Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 07 – Cap. 08 – Jornada de Muitos Anos: Gravado Eternamente

Fiquei sozinha no espaço aberto da padaria (com sala de jantar anexa, um conceito que eu realmente não entendia), vagando sem rumo. Frequentemente parava nesta loja para descansar a caminho de casa voltando do trabalho. Eles serviam deliciosos pães recém-assados ​​e até café. Era uma boa loja.

Eu estava ensinando no meu cargo atual há cerca de seis meses e sempre que tinha algum tempo livre, vinha aqui. Era uma cliente assídua, cativada pelos encantos desta padaria.

— ……

Mas neste dia, trouxe meu trabalho comigo para este maravilhoso espaço aberto, e eu estava sem juízo.

Não sou uma pessoa particularmente disciplinada e tento nunca levar meu trabalho para casa, mas o problema que me incomodava não era o tipo de coisa que eu poderia simplesmente deixar de lado no final do dia. Então lá estava eu, fora do horário e pronta para perder a cabeça.

O dilema me acompanhou para fora do local de trabalho.

— …O que diabos poderia estar acontecendo aqui?

Olhei para a areia no pequeno frasco.

Era areia de golem. Recentemente, tornou-se uma mercadoria bastante popular. Sei que nem sempre há uma boa razão por trás dessas modas, mas o súbito aparecimento de tanta areia encantada foi mais do que suficiente para despertar minhas suspeitas.

— Não importa como eu olhe, parece ser areia comum, mas…

Aparentemente, muitos estudantes da Universidade Estadual de Latorita compraram essa areia, então entreguei meu dinheiro e recebi o frasco em troca. Contudo, não importa quanto tempo olhasse para ela, ainda parecia areia comum.

Eu me pergunto se isso é realmente a areia das histórias… Claro, suponho que poderia ser falso.

— Ah, professora, coletar areia é um hobby?

Colocando meu café na mesa com um baque, a proprietária da padaria inclinou a cabeça com curiosidade.

— Você acha que eu estaria encarando algo assim por diversão, Elizabeth?

A dona da padaria, Elizabeth, ainda estava com a cabeça inclinada enquanto fazia uma expressão confusa.

— O que te faz ficar olhando para a areia…?

Para explicar, acenei com o braço e disse: — Recentemente, houve muita demanda por essa areia. Isso é muito estranho, então estou investigando. Tenho ordens de cima.

— Hum. — Elizabeth não parecia especialmente interessada. — A garota que trabalha aqui meio período também tinha um pouco disso. Então você quer me dizer que, hoje em dia, os estudantes universitários se divertem olhando para a areia…? Nunca vou entender isso. Não consigo entender como as crianças de hoje em dia pensam… Deve ser a diferença entre gerações.

— Eu realmente não acho que eles estão carregando isso porque gostam de olhar para ela. De qualquer forma, a garota que você mencionou, a que trabalha aqui meio período, por acaso se chama Alte?

— Ah, você a conhece?

— Ela é uma das minhas alunas.

— Meu Deus — disse Elizabeth. — Isso mesmo, é Alte. Ela deu um pouco dessa areia para sua amiga.

— Hmm…?

O quê? Tenho certeza de que Alte me disse que uma amiga havia lhe dado a areia… Talvez ela tenha dado de presente? Eu me pergunto o que isso significa.

— Então essa amiga, você sabe quem ela era?

— Hum… —  Elizabeth olhou para cima enquanto pensava. — Desculpe. Não sei o nome dela, mas… ela começou a vir com bastante frequência. Ela usa seu cabelo roxo em um rabo de cavalo e parece um pouco reservada.

Imediatamente soube quem ela estava descrevendo.

Tinha que ser Linaria.

Ela era uma garota do tipo lobo solitário que estava sempre estudando sozinha e nunca parecia conversar particularmente com ninguém. Lembrava-me bem dela, pois recentemente a pedi que me ajudasse a limpar a biblioteca.

No entanto, isso significaria que Elizabeth a tinha visto ultimamente com Alte, que não só estava sempre trabalhando, mas também não era o tipo de garota que fazia amigos facilmente. Certamente, isso era estranho.

E nos últimos dias, as notas de Alte melhoraram repentina e dramaticamente, junto com algumas outras ocorrências estranhas. Definitivamente havia algo acontecendo nos bastidores, mas para o que tudo isso poderia estar apontando?

Eu não tinha informações suficientes para ver o quadro todo ainda. Tudo o que podia fazer era balançar a cabeça.

Bem, tenho certeza de que tudo vai se resolver de alguma forma, decidi com otimismo.

Peguei minha xícara de café e tomei um gole.

— Mas é estranho…

Elizabeth estava ao meu lado, parecendo perplexa.

— Acho que Alte foi a algum lugar, embora devesse estar trabalhando. Ela estava aqui há pouco com aquela garota de cabelo roxo, mas…

Ela estava olhando vagamente para uma cadeira vazia, onde alguém havia deixado uma mochila de aluno, um relógio de bolso e uma xícara de café recém-servida com vapor ainda saindo dela.

As duas garotas não estavam em lugar algum. Era como se elas tivessem desaparecido no ar.

— …Voltar ao passado? Uh, hum… não sei do que você está falando.

Meu coração estava batendo rápido.

Foi como na primeira vez que andei com Linaria, mas estava batendo em um ritmo totalmente diferente. Suor frio escorria pela minha bochecha enquanto um arrepio percorria minha espinha.

— Não adianta se fazer de burra, —  Linaria me disse com uma voz fria. — Eu já sei de tudo. Bem, não tenho certeza de onde conseguiu essa coisa, mas… você tem um relógio de bolso, certo? Um prateado, antigo.

— …!

— Você é uma péssima mentirosa. Aposto que você é honesta demais. — Ela olhou para baixo, olhando por cima do meu corpo. — Você provavelmente está com ele agora. Cadê? No seu bolso, talvez?

— …!

— Você é muito fácil de ler, hein?

Ela estava sentada em sua cadeira. E eu estava perto.

Do jeito que estávamos, era como se eu estivesse sendo repreendida na escola ou algo assim. Linaria se portava de uma maneira que a fazia parecer muito mais velha.

— Eu tenho mantido isso em segredo até agora, mas vou te contar algo bom.

Ficou claro para mim que, geralmente, quando alguém me dizia algo bom, e dizia como Linaria havia dito, não era realmente nada bom.

— Esse relógio originalmente pertencia a mim. Ou melhor, é mais correto dizer que eu também tenho um.

Ela remexeu no bolso e colocou um relógio na mesa. Tinha exatamente o mesmo design do que eu tinha.

Obviamente, eu conseguia sentir o meu em meu próprio bolso também.

Em outras palavras, isso significa que existem dois dispositivos de viagem no tempo. Espere, mas se ela era a dona original, então… hein? O que está acontecendo aqui?

Estava obviamente tendo problemas para acompanhar.

— …como você sabia que eu tinha o relógio…?

— Esta coisa é um relógio de reversão do tempo. Como você já sabe, ele tem o poder de enviar alguém de volta no tempo. Pode levá-la de volta um dia, dez anos, até cem anos, se você estiver decidida.

Claro, eu tinha tentado tudo isso, então simplesmente acenei com a cabeça.

Acariciando suavemente o pequeno frasco de areia de golem que eu havia entregue a ela, Linaria continuou. — E com o relógio de reversão do tempo, você pode trazer coisas do passado para o futuro. Da mesma forma que também pode levar as coisas do futuro de volta ao passado. Incluindo o próprio relógio.

Ela me contou como a magia funcionava.

O feitiço seria ativado no momento em que alguém apertasse o botão na lateral do relógio, enviando a pessoa que o pressionou de volta no tempo e, em seguida, devolvendo-a ao futuro após um período fixo de duração. Mesmo que essa pessoa, de alguma forma, perdesse ou descartasse o relógio no passado, ela ainda seria enviada de volta para o futuro depois que o tempo passasse.

— Estou assumindo que o relógio foi dado a você por alguém no futuro por alguma razão.

Não, caiu em mim, mas…

— Recentemente, tenho mantido você sob observação. Soube imediatamente que você tinha colocado as mãos no relógio de reversão de alguma forma. Suas notas de repente subiram, você começou a se destacar nas aulas e, além de tudo isso, conseguiu um pouco de areia de golem, certo? Não há outra explicação.

Suspirei de alívio quando ela me contou. Desde que peguei o relógio de reversão do tempo, ela de repente começou a vir para onde eu trabalhava. Achei que ela não tinha vindo simplesmente para estudar. Não sei quando ficou claro para mim, mas já suspeitava dela há algum tempo.

……

Muito embora, caso ela quisesse me espionar, talvez entrar abertamente na loja não fosse a melhor ideia. Vamos ignorar isso por enquanto.

Agora me senti envergonhada. Estava tão feliz por fazer uma nova amiga.

— Então é assim. O relógio de reversão do tempo era originalmente meu. Por favor, devolva-o. — Linaria estendeu a mão.

Mas…

— De jeito nenhum. —  Eu dei um passo para trás. — Por que eu deveria? Se houver dois relógios que revertem o tempo, então eu posso ter um, e você pode ter o outro, e nós duas poderemos voltar no tempo, certo? Não tenho nenhum motivo para devolvê-lo, tenho?

Mas Linaria suspirou profundamente com meu contra-argumento e balançou a cabeça.

— Isso não pode acontecer. — Ela abriu seu próprio relógio de reversão de tempo, então apertou o botão lateral bem diante dos meus olhos.

Mas nada aconteceu.

Apenas um ruído de clique sem vida.

— É como você pode ver. Sempre que dois relógios com reversão de tempo existem de alguma forma no mesmo lugar, apenas o que foi enviado de volta do futuro pode ser usado. Em outras palavras, seus poderes não podem ser duplicados. Então devolva —, ela disse novamente.

— ……

Mas é claro que eu não queria devolver. Não poderia devolver. Não depois que finalmente comecei a aproveitar a vida. Não depois que enfim estava me encaixando na escola. Não havia como eu simplesmente jogar tudo isso fora.

Nem mesmo por uma amiga.

— Entendo. Você não quer devolver, não é? Tudo bem então. — Imediatamente depois que disse isso, Linaria puxou meu braço com força para perto dela. — Nesse caso, vou tomá-lo à força! — Então ela começou a procurar nos meus bolsos.

— Espere…! Pare, por favor! O que você está fazendo?! — Agarrei seu braço e resisti.

O relógio de reversão do tempo caiu do meu bolso, e nós duas o pegamos, puxando-o para frente e para trás entre nós em um cabo de guerra.

— Você não está usando corretamente. Pertence a mim.

— Não! Você é tão mesquinha! Você usou o relógio de reversão do tempo para melhorar suas notas, não foi, Linaria? O que você quer fazer monopolizando um dispositivo tão útil só para você?!

— Não estou usando de forma imprudente como você! Eu sou capaz de usá-lo mais eficientemente.

— Mesmo assim, Eu! Disse! Não!

Lutamos pela posse do relógio, nenhuma de nós disposta a soltá-lo.

— Entregue!

— De jeito nenhum!

Enquanto estávamos brigando, algo… nada bom, aconteceu. O relógio começou a fazer um barulho lamentável, e então…

— Kiiiiii…

Uma de nós, eu ou ela, provavelmente apertou o botão por acidente. Quando percebi, o relógio de bolso já estava emitindo sua luz branco-azulada.

— …Huh? — Fiquei atordoada.

— …Ah! — Linária franziu o cenho.

E então, o tempo foi se desenrolando, indiferente aos nossos desejos.

Estava quase na hora de fechar a padaria e as duas alunas desaparecidas não haviam retornado.

— O-o que devemos fazer…? Você acha que elas foram sequestradas…? — A dona da padaria, Elizabeth, estava começando a entrar em pânico, mas era difícil imaginar que alguém seria capaz de sequestrar descaradamente duas garotas da Universidade Estadual de Latorita em uma loja como esta.

— Elas provavelmente estão relaxando em algum lugar juntas, você não acha? —  Eu disse quando comecei a vasculhar a bolsa que elas deixaram para trás, mas Elizabeth balançou a cabeça.

— Alte não é o tipo de garota que faz algo assim. Além disso, a outra aluna que veio hoje parece uma jovem de personalidade séria…

— …Parece que sim. Huh.

Todas as coisas de Linaria estavam na bolsa. Não apenas seu material escolar, mas sua carteira e sua varinha também. Seria difícil imaginá-la deixando para trás se ela tivesse fugido sozinha.

— Por enquanto, deixe este assunto comigo — falei enquanto recolhia as coisas de Linaria. — Vou fazer as rondas e procurá-las. Se ainda assim não as encontrar, podemos pensar em outra coisa.

Coloquei tudo na bolsa – o pequeno frasco de areia que havia sido deixado sobre a mesa, seu material escolar e o relógio de bolso.

— Por favor, encontre-as…

Elizabeth estava franzindo a testa, parecendo muito preocupada.

Eu respondi: — Deixa comigo. — Na esperança de deixá-la menos preocupada, pelo menos um pouco, sorri. — Afinal, é trabalho de um professor cuidar de seus alunos.

Assim que vimos a paisagem diante de nossos olhos, ficou claro que não havíamos voltado apenas alguns dias, ou mesmo vários anos.

— ……

— ……

Tudo ao nosso redor era diferente, até onde a vista alcançava.

Estávamos bem no centro de um terreno baldio. Não havia vestígios da padaria (ou de sua sala de jantar anexa). Apenas ervas daninhas e areia.

A cidade também parecia estranha. Deveríamos ser capazes de ver fileiras e mais fileiras de prédios altos, mas as únicas estruturas ao redor eram barracos de madeira rudimentares. Não parecia muito uma cidade.

Na verdade, parecia que estávamos em algum lugar no campo. A paisagem me fez sentir um pouco nostálgica.

— …De jeito nenhum. — Linaria me soltou e começou a correr. Ela estava obviamente muito confusa com a mudança repentina no ambiente.

— Quantos anos no passado nós viajamos…? — Olhando ao redor do lugar, Linaria disse: — Agora, este lugar… Esta é a Latorita de quantos anos atrás?

Por insistência dela, olhei para o relógio de reversão do tempo. Olhei para o tempo que tinha sido definido. Quando nós duas estávamos brigando por causa disso, devemos ter pressionado alguns botões por engano.

Olhei para o relógio incrédula.

— …Whoa.

Uma quantidade de tempo inacreditável e incompreensível estava sendo mostrada.

— …Quatrocentos anos.

— ……

— ……

Nós nos encaramos por um momento.

— E quanto tempo dura a nossa estadia?

— …… — Minha boca ficou muito, muito pesada quando abri para dizer: — Dez horas…

Que nossa situação atual era terrível, não é preciso dizer.

Se um ano de viagem significasse dez minutos de atraso em nosso retorno, então um salto de quatrocentos anos significava que, quando chegássemos em casa, cerca de quatro mil minutos, ou sessenta e sete horas, teriam se passado. Eu teria que desistir do prêmio pela presença perfeita que secretamente estava de olho. E sabia que Linaria, a aluna de honra, estava pensando a mesma coisa.

Timidamente, olhei para ela. Tinha certeza de que ela devia estar furiosa.

— Quatrocentos anos…? Você disse quatrocentos anos atrás…?

Não apenas isso. Estávamos presas nesse tempo pelas próximas dez horas.

Eu estava totalmente convencida de que Linaria estava com raiva.

— Quatrocentos anos atrás…!

Foi o que pensei, mas assim que olhei para o rosto dela, todo o remorso e os sentimentos de introspecção que brotavam do fundo do meu coração desapareceram completamente.

— ……

Diante de mim estava uma garota praticamente babando de entusiasmo, os olhos brilhando enquanto ela olhava para o lugar ao seu redor.

Ela não era a mesma de sempre, uma estudante de honra fria e atraente, mas sim uma jovem hiperexcitada que acabara de embarcar na maior viagem turística de todos os tempos.

— Hum, Linaria…?

— Quatrocentos anos atrás foi quando a biblioteca deste país foi fundada…! Ah-há! Ah-há-há…! Eu ainda não estive nessa época, mas… Então esse é o tipo de país que era…! E pensar que daqui a quatrocentos anos, será um importante destino turístico para tantas pessoas… ahh…! Já posso sentir o peso de todos esses anos!

Falando consigo mesma dessa maneira, ela se agarrou à parede de uma casa próxima. A mulher que morava na casa olhou para ela com uma expressão intrigada.

— Tão quente… Então isso é… um muro construído quatrocentos anos atrás…

Quero dizer, é apenas uma parede comum, mas…

— Eu amo isso…

Quem é essa pessoa?

A imagem que eu tinha da fria e distante Linaria estava desmoronando rapidamente. O que tínhamos aqui agora era apenas uma entusiasta comum de história.

— Oh…? Se não me engano, é aqui que ficarão os dormitórios dos estudantes no futuro… — Ela me deixou para trás e voou aqui e ali pelo lugar. — Entendo… nesta época, é apenas um campo comum… ah… que incrível…

Não podia adivinhar o que era tão incrível, e particularmente não me importei em perguntar.

— Entendo… então eles também vendiam pão em barracas de beira de estrada nesta época… A história é realmente incrível… — Ela parou em frente a uma barraca de pão em uma esquina, mas imediatamente depois, caiu de joelhos. — Ah…! Como isso pode ser…?! Deixei minha carteira no futuro!

Aparentemente, ela estava de mãos vazias durante nossa briga, então não trouxe nada com ela.

— Hum. — Felizmente, eu gostava de ficar de olho no meu dinheiro, então mantinha minha carteira no bolso mesmo enquanto trabalhava. Estava comigo agora. — Se você quiser, eu poderia te emprestar algum dinheiro…?

— …! — No instante em que disse isso, ela olhou para mim, os olhos brilhando. — …Você não se importa?

— Nem um pouco, contanto que me pague depois…

Quando eu disse isso, sua expressão instantaneamente se suavizou em um sorriso angelical.

— Obrigada!

Depois disso, ela riu para si mesma enquanto mordia um pouco de pão.

Eu me pergunto se essa infantilidade é um efeito colateral da viagem no tempo. Nós voltamos bem longe…

Seguindo o exemplo dela, também comprei um naco de pão, mas estava velho depois de ficar muito tempo ao relento. Não era delicioso, mas era barato e enchia o estômago.

— Realmente… é sua culpa que acabamos nesta era louca — disse Linaria. — Então, o que você vai fazer sobre isso? Estava tentando ganhar meu prêmio de presença perfeita. Como vai assumir a responsabilidade por isso?

— Desculpe, mas antes que eu responda, podemos jogar fora este pão horrível?

— Oh-hoh-hoh, temo que não. Você não vê? Este é o sabor da história!

— É nojento…

— De qualquer forma, estamos presas aqui no passado distante pelas próximas dez horas. Que confusão fantástica.

— Acho que você e eu temos preocupações diferentes, Linaria.

O humor de Linaria estava obviamente elevado, enquanto meus espíritos estavam amortecidos, em contraste.

Meu Deus, ela sempre foi assim?

— Bem, o que você pretende fazer agora? — Linária perguntou.

É claro que eu não tinha planos. Balancei minha cabeça negativamente.

Quando o fiz, ela disse: — Entendo. Bem, então vamos para a escola —, e de repente agarrou minha mão.

Ela começou a andar, me arrastando com força atrás dela. Do outro lado da tranquila cidadezinha havia um prédio um pouco maior. Com base no tamanho da escola nos dias atuais, era difícil imaginar que esse lugar minúsculo pudesse ser isso, e sua forma abandonada não se parecia com nada que eu chamaria de escola.

— …O que você quer dizer com “ir para a escola”? — Inclinei a cabeça sem entusiasmo. Nós tínhamos dez horas para matar, então provavelmente iria concordar com o que ela propôs de qualquer maneira.

— Oh-ho-ho. Você não sabia? A Universidade Estadual de Latorita não passava de uma biblioteca. O que você pode ver agora é provavelmente a biblioteca dos velhos tempos. Com o tempo, ela se transformará na escola que conhecemos. Talvez seja possível darmos uma olhada lá dentro!

— Você está falando muito rápido…

— Tudo bem vamos lá!

Ela não parecia ter nenhum arrependimento sobre nossa viagem acidental.

Quatrocentos anos no passado… Essa visita nos custaria quase três dias no presente. Linaria era uma garota séria, sempre dedicada aos estudos. Mesmo que ela quisesse visitar essa parte da história, teria dificuldade em encontrar tempo por causa da escola.

Honestamente, se ela não tivesse sido trazida aqui por acidente, poderia nunca ter visto esta época. E eu nunca a teria visto agindo como uma colegial tonta.

Independentemente das circunstâncias, agora era como se compartilhássemos um segredo entre nós duas, e isso me fez sentir um pouco feliz.

Talvez porque ela me sentiu sorrindo, Linaria se virou. — Bem, parece que você começou a se divertir também, hein?

— Não, eu não.

Como se viu, Linaria e Alte, juntas, pareciam ter desaparecido da face da terra. Eu não conseguia encontrá-las, não importa onde procurasse.

Assim como com os dois livros que desapareceram completamente da biblioteca, as duas garotas simplesmente sumiram.

A notícia de que Linaria, a melhor aluna da escola, e sua amiga Alte, haviam desaparecido, se espalhou rapidamente pela escola e pela cidade. Embora seja mais correto dizer que eu espalhei.

— Você viu essas duas em algum lugar?

Antes da aula e durante os intervalos, eu andava perguntando aos alunos, mas sem sucesso. Todos balançaram a cabeça da mesma forma e respondiam: “Eu as vi na aula ontem” ou “Vi Alte trabalhando em seu emprego de meio período na padaria”.  Tudo o que consegui foram informações que complementavam o que já sabia sobre seus movimentos logo antes de desaparecerem.

— Senhoritaaa…

Aparentemente, os estranhos eventos que acontecem nesta escola não pararam com o desaparecimento das duas meninas. Vários alunos já haviam me abordado com problemas estranhos, dizendo: — Olhe isto, por favor. Veja, a areia de golem que comprei mais cedo desapareceu!

Eles provavelmente ouviram o boato de que Linaria e Alte também tinham areia de golem e pensaram que talvez tivesse alguma conexão com o que aconteceu com elas. Vários alunos vieram me consultar sobre essa mesma coisa. Qualquer conexão entre a areia e os desaparecimentos não era clara, mas assenti e disse: — Obrigada pela informação.

Entretanto, no final do dia, não importa quanta informação eu obtivesse, as duas ainda estavam desaparecidas.

E não havia ninguém por perto que pudesse resolver esse problema.

Eu estava perdida. Nos desaparecimentos – e especialmente nos casos de sequestro – a passagem do tempo reduz notavelmente a taxa de sobrevivência das vítimas. Se não me apressasse… Se não tomasse algum tipo de ação, seria tarde demais.

— …Ah! — Sentada à minha mesa, preocupada com o que fazer, de repente me ocorreu.

E se eu questionasse as posses das meninas?

Não sei porquê não me ocorreu antes. Me chutando por não ter pensado nisso antes (apesar do fato de eu frequentemente conversar com meus próprios pertences), peguei minha varinha na mão e, em uma sala de aula vazia, alinhei os pertences das meninas que havia recuperado da padaria.

— ……

Uma varinha. Material escolar. Um planejamento do dia. Uma carteira. Algum tipo de livro didático. Um romance policial. Uma novela romântica. Um romance histórico. Areia de golem. E… um relógio de bolso.

Entre todas as coisas, o relógio foi o que provavelmente passou mais tempo com Linaria.

Eu imediatamente apontei minha varinha para o relógio de bolso e lancei um feitiço. Não havia necessidade de se transformar em um humano. Bastaria ouvir sua voz. Espalhei magia sobre o relógio de bolso diante de mim.

— Olá, Bruxa Cinzenta, Elaina.

O relógio abriu a boca imediatamente. Bem, não tinha uma boca, exatamente, mas você entendeu…

— Olá, Senhorita Relógio de Bolso. Há algo que gostaria de perguntar a você.

— Não sou um relógio de bolso — respondeu em voz baixa. — Sou conhecido como um relógio de reversão do tempo e estou bem ciente do problema que está incomodando você. Posso garantir a você que aquelas duas garotas não desapareceram simplesmente, e também não fugiram juntas.

Com naturalidade, o relógio me disse a verdade.

— Elas voltaram no tempo.

No momento em que chegamos à biblioteca, não seria exagero dizer que a excitação de Linaria atingiu seu pico.

O próprio edifício parecia completamente diferente de sua encarnação moderna. As prateleiras tão altas que você tinha que olhar para cima não estavam lá, nem as áreas abertas. Parecia uma biblioteca completamente comum, com fileiras organizadas de estantes altas o suficiente para olhar se você ficasse na ponta dos pés.

Mesmo assim – não, principalmente por causa do estado atual da biblioteca – Linaria parecia ainda mais animada. — Uau…! Pensar que esta biblioteca mudará com o passar do tempo para aquela que conhecemos…!

Assim que passamos pela entrada, ela começou a vagar inquieta ao longo de cada prateleira, ooh e ahh. Ela parecia poder até começar a chorar.

Mas a antiga biblioteca, aquela diante de nossos olhos no momento, continha traços claros de sua forma moderna. Não parecia que a arquitetura do prédio havia mudado muito.

— ……?

Isto é, exceto por uma parte.

Quando andei pela biblioteca dessa época, vi uma coisa que ela não tinha nos dias atuais.

Nos fundos da biblioteca, bem na seção onde ficava a sala de registros históricos nos tempos modernos, havia uma caixa.

Era quase tão alta quanto eu. Sua largura e profundiddade eram quase iguais, tornando-se um cubo. Era feito de tábuas de madeira e pintado de preto profundo e estava posicionada discretamente nos fundos da biblioteca.

O que no mundo?

Passei minha mão sobre a superfície da caixa e bati nela enquanto dava uma olhada de perto. Como eu, Linaria tocou a caixa — Oh meu Deus, eu posso sentir a história… — e começou a esfregar sua bochecha nela. — Eu amo isso…, —  ela murmurou.

Então, enquanto for velho, qualquer coisa velha serve? Que sem vergonha…

— Ei, ei, vocês duas! Não toquem nessa caixa.

Destinada principalmente a Linaria, que estava acariciando intencionalmente a caixa com a bochecha, uma voz de reprovação veio voando até nós. Quando nos viramos, havia uma única bibliotecária parada ali, olhando para nós.

— É um objeto precioso — falou. — Não é algo para crianças como vocês tocarem!

Arrancada da caixa, Linaria olhou para a coisa misteriosa com avidez. — Mas eu queria olhar um pouco mais…

Depois disso, nos distraímos lendo livros antigos na biblioteca antiga. Havia tantos livros aqui que não existiam mais em nosso tempo ou que estavam muito gastos para serem lidos e agora eram mantidos longe do público.

Para Linaria, era como uma montanha de tesouros. Ela se entregou avidamente à leitura, os olhos brilhando.

— ……

Para ela, o passado era uma coisa tão linda e preciosa. Ela era completamente diferente de alguém como eu, que tinha acabado de usar o relógio para aumentar meu tempo pessoal.

Certamente, ela seria muito mais feliz possuindo-o do que eu seria. Eu teimosamente havia dito que não devolveria, mas senti que agora havia chegado a hora de reconsiderar.

— …Linária? — Olhei para a hora no relógio de reversão. Tínhamos sete horas restantes. — Quando voltarmos para o futuro, vou devolver isso para você.

Ela abriu um pouco os olhos, como se estivesse surpresa, então abriu a boca e respondeu: — …Entendo. Fico feliz que você entenda.

— Mas eu ainda poderia viajar de volta no tempo com você de vez em quando? — Expliquei-me melhor. — Também quero mergulhar em espaços inusitados como este. Fico feliz em acompanhá-la sempre que você viajar para o passado, então não poderia me levar com você às vezes?

— Meu deus. Você só tropeçou no relógio de reversão do tempo por acaso, e ainda assim acha que pode fazer exigências?

Linaria respondeu minha pergunta com uma pergunta.

— Então… isso é um não?

Respondi a ela com outra pergunta.

Por um momento ou dois, ela agiu como se estivesse pensando sobre isso. Então, depois de um silêncio constrangedor, ela disse: — Se for apenas ocasionalmente, bem, acho que tudo bem. De qualquer forma, você já conhece o segredo do relógio de reversão do tempo.

Dando essa desculpa, ela se virou bruscamente.

Não importa o relógio de reversão do tempo. Você não percebe que eu coloquei minhas mãos em um segredo muito mais interessante? Não que eu me importe, no entanto.

Ela e eu éramos tão diferentes quanto poderíamos ser. Poderíamos muito bem ter vivido em mundos diferentes, mas, ao compartilharmos esse segredo, milagrosamente, senti como se estivéssemos um pouco mais próximas. E descobri que essa garota inacessível era realmente uma estudante simples, assim como eu.

E então.

Justo quando estava ficando confortável com o silêncio.

As portas da biblioteca se abriram de repente.

De pé imponente do outro lado das portas estava uma bruxa.

Seu cabelo laranja estava preso em um único rabo de cavalo na lateral de sua cabeça, e depois de pigarrear alto, ela se apresentou.

— Olá. Eu sou a bruxa Natasha.

— …Então você está dizendo que as duas estavam brigando pelo relógio de reversão do tempo de Alte quando elas acidentalmente voltaram no tempo, certo?

— É como você diz. E o fato delas ainda não terem retornado significa que elas foram bem longe. Não, muito atrás no tempo. Várias centenas de anos mais ou menos. — O relógio de bolso, anteriormente conhecido como relógio de reversão do tempo, me disse tudo isso com indiferença. — Portanto, se você esperar por elas, tenho certeza de que elas voltarão em breve. Não é nada para se preocupar.

Esta série de explicações diretamente do próprio relógio foi absolutamente surpreendente. Ser capaz de retroceder facilmente no tempo apenas pressionando um botão – esse e outros aspectos da história eram muito difíceis de acreditar, apesar de ouvi-los diretamente do relógio mágico.

— ……

No entanto, mesmo supondo que, como o relógio de reversão do tempo havia dito, as duas garotas tivessem viajado de volta no tempo, o que poderíamos fazer a respeito?

Se as duas tivessem voltado no tempo, se não existissem mais nos dias atuais, então eu não teria outras opções.

Além disso…

— Como vou explicar isso para as pessoas que estão procurando por elas…?

Se contasse para todo mundo que as garotas brincaram com um relógio e saíram em uma viagem no tempo, você realmente acha que alguém teria acreditado em mim?

Por enquanto, senti que o mais urgente era descobrir como explicar o que estava acontecendo. No entanto, esse não foi o único problema.

— …Hum?

De repente, percebi que, posicionado entre a carteira de Linaria, material escolar, livros didáticos e outros itens que estavam alinhados na mesa – a tampa do pequeno frasco que continha a areia do golem estava aberta.

A areia que deveria estar dentro do frasco havia desaparecido no ar. O interior do frasco estava completa e totalmente vazio. Não tinha lembrança de abri-lo ou mesmo tirá-lo de sua bolsa.

“A areia de golem que comprei mais cedo desapareceu!”

Lembrei-me das palavras que um aluno me disse antes.

Então, de repente, pelas minhas costas veio um som como algo seco e áspero farfalhando ao redor.

Eu me virei, e então vi.

Contorcendo-se no chão, olhando para todo o mundo como um ser com um propósito, depois fugindo da sala de aula para o corredor, estava uma figura feita de areia.

— Ah, saudações, Lady Natasha, Bruxa do Selo!

A bibliotecária que nos puxou para longe da grande caixa preta mais cedo deu as boas-vindas à mulher com os dois braços bem abertos.

A bruxa Natasha.

Eu reconheci o nome, é claro. Havia uma lenda em uma terra distante que afirmava que ela era uma bruxa poderosa que havia derrotado um dragão há muito, muito tempo.

Estava muito preocupada sobre porquê uma mulher como aquela estava em um lugar como este.

— O quê? O quêêêêê…? — Mas se tivesse que escolher, estava mais preocupada com a forma como Linaria estava tremendo. — O-o-o que eu faço?! É Natasha! A verdadeira Natasha!

— Você não está exagerando?

Claro, ela foi a celebridade que acabou com todas as celebridades, mas e daí?

— Entendo. Então é isso. Você precisa que eu sele isso debaixo do chão da biblioteca bem rápido, certo? — Passando por mim e Linaria, a grande bruxa Natasha, ou quem quer que seja, olhou para a caixa preta. — Hmm… Onde você encontrou isso?

Ela se virou para olhar para a bibliotecária.

— Oh, um dos moradores da cidade encontrou na floresta. Aparentemente, a energia mágica da floresta teve algum efeito na areia… Tenho certeza que você vai entender se der uma olhada dentro da caixa, mas essa areia agora está emitindo energia mágica.

— Você está dizendo que tem o mesmo tipo de energia que as árvores da floresta?

A bibliotecária acenou para Natasha.

Como a energia mágica é gerada principalmente nas profundezas das florestas, diz-se que os magos são capazes de disparar feitiços mais poderosos do que o normal em lugares com muito verde. Isso é o que eles me ensinaram na escola.

Em suma, a bibliotecária queria ter dito que a areia armazenada na caixa preta era capaz de cumprir o mesmo papel que a flora da floresta.

— Lady Natasha, gostaríamos que você nos deixasse usar esta areia como fonte de energia para a biblioteca — disse a bibliotecária. — Por exemplo, poderíamos inventar uma maneira de fazer os livros da biblioteca retornarem aqui automaticamente ou emitir feitiços de alerta se ocorrer um roubo. Pode fazer isso?

— …Bem, não é exatamente impossível. — Natasha prontamente levantou a tampa da caixa preta. — Mas a quantidade é um pouco problemática…

— Não há o suficiente?

— Tem demais. Se acumular um pouco mais de energia, a areia começará a se mover por conta própria. Será impossível contê-la. Pode ser desastroso.

— Ha-ha-há. Não se preocupe. Juntei até o último pedaço de areia da floresta, e não havia mais do que isso. Não há nada para causar um desastre.

— …Tudo bem, se for verdade…

— Então, por favor, sem demora, você vai selar isso embaixo da biblioteca?

Natasha acenou com a varinha. — Claro, claro.

— Então foi assim que a escola conseguiu todos os seus misteriosos equipamentos mágicos… Entendo, que esclarecedor, mm-hmm. — Neste momento, uma aluna muito rudemente se intrometeu na conversa. Seu timing foi horrível.

Obviamente, fui eu.

— …E isso seria? — Natasha olhou para mim e para a bibliotecária.

— Eu sou Alte! Olá. Esta é minha amiga Linaria. — Eu puxei a manga de Linaria.

— Espere… o que você está fazendo?! Pare com isso!

Oh-hoh-hoh, do que você está falando?

— Linaria, esta é sua chance! Vá buscar o autógrafo dela.

— Huh? Autógrafo…? De todos os presunçosos…

— Por que você está hesitando? Tivemos todo o trabalho de viajar para o passado, você não quer uma lembrança?

— …… — Linaria estava obviamente chocada. Ela continuou olhando intensamente para Natasha e então rapidamente desviando os olhos dela. — E-eu não posso… De jeito nenhum… Um autógrafo seria…

…Talvez seja a primeira vez dela?

Ao contrário de Linaria, eu não tinha nenhuma admiração particular pela grande bruxa ou quem quer que ela fosse, embora ache que minha reação inexpressiva só a irritou.

— Você é minha fã? Meu Deus, estou corando! — Natasha franziu a testa. — No entanto, realmente não me lembro de ter feito nada para me gabar.

— Isso não é verdade! — Foi Linaria quem encerrou isso categoricamente. — Li muitos, muitos livros na minha vida, mas não conheço nenhuma bruxa que tenha deixado para trás conquistas tão incríveis quanto você.

Depois disso, Linaria continuou, explicando sem parar o que fazia de Natasha uma bruxa tão incrível. Parecia uma provação torturante, mas Natasha nunca deu qualquer indicação de odiar e apenas sorriu timidamente do início ao fim. — Minha nossa!

No final, nós duas conseguimos nossos autógrafos. Aparentemente, desde que ela havia erradicado o dragão, ela estava acostumada com os fãs se aproximando dela, e quando assinou seu nome, ela balançou a caneta no papel com uma mão extremamente hábil.

— Agora, então. — Natasha guardou a caneta. — Vocês duas, por favor, me dêem algum espaço. Tenho trabalho a fazer.

Então ela lançou um feitiço.

A tampa da grande caixa preta de madeira levitava suavemente no ar, e a areia jorrava dela como água, derramando-se no chão. Os grãos permaneceram na superfície brevemente e depois desapareceram no chão.

— Certo, tudo feito.

A coisa toda aconteceu muito rápido. Tinha certeza de que me disseram que essa areia era um material precioso que emitia energia mágica, mas foi tratada com bastante descuido e acabou sendo absorvida pelo chão da biblioteca.

O que diabos acabou de acontecer?

Percebendo minha expressão confusa, Natasha respondeu à minha pergunta não dita. — Agora mesmo, você vê, eu selei a areia no chão da biblioteca. Por muitos anos, esta biblioteca será uma fonte de energia mágica. Será possível usar essa energia para lançar feitiços nos livros para fazê-los retornar automaticamente, e todos os outros tipos de artifícios.

Entendo, entendo.

Na biblioteca atual, havia um mecanismo que fazia com que quaisquer livros restritos que fossem retirados dela voltassem por conta própria em um dia. Isso também deve ter sido fornecido pela energia mágica emanada da areia selada sob a biblioteca. E o incinerador perpetuamente em chamas atrás da escola era provavelmente o mesmo.

— Isso é muito importante, então vou dizer mais uma vez. — Natasha virou-se para olhar para a bibliotecária e continuou: — Você nunca deve, sob nenhuma circunstância, adicionar areia, mesmo que queira mais poder. A quantidade que acabamos de colocar é a quantidade máxima que pode ser usada com segurança. Se você adicionar mesmo a menor quantidade a mais, será desastroso.

— ……

— ……

Linaria e eu nos entreolhamos.

Areia.

Eu trouxe areia do passado para o futuro.

……

De repente, tive um mau pressentimento.

A areia ganhou vida em todo o campus. Foi a areia que escapou de mim e a areia que escapou dos alunos.

E havia muito dela. O pensamento da enorme quantidade de areia circulando na escola foi o suficiente para fazer minha cabeça girar.

Pouco a pouco, congelei os grãos de areia no gelo, mas infelizmente, eu só tinha duas mãos.

— Não tem fim!

Meus esforços não seriam suficientes.

A areia que teve a sorte de escapar dos meus ataques de gelo deslizou pelo chão e desapareceu em algum lugar.

Eu a persegui pela escola, congelando torrões de areia no gelo em todos os lugares que eu ia. Algumas areias me atacavam, enquanto outras areias fugiam. E havia algumas que se comportavam como areia normal e ficavam lá.

Cada grão de areia parecia ter seu próprio temperamento, mas tudo obedecia a algum propósito peculiar.

Correndo pela escola, finalmente cheguei à biblioteca. Uma das cobras de areia havia se refugiado lá dentro.

— …E este lugar acabou de reabrir…

Eu me perguntei o que faríamos se os livros fossem danificados porque essa areia estranha deslizou por eles.

Com um suspiro exasperado, abri as portas da biblioteca.

E depois…

— ……Huh?

…Eu vi.

Uma enorme quantidade de areia. Como se com propósito, pulsava e inchava acima do chão. Quando me notou, virou-se e fugiu com movimentos rápidos e ágeis, como um rato assustado com a sombra de um humano.

No chão.

— ……Hum?

O chão da biblioteca balançou levemente. Senti um tremor rápido sob os pés, como se algo estivesse batendo no chão por baixo ou como se o próprio chão estivesse vibrando. De novo e de novo, um barulho ecoou do subsolo. A biblioteca inteira tremeu, e uma fissura profunda se abriu no chão.

Uma vez que a rachadura inicial foi gravada no chão, o resto aconteceu rapidamente. O chão da biblioteca inchou com um rangido, derrubando as estantes em uma avalanche de papel.

Finalmente, o piso se abriu completamente.

E.

Um monstro com um corpo como uma pilha de pedregulhos rastejou para fora do chão.

— ……Huuum?

Um golem havia se materializado.