— Desde que ouvi de papai e mamãe que minha irmã mais velha queria me ver, não consegui ficar parada. Sabe, tenho ido à praça da fonte todos os dias. Não consegui nem ir trabalhar.
Sobre a mesa havia duas taças de vinho tinto e um prato vazio. Eu mal tinha provado minha comida porque a devorei muito rápido.
— Ouvi do sentinela que minha irmã entrou na cidade hoje. Ele também me disse que você a estava acompanhando, Elaina.
— Os soldados nesta cidade com certeza são fofoqueiros, hein?
Talvez o conceito de privacidade não exista aqui…
— Você não sabia? Os guardas do portão farão todo tipo de coisa se pagar a eles dinheiro suficiente, como dar aquela carta para minha irmã. Também inclui informar-me de sua chegada e assim por diante. Meus pais e eu trabalhamos para o governo, então favores como esse não são nenhum problema.
— …
Tive vontade de contar uma piada sobre as duas irmãs serem stalkers, mas lembrei a mim mesma de que elas só se pareciam por fora e que essa garota não era a Frederika que conhecia, então, no final, a reclamação que estava na ponta da minha língua transformou-se em um suspiro.
— Posso ver que você está chocada. Sinto muito, mas tenho meus motivos para estar tão desesperada.
— Eu sei.
Era óbvia a razão dela estar me procurando.
— Você provavelmente quer saber o que ela pensa sobre você?
— …Sim. — Ela assentiu. — Acertou em cheio.
— Ela me contou tudo o que aconteceu entre vocês duas, então… — continuei, tentando ser vaga. — Frederika fez algo realmente horrível, não foi?
— …Nunca fui capaz de esquecer o que minha irmã fez comigo, embora a ferida tenha desaparecido completamente.
Enquanto falava, esfregava sua própria barriga de forma suave.
— … — Não tinha certeza de como responder, mas finalmente disse a ela com franqueza: — Sua irmã lamenta muito, muito sobre tudo o que aconteceu.
Sabia que não era algo que ela deveria estar ouvindo de mim, já que tinha viajado com a irmã dela apenas recentemente, mas ela não tinha ideia de que tipo de pessoa Frederika era agora.
Só pensei que, se Lunarik estivesse se sentindo apreensiva sobre mergulhar em seu reencontro, eu deveria fazer o que pudesse para dissipar um pouco dessa ansiedade.
Embora também estivesse curiosa sobre o que a garota diante de mim pretendia fazer.
— …
Ela estava com a cabeça baixa, olhando para o copo de vinho vermelho-sangue.
E então, finalmente…
— Eu também sinto muito, muito pelo que aconteceu há quatro anos. — Lentamente, ela falou. — Assim como minha irmã mais velha, entende? Essa é a minha única razão para querer vê-la.
— …É mesmo?
Ela assentiu e disse: — É por isso que, quando papai e mamãe receberam uma carta dela depois de quatro anos, ignorei suas apreensões e decidi que queria muito ver minha irmã de novo. Não queria causar nenhum problema para papai e mamãe, mas o mais importante, eu precisava vê-la.
No final do dia, parecia que as duas irmãs compartilhavam os mesmos sentimentos.
…Francamente, estava bastante ansiosa sobre se Frederika realmente conseguiria se reunir com sua irmã no dia seguinte e pensei em dar uma olhada… Infelizmente, não sou exatamente a pessoa mais honesta do mundo, então estava planejando fazer isso sem contar a Frederika, mas…
Se essa era a situação, parecia que eu não precisava me preocupar.
Seria insensível jogar água fria no emocionante reencontro das irmãs.
— Diga-me, Elaina? Só para o caso de você estar planejando estar presente amanhã para nossa reunião, acha que eu poderia lhe pedir para se abster?
— … — Fiquei surpresa e atônita com o pedido dela. — …Sim, claro. Não tenho intenção de me intrometer.
— Bom. Quero tomar meu tempo e conversar com minha irmã amanhã; só nós duas.
— …É mesmo?
Lembre-se, não sou exatamente a pessoa mais honesta do mundo.
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E assim, no dia seguinte, fui até a praça da fonte em segredo.
As badaladas dos sinos marcando meio-dia encheram a cidade. A fonte no centro da praça lançava continuamente água para o céu e bem ao lado dela estava a figura de Frederika, a quem eu havia acompanhado em uma curta viagem no dia anterior.
Ela tinha bandagens enroladas em um olho, como sempre, e usava suas roupas habituais.
— …
Como uma garota esperando ansiosamente por seu amor, ela não conseguia se acalmar enquanto ficava parada, ocasionalmente mexendo em seu cabelo. Seu olhar varreu da esquerda para a direita e às vezes se virava para verificar atrás dela, constantemente à procura de alguém que pudesse reconhecê-la.
Eu também, observando do meu esconderijo, olhava para outro lugar quando queria estar olhando para a fonte, fingindo serenidade e esperando a reunião das irmãs. Tenho certeza de que também parecia terrivelmente suspeita.
Também estava muito ansiosa.
Queria saber se as irmãs poderiam realmente se entender.
— …!
Finalmente, Frederika, esperando na frente da fonte, abriu um sorriso.
Segui seu olhar e vi uma única garota com um rosto quase idêntico. Acenando com a mão lentamente, aquela garota se aproximou de Frederika.
— Olá, irmã mais velha.
Lunarik estava lá.
Na hora marcada, exatamente ao meio-dia, apareceu na praça da fonte.
O som dos sinos desapareceu e, em pouco tempo, apenas o som da água encheu o ar ao redor das duas. Lunarik estava sorrindo, mas Frederika tinha uma expressão bastante nervosa e estava com a cabeça baixa, mesmo enquanto olhava para a irmã.
— … — Finalmente, Frederika lentamente abriu a boca. — Lunarik, hum, bem…
Ela contou tudo o que aconteceu durante os quatro anos em que estiveram separadas.
Contou como, quando começou suas viagens, foi insuportavelmente doloroso. Como, para ser honesta, seu coração estava cheio de raiva por todo o péssimo tratamento que recebeu.
E que então, sua forma de pensar mudou enquanto continuava viajando.
Percebeu que queria morar com a irmã novamente.
E…
— Por tudo o que aconteceu, eu realmente sinto muito.
Ela abaixou lentamente a cabeça enquanto dizia isso para Lunarik, que tinha acabado de ouvir atentamente toda a história de Frederika em silêncio.
— …
Lunarik ainda estava com o mesmo sorriso.
Estava apenas ali, sorrindo, com as sobrancelhas franzidas como se estivesse em perigo.
— Irmã mais velha. Olhe para mim.
— …
E então Lunarik se aproximou de Frederika, que levantou a cabeça e a abraçou.
Ela a apertou com força, como se não fosse soltá-la.
Achei que meus temores eram infundados.
Parece que foi um erro jogar água fria no reencontro das irmãs. Minha presença não é necessária aqui.
Com esse pensamento em mente, virei as costas para a fonte e comecei a me afastar.
Tenho certeza que, depois disso, as duas viverão juntas como antigamente, construindo uma relação diferente e melhor do que era antes.
Mais do que qualquer outra possibilidade, esse parecia ser um resultado muito feliz.
E então me virei para me despedir daquele lugar.
— Irmã mais velha… Frederika.
Todavia, parece que estava enganada.
Mesmo enquanto se abraçavam, as palavras sussurradas de Lunarik eram mordazes. Muito, muito frias e mordazes.
— Sabe por que vim aqui hoje?
Quando percebi que algo estava errado e comecei a voltar, já era tarde demais.
— Desde que recebemos sua primeira carta, mal consegui me conter. Também me arrependo de verdade do que aconteceu há quatro anos.
Frederika cambaleou e caiu no chão com um pingente de gelo cravado em suas costas, murmurando sons que não eram palavras. Olhando para ela, Lunarik usava o mesmo sorriso imutável e disse…
— Eu deveria ter matado você há quatro anos, Lunarik.
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Dois dias antes, quando Frederika e eu estávamos acampando, ela me contou sobre seu passado.
Contou como seus pais negaram seu amor desde que era jovem.
Disse que só se preocupavam com sua irmã mais nova, Lunarik, e quase não olhavam para Frederika. Depois que as duas nasceram como gêmeas, seus pais foram rejeitados e evitados por todos e, como resultado, tentaram ainda mais diferenciar Frederika e Lunarik.
Como resultado, Frederika recorreu à violência.
No entanto…
— A verdade é que eu sou Lunarik e quem espera em nossa cidade natal é Frederika.
As duas haviam trocado de lugar.
— Eu me tornei Frederika há quatro anos. Quatro anos atrás, Frederika esfaqueou Lunarik e, desde aquele dia, sou Frederika.
Então ela me contou com naturalidade o que havia acontecido naquele dia, quatro anos antes.
A verdadeira Frederika lançou um feitiço em sua irmã mais nova, Lunarik.
Foi um feitiço de duplicação de consciência.
Frederika lançou esse feitiço avançado em sua irmãzinha.
Com o feitiço, a verdadeira Frederika moveu todo o ódio que sentia por sua irmã para a mente de sua irmã. Encheu a cabeça de sua irmã com uma cópia de sua própria consciência e memórias.
Depois disso, Lunarik, tomada por profundo ódio e desespero, apontou uma lâmina para sua irmã mais velha, que se parecia a mesma que ela.
Presumindo erroneamente que era Frederika e que a garota diante de seus olhos era sua irmã mais nova, Lunarik.
Conforme planejado, Lunarik esfaqueou Frederika e acabou sendo expulsa de casa. Frederika atuou como a vítima lamentável e permaneceu em casa.
— Funcionou porque a especialidade dela era manipular bonecas.
Tudo correu de acordo com o plano original de Frederika e Lunarik foi manipulada como uma de suas bonecas.
Depois que Lunarik esfaqueou a Frederika original, foi rejeitada por seus pais e expulsa de casa. E foi assim que ela se tornou Frederika, a viajante.
Frederika, que havia sido ferida pela verdadeira Lunarik, por outro lado, vivia em casa com sua família, se passando por sua irmã compassiva, mas lamentável. Quando suas notas caíam um pouco em comparação com antes, ou quando se tornava uma pessoa um pouco mais sombria, não havia problema nenhum. Não havia necessidade de ser a maravilhosa Lunarik que sua irmã tinha sido antes.
Todos presumiam que Lunarik tinha ficado traumatizada com as terríveis ações de sua irmã mais velha, então ninguém achou incomum que sua personalidade tivesse mudado um pouco.
Dessa forma, as duas irmãs trocaram de lugar.
— Por cerca de um ano depois que comecei a viajar, estava convencida de que era Frederika.
Quando ela começou suas viagens, estava obcecada por vingança. Dia após dia, enquanto suportava a dor no olho e se deslocava de um lugar para outro, durante os momentos de folga, o tempo todo não pensava em nada além de seu ódio por sua irmã mais nova. Era assim que passava seus dias.
No entanto…
— Veja só, no entanto. Eu entendo agora. Conhecimento e experiência são duas coisas diferentes.
Fazia mais de um ano. Depois de ficar longe de sua cidade natal por um bom tempo, a nova Frederika percebeu que estava se sentindo deslocada.
Disse que, a princípio, foi apenas um leve desconforto. Se perguntou por que não era capaz de usar feitiços que deveria, e por que podia usar feitiços que não deveria. Por que não tinha nenhum sentimento forte em relação à boneca que deveria amar tanto e por que podia conversar alegremente com qualquer pessoa quando supostamente não podia olhar nos olhos de um estranho e muito menos falar com um.
Supostamente, havia usado sua boneca como parceira de conversa para se distrair de sua solidão no passado, mas agora que Frederika estava viajando, mesmo que animasse a boneca com um feitiço, não era capaz de controlá-la com tanta habilidade.
Foi quando começou a questionar se era realmente a verdadeira Frederika.
Então, enquanto continuava suas viagens, suas dúvidas se transformaram em certezas.
— Depois de pouco mais de um ano de viagens contínuas, minhas memórias reais voltaram. Percebi que as outras memórias foram implantadas.
O nome verdadeiro da garota que estava viajando era Lunarik.
A garota que era amada por todos e de coração terno; foi ela quem se tornou Frederika, a viajante.
— Frederika provavelmente queria que eu experimentasse o sofrimento que ela passou enquanto morava em Parastomeire. Ao trocar de lugar comigo assim, provavelmente pensou que poderia ter o amor de nossos pais só para ela.
E o plano dela realmente funcionou sem problemas.
Embora houvesse uma falsa Lunarik morando em sua cidade natal agora — que era a emocionalmente danificada Frederika —, ninguém percebeu que as duas garotas haviam trocado.
Nem mesmo seus pais.
— Mas sabe, essa é uma história de quatro anos atrás. — Frederika sorriu gentilmente. — Acho que já é hora de chegarmos a um acordo, não é?
— …
— Está claro que foi por minha culpa que minha irmã mais velha ficou tão estranha. A versão de mim que vive em suas memórias é uma garota muito desagradável, então eu entendo.
Aparentemente, as memórias que foram transplantadas da Frederika original ainda permaneciam dentro da Frederika atual.
— Gostaria que tivéssemos conversado mais. Ter olhado mais para ela. A verdade é que eu deveria ter oferecido meu apoio a ela, mas…
Quatro anos antes, as duas se separaram.
A atual Frederika possuía dois conjuntos de memórias, aquelas pertencentes a Frederika até os quinze anos e todas as de Lunarik.
Experimentando a dor de ambas, ela viajou por quatro anos.
— Desde aquele dia, quatro anos atrás, e de agora em diante, estou satisfeita sendo Frederika, então…
Então ela queria viver juntas como uma família mais uma vez.
Esse era o desejo de Lunarik, que quatro anos antes partiu para viajar pelo mundo exterior como Frederika.
— Tenho certeza de que agora que se passaram quatro anos, poderemos nos entender. E acredito que minha irmã também mudou, assim como eu.
Frederika cresceu e mudou ao longo de sua jornada de quatro anos.
Ela tinha certeza de que agora que quatro anos haviam se passado — agora que as duas haviam se tornado adultas — poderiam chegar a uma conclusão diferente da que haviam chegado quatro anos antes.
A atual Frederika disse:
— Então, tenho um pedido, Elaina. Queria saber se, amanhã, você deixaria Lunarik e eu nos encontrarmos sozinhas, apenas nós duas?
Eu não queria desencorajá-la, então…
— Entendo… Tudo bem então. Amanhã, assim que chegarmos na cidade, nos separamos lá, certo?
E então…
A menina que encerrava uma jornada de quatro anos terminava sua longa história do passado com uma única frase.
Ela disse…
— No nosso caso, a culpa é da cidade onde nascemos.
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Com certeza, a atual Frederika conseguiu seu reencontro depois de quatro anos e pediu desculpas à atual Lunarik por tudo o que aconteceu durante esse tempo.
— Lembro-me de tudo o que você fez há quatro anos.
Então, parada em frente à fonte, a atual Frederika contou a história de tudo o que havia acontecido durante os quatro anos em que estiveram separadas.
Contou como, quando começou suas viagens, foi insuportavelmente doloroso. Como, para ser honesta, seu coração estava cheio de raiva por todo o tratamento horrível que recebeu.
E que então, sua forma de pensar mudou enquanto continuava viajando.
Percebeu que queria morar com a irmã novamente.
Que se arrependia de ter negligenciado sua irmã mais velha.
A atual Frederika contou tudo isso a ela.
Porém, a Lunarik atual não ouviu uma única palavra disso.
Frederika caiu no chão com um pingente de gelo perfurando suas costas. Seu sangue espirrando e todo o seu corpo tremendo.
— Por quê…? Por que você não me entende…?! Irmã mais velha… eu, eu…
— Eu realmente te desprezei do fundo do meu coração. Você, que era a favorita de papai e mamãe. Eu odiava você. Eles te amavam, embora eu fosse melhor em todos os sentidos. — A atual Lunarik interrompeu as palavras de sua irmã mais nova e apontou sua varinha para ela. — Quando soube que você queria me ver de novo, realmente não pude acreditar… quer dizer, pensei que eu era a filha que papai e mamãe chamavam de egoísta. Por que agora, depois de quatro anos, você gostaria de nos ver de novo? Estava perplexa, mas… agora entendo. Suas memórias voltaram, hein?
Enquanto olhava para a irmã, não havia o menor traço de afeto familiar em seus olhos.
— Mas sabe, se suas memórias voltaram, então sou ainda menos capaz de viver com você. Porque eu te odeio agora, assim como naquela época, do fundo do meu coração.
Então ela acenou com a varinha.
Para a irmãzinha que levava seu próprio nome, ela disse…
— Adeus, Frederika.
Foram palavras de despedida.
Porém…
Uma bruxa solitária interveio, colocando-se entre as duas. Era alguma idiota que estava ali para jogar água fria no reencontro de quatro anos das irmãs.
— Espere um minuto.
Eu estava lá.
No final das contas, não sou exatamente a pessoa mais honesta do mundo, então. Embora tanto a verdadeira Frederika quanto a falsa tivessem me pedido para não interferir, simplesmente não pude evitar.
Usando um feitiço, enviei a varinha de Frederika, agora chamando a si mesma de Lunarik, voando e, no mesmo movimento, apontei minha própria varinha para sua garganta, parando-a.
— …Ah!
Sua varinha voou pelo ar antes de pousar no chão e a atual Lunarik riu friamente.
— Claro, você estava assistindo de perto…
Ela devia saber que eu iria intervir assim. A atual Lunarik não pareceu particularmente surpresa e prontamente ergueu ambas as mãos.
— Pare, não ataque! Eu me rendo. Não sou páreo para uma bruxa. Além disso, não quero morrer.
— …
Como pode pedir isso? Você estava prestes a matar sua própria irmã.
— Não estou com vontade de sujar as mãos com você, e você tem que viver para expiar seus crimes — respondi.
Sabia que ela provavelmente estava escondendo alguma outra arma, então a mantive contida. Conjurei uma corda usando um feitiço, amarrei-a e a imobilizei.
Achei que a tinha amarrado com bastante força, mas Lunarik manteve uma expressão composta.
— Não tenho nada a expiar — declarou ela, sorrindo. — Estava apenas me protegendo.
Na época, não entendi o que aquelas palavras deveriam significar…
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Com isso, o reencontro das duas irmãs chegou ao fim.
— Você está bem, Frederika?
— …
Ela não me respondeu, mas a Frederika que eu conhecia estava ilesa. Estava totalmente consciente e seus olhos estavam olhando para mim. Era apenas um olho vago e nebuloso, na verdade, sem nenhuma vida nele, mas… Frederika definitivamente estava respirando.
Depois de extrair o pingente de gelo e lançar um feitiço de cura em Frederika, entreguei Lunarik ao guarda da cidade.
Puxando a flácida Frederika pela mão, arrastei Lunarik com força para longe. Enquanto puxava as duas, nenhuma delas disse uma palavra.
— …
Mas ao contrário de sua irmã, Lunarik estava sorrindo o tempo todo.
Quando entreguei Lunarik ao guarda da cidade, contei a ele toda a história, do começo ao fim.
A história das duas irmãs se reunindo depois de quatro anos separadas e como não conseguiram se entender, afinal.
No entanto…
— Não posso acreditar em uma história como essa.
Mesmo quando o guarda aceitou Lunarik de mim, ele balançou a cabeça.
— Eu já ouvi tudo sobre que tipo de pessoa Frederika é… de sua irmã mais nova, Lunarik. — O guarda recebeu todos os detalhes sobre ela entrar em Parastomeire desta vez e sobre o relacionamento das irmãs.
— …Hã?
Não entendi o que ele estava dizendo.
Estava estupefata.
O soldado continuou:
— Vou ficar com a custódia de Frederika.
Enquanto falava, ele agarrou Frederika.
— Espera, o que você está…
Ergui a voz e tentei segurar a mão dela.
Mas a mão dela perdeu toda a força e escorregou da minha, então, no final, ela foi levada embora.
Foi quando percebi que tudo isso havia sido planejado pela atual Lunarik desde o início.
De sua perspectiva, ela realmente não se importava se eu pulasse para detê-la ou não.
Quatro anos antes, Frederika tentou matar sua irmãzinha e foi expulsa da cidade. Depois de quatro anos, ela voltou à cidade para tentar se reunir com sua irmãzinha e aquela corajosa irmãzinha foi até a praça da fonte para realizar o desejo de sua tola irmã mais velha.
Para as pessoas desta cidade, essa era a verdade. Isso significava que mesmo que a Frederika que eu conhecia tivesse perdido a vida, mesmo que alguém como eu não tivesse intervindo para impedir as coisas, não havia uma única pessoa nesta cidade que suspeitaria da atual Lunarik.
Nesta cidade, Lunarik era conhecida como uma garota admirável que possuía um coração bondoso que era maravilhoso além de comparação.
E Frederika era conhecida como uma garota com um coração negro como as trevas.
Eu me perguntei como teria parecido para os espectadores se tivessem visto a atual Frederika desmoronar na frente da fonte cuspindo sangue e a atual Lunarik em pé na frente dela segurando sua varinha.
Provavelmente teriam visto uma irmã mais velha desumana que estava tentando tirar a vida de sua irmã mais nova pela segunda vez e uma corajosa irmã mais nova que estava tentando se proteger.
Não importa o que a atual Lunarik fizesse com Frederika quando ela voltou, ela devia saber que não seria acusada de nenhum crime.
Ela sabia que isso seria considerado legítima defesa.
— Frederika é condenada ao exílio da cidade.
Vários dias se passaram antes que sua sentença fosse anunciada.
Frederika seria expulsa. Como sua companheira, também fui expulsa da cidade junto dela. Não me disseram que estava exatamente proibida de entrar, mas… o significado era o mesmo.
Tenho certeza que nunca mais voltarei a esta cidade.
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Olhando para o portão fechado com seu único olho, Frederika estava atordoada.
Os últimos dias, que passaram como um borrão, devem ter parecido uma ilusão para ela. Estava com uma expressão que dizia ainda não ter compreendido o que acabara de acontecer e parecia terrivelmente rígida.
— …Frederika?
Ela percebeu minha voz e olhou para mim.
Estava sorrindo.
Um sorriso muito solitário.
— Sinto muito, Elaina. Você foi expulsa por minha causa…
— … — Foi de partir o coração ver Frederika preocupada com os outros, mesmo em um momento como este. — Não é sua culpa. Você não fez nada de errado…
Não conseguia olhá-la nos olhos. Não sabia que tipo de expressão ela poderia estar fazendo. Baixei a cabeça e murmurei:
— Sou eu quem deveria estar se desculpando. Não fui capaz de cumprir minha promessa a você.
Não quero que você se envolva… as duas Frederikas me disseram isso.
Não fui capaz de deixá-las em paz, não importava o quanto tentasse. A maioria dos viajantes não teria interferido, mas eu não tive escolha a não ser me intrometer. Apesar do meu melhor julgamento, não pude ficar parada e assistir Frederika ser assassinada bem na minha frente.
Mesmo que ela fosse alguém com quem eu tivesse passado apenas uma noite, não queria que ela morresse.
— Está tudo bem. — Ela balançou a cabeça. Baixando o olhar, disse: — Eu deveria agradecer por me ajudar.
— …
— Sinto muito por mostrar a você uma parte tão feia da minha vida.
Fiquei surpresa por ela ter energia suficiente até para pensar nisso, ainda mais se desculpar por isso.
— Elaina, o que você vai fazer agora? Estou pensando em voltar às minhas viagens, mas…
— …Eu também.
— Entendo.
Ela provavelmente estava tentando ser forte.
Se segurando por minha causa.
— …
— …
Nós duas ficamos ali, em silêncio, em frente ao portão da cidade e o tempo passou silenciosamente entre nós.
Nós realmente temos que nos separar aqui.
— …Há algo que eu possa fazer? — perguntei enquanto procurava as palavras certas para dizer a ela.
Ela estava com a cabeça baixa e lentamente virou os olhos para mim. Seu olho azul, aquele livre de curativos, parecia ter perdido toda a luz.
Qualquer vitalidade se esvaneceu de seu olhar.
— …Tudo bem. Você vai me deixar fazer um pedido? — perguntou, inclinando a cabeça curiosamente.
— O que é? — respondi, também inclinando a cabeça da mesma forma.
— …Quero que você acaricie minha cabeça — disse vacilante, hesitante, em um tom de voz sombrio. — Quero que me diga que tentei o meu melhor. — Seu pedido soou como o tipo de súplica modesta que uma criança pode usar em relação aos pais. — Quero que me elogie. Diga-me que fiz bem em suportar por tanto tempo.
Isso foi tudo o que ela pediu; esse foi seu último pedido.
— …
E assim, em vez de responder com palavras, coloquei minha mão na cabeça de Frederika.
Baguncei seu cabelo, passando meus dedos por ele. Então, para arrumar o cabelo que havia bagunçado, lentamente, repetidas vezes, acariciei o cabelo de Frederika, que estava quente e macio como o sol.
Quando minha mão tocou sua cabeça, seus olhos dispararam para frente e para trás em perplexidade e seu lábio de repente começou a tremer. Ela entrelaçou os dedos das duas mãos e agarrou a saia com força quando começou a tremer.
Não estava se comportando como uma viajante ou como uma adulta.
A pessoa comigo era apenas uma garotinha magoada.
— ……
Como ela desejou, eu disse:
— Você realmente deu o seu melhor, não é?
Tenho certeza que isso é o que ela também desejou o tempo todo.
— Você resistiu por tanto tempo. É muito admirável.
Isso é provavelmente o que a verdadeira Frederika, aquela transplantada para a Frederika que eu conheço, aquela cheia de ódio profundo, queria o tempo todo.
Quando eram jovens, se seus pais tivessem feito isso, se alguém tivesse reconhecido os esforços da verdadeira Frederika e feito exatamente isso, tenho certeza de que nada disso teria acontecido.
Ela nunca teria encostado a mão na irmã.
Nunca teria implantado suas memórias sobre ela e se transformado em Lunarik.
Nunca deveria ter acontecido.
Se alguém tivesse a acudido, poderia ter sido salva.
Mas ninguém poderia fazer esse tipo de coisa.
Porque o lugar onde nasceram era simplesmente um lugar ruim.
— …
Meu peito parecia prestes a explodir.
Não pude deixar de achar comovente que, mesmo depois de ter sofrido tanto, mesmo depois de passar por uma provação tão terrível, essa garota ainda estivesse tentando salvar o espectro de sua irmã mais velha que agora vivia dentro dela.
Não pude deixar de me sentir triste por essa garota, que nem estava tentando se salvar.
E assim…
— Você pode viver por si mesma agora, sabe?! — Com uma mão ainda em sua cabeça, usei minha mão desocupada para abraçá-la. — Mesmo que as pessoas desta cidade, seus pais, ou mesmo que ninguém a veja como você é agora.
Mesmo que eles não…
— Eu te vejo. Eu conheço você — acrescentei.
— …Sniff…
Seus dedos trêmulos agarraram-se ao meu roupão. Senti suas lágrimas quentes em meu peito.
— …Podemos ficar assim por mais um pouco? — Uma voz trêmula perguntou.
E então eu respondi…
— Sim…
E a apertei ainda mais forte.
Mesmo quando ela não conseguia mais conter os soluços, a segurei com força suficiente para que ninguém pudesse ouvir.
Segurei com força suficiente para nunca mais esquecê-la, mesmo depois de nos separarmos.
E ela nunca me esqueceria.
Tradução: Nero_SL
Revisão: B.Lotus
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