Quando voltamos do passado, a Comunidade de Latorita já estava em ruínas. Edifícios haviam caído, telhados desmoronaram, e nossa escola estava absolutamente devastada. A situação era tão inacreditável que, por um momento, nos perguntamos se realmente tínhamos voltado ao nosso tempo e não para algum tipo de dimensão paralela.
Mas o que aconteceu aqui?
— ……
Não demorou muito para descobrirmos o que causou toda essa destruição. Na frente da biblioteca, vários professores estavam furiosamente lançando feitiços contra um enorme monstro feito da adesão de várias partículas.
Era um golem.
— Ah, vocês duas! Então finalmente voltaram? Viajaram muito longe, não é?
Havia alguém sentado dentro das ruínas de um prédio próximo e olhando para nós.
— …Senhorita? — Falei.
Ela deve ter lutado contra o golem enquanto estivemos fora. Seu manto estava todo sujo e rasgado. Não parecia ferida, mas aparentava estar bastante exausta quando soltou um grande suspiro e baixou a cabeça.
— Hm… Senhorita, o que… aconteceu?
Com minhas palavras, a professora franziu a testa.
— Ah, então quer saber o que aconteceu enquanto vocês estavam fora?
Seu olhar caiu sobre o relógio de reversão do tempo.
Aparentemente, de alguma forma ela descobriu a razão pela qual desaparecemos por alguns dias. Foi o que suspeitei.
— ……
Linaria e eu ficamos em silêncio, e a professora soltou outro suspiro enorme.
— Tudo bem, tudo bem — disse ela — Deixe eu resumir.
Então, ela nos contou sobre o desastre que ocorreu em nossa ausência. Um desastre de minha autoria.
A areia se reuniu em um monstro humanoide. Seus braços, pernas, cabeça, tudo, era de areia. Depois de abrir caminho pelo chão da biblioteca, ele se virou e caminhou lentamente em minha direção.
Tinha o dobro da minha altura. Não diria colossal, mas definitivamente não era pequeno. Com toda certeza, posso afirmar que era algo poderosamente assustador e perigoso
Não tive tempo para pensar. Lancei feitiços nele na mesma hora, tentando transformá-lo em areia novamente.
No entanto…
— ……
Foi inútil. O golem absorvia todos os meus feitiços, os consumia. Se eu lançasse chamas ou tentasse congelá-lo, todos os feitiços eram absorvidos.
Poderia dizer de imediato que qualquer coisa que eu fizesse, provavelmente seria inútil. Não importava que tipo de feitiços lançasse, todos acabariam sendo absorvidos.
Quando o golem finalmente me alcançou…
— ……!
Ele balançou o braço arenoso para baixo com um baque, esmagando-o em pedaços no chão da biblioteca. Seu corpo era grande e lento, então era fácil desviar, mas não teria chance se ele tentasse atacar diretamente.
Para salvar a biblioteca de mais destruição, levei o golem para fora. Felizmente, consegui chamar sua atenção. Quando saí, ele veio atrás de mim.
Mas deixar a biblioteca também era problemático.
— S-Senhorita! O que é esse monstro?!
Professoras e alunas vieram correndo quando ouviram os rugidos guturais da biblioteca e agora olhavam para o golem.
Eram magas brilhantes, mas nunca encontraram tal monstro antes. Todas decidiram atacá-lo.
— Eu vou exterminá-lo! Afastem-se!
Claro, assim como quando eu tentei, os feitiços evaporaram no momento em que atingiram o golem.
— ……
Então cometemos o nosso maior erro de todos.
As alunas e professoras que estavam dando tudo de si atingindo continuamente o monstro com feitiços, pararam por um momento para ver se seus ataques estavam tendo algum efeito, porém, no espaço dessa pausa, o golem novamente balançou seu punho maciço no chão.
O chão desmoronou. Juntos com montes de terra esmagados, gelo rodopiava e se espalhava ao redor do golem. Os pilares de gelo voavam pelo ar como lanças e atacavam as magas que estavam próximas.
O golem ganhou a habilidade de usar feitiços.
Obviamente, estava ganhando força desde o momento em que rompeu o chão da biblioteca.
— ……
Foi quando percebi uma coisa. A única vez em que o golem parou, mesmo por um momento, foi quando estava sendo bombardeado com feitiços.
E quanto mais energia mágica ele recebia, mais seu poder aumentaria e, no fim das contas, o levaria a um frenesi.
— Pessoal! Não desistam de seus ataques, nem por um segundo! Continuem lançando feitiços sem parar!
Depois disso, fizemos o melhor que pudemos para atacar continuamente o golem. Algumas vezes tivemos de parar para evitar seus ataques, mas nunca desistindo.
Claro, era apenas um paliativo. Provavelmente não seríamos capazes de dar um golpe decisivo para derrubar o golem, mas isso foi o melhor que conseguimos pensar. A única coisa que podíamos fazer para evitar que o dano se espalhasse era mantê-lo temporariamente imóvel.
Mesmo sabendo que, ao absorver nossas magias, se tornaria eventualmente mais forte e mais difícil de lidar, não tínhamos alternativas.
Então continuamos lançando feitiços no golem. As alunas e professoras ao meu redor estavam fazendo o seu melhor, lançando ataques de gelo, mas tudo estava sendo absorvido, e não importava com quantos feitiços alimentássemos a coisa, não havia fim à vista.
Neste ponto, se parássemos de atacar por um único segundo, estaríamos condenadas.
— Então você está dizendo que não podemos derrotar o golem…?
Alte estava olhando para mim com um olhar sério.
— Não, não é isso.
— Não podemos derrotá-lo aqui. Mas tem outra maneira, — eu disse. — Já derrotei esse golem antes.
Foi há muito tempo, então não reconheci imediatamente, mas quanto mais eu olhava para ele, mais certa estava de que era o golem que havia enfrentado antes.
Então, em suma, eu sabia como derrubá-lo.
— Você o derrotou…? Quando foi isso? — Linaria parecia muito cética.
Eu respondi de forma clara e concisa. — Sete anos atrás.
Nossa professora segurou um pequeno frasco vazio diante de nós.
— Tudo bem — disse ela —, espero que vocês duas estejam prontas para uma pequena instrução extracurricular.
Então ela pegou um pouco de areia do chão e colocou no frasco.
O que estamos fazendo brincando na areia em um momento como este?
Fiquei intrigada, mas ela não me deu atenção e continuou.
— Estou enchendo este frasco completamente com areia, certo?
— E o que tem isso? — Linaria inclinou a cabeça.
A professora olhou para ela com uma expressão presunçosa.
— Pense nisso como se fosse o golem. O golem é um agregado de areia infundida com energia mágica. O irritante é que quando os grãos de areia se unem, têm o poder de absorver a energia de nossos feitiços. Não importa o quanto ataquemos, toda a magia é absorvida. Observem.
A professora acenou com a varinha sobre o frasco e o encheu com água. A areia no frasco sugou a água e ficou mais pesada.
— Quanto mais energia mágica ela recebe, mais forte o golem se torna. Se continuarmos fornecendo energia mágica, ela eventualmente crescerá além de nosso controle.
Parecia haver uma ligeira contradição entre o que ela estava dizendo e o fato de que, mesmo agora, as outras magas ainda continuavam a bombardear o monstro com feitiços.
A professora disse:
— A propósito, vocês sabem o que acontece com as estruturas de areia quando continua derramando água sobre elas? — Com isso, ela despejou mais água no frasco.
Não havia necessidade de respondermos. Ficou óbvio.
Água lamacenta transbordou do frasco.
Em outras palavras…
— Desintegram-se. Se continuarmos aplicando energia mágica, o golem não será capaz de manter sua forma. Isso é o que acontece. É por isso que continuamos lançando feitiços no golem. Claro, enquanto está sob ataque, não pode se mover, então isso também é uma vantagem.
Oh-hoh! Entendi. Isso significa que podemos derrubar o golem fácil, fácil, certo? Aaaae!
Mas nossa professora franziu a testa.
— Mas não tem magas suficientes, sabe… Podemos nos virar por enquanto, mas é apenas uma questão de tempo até que todas fiquem exaustas. E mesmo com sua ajuda, acho que não temos poder suficiente para fazer o golem se desintegrar.
— Entendi. — Eu disse, balançando a cabeça.
— Ah, não. — Linaria colocou o dedo indicador no queixo.
— Em outras palavras, para derrotar esse golem, precisamos da ajuda de muitos magos, mas como pode ver, quase não há bruxas em condições de lutar. E eu também estou sem energia mágica. Neste momento, vocês duas provavelmente são as únicas pessoas aqui que podem usar seus poderes mágicos completos.
Há muito tempo, quando esta instituição ainda estava dividida nos cursos mundanos e mágicos, havia sido o lar de muitos magos poderosos.
Com nossos poderes coletivos atuais, não éramos páreo para o golem.
Foi o que a professora nos disse.
— Se vocês pudessem levar o golem de volta no tempo, poderia mergulhá-lo com ainda mais energia mágica… Certo? Linaria? Alte? — Era óbvio que ela já sabia tudo sobre o relógio de reversão do tempo. — As duas sabem o que estou tentando dizer, não é?
E essas palavras significavam que não tínhamos o direito de recusá-la.
— ……
— ……
Então Linaria e eu olhamos uma para a outra.
Não havia nada a fazer além de usar o relógio de reversão do tempo para resolver o desastre que o próprio relógio havia causado.
Infelizmente, as duas não tiveram escolha a não ser voltar ao passado. De alguma forma, eu as persuadi a refazer a viagem.
Embora, como ainda tínhamos um pouco de tempo livre, fiz o que pude na biblioteca e dei a elas dez minutos para se prepararem. Achei que precisavam, considerando a tarefa que tinham pela frente.
— Entendido! Tudo bem, vou escrever meu último desejo e testamento! — Alte curvou-se uma vez para mim e depois fugiu. — Posso não voltar em dez minutos, então se isso acontecer, você continua sem mim, Linaria! — Ela acrescentou aflita.
Não me diga que está pensando em fugir?
— ……
Enquanto Alte saía com pressa, Linaria usava sua expressão habitual.
Parecia que ela estava planejando gastar os dez minutos inteiros aqui.
Ela fixou o olhar no golem, que ainda estava sendo bombardeado com todos os feitiços que podíamos lançar. O monstro estava congelado no lugar, tremendo ligeiramente. Ela estava apenas olhando para ele com olhos sem emoção.
— Professora? — Com os olhos ainda fixos no golem, Linaria perguntou: — O quanto você sabe?
Quanto eu sei?
— Sei quase tudo. Sei que você tem um relógio que reverte o tempo. Sei que você foi capaz de manter suas boas notas porque voltava no tempo para fazer um trabalho extra.
— ……
— Estou avisando para evitar problemas, é melhor se esta for a última vez que você usa essa coisa.
Viajar através do tempo, separando-se da sua era natal, raramente resultava em algo bom. Voltando para tentar corrigir erros do passado ou para algum objetivo egoísta, tais ações, em última análise, só se tornaram correntes que a amarram ao passado. Você nunca seria capaz de dar um único passo para o futuro. Desperdiçaria todo o tempo que lhe foi dado sem nem perceber, e eventualmente, perderia sua capacidade de se conectar ao presente.
— Estou preocupada — disse Linaria, mesmo sem demonstrar isso.
— Deixe-me contar uma história de quando eu era jovem — continuou ela. — No meu aniversário, meus pais me deram um relógio. Eles o encontraram em uma loja de antiguidades durante suas viagens. Não demorei muito para descobrir que o relógio tinha um poder oculto.
“Fiquei muito emocionada com minha nova habilidade. Repetidamente, usei o relógio para viajar para o passado. Era incrível… viciante, até.
“Achava que ficaria tudo bem.”
O poder de visitar o passado, mesmo que só uma vez, é algo que a maioria das pessoas só poderia sonhar. Não me surpreende que ela tenha ficado obcecada com isso.
— Eu era igual a ela — disse Linaria. — Assim como Alte, tentei ganhar amigos trazendo presentes do passado. E quando ainda era muito jovem, quando brigava com um amigo por algo trivial, até levava aquele amigo comigo de volta no tempo… mostrava a eles a cena do que havia acontecido no passado, apenas para provar que estava certa.
— O que aconteceu com aqueles amigos?
Ela olhou para mim.
— Eles deixaram de ser meus amigos. Quando você tem o poder de voltar no tempo, não importa o que faça, outras pessoas te acham estranha. Continuei voltando por diversas vezes, e eventualmente, as pessoas começaram a me evitar.
— ……
— No momento em que fiquei totalmente isolada, tinha esquecido como interagir com as pessoas. — Ela sorriu. — Mesmo assim, permaneci prisioneira do relógio. Não podia perder a oportunidade. Pensei que se eu dominasse seu poder, poderia ser a maior maga do mundo. Então outras pessoas teriam que gostar de mim.
Olhando para ela agora, era óbvio o quão equivocada sua hipótese era. Ela ainda estava irremediavelmente sozinha, mas mesmo depois que isso ficou óbvio, ela ainda não tinha sido capaz de desistir do relógio. Temendo o isolamento, continuou confiando em seu poder, o que só a tornou ainda mais solitária. Suas prioridades estavam invertidas.
— Então você ainda está tentando decidir se desiste?
— Não estou. — Ela balançou a cabeça. — Quero desistir. Mas… bem… — Ela começou a se contorcer.
— ……?
Franzindo a testa em desconfiança, esperei que ela falasse.
Finalmente, ela me respondeu, murmurando evasivamente como se tivesse algo preso em sua garganta. — Sinto que, graças a este relógio, conheci alguém com quem eu… poderia me tornar amiga, talvez, então… hmm…
Ah, isso é o que você quis dizer quando falou que estava preocupada.
— E é isso que você realmente quer? Visitar o passado juntas e usufruir dos benefícios? Com uma amiga?
— ……
Ela assentiu sem palavras.
Soltei um suspiro.
— Os conhecidos raramente florescem em amizades por conta própria, sabe.
— Você parece ter muita certeza sobre isso…
— Esse é o meu conselho. Acredite em alguém que está por aí há mais tempo do que você.
Não me importo se ela levar isso a sério ou entrar por um ouvido e sair pelo outro.
Mesmo assim, espero que ela entenda o significado no devido tempo. Seja hoje, amanhã ou em algum momento no futuro distante, gostaria que ela entendesse que não havia nada para o qual fosse necessário voltar atrás.
— Eu não consegui escrever meu testamento em dez minutos!
Alte voltou correndo assim que Linaria e eu ficamos em silêncio. Nós duas vimos a garota acenar enquanto corria para nós.
— Bem, então, acho que você deve tentar não morrer do outro lado!
Ou talvez eu devesse dizer que esse não é o tipo de situação em que precisa se preparar para a morte…
Eu disse: — Se estão prontas, então vamos!
Nós nos posicionamos atrás do golem, que ainda estava sendo bombardeado com feitiços, e rapidamente disse às duas meninas: — Quando voltarem ao passado, terão que acabar com o golem. Não há necessidade em explicar a situação para os magos que encontrarem no passado. Tenho certeza de que os magos no campus virão em seu auxílio por conta própria quando virem o golem, provavelmente, incluindo eu mesma.
Porém…
— Só para me repetir, tenham cuidado, tá? Não devem dizer a ninguém que vieram do futuro. Nem aos outros, nem a mim. — Respirei fundo. — Não quero saber o futuro.
Linaria e eu demos as mãos e olhamos para o golem.
Estava imóvel como sempre, ainda sendo atacado por feitiços. Se parassem por um segundo, não haveria como escapar da catástrofe.
A fim de enviar com segurança o monstro de volta ao passado, não havia outra maneira a não ser atravessar a constante barragem de magia e chegar perto o suficiente para tocá-lo.
— Você está pronta, Linaria? — perguntei, segurando o relógio de reversão do tempo com força.
— Você está? — Linaria também o segurou.
O relógio estava quente devido ao calor corporal de duas pessoas.
Olhei ao meu lado e vi Linaria com sua expressão calma habitual. Mesmo em um momento como este, ela não parecia nem um pouco nervosa.
— Vamos. — Tive um leve alívio vê-la assim.
Nós duas, ambas agarrando o relógio, corremos para o dilúvio de magia, alcançando o golem no centro.
E então fomos transportadas para sete anos no passado.
— Vocês estão ouvindo? Depois de levarem o golem de volta ao passado, precisam se afastar dele. Vocês terão que ir para longe. Se o golem atingir vocês com todo o poder que absorveu, pode muito bem matá-las.
Lembrando as palavras de nossa professora, no momento em que chegamos ao campus do passado, pulei na minha vassoura e voei.
Nossa professora havia planejado um meio para selar o golem no passado, sendo que Linaria e eu tínhamos papéis a seguir.
Uma vez que subi até o topo dos edifícios mais altos da cidade, parei no ar e me virei para olhar abaixo.
Pude ver que a entrada da biblioteca da escola estava totalmente coberta de gelo.
— O golem provavelmente irá primeiro para a biblioteca, congele a porta e feche-a.
Essas foram as instruções da nossa professora, e assim como eu, Linaria entrou em ação no momento em que chegamos, congelando a entrada da biblioteca com magia. Como o golem era feito da areia que estava dentro da biblioteca, obviamente tentaria alcançar essa areia assim que chegasse ao passado.
— Assim que ele perceber que não pode entrar na biblioteca, o golem deve tentar procurar a fonte mais próxima de energia mágica. Então vocês precisam concentrar uma bola de energia mágica na ponta de suas varinhas e levá-lo para longe.
— Levá-lo para onde? — Linaria perguntou.
— Para a cidade — respondeu nossa professora.
Para ser mais precisa, para os arredores da cidade.
Se não o afastássemos o suficiente do campus, não havia como saber quando o golem poderia invadir a biblioteca. Por essa razão, assumi a responsabilidade de levar o golem embora sozinha. Enquanto fazia isso, a outra integrante deste plano, a que havia selado a biblioteca com gelo, garantiria a cooperação das outras alunas e professoras.
E então nos encontraríamos nos arredores da cidade, onde o golem seria atacado.
Esse era o plano.
Depois que terminou de explicar tudo sobre o plano, nossa professora disse: — É evidente que a tarefa de conduzir o golem é extremamente perigosa. Vocês duas devem ter uma conversa séria sobre quem irá fazer isso. A pessoa estaria usando sua vida como isca, então…
Então decidi aceitar o desafio.
— Graaaaaaaaahhh!
Enquanto uma esfera de energia mágica flutuava na ponta da minha varinha, empurrei minha vassoura para frente com todas as minhas forças. A luz no final da minha varinha vacilou e balançou, e o golem fez o chão estrondar enquanto corria atrás de mim. Tudo de acordo com o plano. Estava seguindo a isca, ou seja, eu.
O golem pulou alto, a força de seus movimentos fazendo rachaduras pelo chão sob seus pés e, por um momento, estava logo atrás de mim no ar. Mas também caiu rapidamente no centro da cidade.
Mesmo que pudesse pular, não poderia voar.
O golem pousou, destruindo um pedaço da avenida principal da cidade. Então, assim que tocou o chão, veio voando para mim novamente. Mais e mais, saltou para o ar, tentando chegar até mim e quebrando o chão a cada pouso.
E assim por diante, continuamos sozinhos pela estrada principal.
Não pudemos deixar de chamar a atenção. Gritos estavam surgindo de todos os lugares que eu podia ver abaixo de mim. Era uma grande catástrofe, obviamente.
Porém, essa era a única rota que eu poderia fazer.
— Quando estiver montada em sua vassoura e guiando o golem, você deve seguir a avenida principal. Se ficar onde a estrada é larga, terá muito menos chances de que pise em alguém. Se cair em alguma coisa ou alguém, é morte na certa.
Eu estava seguindo as instruções da minha professora.
— Hmm, eu sinto muito…
Mas é claro, a avenida principal era a avenida principal, e havia muito tráfego de pedestres. Não pude deixar de me sentir culpada pela vida de todas as pessoas que estavam sendo destruídas lá embaixo.
Felizmente, já sabia que este incidente não deveria resultar em nenhuma morte, já que ninguém havia morrido há sete anos. Mas ainda assim, me senti mal por todos os danos causados a caminho da periferia da cidade.
Ao menos, era o que pensava.
— ……
Mas…
Neste momento…
Diretamente atrás de mim…
O golem roçou a ponta da vassoura novamente, depois caiu de volta no chão de novo.
Eu estava focada em algo no caminho, uma maga solitária, sentada distraidamente em um banco, bem onde o golem iria cair.
Uma bruxa com cabelo grisalho.
Eu tinha que olhar de novo, e sim, lá estava ela. A mulher que sempre cuidou de mim, sete anos no passado.
Havia uma bruxa solitária distraidamente em um banco na Comunidade de Latorita.
O cabelo dela era acinzentado. Seus olhos eram da cor de lápis lazuli. Ela sentou-se ali descuidada, com seu pão e café ao lado, e um mapa da área circundante espalhado pelo colo.
Ela era uma bruxa e uma viajante.
Ela ficou mais do que tempo suficiente neste país, então estava tentando decidir para onde deveria ir em seguida.
— ……
Enquanto olhava para o mapa, assentiu conscientemente e mastigou o pão.
Essa mulher, que estava apenas continuando suas viagens como sempre, quem diabos ela poderia ser?
Isso mesmo, ela era…
— Com licença!
Meu tempo de lazer foi rudemente interrompido quando, de repente, uma garota veio correndo em minha direção em uma vassoura. Com um olhar frenético no rosto, ela gritou e me empurrou, para cair junto comigo em seguida..
— Uuugh…! — A garota gemeu, de cara no chão.
— O que você está fazendo assim do nada?
O pedaço de pão que eu desfrutava estava agora, lamentavelmente, na terra. Ponderei essa terrível tragédia enquanto me levantava.
No momento seguinte, um enorme pé desceu e pisoteou o banco em que estava sentada, deixando-o em pedacinhos, junto com o mapa e o café que deixei lá. Com um barulho, um fragmento do banco parou bem na minha frente.
Olhando para cima, vi uma criatura enorme. Seu corpo era feito de alguma substância estranha, mas eu ainda podia dizer que ele estava olhando para mim.
— ……
Foi quando percebi que a garota que havia aparecido de surpresa, aparentemente estava tentando me salvar.
— Hum… o que é esse monstro?
Olhei para a garota ao meu lado, que choramingava para si mesma. — Hum… isso realmente doeu — Suas roupas me disseram que ela era uma estudante da universidade daqui.
Quando ela me notou olhando, a garota começou a divagar sem sentido. — Ah, senhorita, hmm, este golem, é de sete anos no futuro…
Levantei a minha cabeça.
— …”Senhorita”? “Sete anos no futuro”?
Eu estava fingindo ser uma aluna aqui até outro dia, então entenderia se ela me confundisse com uma aluna, mas… O que é isso de “sete anos no futuro”?
Eu já tinha várias perguntas sobre o que estava acontecendo.
— Waaahhh…! — Sem explicar mais a situação, a garota começou a entrar em pânico. — Por favor, não pergunte! Fui proibida de falar sobre isso pela minha professora! — Ela cobriu a boca com a mão.
Mesmo isso só levantou mais perguntas.
Mas não parecia que eu tinha tempo para me sentar e pensar sobre a situação.
— ……!
Peguei minha vassoura e, assim como ela havia feito comigo antes, voei direto para ela, empurrando uma garota cujo nome eu nem sabia.
Não foi por despeito e nem por vingança, pois, quando a empurrei para o lado, me virei para olhar para trás assim que o punho do monstro cor de areia bateu no chão. Meu pão, que havia caído no chão, foi pulverizado junto com os tijolos vermelhos que cobriam a avenida principal.
Vou repetir para que fique claro o que acabou de acontecer. Meu pão estava estragado. Meu delicioso e suculento pão, que eu havia encomendado especialmente de uma padaria chique com um café extra, havia desaparecido.
— ……
Talvez eu não entendesse completamente o que estava acontecendo…
E talvez toda essa situação tenha literalmente caído sobre mim…
Porém, havia uma coisa que sabia com absoluta clareza.
— Aquela coisa é meu inimigo.
Cabelo acinzentado e olhos da cor de lápis lazuli. Ela tinha a altura certa e parecia a mesma. Sem dúvida, a pessoa que encontrei era minha professora, sete anos no passado. Não tinha como ser outra pessoa.
No entanto…
— ………………
A mulher que, sem dizer uma palavra, começou a balançar a varinha e ficou em silêncio enquanto lançava feitiços de todos os tipos no golem, a mulher comigo agora, possuía uma expressão que nunca tinha visto nela antes.
Ela parecia furiosa.
— …… — Com os olhos frios o suficiente para deixar qualquer um com calafrio na espinha, ela olhou para mim. — O que é esse monstro? Ele não se move, não importa quantos feitiços eu acerte.
— Hmmm… — Não sabia como responder.
Tinha prometido segredo para minha professora no futuro.
Já havia deixado escapar um pouco de informação porque fiquei confusa, mas não deveria dizer mais nada. Se cedesse agora, estaria quebrando minha promessa.
Então seguiria meus princípios e manteria minha boca fechada…
— Se você insistir em ficar em silêncio, vou apontar esta varinha para você.
— Sinto muito, eu vou falar!
Desisti da promessa na hora.
Depois de lembrar minha professora para continuar sua chuva de feitiços, expliquei o que estava acontecendo. Disse a ela que o monstro era chamado de golem e que estava absorvendo a energia mágica de seus feitiços, mas também que ela tinha que continuar atacando com magia, porque essa era a única maneira de derrotá-lo. Até lhe disse que tinha vindo do futuro para derrotar o golem.
Contei tudo enquanto escondia o fato de que ela era minha professora, uma professora que confiava muito.
Se eu realmente pensasse bem, minha professora no futuro me instruiu a não falar sobre isso, mas não parecia haver nenhum problema real com a divulgação dessas informações.
Tratando-se do golem, eu só havia dito informações que logo se tornariam claras de qualquer maneira durante a luta, então ela descobriria mais cedo ou mais tarde, mesmo que eu não revelasse nada.
Em relação ao fato de ter vindo do futuro, imaginei que não havia como ela acreditar em mim, mesmo se lhe dissesse a verdade. Quero dizer, quem honestamente acreditaria que alguém voltaria no tempo para derrotar um monstro…?
— Entendi. Então foi isso que aconteceu.
Ela acreditou.
— Você acredita em mim? — Olhei estupefata para minha professora. — Não acha que isso seja loucura da minha cabeça?
Ela balançou a cabeça. — Tenho experiência em viajar no tempo, então não duvido de você. Além disso… — continuou — posso dizer, só de olhar para o seu rosto, que você é uma péssima mentirosa.
— ……
— Sendo sincera, sua professora ou quem quer que seja, provavelmente sabia que você contaria a verdade, mesmo enquanto estava fazendo você jurar segredo. Ela não parece uma pessoa muito legal para mim.
Mas minha “professora ou quem quer que seja” é você no futuro…
Depois que terminou de ouvir minha explicação, minha professora do passado olhou para mim e disse: — Bem, acho que entendo mais ou menos a situação. Por enquanto, eu assumo o comando aqui. Você pode liderar a evacuação dos moradores da cidade?
Claro, ela nunca parou de lançar feitiços no golem, mesmo quando calmamente assumiu o comando.
— M-mas… — Não poderia simplesmente acenar com a cabeça obedientemente e dizer: “Tudo bem, deixe isso comigo!” — Mas se eu não levar o golem para os arredores da cidade…
— Deixa comigo.
Minha professora do passado me interrompeu friamente.
Então, olhando para o céu distante, ela disse:
— Deixe o resto para sua professora.
Então, do outro lado da rua vieram chamas, flechas, aço, trovões e gelo…
O ar estalou com o poder dos ataques mágicos.
As bruxas que vieram correndo eram todas professoras universitárias.
Elas pareciam já conhecer as características especiais do golem. Lançaram feitiços nele sem parar, enraizando-o no lugar.
Os ataques das professoras eram tão avassaladores, e a luta era tão unilateral, parecia que eu nem precisaria ajudá-las.
— Então você ainda não saiu do país, pelo que vejo.
Uma mulher trouxe sua vassoura ao meu lado.
Era Vivian.
A mulher com longos cabelos verdes ergueu os óculos com um dedo e me disse: — Como você pode ver, estamos um pouco sem pessoal. Se tiver tempo, gostaria que nos ajudasse.
— Nem eu poderia fechar os olhos para algo assim, sabe.
Além disso, tenho um rancor pessoal contra este golem. Arruinou meu pão especial de disponibilidade limitada. Vou ensiná-lo em primeira mão o quão assustadores os rancores baseados em comida podem ser.
— ……
Mesmo que os reforços tivessem chegado, o golem ainda estava forte. Ficou claro que, se não criássemos uma nova estratégia, todos acabariam ficando sem magia. E quando isso acontecesse, toda a cidade seria destruída.
Seria importante retirar todos da avenida principal o mais rápido possível.
— Você, o que está fazendo? Rápido, vá evacuar os cidadãos. — Eu joguei um olhar para o lado e acrescentei: — Pensei que tinha dito a você, vamos lidar com as coisas aqui.
— Mas…
A estudante que tinha vindo do futuro, cujo nome eu não sabia, estava parada no meio da rua, com uma expressão indecisa.
Ela provavelmente sentia como se fosse seu dever pessoal a perigosa tarefa de levar o golem para longe. Era o que parecia.
Vivian sorriu para a garota, que ainda estava parada ali, de pé. — Sua amiga me contou tudo. Por favor, relaxe. Lidaremos com esse golem.
A tensão e o impulso que marcavam sua expressão há apenas alguns dias atrás havia desaparecido completamente. Agora era simplesmente uma professora cuidando de uma aluna.
Vivian disse: — Nós, professores, temos nossos deveres, e os alunos têm os deles. Se apresse, vá embora.
Então ela apontou sua varinha para o outro lado da cidade, indicando a estrada que ela e os outros tinham acabado de descer. Como a batalha estava se desenrolando no centro dessa ampla avenida e cortando o caminho de retirada, os moradores que se atrasaram para fugir ainda estavam lá. E havia estudantes olhando, segurando suas varinhas, prontos para proteger os moradores.
Por fim, a garota do futuro olhou para trás e para frente entre nós e as alunas, depois disse: — Desculpe! E obrigada!
Finalmente, ela saiu e nos deixou a sós.
Com sua partida, fomos capazes de nos preparar para realmente derrubar o golem. Enquanto houvesse alunas por perto, elas poderiam ser pegas na luta.
A propósito…
— Então você ainda acha que ensinar magia para alunos que não são magos faz parte dos deveres de um professor?
— Claro que não é. Não seja boba.
— ……
Se eu fosse voltar no tempo, teria gostado de mostrar a Vivian como ela estava agindo hoje.
Peguei minha varinha e subi na vassoura.
— Você poderia levar esse monstro para os arredores da cidade agora? — perguntei. Aparentemente, esse era o dever da garota que o trouxe do futuro.
Nesse caso, deixarei os professores como Vivian cuidarem disso.
— O que você vai fazer? — Vivian perguntou enquanto se sentava em sua própria vassoura.
Eu preparei minha varinha. — Vou preparar as coisas para que possamos derrubá-lo em um único golpe.
E então comecei a reunir toda a minha energia mágica na ponta da minha varinha, alimentada pelo meu ódio da coisa por arruinar meu pão.
Imediatamente depois que eu saí, as professoras começaram a conduzir o golem para longe.
O dilúvio de feitiços atingindo o golem de repente cessou, e assim que isso aconteceu, o monstro dividiu o chão enquanto saltava.
No céu, pude ver muitos professores segurando esferas de magia nas pontas de suas varinhas, como eu vinha fazendo até poucos minutos atrás. Eles seguiram em direção aos arredores da cidade, levando o golem para longe.
O brilho da magia rapidamente desapareceu à distância enquanto toda a cidade tremia com o baque dos movimentos do monstro.
Assim que o golem estava fora de vista, ajudei com as operações de resgate.
— Você está bem? Consegue ficar de pé? — Onde quer que houvesse pessoas feridas, ofereci tratamento médico e as levei para um lugar seguro.
— Grrraaah! — Onde quer que houvesse escombros, eu limpava com magia.
— Todos, por favor, fiquem calmos e sigam em frente lentamente! — Guiei a evacuação.
Fiz tudo o que pude para ajudar.
No entanto, a aparição repentina do golem deixou a cidade em pânico e apenas algumas pessoas realmente cooperaram com a evacuação. Os únicos sons que chegavam aos meus ouvidos eram as vozes gritantes das pessoas e o som de seus pés enquanto corriam tentando escapar.
— Espera! Ei! Acalmem-se! Por favor, acalmem-se!
Fiquei estressada enquanto tentava liderar o caminho, mas todos estavam fugindo em pânico. Com isso, estava sem saber o que fazer enquanto olhava para as pessoas em fuga.
Não conseguia dizer se o baque que reverberava vinha do golem ou dos pés dos cidadãos tentando fugir da cidade.
Enquanto observava as pessoas se afastando, bem como os alunos que as guiavam, procurei por ela, por Linaria.
Pensei onde ela poderia estar. Enquanto eu continuava ajudando com a evacuação, examinei a multidão em busca dela.
E então, algo me fez desviar o olhar.
Houve um estalo alto e o som de algo desmoronando em pedaços. Virei-me para ver que um dos edifícios altos alinhados com a avenida principal havia começado a desmoronar.
O golem deve ter danificado a estrutura quando passou. Ou talvez uma das professoras o tivesse atingido com um feitiço sem querer. Não tive tempo de refletir o motivo exato, contudo, pois havia uma garota bem onde os escombros estavam caindo.
Ela deve ter tropeçado. Com as mãos e os joelhos no chão e com uma expressão estupefata, ela estava olhando para a avalanche que se aproximava.
Ela tinha cabelo castanho e era jovem, talvez uns oito anos.
E seu rosto era muito familiar.
Na verdade, toda a cena era familiar demais.
Sem pensar, apontei minha varinha para os escombros, pronta para resgatar a criança.
Eu iria dividir em dois. Salvarei a garota.
Mas…
— Cuidado!
Não cheguei até ela, pois antes que pudesse, outra aluna usou um feitiço para explodir os escombros, despedaçando-os.
Crack!
— Você está ferida?
Linaria sorriu para a garota.
Após um tempo conduzindo o golem, finalmente chegamos aos arredores da cidade.
Neste lugar sem aglomeração de pessoas e sem prédios para atrapalhar, onde o solo batido pelo tempo se estendia diante de nós, as bruxas confrontaram o golem e começaram a bombardeá-lo com feitiços.
Porém…
Não conseguiam derrubá-lo. O golem absorveu cada partícula de energia mágica que lançaram nele. Não só os feitiços eram ineficazes, o golem parecia incontrolável, já que evitava todos os ataques.
— O que está acontecendo aqui?
Incapaz de esconder sua frustração, uma das professoras falou amargamente.
Alguém respondeu a ela: — Continue atacando! Tenho certeza de que vai cair mais cedo ou mais tarde!
Mas outra pessoa soltou um suspiro. — Nunca vai acabar, não importa quanto tempo continuemos com isso! Nossa energia apenas será absorvida!
Embora elas fossem capazes de manter o golem no lugar, nenhum de seus feitiços teve qualquer efeito sobre a coisa.
Aos poucos, a ansiedade começou a surgir entre as professoras.
— …… — Vivian, a professora de cabelos longos e verdes, estava na mesma situação.
Provavelmente, deveria estar se questionando que, se continuassem assim, em pouco tempo ficariam sem energia mágica. E, após isso, o monstro não se recuperaria? Não atacaria? Sua ansiedade parecia crescer enquanto continuava com o ataque mágico.
— Já está pronta? — perguntou nervosamente. — Você está realmente nos mantendo em suspense.
— Por favor, não fale assim — respondi, continuando a reunir energia mágica na ponta da minha varinha. — Eu ainda vou tentar derrubá-lo de uma vez, então aguente um pouco mais.
— Tenho me perguntado de onde você tira tanta confiança…
— Está vindo da ponta da minha varinha…
— ……
— ……
— Nada ainda?
— Só mais um pouquinho.
A luz pairando na ponta da minha varinha estava começando a brilhar forte e deslumbrante. Era radiante e brilhante o suficiente para colorir tudo ao seu redor de branco.
Esta luz, uma manifestação da maior parte da energia mágica em meu corpo, finalmente perdeu seu calor e começou a esfriar.
À medida que ficava mais frio, minhas respirações ficavam brancas.
— Nada? — Vivian olhou para mim de lado.
— Acabei — respondi.
Então balancei a minha varinha.
A esfera congelante de energia mágica liberada da minha varinha, girou pelo ar como uma bolha de sabão, passou pelo golem e começou a subir no ar.
— …… — Vivian fez uma pausa para ver a bolha subir, franzindo a testa. — Não parece muito uma arma secreta.
À deriva com o vento, a esfera de luz subiu constantemente através da tempestade de feitiços sendo disparados pelas outras professoras e desapareceu no céu distante.
— Está tudo certo, apenas observe.
Então, com um pequeno grunhido, apontei minha varinha para o golem e fiz um balanço dramático.
Imediatamente depois que eu fiz isso…
…um enorme pingente de gelo caiu do céu.
Era mais alto e largo do que a maioria dos edifícios da cidade, um pilar tão alto que você nunca poderia ver o topo, não importa o quão longe olhasse.
Este pedaço de gelo absolutamente maciço caiu do céu, apontando diretamente para o golem.
— ……!
O golem levantou os dois braços, pegou meu pingente de gelo e começou a absorver o gelo mágico em suas mãos. No entanto, não importa quanta energia absorvesse, o gelo era infinito.
O pilar continuou caindo do céu, sem fim à vista.
Gradualmente, os pés do golem começaram a estalar. Fissuras abriram caminho através de seus braços. Mesmo assim, o gelo não parava.
Mesmo quando seu rosto começou a desmoronar, mesmo quando suas pernas quebraram, mesmo assim, o gelo não parava.
Mesmo quando o golem atingiu os limites de sua absorção e caiu no chão, o gelo não parava.
Mesmo quando o golem foi achatado, sua forma não sendo mais visível, o gelo não parava.
Ainda assim, meu gelo continuou a esmagar implacavelmente o chão, eventualmente cobrindo-o completamente com uma camada de branco puro enquanto descia, esmagando em pedaços no impacto.
No meio desse congelamento repentino, o calor do verão que se aproximava havia sido substituído pelas profundezas frias do inverno.
— Bem, isso deve bastar.
Eu soprei a ponta da minha varinha, e um suspiro branco apareceu de forma fugaz.
Lembrei-me do que aconteceu sete anos antes.
— Cuidado!
Quando ouvi sua voz, o pedaço de entulho caindo em minha direção já havia sido dividido em dois. Entre as metades estava uma linda maga com o cabelo roxo arrumado em um único rabo de cavalo atrás da cabeça. Eu a encarei com espanto enquanto ela estendia a mão e perguntava: — Você está machucada?
Foi o que ela me disse, com um sorriso gentil no rosto.
Simplesmente balancei minha cabeça lentamente enquanto endireitava minhas roupas. Não queria que ninguém soubesse que eu estava ferida. Fiz uma demonstração de coragem.
Talvez por ter percebido, ou talvez porque ela era simplesmente uma pessoa gentil, a maga sorriu e, de forma bem suave e gentil, deu um tapinha na minha cabeça.
Sua mão estava macia e quente.
— Estou tão feliz que esteja bem!
Nunca a tinha conhecido antes, mas ela parecia estar realmente aliviada ao ver que eu estava bem.
Estava atordoada, ainda processando tudo o que havia acontecido. Quando percebi que a maga que me deu um tapinha na cabeça havia salvado minha vida, só consegui dizer algumas palavras.
— Muito obrigada.
Isso era tudo o que podia fazer.
— Não foi nada — respondeu a mulher friamente. Ela retirou a mão e se virou e, com mais algumas ondas de sua varinha, limpou o resto dos escombros caindo, resgatando outras pessoas com sua magia.
A sensação da mão quente da heroína misteriosa permaneceu no topo da minha cabeça. Eu distraidamente esfreguei o lugar onde ela me tocou.
Mantive seu rosto, seu físico e tudo mais sobre ela selado nas profundezas da minha memória até este momento. Contudo, enquanto olhava para ela agora, me apaixonei pela ideia de ser uma maga.
Linaria já havia terminado de resgatar aquela garota lamentável quando o pilar gigante de gelo apareceu nos arredores da cidade. A enorme coluna bateu no chão como uma marreta, e toda a cidade tremeu com o impacto.
— Parece que acabou, hein?
Linaria ficou olhando para o espetáculo, seus esforços de resgate esquecidos. Imagino que todos pararam a evacuação para se maravilhar com o enorme pedaço de gelo.
Fiquei ao lado de Linaria, tentando parecer legal. — Os livros de história alguma vez mencionam que o golem foi derrotado com um único ataque? — perguntei, olhando para o pilar de gelo.
Linaria olhou para mim por um momento e, depois de um breve silêncio, assentiu. — Se não me engano, está escrito que uma das bruxas da cidade esmagou o golem com um pilar de gelo.
Se Linaria, a fanática por história, disse isso, então ela provavelmente não estava errada.
— Isso é bom. Tudo vai dar certo.
— Claro que sim.
Senti como se pudesse relaxar agora que o fim de toda essa bagunça terrível estava à vista. Toda a tensão desapareceu do meu rosto, substituída por uma expressão despreocupada.
— Graças à deusa…
Havia um sorriso no meu rosto quando soltei um suspiro.
— …… — Linaria olhou para mim com curiosidade. — Aconteceu alguma coisa boa?
Do que você está falando?
— O golem finalmente se foi! Por que eu não deveria estar feliz?
— Não é isso que quero dizer. — Linaria balançou a cabeça inesperadamente. — Parecia que alguma outra coisa tinha te deixado muito feliz.
— Hein?
Eu pareço muito feliz?
Me virei e olhei para o meu rosto na janela de uma loja de frente para a avenida principal.
Vi uma garota sorrindo estupidamente, como uma donzela que se apaixonou pela primeira vez.
Não importava como a olhasse, ela era eu. Não havia mais ninguém lá.
Mas acho que isso não poderia ser evitado.
Havia uma pessoa que sempre desejei conhecer. Mesmo que nunca pudesse me lembrar de seu rosto ou aparência, sempre quis ser como ela, a partir do momento em que me propus a me tornar uma maga. E acabou que essa pessoa misteriosa de minhas preciosas memórias, aquela que eu admirava, que estava procurando o tempo todo, estava bem diante dos meus olhos.
Claro que eu estava muito feliz.
— Linaria?
Eu me virei para encará-la.
Quanto mais usarmos o relógio de reversão do tempo, mais vamos querer continuar a usá-lo.
Voltando para tentar corrigir nossos erros passados ou servir a nossos objetivos egoístas, essas ações acabariam se tornando correntes que nos algemam ao passado. Podemos nunca ser capazes de dar um único passo para o futuro. Poderíamos acabar desperdiçando todo o tempo que nos foi dado sem sequer perceber e, eventualmente, perder nossa capacidade de nos conectar com o presente.
Mas isso não seria mais um problema para nós.
A única pessoa que pensei que nunca conheceria, a pessoa que passei toda a minha vida admirando, tinha estado comigo o tempo todo.
Depois de todas as nossas aventuras no passado, finalmente senti como se tivesse encontrado alguém a quem pudesse chamar de amiga, e eu sabia que nem um único momento antes de agora tinha sido um desperdício.
Então, depois de respirar fundo, eu disse: — Muito obrigada.
Eu repeti minhas palavras de gratidão, assim como da primeira vez.
Linaria olhou para mim e seus olhos se arregalaram, surpresos, e então finalmente, como se respondesse a uma pergunta com outra pergunta, respondeu com as mesmas palavras que havia dito antes.
As mesmas palavras simples.
As palavras que ela disse há sete anos, e hoje.
Tradução: Rlc
Revisão: CastroJr99 & NERO
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