A história começou logo depois que as duas meninas nasceram.
A aparência das irmãs eram muito similares, mas tinham uma diferença óbvia que seus pais, descendentes de uma longa linhagem de magos, perceberam quando eram jovens.
A irmã mais velha, Frederika, possuía um talento excepcional para magia enquanto a mais nova, Lunarik, nunca fez muito progresso, por mais que tentassem ensiná-la.
Aparentemente, quando Lunarik era jovem, foi um pouco difícil. Compreensivelmente, seus pais começaram a prestar muito mais atenção em Lunarik do que em Frederika. Lutaram para saber o que fazer para que a irmã mais nova, sem nenhum talento mágico, crescesse e se tornasse uma maga adequada.
De uma perspectiva externa, parecia que eles estavam dando amor apenas à irmã mais nova, Lunarik.
Contudo, a irmã negligenciada, Frederika, não reclamou. Em vez disso, silenciosamente começou a gastar todo o seu tempo em seus estudos de magia. Se estudasse muito e aprendesse a usar feitiços mais avançados, seus pais a elogiariam como faziam com sua irmã.
Ou foi o que pensou.
Quanto mais avançada sua magia ficava, menos atenção os pais de Frederika davam a ela.
— Essa garota não precisa de cuidados — disseram e, cada vez mais, só prestavam atenção em Lunarik.
Para os pais, o fato de haver uma grande diferença entre as meninas era bom. Pensavam que quanto mais diferentes fossem, menos pareceriam gêmeas e mais como irmãs normais.
Sem perceber, os pais passaram a ver Frederika como uma garota que poderia fazer qualquer coisa sem a ajuda deles.
Um abismo intransponível se desenvolveu entre Frederika e seus pais desde tenra idade.
Na época em que as meninas começaram a frequentar a escola, esse abismo havia se expandido ainda mais.
— Que nota é essa, Frederika?
Um dia depois de voltar da escola, Frederika — e apenas Frederika — foi convocada por seus pais e questionada sobre sua nota em um teste recente.
De forma alguma sua pontuação foi ruim. Foi apenas uma nota mediana, mas, do ponto de vista de seus pais, era impensável que Frederika, a garota que podia fazer qualquer coisa, tivesse obtido uma pontuação normal.
— Essa pontuação é ainda pior que a de Lunarik. Você tem relaxado recentemente, não é?
Àquela altura, o tratamento de seus pais com Lunarik e Frederika era completamente diferente. Lunarik geralmente era elogiada, não importava o que fizesse. Em contraste, seus pais tratavam Frederika com muito rigor.
— Se eu estudar e me destacar mais, também vão me elogiar.
Frederika tornou-se obcecada por seus estudos, dedicando-se a eles dia após dia enquanto crescia ao lado de Lunarik, que estava sendo criada de forma muito permissiva.
Ainda não tinham dez anos.
Em pouco tempo, os esforços de Frederika deram frutos e ela superou todos na escola. Tornou-se tão notável, tanto em magia quanto em seus estudos regulares, que ninguém poderia igualá-la.
No entanto.
— Excelente, Lunarik, suas notas subiram de novo!
— Você descobriu como pilotar sua vassoura, não é? Incrível! Tudo bem, agora mamãe vai te ensinar um novo feitiço.
Os pais de Frederika ainda a ignoravam.
Mesmo que tenha superado todos, no final, nada mudou e eles apenas elogiavam sua linda irmãzinha, Lunarik.
Ela observou seu pai e mãe acariciarem gentilmente a cabeça de Lunarik.
Tal gentileza nunca foi dirigida a Frederika.
— Mesmo que eu possa fazer mais… — Frederika murmurou pelas costas de seus pais. — Embora seja melhor na escola… — Ela amassou a folha de respostas de uma prova em que havia tirado nota máxima. — Por que só elogiam Lunarik?
O ódio encheu seu coração.
Ódio por sua amada irmã.
— Papai, mamãe, por que vocês não olham para mim?
Quando as meninas tinham cerca de doze anos, suas posições se inverteram completamente.
Lunarik, que levou seu tempo aprendendo todo tipo de coisas, tornou-se uma garota de coração terno que era amada por todos. Suas notas na escola e habilidades mágicas eram excepcionais, todos tinham grandes expectativas para seu futuro.
Frederika, que avançou mais rapidamente do que qualquer outra pessoa, se trancou em seu quarto e raramente falava com alguém, desenvolvendo uma personalidade sombria e miserável. Ela costumava ser tão excepcional. Sua existência era tão miserável que as pessoas sussurravam coisas muito cruéis.
— Está tudo bem, não preciso de nenhum amigo além de você.
Trancada em seu quarto, lançou um feitiço em sua boneca caseira; fazendo com que ela se mexesse e falasse com ela como se fosse sua amiga. Noite após noite, falava apenas com a boneca para se distrair de sua solidão.
Embora as vozes de seus três familiares envolvidos em uma conversa agradável na sala de jantar chegassem aos seus ouvidos, fingia não poder ouvi-los.
Fingia estar com seu coração satisfeito.
Fingia não ser doloroso.
— Que nota é essa, Frederika?
Muitas vezes foi confrontada por suas notas estarem caindo.
— E você costumava ser uma criança tão capaz. — As broncas de seus pais eram sempre uma repetição do mesmo tipo de palavras. — Quando você se transformou em uma coisa tão sombria? — Ela havia sido repreendida com as mesmas palavras nos últimos anos. — Está ouvindo? Estamos lhe dizendo que esperamos mais de você. — Ela permaneceu em silêncio.
Queria que olhassem mais para ela; que a elogiassem mais. Entretanto, não importava o quanto se esforçasse, seus pais nunca prestavam atenção nela.
Ela queria ser mimada como sua irmã, mas seus pais não a toleravam nem por um momento, então começou a se ressentir seriamente deles.
Somente quando estavam lhe dando sermões seus pais prestavam atenção a Frederika.
Isso a deixou levemente feliz.
Então, para que as broncas durassem um pouco mais, ficava em silêncio e se recusava a responder.
Eventualmente, seu pai não foi mais capaz de esconder sua raiva pela atitude dela.
— Já chega!
Quando Frederika tinha treze anos, uma bronca comum se tornou violenta. Estava sentada em silêncio quando seu pai lhe deu um tapa na bochecha.
Ela caiu da cadeira e ficou no chão. A mãe acalmou o pai e encerrou a bronca.
A vida de Frederika começou a desmoronar.
Ela não falava com sua irmã mais nova, Lunarik, há vários anos. Nem durante as refeições, nem quando se cruzavam no corredor, nem quando seus olhares se encontravam durante uma bronca. Nem mesmo quando Lunarik observou do corredor enquanto Frederika foi atingida e caiu no chão.
Não havia como Lunarik vir em socorro de Frederika.
Ela nem falou com ela depois.
— Ei, escute! Hoje papai e mamãe falaram comigo! Me bateram, mas falaram comigo pela primeira vez em muito tempo e isso me deixou feliz.
A boneca que ela havia animado com um feitiço acariciou suavemente a bochecha avermelhada de Frederika. A boneca, que continha um pouco da consciência de sua dona, sempre fazia o que Frederika desejava.
Em seu coração, emoções sombrias estavam se formando.
Quando Frederika tinha quatorze anos, havia parado de receber sermões de seus pais. Haviam desistido dela.
— Lunarik é incrível, não é? Aparentemente, obteve a pontuação máxima na escola em seu teste de magia de novo. O pai estava de bom humor.
— Você é nosso orgulho e alegria! — A mãe sorriu, também de bom humor.
— Vocês dois estão exagerando. Tive sorte desta vez. Só isso. — Lunarik estava sendo humilde diante de seus elogios.
Eles eram a própria imagem de uma família feliz, mas os pais agiam como se a filha mais velha, comendo silenciosamente sua refeição, não existisse.
Quer estudasse ou não, ninguém mais se interessava por Frederika.
Do fundo do coração, Frederika detestava a cena familiar feliz que se desenrolava diante dela.
Como desejava ser Lunarik.
Como teria ficado feliz se fosse a única garota morando nesta casa.
Na verdade, embora quisesse ser amada mais do que ninguém, não era amada por ninguém.
— Por falar nisso…
Durante a conversa, Lunarik olhava para Frederika de vez em quando, mas nunca falava com a irmã ou a trazia para a conversa. Só continuava conversando com seus pais.
Frederika pensou estar sendo ridicularizada.
É por sua causa que acabei assim.
Se você não estivesse aqui, papai e mamãe me amariam.
Se você não existisse, eu estaria sentada onde você está.
— Se você não estivesse por perto, tudo seria muito melhor.
As emoções sombrias que cresciam dentro de Frederika transbordaram quando ela agarrou sua boneca esfarrapada — a única companhia que teve por tanto tempo — e a esfaqueou várias vezes com uma faca de cozinha até que o estofamento jorrasse.
Elas tinham quinze anos.
A sala de jantar da casa estava salpicada de sangue. Tudo estava coberto de vermelho.
De quem era o sangue? Isso ainda não estava claro para Frederika.
Tudo o que sabia era que só o que podia ver estava encharcado de sangue.
— Você! Tem alguma ideia do que você fez?! Isso… — O pai de Frederika estava montado sobre ela no chão, segurando-a pela frente de sua camisa enquanto a golpeava de novo e de novo.
Ela soltou um soluço. Ainda assim, seu pai não parou. Seu rosto estava vermelho e inchado. Ainda assim, seu pai não parou. Seu nariz sangrou. Ainda assim, seu pai não parou. Seu olho esquerdo foi esmagado. Ainda assim, seu pai não parou. Suas mãos estavam pegajosas de sangue. Ainda assim, ele não deu sinais de parar.
Frederika não parava de sorrir o tempo todo enquanto ele batia nela.
— Ah… que horror… que cruel…!
Ali ao lado dele, sua mãe não interveio; não o desafiou. Ela tinha lágrimas nos olhos. Parecia desesperada.
— Você está bem? Fique comigo, Lunarik! N-nós vamos curar você…!
Lunarik, deitada nos braços de sua mãe, disse apenas:
— Estou bem… está tudo bem… — E colocou a mão em seu abdômen.
Sangue espirrando dela. Suas lindas roupas tingidas de escarlate. Uma faca, molhada e vermelha, jazia no chão.
Se ao menos minha irmãzinha não estivesse aqui, eu seria mais feliz.
Frederika, que nutria um ódio dentro de seu coração desde que conseguia se lembrar, finalmente apontou uma faca para Lunarik; esfaqueou a irmã no estômago.
Esse foi o momento em que o precário equilíbrio que mantinham em sua família desmoronou completamente.
— Estaríamos melhor sem você…!
Repetidas vezes, o pai de Frederika a golpeava.
Vez após vez, ela suportava os golpes.
Apesar de tudo, continuava sorrindo.
No momento em que sua mãe fez o curativo no ferimento de Lunarik, Frederika havia perdido a consciência. Seu rosto estava vermelho e inchado, suas feições irreconhecíveis.
— Saia. Nunca mais mostre sua cara aqui. — Com a respiração irregular, enquanto limpava o sangue de suas mãos, seu pai disse: — Você não é mais minha filha.
Ela foi autorizada a recolher o pouco que podia carregar e depois foi banida de sua casa.
— …Por quê?
Só depois de ser expulsa da cidade, proibida de voltar ou ver seus amados pais novamente, percebeu que era sua própria culpa.
Porém, a essa altura, já era tarde demais.
Não era para ser assim, ela pensou. Eu só queria ser amada.
Ela bateu nos portões da cidade várias vezes, mas assim que ficou claro que não abririam, ela partiu espancada e aos prantos.
Foi assim que se tornou Frederika, a viajante.
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— Nos últimos quatro anos, viajei para todos os lugares. Visitei muitas cidades, deparei-me com muitos juízos de valores e refleti sobre o passado de minha família. Pensei sobre onde poderíamos ter errado.
Ela levou uma xícara de chá do hotel aos lábios e, após uma breve pausa, disse:
— No nosso caso, veja, a culpa foi do lugar onde nascemos. É só isso — concluiu, como se não fosse nada.
Se ao menos tivessem nascido em outro lugar, com certeza as irmãs teriam sido criadas de forma totalmente normal, como gêmeas normais. Seus pais nunca teriam desejado tanto transformá-las em pessoas diferentes.
— E o lugar onde você nasceu se chama…
Frederika assentiu quando eu estava prestes a dizer.
— Parastomeira. Amanhã vou para casa.
Nesse caso, era óbvio quem ela havia prometido encontrar.
Antes que pudesse falar alguma coisa, ela disse:
— Fiz um acordo para me encontrar com Lunarik.
— ……
— Há quatro anos viajo sem parar e, finalmente, decidi voltar para casa. Passei a querer ver ela e meus pais novamente e conversar com eles. Por isso mandei uma carta antes, de uma cidade vizinha.
Ela deve ter se referido à cidade onde nos conhecemos.
Olhei para o caminho que havíamos percorrido até agora.
Não conseguia mais ver nenhum vestígio da cidade atrás de nós.
— …Então, como eles responderam? — perguntei, virando-me para encará-la.
— Mandei várias cartas para meus pais, mas disseram que não me veriam até que eu tivesse o perdão de Lunarik. Então marquei um encontro com Lunarik pessoalmente. Parecia que nossos pais estavam muito relutantes, mas ontem, pouco antes de te conhecer, Elaina, finalmente me deram permissão para vê-la. Providenciaram para que eu fosse autorizada a permanecer na cidade por algum tempo, e disseram que Lunarik também queria me ver.
Quando me incubiu de transportá-la para a próxima cidade, ela parecia estar com muita pressa. Agora entendi o porquê.
Ela estava esperando impacientemente por isso.
— A propósito, posso te perguntar uma coisa?
Agora que tinha ouvido a história dela, havia uma coisa que estava me incomodando. Frederika havia tocado nisso apenas brevemente durante sua longa, longa reminiscência, mas havia algo diferente nela agora, comparado a então; algo que não podia ignorar.
Olhando fixamente para ela, talvez com um olhar desafiador em meus olhos, disse:
— Você costumava ser capaz de usar magia, certo?
— Hã? Ah sim. Ainda posso. — Frederika me respondeu calmamente. — Por quê?
— Pensei que não podia.
— Não me lembro de ter dito tal coisa.
— Bem, você definitivamente estava agindo assim.
— … — Ela desviou o olhar por um tempo, então, eventualmente, depois de levar o chá aos lábios mais uma vez, disse: — Eu tive uma razão para isso. Magia é como acabei nessa situação, então se essa é a causa de tudo, não seria melhor se nunca mais usasse magia?
— … — À primeira vista, parecia uma razão lógica. — E essa também é a razão pela qual você não consertou esse seu olho?
Seu olho esquerdo enfaixado.
Todos os outros ferimentos que recebeu quando foi espancada por seu pai certamente já haviam curado, mas… seu olho esquerdo ainda estava mutilado.
Tocando as bandagens levemente, Frederika falou baixinho.
— Sobre isso, vou ser honesta. Quando comecei a viajar, deixei a ferida como estava para nunca esquecer meu próprio ódio por aquela garota.
Entendi.
— E agora?
Depois de um suspiro, disse:
— Agora é para que eu não esqueça meu próprio erro. Ela continuou: — Veja, quero conhecê-la e pedir desculpas por tudo o que aconteceu. Acima de tudo, quero tentar de novo, recomeçar, entender uma à outra. Tenho certeza que, por minha causa, ela passou por momentos muito dolorosos.
Não parecia haver nenhuma falsidade em suas palavras.
Mas se isso for verdade…
— Não precisamos mais dessa caixa, não é?
Peguei a caixa que estava ao meu lado; a caixa que construí para carregá-la e joguei no fogo.
— Amanhã, você viajará atrás de mim.
O fogo, que ondulava suavemente, tremeluziu como se tivesse sido surpreendido pelo grande graveto que acabara de cair nele. Gradualmente, engoliu a caixa e começou a consumi-la.
Enquanto a observava queimar, Frederika me disse:
— Que gentil.
O que você quer dizer?
— Você é idiota? Não é por sua causa. É só que, se você é uma maga, não há necessidade de me preocupar em deixá-la andar em uma caixa.
Certamente não era porque eu simpatizava com Frederika e não a via mais como uma estranha; não me interpretem mal.
Essa é a verdade.
…Não é?
Não tenho certeza do que foi tão engraçado, mas Frederika começou a rir e eu gargalhei também. Atraída por sua alegria, nós duas ficamos sentadas por um tempo, desfrutando de uma conversa mais leve.
Ficamos sonolentas depois de passar algum tempo agradável conversando.
A luz do fogo havia diminuído e estávamos envolvidas na escuridão da noite. Quando finalmente estávamos quase dormindo, deitadas na completa escuridão, Frederika devia estar ansiosa.
— Elaina? — Resmungando em uma voz calma e evanescente, essa garota que havia confiado tudo em mim perguntou: — Quando Lunarik vir como estou agora, acha que ela vai me perdoar?
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Um pouco após o meio-dia do dia seguinte, chegamos a Parastomeire.
Havia um único portão na parede altaneira. De pé diante dela estava um sentinela, que se curvou uma vez e nos cumprimentou:
— Bem-vindas a Parastomeire! Estamos felizes em receber vocês!
Depois que nós duas descemos da vassoura em que estávamos montando juntas e retribuímos sua saudação, o guarda disse:
— Agora, há várias coisas que preciso verificar antes de entrarem em nossa cidade — disse, tirando um pedaço de papel e uma caneta.
Sim, sim, vamos começar essa inspeção de imigração normal e perfeitamente comum.
Frederika e eu, sem nenhuma precaução particular, respondemos fluidamente a perguntas simples como: “Quais são seus nomes? Qual é o motivo da sua visita? Quanto tempo vai ficar?”
Conforme a inspeção da imigração continuava sem problemas, o guarda se virou para Frederika, que estava ao meu lado, e perguntou:
— A propósito, estou correto ao supor que você é Frederika, a viajante?
— Hmm? Sou, mas… — Frederika aparentava estar bastante nervosa quando assentiu. Ela havia sido impedida de retornar à cidade, afinal.
O guarda a questionou ainda mais.
— Irmã mais velha de Lunarik, se não me engano?
— …Sim.
— Tenho uma carta de sua irmã.
Aparentemente, Lunarik sabia que Frederika estava a caminho. Provavelmente tinha ouvido de seus pais.
Ao entregar a carta a Frederika, que estava lacrada com cera, o guarda disse:
— Bem, então, por favor, aproveite seu tempo em nossa cidade. — Depois de se curvar mais uma vez, recuou.
A cidade além da muralha não era diferente de tantas outras, apenas uma paisagem pacífica que se estendia diante de nós.
— ……
Ao meu lado, Frederika começou a andar.
Com passos muito, muito pesados.
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Prezada Frederika:
Você tem estado bem? Aqui é sua irmãzinha, Lunarik.
Não posso encontrá-la pessoalmente, então, por favor, perdoe-me por enviar esta carta. Já ouvi do papai e da mamãe que você queria me ver.
Eu também gostaria de vê-la novamente.
Tanto o papai quanto a mamãe se opuseram a isso, mas sinto o mesmo que você. Não há falsidade nesse sentimento. Se também gostaria de me ver novamente, pretendo responder da mesma forma.
Pensando nisso agora, muito tempo se passou, não é? Quatro anos, na verdade.
Nós duas nos tornamos adultas.
Acredito que, neste momento, certamente somos capazes de nos encontrar cara a cara, como pessoas diferentes do que éramos.
Estarei esperando por você sozinha na praça da fonte ao meio-dia. Não em um dia específico.
Até você chegar, esperarei lá todos os dias. Estarei esperando, acreditando que você virá.
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Um pouco mais adiante na avenida principal de Parastomeire, havia uma praça com uma fonte.
— …Que pena. Parece que hoje não é o dia.
Frederika provavelmente esperava encontrar sua irmã agora. Desejava vê-la e falar com ela.
Não havia ninguém na praça da fonte, no entanto. Ela deve ter imaginado que não viria hoje. Os ponteiros do relógio já apontavam para três.
— Você terá outra chance amanhã. Que tal relaxar hoje?
Você deve estar cansada da longa jornada. Na verdade, também estou um pouco cansada. Entendo sua ansiedade, mas comparado a quatro anos, esperar mais um dia não é nada, com certeza.
— …Você tem razão.
Frederika assentiu.
Com seu único olho, observou em silêncio a superfície da água que tremulava ao vento. Como não estávamos entre os períodos de maior movimento, a fonte havia sido desligada e a praça ao redor estava envolta em um sentimento de solidão não muito diferente daquele em seu coração.
Então Frederika soltou um suspiro curto e olhou para mim com determinação em seu único olho.
— …Obrigado por me trazer até aqui, Elaina.
Essas pareciam palavras de despedida.
Certamente, agora que havíamos chegado à cidade, meu dever estava encerrado. Era apenas uma guia; seu meio de transporte, por assim dizer, e não tinha razão para me envolver além disso.
— Você não precisa me agradecer. — Estendi minha mão.
— Foi pouco tempo, mas me diverti viajando com você. — Ela sorriu e apertou minha mão. — É estranho. Você tem um jeito de me fazer falar mais do que eu jamais falaria. É a primeira pessoa com quem falo sobre meu passado com tantos detalhes.
— …É mesmo?
— …Sim.
Por falar nisso…
— Ei, sinto muito por perturbar esta atmosfera agradável, mas não estava procurando um aperto de mão. Estava querendo receber meu pagamento.
— Que gananciosa…! — Frederika parecia espantada. — O que seus pais diriam se ouvissem você falar assim…?
— Ah, você gostaria de estender sua jornada até a casa de meus pais? Se quiser, vai te custar um pouco mais. Sabe, estou um tanto interessada em conhecer a cidade onde você nasceu… mas acho que devo recusar. Minha jornada termina aqui.
Se ela pudesse encontrar sua irmã e fazer as pazes, Frederika não teria mais motivos para ser uma viajante.
Talvez tenha me contado tudo sobre seus sentimentos íntimos porque essa seria a última vez que nos veríamos.
— Vamos nos encontrar de novo algum dia, Elaina.
Enquanto pressionava cinco moedas de ouro na palma da minha mão, Frederika apertou minha mão novamente e sorriu.
— Sim… até mais.
Também sorri, atraída por sua alegria.
Dessa forma, nós duas nos aproximamos de uma separação relativamente normal.
Naquela noite, fiquei em uma pousada próxima. Infelizmente, como aquelas cinco moedas de ouro eram tudo o que tinha em meu nome, ainda estava quase falida. Não importava ficar em um hotel de alta classe com um restaurante anexado. Céus, não pude nem ir a um restaurante de alta classe.
— Por enquanto, vou querer a massa recomendada pelo chef, por favor.
Estava jantando em um restaurante modesto que parecia não receber muitos turistas. Descobri que não tinha como errar se pedisse pelo especial recomendado em um lugar como este.
A garçonete disse:
— Sim, senhora. — Após o que, abaixou a cabeça e levou o cardápio consigo quando saiu da minha mesa.
Agora que não tinha nada para fazer e nada para olhar, observei a agitação do restaurante à minha volta por um tempo. Lá, vi o dia a dia dos moradores desta cidade: pessoas curtindo um encontro a dois e amigos tomando um drink no caminho de volta do trabalho; no restaurante quase cheio, havia todo tipo de gente, e uma noite completamente normal estava se desenrolando.
Esta é uma cidade pacífica.
Se Frederika realmente pudesse se estabelecer aqui, tinha certeza de que ela também seria feliz. Estava distraidamente pensando nessas coisas quando, em pouco tempo, a garçonete voltou.
— Por favor, aproveite.
Com um clink, ela colocou na minha mesa uma taça de vinho tinto. Não me lembrava de ter pedido.
Estava maluca por pensar que o chef estava recomendando macarrão?
Fiz uma careta confusa e a garçonete indicou educadamente alguém em um assento no balcão.
Ela disse simplesmente:
— É daquela cliente ali.
— ……
Havia uma garota sentada ali. Tinha mais ou menos a minha idade. Depois de acenar para mim brevemente, ela se aproximou com uma taça de vinho na mão.
Parecia familiar.
— Boa noite.
A garota tinha cabelos loiros ondulados e estava vestida de preto.
Não era nada se não familiar.
— Me perseguindo de novo? — ri.
Estava olhando para Frederika, de quem eu acabara de me separar naquela tarde.
Porém…
— …O que você quer dizer?
Ela inclinou a cabeça, parecendo perplexa e apontou para mim:
— Você é uma bruxa com cabelo cinza e tem mais ou menos a minha idade. Você é a viajante, Elaina, não é? — perguntou.
Como se fosse a primeira vez que me via.
— … — Foi quando percebi.
A garota diante dos meus olhos não era a Frederika que conhecia. Para começar, seu olho esquerdo, que deveria ter sido remendado, estava descoberto.
— Queria saber se… eu poderia falar com você um pouquinho?
Ela se apresentou como Lunarik.
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Tradução: Nero_SL
Revisão: B.Lotus
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