Ha-ha-ha, imagina… Ah, olha, mocinha, a fila começou a andar. Vá em frente.

Foi exatamente nesse momento que o comerciante à minha frente deixou a cidade.

Fiz uma breve reverência ao soldado e caminhei em direção ao portão.

E então, nós nos despedimos.

— Uau… isso foi fácil, hein? — murmurei em uma voz baixa que ninguém podia ouvir.

— Tão fácil — murmurou Sabine de meus braços.

Você nem fez nada!

Desta forma, Sabine e eu escapamos furtivamente do país antes de nos separarmos. Depois disso, não tenho ideia de que tipo de caminho a viajante novata seguiu.

No entanto, tive a impressão de que certamente a encontraria em algum lugar.

Quando realmente se pensa sobre isso, esta é uma história um pouco sem sentido sobre perpetrar um golpe para escapar de uma cidade que estava administrando seu próprio golpe de monopólio de doces.

Não houve clímax, não houve desenvolvimentos dramáticos, apenas um diálogo destacado que é difícil até de lembrar.

Seja como for, com certeza, logo depois de chegar a um determinado país, lembrei do incidente, o incidente de um ano antes.

A paisagem urbana era extremamente comum, e nem as estradas, nem as praças, nem mesmo o palácio tinham uma única característica que merecesse menção especial. Sem nada que pudesse se chamar de característica especial, a cidade parecia muito improvável de ser capaz de deixar uma impressão.

A população não era grande nem pequena, e não parecia estar prosperando ou decaindo. Era só um lugar onde as pessoas viviam, um lugar pelo qual se passava.

Apesar de tudo, fui convidada para o palácio daquele país, e foi enquanto era conduzida pela sala de recepção que me lembrei do episódio do passado.

— Você encontrou? Este é o nosso país.

Na sala de recepção, comigo, estava a princesa da nação.

Uma garota de cabelo loiro que eu conheci em algum lugar, em algum dia.

— É comum — respondi categoricamente.

Ela sorriu e acenou com a cabeça.

— É, não é? É muito comum.

Em seguida, ela colocou os doces sobre a mesa, amontoando todos os tipos de macarons, chocolates, waffles e outras guloseimas semelhantes.

— Mas tivemos uma revelação durante a viagem. Somos mais felizes aqui do que em qualquer outro lugar, precisamente por causa de nossa “normalidade”.

— …

— Se há crianças andando por aí com roupas sujas, você pensaria: Ah, há uma disparidade de riqueza aqui. Mas, estranhamente, se houver apenas pessoas com roupas limpas e arrumadas andando por aí, não pensa em nada disso. As pessoas têm a tendência de perceber apenas as coisas ruins. Mesmo quando um cenário lindo e refrescante encontra os olhos, se você o olhar por um longo tempo, ele desbotará e se tornará comum.

— Suponho que sim. O cenário captado por uma viajante é lindo, mas isso é porque estamos nele apenas naquele momento.

— É por isso que pensamos um pouco. Quando um país se torna completamente comum, a ponto de não deixar uma impressão, esse país deve ser muito feliz.

— …

— Não há necessidade de nos forçarmos a fazer especialidades locais nem nada. Acho que ser comum é a façanha mais difícil e mais regozijante.

— Então você desistiu de popularizar os doces?

Ela balançou a cabeça lentamente diante da minha pergunta.

— No momento, estamos distribuindo livros de receitas por todo o país. Se alguém pudesse fazer os doces que quisesse, não seria uma bênção?

— Huh.

— Estamos nos preparando para fazer exatamente isso. Estamos em negociações com países vizinhos e solicitamos que os ingredientes para fazer doces cheguem às nossas terras. São todos produtos defeituosos e de qualidade inferior, mas se pudermos fazer um uso eficaz deles, tenho certeza de que poderemos espalhar confeitos incríveis por todo o país por preços razoáveis.

— Uau.

Entendo, essa é uma maneira inteligente de fazer as coisas.

— Então, esses doces aqui são feitos com ingredientes baratos?

— Exatamente.

— Então eu devo testar o sabor.

— Exatamente.

— …

Fingi relutância e peguei um único macaron na mão.

Tinha uma cor amarela fresca e, quando o enfiei na boca, a fragrância de limão espalhou-se da frente da minha boca até o fundo da minha garganta. Era exatamente o mesmo sabor de quando a conheci naquela cidade, há um ano.

Era um sabor nostálgico e calmante.

— O que achou do sabor?

Rapidamente engoli e respondi com um sorriso.

— Comum.

 


 

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