— Hmm, parece que o feitiço que Íris usou na lagoa está escrito aqui…
Matryoshka estreitou os olhos intensamente.
— Por que algo assim estaria escrito em um livro comum que qualquer um pode comprar…?
Ela tem um bom ponto.
Estava intrigada e li a receita minuciosamente.
— Bem… Parece que ela fez a receita pública porque queria que abastecessem a lagoa novamente caso a medicação parasse de funcionar.
— Tipo a receita secreta de uma sopa ou algo assim, né?
Mas se você simplesmente pública as instruções para fazer o medicamento que funciona contra todas as doenças, como vai fazer dinheiro? Digo, acho que no momento em que ela transformou a lagoa em remédio, tornou a cura sem valor…
Porém agora virou uma lagoa de veneno. É tipo o oposto; ao invés de curar todas as doenças, só espalha pragas. E a estátua que estava erguida lá durante todo o seu tempo em vida pareceu estar se dissolvendo na lagoa e se tornando um dos ingredientes. Que horrível deve ser beber algo que teve pedaços de estátua dissolvidos nele…
— Ah! — Enquanto estava listando os ingredientes do medicamento, notei algo. — Tem um erro em como isto é misturado!
— Um erro? — Matryoshka repetiu minhas palavras e inclinou sua cabeça em confusão.
— Ele usa ingredientes que são perigosos quando combinados. — Acenei.
— O que acontece se você misturar eles?
— Algo terrível.
— Mais especificamente…?
— Acredito que você vai ter uma ideia melhor se olhar ao redor.
A bruxa Íris provavelmente tinha pensado no futuro de seu país e queria deixar para trás uma fonte capaz de curar todas as doenças. Mas cometeu um erro fatal e criou um pântano tóxico no lugar. Não consegui pensar em nenhum resultado mais decadente que este.
Fechei o livro com um suspiro.
Bom, agora entendo a fonte do problema, mas isso não faz nada para ajudar as pessoas que estão sofrendo da doença.
Depois de descansar um pouco na cafeteria, compramos um pouco de pão na instalação do outro lado da rua e, de maneira rude, comemos enquanto andávamos.
Não tínhamos nenhum destino em mente, nem nada em especial que quiséssemos fazer, mas andamos um pouco, e antes de percebermos, chegamos na Lagoa Íris.
Talvez a história dela tenha ficado em nossas mentes.
— Ora, ora. — Matryoshka se maravilhou enquanto mastigava seu pão.
— O que temos aqui? — Mastiguei o meu pão ao seu lado.
Na nossa frente estava a lagoa, tinha uma cor roxa sinistra igual na história do oficial do governo. Uma cerca tinha sido erguida ao redor da lagoa para que ninguém pudesse entrar, completando com um placa que dizia, ENTRADA PROIBIDA.
— Isso parece maaaaau. — Matryoshka continuava mastigando.
Assim como tínhamos ouvido, no exato centro da lagoa estava posta uma estátua solitária, a que foi erguida pela bruxa Íris, aparentemente.
— Com certeza parece — disse mastigando. — Mesmo que o medicamento funcione, não acho que essa água vai se tornar potável novamente.
A estátua irregular estava sem os braços, suas pernas estavam se dissolvendo e seu rosto despedaçava lentamente, acima de tudo, parecia como cera que começou a derreter e perder sua forma. Não demoraria muito até que a estátua se dissolvesse por completo.
— Tudo chega a um fim, Elaina. Isso é verdade para esse pão, para Íris e para sua estátua também. O fim chega para tudo, não importa o que seja e nem a forma que tenha.
Matryoshka parou perto de mim e jogou o último pedaço de pão em sua boca quando acrescentou: — Exceto para a Pequena Matryoshka…
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Não senti que deveria voltar para a cafeteria depois de comer, então decidi ir atrás de alojamentos e ficar no quarto.
Tinham muitas pousadas neste país, mas já que tinha meu suado pagamento por ter transportado os medicamentos, escolhi algo um pouco extravagante. Ficaria no quarto mais caro do hotel mais caro da cidade.
Tenho o hábito de ir ao extremo. Se tenho o dinheiro, vou usá-lo, se não, volto para um estilo de vida mais simples. Já que tenho tomado uma vida tão instável, não guardo dinheiro algum.
— Que quarto enorme…! Incrível! Que lugar é esse?
A propósito, tinha uma pessoa a mais ficando comigo dessa vez. Usando as palavras dela, eu agora carregava um peso morto.
A suíte tinha vários cômodos dentro, típico de algo por este valor, incluindo um quarto, um banheiro e uma sala de estar. Era bem menos como um quarto de hotel e mais como um pequeno apartamento.
Depois de correr por aí e olhar tudo, Matryoshka perguntou: — Mas está tudo bem mesmo? Elaina, você está pagando pela minha estadia.
— Tudo bem, não me importo.
— A Pequena Matryoshka não se importa de acampar lá fora ou coisa assim.
— Gostaria de conversar com você um pouco mais. Tem algumas perguntas que tenho de fazer.
Além disso, seria estranho ter uma conhecida escolhendo dormir na rua para guardar dinheiro em despesas do hotel.
— Perguntas? — Ela inclinou a cabeça de onde estava deitada no sofá.
Vamos direto ao ponto.
— Por que você se tornou imortal e não envelhece?
— Hmm… — Ela se virou para olhar para mim e respondeu: — Então está te incomodando?
— Bem, sim… — Não é como se eu quisesse guardar o segredo para mim, mas não conseguia entender como podia viver sem morrer. Mais importante que isso, não entendia porque tentava se matar diariamente.
— É uma história longa, tudo bem?
Então, pouco a pouco, ela começou a recontar sua história.
Matryoshka tinha nascido cerca de cem anos atrás, mas até mesmo ela não sabia realmente o motivo de ter se tornado imortal.
O lugar onde nasceu era uma pequena e remota vila, mas era um lugar comum, um vilarejo completamente ordinário, onde foi criada sem querer nada.
Veio de uma família de magos, então naturalmente, aprendeu magia e a usou como todo mundo , vivendo uma vida normal.
Nunca se considerou especial ou diferente.
Tinha certeza que simplesmente iria crescer e se casar normalmente, ter filhos, então envelhecer e morrer como qualquer outro.
Por isso estudou magia normalmente e escolheu viver sua vida como uma maga comum.
No entanto…
— Matryoshka, você continua jovem, não importa quanto tempo passe…
— Você não muda nada, não é…?
Ela tinha acabado de completar vinte anos quando seu pai e mãe disseram isso com sorrisos no rosto. Sua aparência externa não mudou nada desde que tinha dezesseis anos. Porém, haviam algumas pessoas que continuavam com um aspecto juvenil mesmo em seus vinte, por isso imaginou que só tinha uma cara de bebê.
Mas, mesmo quando chegou nos vinte e cinco, e então nos trinta, não envelheceu nada visualmente. Sua aparência ficou presa aos dezesseis. Nem uma única coisa mudou.
Todos ao seu redor chegaram na fase adulta. No entanto ela estava para sempre entre, parecendo não estar nem uma adulta e nem uma criança, vendo seu país e as pessoas mudando ao seu redor com os anos.
Quando chegou nos quarenta, seus pais faleceram.
Mas como sempre, ela ainda aparentava dezesseis anos.
— Matryoshka, você continua jovem, não importa quanto tempo passe…
— Você não muda nada, não é…?
Antes de suas mortes, seus pais olharam para ela e disseram isso mais uma vez. Mas toda a boa intenção deixou suas palavras. Ela conseguia ver isso, nos olhos deles, ela tinha se tornado algo extraterrestre.
E não era apenas seus pais. As pessoas da vila começaram a olhar para ela diferente, também.
— Alí está Matryoshka.
— Ouvi dizer que ela tem quarenta anos, mas ainda parece tão jovem.
— Ela não mudou nada em todos esses anos…
— Estou com inveja… Me pergunto como ela mantém sua juventude…
Com o passar do tempo, outras pessoas pararam de vê-la como uma companheira humana. Também conseguia ver em seus olhos.
— Sem dúvidas, ela deve estar absorvendo a energia vital de todo mundo em volta dela.
Pessoas começaram a surgir com acusações absurdas.
Ninguém queria chegar perto dela. Já tinham parado de tratá-la como um ser humano.
— Isso é ruim…
Quando notou como as pessoas de sua vila olhavam para ela, fugiu de sua terra natal. Depois disso, ela viajou por todo tipo de lugar.
No começo, viajava para encontrar uma cura para sua condição. Estava em uma jornada para encontrar alguém que pudesse consertar seu corpo e fazê-la envelhecer normalmente. Contudo, pulando logo para a conclusão, como era óbvio ao olhar para ela agora, não tinha conseguido cruzar com ninguém capaz de curar sua imortalidade.
E não apenas isso, nos países em que visitou, no momento em que ficava claro que ela era imortal, as pessoas inevitavelmente tentavam usá-la para benefício próprio.
— Quero que me deixe estudar você, assim posso curar sua imortalidade.
Em um país, um mago conduziu todo tipo de experimento nela em nome da pesquisa acadêmica. Começou extraindo um pouco de seu sangue, depois cortando seu braço, e então quebrando sua perna. Por fim, o mago tentou beber o sangue dela.
Foi assim que Matryoshka descobriu que qualquer ferimento que sofresse, não importava quão grave, curava imediatamente.
Todos e cada um dos magos que se aproximavam de Matryoshka diziam que queriam curá-la, mas o que realmente queriam era tomar a imortalidade dela para si.
Infelizmente para eles, mesmo que roubassem o sangue de Matryoshka, nenhum deles conseguiu se tornar imortal.
— Oh…! Esse deve ser o poder de um deus! É mais que apropriado que você deveria governar sobre nosso país! — As vezes pessoas se fascinavam diante de sua natureza imortal e tentavam torná-la a líder de um país.
— Por que você não se contamina? Poderia ser, que a praga está em você…? — Já que ser imortal também significava que Matryoshka não adoecia, alguns viram isso, e em países onde doenças se espalharam, rumores também eram espalhados dizendo que ela era a portadora.
Ela passou por muitos países diferentes, mas não importava onde fosse, ser imortal significava que nunca poderia ficar muito tempo.
Quando sua imortalidade se tornasse conhecimento público, ela seria alvo de pessoas ruins que queriam usá-la, e se tentasse ficar mais tempo, a população começaria a achar a garota que não envelhece assustadora.
Eventualmente, desistiu de se acomodar em qualquer lugar, e decidiu viajar e deixar tudo ao acaso.
Começou a odiar viver e até se jogou em um rio tentando morrer. Porém, como esperado, não conseguia morrer, não importava o que acontecesse. No dia seguinte, acordou normalmente no fim de um penhasco. Tentou cortar seus pulsos, e se enforcar, mas no fim, sempre era trazida de volta para este mundo.
Sem nenhum desejo de viver, porém incapaz de morrer, continuou vagando.
No sexágessimo ano desde que começou a viajar, Matryoshka tinha raramente usado magia. Mesmo aqueles feitiços do qual havia estudado extensivamente foram completamente esquecidos agora.
— Elaina, perdi minha vontade de viver muito tempo atrás.
— ……
— Não consegui nada. Vivi por muito tempo e não tenho mais nada para mostrar. Mesmo que tenha muitas pessoas sofrendo por conta dessa doença, vivi por cem anos, mas não tenho nenhum conhecimento que possa curá-los. Gastei um século inútil viva e ainda fico atrás de você, uma garota que não esteve viva nem por duas décadas. É por isso que quero acabar logo com isso, mas não consigo fazer nem mesmo isso… — Matryoshka murmurou no sofá.
Ela deveria ter sido capaz de aprender algo em seu desespero. Deveria ter se tornado uma bruxa mais sábia e poderosa do que qualquer outra. Teve tempo de sobra. Se quisesse, conseguiria fazer qualquer coisa que desejasse.
Mas suponho que não conseguiu juntar a motivação necessária.
Humanos se esforçam tanto, porque sabem que terá um fim.
E por isso ela não conseguiu se esforçar. Não havia ninguém com quem competir. Ninguém é capaz de entendê-la e, ao mesmo tempo, ela não é capaz de entender os outros também.
— Eu só odeio tudo — riu em um tom auto depreciativo. — A Pequena Matryoshka não tem razão para viver, Elaina.
Não importa o quão alegre possa ter atuado, não conseguia abafar a ansiedade latente no fundo de seu peito.
Parece uma forma extremamente infeliz de se viver.
No entanto…
— Não consigo imaginar que, em cem anos, você não conseguiu aprender nada. — Balancei minha cabeça para ela. — Também não consigo imaginar que não tenha nenhuma razão para viver.
— ……
Matryoshka olhou para mim em silêncio.
Seus olhos estavam cheios de insegurança.
— Tudo bem então, o que eu posso fazer, Elaina…? — Ela me perguntou em um tom de lamento.
Então respondi de forma clara e concisa.
— Você pode morrer.
Sugeri algo que ela sabia perfeitamente como fazer.
— Você acaba de me dizer que não tem razões para viver, mas… você tem um motivo para morrer.
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Na manhã seguinte, Matryoshka e eu visitamos a prefeitura novamente.
O gato veio até nós e miou, assim como fez no dia anterior, mas com um contraste enorme em relação ao nosso último encontro, o oficial do governo nos comprimentou com uma aparência extremamente cansada.
— Ah, Madame Bruxa. Bem-vinda… Estava pensando em te chamar…
O rosto do oficial parecia ter visto o fim do mundo.
— Está tudo bem se eu segurar esse gato? — Matryoshka perguntou repentinamente.
— Ha-ha-ha… vá em frente… segure-o o quanto quiser…
O oficial tinha perdido completamente seu espírito. Apenas de olhar para ele, ficava claro imediatamente o que havia acontecido durante o dia enquanto tínhamos imprudentemente feito um passeio turístico pela cidade.
— Por aqui, por favor…
Ele nos guiou, duas humanas e um gato, até a sala de recepção.
— Obrigada…
Tinha vindo até a prefeitura para ver se o medicamento que tinha trazido estava funcionando, mas não havia necessidade de perguntar. A resposta era óbvia.
Porque na mesa da sala de recepção estava posto uma enorme quantidade de medicamentos ainda sem uso.
— É realmente infeliz, mas… o medicamento não apresentou nenhuma reação contra a rara doença que está correndo solta pela nossa república.
— Entendo…
— Aparentemente é uma doença bem problemática… não parece ser possível curá-la com medicamentos normais. Tínhamos tanta esperança, mas…
— ……
O oficial soltou um suspiro exagerado e então me perguntou: — Senhora Bruxa… O que podemos fazer…? Se isso continuar, vamos perder muitos cidadãos…
Não tinha certeza de como responder. Não sou uma bruxa que se especializa em doenças, então não era fácil para mim responder seu questionamento esperançoso.
— Se o remédio não está funcionando, então receio que não tenha nada mais que eu possa fazer.
Então balancei minha cabeça e respondi honestamente.
— Oh não…
Agora, provavelmente deve ter muitas pessoas sofrendo dessa doença. Seria uma tragédia terrível perder tantos.
— Mas isso não necessariamente significa que não conseguimos pensar em alguma solução para o problema dessa doença. — Eu disse.
Tinha vindo aqui por pensar que poderia ajudar a fazer algum progresso e ajudar a situação. Se realmente pensasse que era impossível, já teria me esgueirado e escapado dessa cidade na mesma hora.
— …! — O oficial se inclinou para frente ansiosamente. — P-Pode realmente ajudar?!
— Claro, sim.
— Mas como…?
Não respondi.
Ao invés disso, coloquei o gato que Matryoshka segurava em meu colo.
Já que tinha me dado o trabalho de ficar, decidi tentar algo aqui que sempre quis fazer pelo menos uma vez.
Enquanto brincava com as patas da frente do gato, eu disse: — Você pode esperar para descobrir assim que chegarmos na lagoa, miau!
— …… — O oficial estava em silêncio.
— …… — Eu estava em silêncio também.
— …… — Matryoshka me olhava com uma cara séria.
— O que você está fazendo? — Ela perguntou
— Hmm, eu me empolguei.
Sério, o que estou fazendo?
Senti que poderia chorar, mas as lágrimas não saíram.
Também nenhum espirro.
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A Lagoa Íris estava igual ao dia anterior: cheia de gosma roxa. Era absolutamente nojento. Parecia que beber dela te mataria instantaneamente.
Parada em frente a lagoa, percebi algo que não tinha notado no dia anterior. Havia um cheiro estragado e lamacento impregnado firmemente no ar ao redor da água.
— Ew… o cheiro é nauseante. Que horrível… — Matryoshka disse, franzindo a cara.
— Com certeza é. Realmente podre, huh.
— …… — Ela olhou para mim e ficou em silêncio. Seus olhos pareciam estar imaginando. Estamos realmente indo com aquilo que você disse ontem?
— …… — Também olhei para ela em silêncio. Com meus olhos, busquei me comunicar, É claro. Chegamos muito longe para reclamar agora.
— Huh? Talvez você esteja pensando que não tenho que fazer isso no fim das contas?
— Não estou pensando em nada disso. Agora, por favor, vá em frente com isso.
— Eh, mas…
— Faça.
— Eu não quero… Estou com medo.
Não demorou muito, o oficial, que estava assistindo nossa conversa por trás, perguntou. — Hmm, está tudo certo? — Mas o ignorei completamente.
— Se você não fizer, não poderemos fazer nenhum avanço.
— Você diz isso, mas… olha para isto, é super sujo!
— É claro que é.
— Se eu beber disso, vou morrer!
— Com certeza você vai.
— Tenho mesmo que beber…?
— Você tem.
Acenei decididamente. — Já passamos por isso ontem, não?
— ……
Ela continuou protestando, “Hmm, mas…” e “Fazer algo assim é um pouco…”. Obviamente não era uma fã do meu plano e continuava tentando bolar uma desculpa para se safar.
Dei um tapinha em suas costas e disse: — Você vai ficar bem, então beba.
Ainda demorou cerca de mais dez minutos para ela decidir cumprir a tarefa.
— Eu sei! Tudo bem, sim, entendo! Eu deveria só ir, deveria! Eu deveria ir! — Com um olhar complicado em seu rosto, Matryoshka correu em direção a lagoa. — Tudo bem, aqui vou eu! Grrrah! — Ela pulou.
— Oh.
Eu me perguntava isso quando a conheci também, mas, por que ela é tão positiva enquanto faz algo negativo?
No dia anterior, a havia pedido para beber um pouco da água da lagoa.
— Hmm, Senhora Bruxa, o que ela está fazendo…? — Os olhos do oficial estavam arregalados.
— Ela pulou na lagoa, não pulou…?
Ela espirrou sujeira roxa pelos ares.
— Hmm, acho que ela vai morrer se pular lá dentro.
— Também acho.
— Você pediu para ela pular na lagoa e morrer…?
— Não, a pedi para beber um pouco da água da lagoa.
— Hmm, Madame Bruxa, beber essa água vai com certeza matar ela…
— Para falar a verdade, ela tem um desejo pela morte…
— Hmm… um desejo pela morte…? — O olhar do oficial estava focado na lagoa. — Mas Madame Bruxa, ela claramente está pedindo por ajuda…
Bem no meio da superfície da água ondulante, Matryoshka estava se esforçando para flutuar. Estava até chorando e implorando a nós por ajuda.
— Ah, estou morrendo! Oh não…morte…fedido! Waaah…!
— Parece que sim…
— A gente não tem que ajudar ela?
— Vamos esperar um pouco mais.
— Mas, Madame Bruxa…
— Sim?
— Ela já afundou…
— Com certeza afundou.
Olhando para a lagoa roxa, percebemos que Matryoshka não podia ser vista em lugar algum. Ao invés de uma pessoa, só conseguia ver bolhas.
— Hmm, tenho bastante certeza que se não nos apressarmos e tirarmos ela de lá, vai ser tarde demais.
— Não, vamos esperar um pouco mais.
— Mas, Madame Bruxa…
— Sim?
— Algo acabou de boiar até a superfície. Aquilo é…?
Quando olhei, alguém boiava de bruço para a lagoa.
— Então ela morreu, huh?
— Realmente morreu, não?
— Tudo bem, vou lá pega-lá
Pareceu que tinha passado tempo suficiente, então puxei minha varinha, e com um feitiço de levitação, arrastei Matroshka até nós. Seus braços e pernas balançavam soltos enquanto flutuavam no ar, e eu a coloquei no chão. Ela certamente tinha feito seu melhor para engolir o máximo possível de água.
Depois de sair da lagoa, o corpo ensopado de Matryoshka secou bem diante de nossos olhos, e não demorou muito, o brilho voltou a sua pele. Em apenas alguns segundos, seu corpo, do qual estava todo manchado pela água roxa, voltou a seu estado original.
E então…
— Pensei que tinha morrido…!
Como esperado, ela voltou à vida. Era difícil dizer se estava brincando ou falando sério.
Apontando para a garota ressuscitada, voltei minha atenção para o oficial do governo e disse: — Seu remédio milagroso está pronto.
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Na noite anterior, eu havia feito um pedido para Matryoshka.
— O primeiro passo é que quando eu der o sinal, quero que você beba a água da lagoa. Então tudo isso terá acabado.
Tinha ficado claro assim que vimos o estado da lagoa que o medicamento que eu trouxe provavelmente não teria efeito algum, então como um plano de reserva, fui em frente e fiz esta proposta à ela.
— Huh? Sem chance! Pequena Matryoshka vai morrer, não vai?
É claro, ela rejeitou o plano.
— Mas isso é algo que só você pode fazer!
— O que quer dizer…?
— Você tem um poder especial. Tão especial, de fato, que sua imortalidade é apenas um efeito colateral.
— …? — Matryoshka não parecia ter entendido bem e inclinou sua cabeça curiosamente. — Tenho um poder mais especial que a imortalidade?
Deixe-me lhe mostrar.
— Dê uma olhada nisto. — Balancei meus braços no ar. — Olhe meus braços e meu rosto.
— ……
Ela fixou o olhar e me encarou. Seu olhar intenso me angustiava, e ela aproximou seu rosto, mas ainda não parecia entender nada.
— É apenas o você normal, Elaina… — Ela disse incerta.
— Correto. — Acenei. — É apenas a eu normal. — E então disse: — O normal eu, sem nenhum dos machucados que deveria ter em meus braços e rosto.
Naquela tarde, quando visitamos a prefeitura, fui arranhada pelo gato em meus braços e rosto, mas não havia nenhum único traço daqueles ferimentos. Em lugar nenhum.
Minha pele estava boa e limpa como se nunca tivesse sido desfigurada em primeiro lugar.
O que significava…
— Meus ferimentos se curaram. É claro, não usei magia e nem nada do tipo para me curar, e não teria a energia para fazê-lo de qualquer jeito. E não acho que fiz nada em especial para tratar aqueles arranhões, também.
— Então o que você está tentando dizer…?
— Seu sangue curou meus ferimentos.
Mais cedo naquela tarde, depois dela limpar seu sangue no meu lenço, eu o apliquei nos arranhões no meu braço.
Foi quando um misterioso fenômeno aconteceu. Os arranhões que tinha certeza estarem na parte de trás de minha mão desapareceram. Como se nunca os tivesse.
Desnorteada por esse fenômeno misterioso, em seguida tentei limpar meu rosto com o lenço sujo com o sangue da Matryoshka, e quando fiz, os ferimentos das minhas bochechas sumiram. Em outras palavras, o sangue dela poderia magicamente curar ferimentos.
— Seu sangue provavelmente vai ser eficaz contra a doença. — Eu disse. — Depois de passar o lenço com seu sangue em mim, duas coisas estranhas ocorreram. A primeira foi que, assim como te mostrei, meus machucados desapareceram sozinhos. A segunda, minha forte reação alérgica quando toco em gatos, também sumiu completamente.
Antes que pudesse perceber, tanto os espirros quanto o choro foram totalmente curados. Era como se eu nunca tivesse tido uma alergia.
— Acredito que seja provável que seu sangue carregue o poder para curar qualquer doença da qual você tenha experienciado pessoalmente.
Certamente Matryoshka também tinha sido alérgica a gatos quando era mais jovem, assim como eu. Porém, me disse que quando se forçou a passar tempo com gatos, seu corpo parou completamente de reagir.
Isso não foi porque seu corpo simplesmente se acostumou com gatos. Do mesmo jeito que qualquer ferimento era curado espontaneamente, seu corpo curou até aquela predisposição.
— Então isso quer dizer, em outras palavras, que dentro do seu corpo há o poder de curar qualquer tipo de doença mortal.
Minha instrução para ela beber a água da lagoa era, em resumo, uma forma de usar esse poder. Enquanto tivermos seu sangue, seremos capazes de curar qualquer doença que ela experimentou pessoalmente.
— Portanto, não é verdade que você não é boa para nada.
Claro, ela pode ter vivido por cem anos, e gastou sessenta deles vagando sem rumo. No entanto…
Precisamente por conta disso, parecia para mim que ela podia fazer qualquer coisa.
— Se você quisesse, poderia curar toda e qualquer doença. Poderia se tornar uma panaceia, um remédio eficaz contra todas as doenças.
Podia ser aquilo que a Lagoa Íris deveria ter sido.
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Assim que Matryoshka voltou a vida, coletamos um pouco de seu sangue e fizemos nosso cura-tudo. Como previmos, quando demos a eles um pouco do seu sangue, as pessoas da cidade começaram a se recuperar imediatamente da doença.
— Incrível! Como caralhos você fez isso? Para mim, pareceu que ela se jogou na lagoa, mas… — O oficial do governo, nos assistindo trabalhar dos bastidores, estava surpreso pelo remédio milagroso que produzimos de repente.
— ……
— ……
Digo, ela realmente só se jogou na lagoa, mas…
No fim, o povo estava completamente curado, graças ao medicamento que Matryoshka fez.
— Uau… como posso te mostrar minha gratidão?! Obrigado! Muito obrigado!
Graças aos esforços de Matryoshka, a doença misteriosa sumiu da cidade.
Choveram pessoas para agradecê-la.
— Muito obrigada!
— Não é muito, mas… como agradecimento.
— Por favor aceite esse token!
Ela recebeu agradecimentos intermináveis e até mesmo presentes e dinheiro das pessoas.
— H-huh…esse tanto? Não, eu não posso…heh-heh…
Ela estava desnorteada mas com um grande sorriso em seu rosto.
Apesar que nem um pouco daquele dinheiro vinha na minha direção…
Em todo caso, curamos a doença que vinha da lagoa, mas não consertamos a lagoa em si. Mesmo agora, o veneno estava vazando para a água.
— A propósito, a estátua está corrompendo o remédio mágico. — Eu disse ao oficial da cidade. — Seria melhor removê-la agora mesmo para que a doença não se torne um perigo futuro — recomendei.
— Está falando sério?
— Tem veneno vazando da estátua. Se não removê-la, a lagoa pode nunca mais voltar ao normal.
— Mas… se tirarmos a estátua, nosso país vai perder seu único ponto turístico…
— E que tal uma estátua da Matryoshka? Não há dúvidas de quem salvou seu país dessa vez, afinal.
— …! — Os olhos do oficial brilharam. — Essa… é uma ótima ideia!
— Não é?
— Vou contratar um escultor agora mesmo.
— Enquanto estamos nisso, vou precisar que você pague o custo do uso da imagem dela…
— Mais ou menos esse tanto está bom…
……
Se tratando disto, Matryoshka tinha sido quem curou a doença causada pela lagoa envenenada, mas não faz mal adicionar um pouco à minha renda.
Quando o assunto chegou a uma conclusão, tínhamos ainda menos motivos para ficarmos na cidade, então estávamos prestes a sair.
— Elaina. Muito obrigada. — Matryoshka se curvou profundamente. — Fazem muitos anos desde que fui agradecida pelas pessoas… — Quando ela ergueu seu rosto, fiquei surpresa em vê-la sorrindo amplamente.
Não, não…
— Sou eu quem deveria estar te agradecendo. — Eu disse.
Afinal, eu fiz uma grana…
— Oh? Pelo quê?
Ela notou minha expressão desonesta e me olhou de volta em confusão.
— Não é nada. — Balancei minha cabeça, afastando meus pensamentos errados, e mudei de assunto. — Matryoshka, aqui, pegue isto.
— …? — Inclinando sua cabeça de forma perplexa, aceitou uma folha de caderno de mim. — … O que é isto?
— Um endereço.
— Huh? — O rosto de Matryoshka corou.
……
— Não é o meu.
— Quê? Oh, entendi… você me surpreendeu…
Você quem me surpreendeu… Não é como se eu fosse te entregar meu endereço de repente depois de tudo isso… De qualquer forma, sou uma viajante, então nem tenho um endereço fixo.
— Essa folha tem o endereço de alguém que mora num país próximo. É uma mulher velha que teve uma vida extremamente longa. Muito tempo atrás, era uma extraordinária e brilhante maga, então é provável que tenha um pouco de conhecimento sobre sua imortalidade. Mesmo que tenha achado um propósito para seu corpo imortal agora, viajar por aí para sempre ajudando as pessoas provavelmente vai ser difícil, então… você pode querer fazer uma visita para ela quando as coisas ficarem apertadas.
— Quando você diz que ela teve uma vida extremamente longa, quão longa você fala?
— Mais ou menos quatro vezes mais que você.
— Quatro vezes…?
— Ela tem quatrocentos anos de idade.
— …… — Matryoshka soltou um suspiro enquanto encarava o papel. — O mundo é um lugar grande. Tem alguém que viveu quatro vezes mais que eu, e tem alguém que é bem mais esperta que eu, mesmo não tendo vivido um quinto do que vivi.
Uh-oh, será que acidentalmente dei a ela um complexo de inferioridade?
— Não é nada para ficar depressiva. — Eu bufei impertinente como a jovem que sou. — Você sabia? Neste mundo, também tem um dragão que viveu quatrocentos anos, mas passou a maior parte do seu tempo dormindo.
— Isso quer dizer que…?
— Quero dizer que o mundo é ainda maior do que você pensa.
Mas é claro, o mundo é muito maior do que eu já tenha imaginado e está transbordando com coisas que ainda não entendo.
É por isso que não consigo parar de viajar.
— Boa sorte para você, Matryoshka — disse com um sorriso. — Tenho certeza que vai achar uma cura para sua condição um dia.
Pegando emprestado as palavras dela mais cedo, tudo chega a um fim. O pão chegou, e a estátua da bruxa Íris chegou, assim como a lagoa. Até mesmo a vida da bruxa Íris chegou. Não importa o que seja, tudo chega a um fim um dia.
Incluindo aqueles sofrendo de imortalidade.
— Tudo bem então, vou tentar um pouco mais. — Matryoshka disse, sorrindo de volta para mim.
Humanos se esforçam tanto porque sabem que tem um fim depois de tudo.
Assim, passamos pelo portão e fomos em caminhos separados.
— Então, adeus, Elaina. — Matryoshka acenou.
— Sim, te vejo de novo uma hora. — Acenei de volta e peguei minha vassoura.
A nossa história juntas chegou num fim silencioso.
Tradução: Vinyell
Revisão: Matface / NERO_SL
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