A Longa Jornada: O Outono na Cidade é Duro para uma Garota do Campo
Por muito tempo, meu maior desejo foi me tornar uma maga.
Tudo começou com um livro que alguém leu para mim quando eu era pequena. O mago na história era forte, legal e a magia parecia ser algo tão útil. Claro, eu não sabia muito bem que tipo de pessoa eram os magos, mas, de alguma forma, pareciam ser incríveis. Era a aspiração simples de uma menina com a leve tendência de sonhar acordada, mas perto do meu oitavo aniversário, este passou a ser meu maior sonho; meu propósito na vida.
Naquele dia, tive um encontro que mudaria para sempre o rumo da minha história.
Quando toquei no assunto de me tornar uma maga com meu pai, ele se opôs veementemente.
— Má’ que cargas d’águas cê tá pensano, guria? ‘quelas maracutaias nun fazem o mió sentido! (sotaque) — Ele retrucou.
Já minha mãe disse: — Quê… ? Sá menina deve tê perdido uns parafuso na cabeça. Tá se sentindo mal, docin? (sotaque) — E se preocupou com os pensamentos que ocupavam minha mente.
Mas nada de surpreendente nisso.
O começo real da minha jornada mágica foi uma viagem em família à cidade grande para comemorar meu oitavo aniversário. Foi lá onde tudo começou de verdade.
Quê? Que tipo de pais dão de presente de aniversário para sua filha única uma porcaria de viagem a uma cidade…? — Perguntei-me naquela época, mas os pontos turísticos foram bem divertidos.
Foi a primeira cidade que vi e estava cheia com fileiras de prédios altos. Se comparado à nossa cidade natal, onde a maioria das casas só tinham um único andar e o maior prédio visto só tinha dois, essa cidade parecia uma metrópole para os ricos e famosos
E ali estava eu, me perguntando quão incrível era para pessoas conseguirem viver em prédios tão altos sem que eles caíssem conforme meus pais me puxavam pela mão.
— Aqui, Alte, olha para isso. — Meu pai disse enquanto apontava para um prédio próximo. — Aquela é a casa de uma pessoa rica que vive na capital. — (Me lembro que ele falou de um jeito bem educado para que as pessoas ao redor não percebessem que éramos caipiras do campo).
Pouco depois, aquela parte toda da cidade explodiu
— …
— …Papai, cê consegue usar magia? (sotaque) — Olhei confusa para o meu pai, mas claro, não era ele o responsável pela explosão.
Alguém me disse isso depois do ocorrido, mas naquele dia, na cidade que estávamos visitando – um lugar chamado Comunidade de Latoria – aparentemente algum tipo de monstro estava causando um alvoroço terrível.
Pedaços de gelo gigantes estavam voando pelo ar, prédios estavam ruindo e sendo estraçalhados, e as explosões reduziam seções inteiras da cidade a meros escombros. E, aparentemente, era tudo por causa de um monstro bem zangado.
A explosão fez meus pais entrarem em pânico. Eles começaram a gritar e fugiram com medo conforme fogo, gelo e pedra voavam para todo lado ao nosso redor. Não os culpo pelo medo. Meus pais agarraram minhas mãos e eu os agarrei de volta com toda minha força enquanto fugiamos. Nos misturamos com a multidão e só continuamos a correr.
Mas, de repente.
— Kyah!
A multidão de pessoas fugindo desesperadas separaram nossa família. Em uma guinada infeliz do destino, eu caí durante nossa fuga.
Conseguia ouvir os gritos dos meus pais chamando meu nome ao longe. Uma pontada forte se espalhou por toda minha perna, e pela dor que sentia só de tentar movê-la, sabia que seria inútil. Era bem improvável que eu conseguisse correr para qualquer lugar daquela forma.
Mas os infortúnios que caíram sobre mim não pararam ali. Um prédio estava ruindo bem perto, logo eu seria soterrada pelos seus escombros. Com certeza foi danificado pelo monstro.
Não tinha tempo para me preparar para a morte, nem tentei escapar do meu destino. Só consegui ficar sentada lá, encarando atordoada a avalanche vindoura. Meu corpo não respondia a qualquer comando que eu lhe desse.
E, então, conforme o céu era preenchido por toneladas de pedras.
*Crack!*
Um estalo alto ressoou.
— Quê… ?
Nunca mais esqueci o que vi depois.
Uma única maga estava de pé na minha frente
Ela deve ter destruído os escombros com um feitiço. Um pedregulho jazia partido no meio ao seu redor.
Então, a maga olhou de volta para mim.
Não consigo me lembrar muito bem do rosto ou do cabelo da mulher que salvou minha vida.
— …
Nem me lembro se ela me disse algo.
Nas minhas memórias, seu rosto e cabelo, e até seu físico, são coisas vagas, mas a admirei profundamente.
Do fundo do meu coração, pensei que ela era foda demais.
Pensei: Eu quero me tornar como ela.
Eu ansiava em me tornar uma maga.
Só conseguia encarar assombrada, mas então, ela esticou sua mão na minha direção, tocou na minha cabeça e afagou gentilmente.
Ali foi provavelmente o momento em que me apaixonei pela ideia dos magos.
Há um ditado que diz, não há nenhum tempo como o presente. Esse dia foi um marco de mudança na minha vida. Sempre fui o tipo de garota que mergulha de cabeça nas coisas e passei a estudar sobre magos o máximo que podia.
Assim que voltamos da nossa viagem, comecei a me isolar na única livraria que havia na nossa vila quase todo dia. De acordo com o que ouvi, havia uma escola de magia na Comunidade de Latoria, o lugar que visitei com meus pais e as pessoas podiam ir lá para aprender magia.
Então, comecei a treinar. Não havia uma única pessoa próxima que pudesse me ensinar, mas se queria entrar naquela escola, tinha que estudar. Então pratiquei bastante e, eventualmente, consegui aprender os feitiços do mais baixo nível. Foi uma surpresa descobrir que tinha um pouco de talento mágico.
Meus pais foram contra; Pensavam que querer me tornar uma maga era bobagem. Depois do incidente na cidade, decidiram que o campo era definitivamente melhor que aquele lugar, e eu pude perceber que seria muito difícil convencê-los. Porém, nunca parei de estudar, e quando mencionei que estava planejando pagar pela minha própria mensalidade, não demorou muito para ganhar o aval deles.
Eu estava de pé diante de meus pais preocupados. — Tudo bem, cês só precisam assistir — disse-lhes, jogando meu cabelo castanho para o lado para dar um drama. — Tô decidida a me tornar uma maga foda (sotaque).
Tudo isso aconteceu exatamente meio ano atrás.
E hoje.
— Se isso continuar, não teremos escolha a não ser te expulsar desta instituição.
Dentro de um prédio da escola vazio. O cenário lá fora era de um vermelho lindo.
Só eu, outra estudante, e outra professora sentadas em uma das salas onde geralmente dúzias de estudantes ficariam espremidos e estudando feitiços.
Suspirando cheia de exasperação, a professora me contou as notícias. Eu tinha o histórico questionável de ter falhado em todas as matérias na última rodada de provas.
— Quê? Expulsa…? Sério mesmo…?
Foi minha reação naquela hora. Fiquei boquiaberta, atordoada e foi o que eu disse.
— Não importa como olhe para isso, mas essas notas… — A professora disse dando de ombros. Ela parecia pronta para desistir, como se eu não valesse a pena o esforço.
— É um problema tão grande assim…?
— É bem seguro dizer que é sim. Suas notas em nosso currículo básico foram especialmente catastróficas.
— Ah… — Eu já estava em lágrimas.
Mas havia uma lista inteira de motivos para minhas notas estarem tão ruins.
Os exames tratavam da educação básica de oito matérias, e apenas quatro específicas. Por algum motivo, o repertório da educação básica da Universidade Estadual de Latoria era bem vasto. No passado, quando havia muitos estudantes, os cursos básico e específico eram separados. Também, a abundância relativa dos cursos de educação básica era uma relíquia daquela época.
— Mas eu não teria falhado se fosse apenas os cursos específicos… Tinham matérias básicas demais… — Eu só queria soltar pelo menos uma única reclamação. Estava num péssimo humor. — Sequer entendo o motivo da gente ter que estudar o curso básico para começo de conversa… aula de matemática é só decoreba de fórmulas e contas que não parecem ser muito úteis. Filosofia é só um monte de adultos que se acham donos da verdade transformando coisas que são óbvias em frases doidas para parecerem mais espertos. Já as aulas de história é só ficar repetindo a história desse lugar como se fosse algum tipo de reza, né? Nada disso me motiva muito.
Para resumir, estava dizendo: Quero virar uma maga braba! Mas não tenho interesse nessa educação básica!
A professora só franziu o cenho enquanto me ouvia resmungar argumentos mal aplicados.
— Tudo que aprender aqui certamente lhe será útil no futuro. Seu pensamento de que elas são perda de tempo é o motivo de ser você que está perdendo tempo aqui. — Ela suspirou. — Você ao menos está me ouvindo? O motivo de nós duas estarmos aqui é porque a escola não é só para estudar. É um lugar onde você aprende todo tipo de coisa. E você se tornará capaz de aprender coisas em todo tipo de área porque também está aprendendo como estudar.
— Como estudar…? — Não entendi muito bem. Então, só inclinei minha cabeça para o lado, confusa.
A professora apontou seu indicador para mim, a estudante “burrinha”.
— O método que você usa para estudar varia dependendo da matéria, certo? Para matemática, tenta compreender as fórmulas e as usa para resolver equações, já em história, você caça histórias do passado. E para filosofia, precisa meditar nas palavras dos filósofos e encontrar um significado para as suas teorias. Estudantes deveriam mudar espontaneamente como trabalham dependendo da matéria em questão. Claro, a informação em si que você estuda aqui provavelmente não lhe será muito útil no futuro, mas terá cultivado maneiras diferentes de trabalhar. Sua experiência estudando aqui lhe preparará para adquirir conhecimento quando se tornar adulta. Em outras palavras, estudar é sua chave para um futuro brilhante.
Então, a professora disse: — Caso me perguntasse se penso que estudar é ou não é necessário, posso te responder sem qualquer hesitação que absolutamente é. Nenhum único aspecto em sua vida aqui nesta escola é um desperdício, Alte. — A professora disse indiferentemente, em um tom tão insípido que não consegui não estremecer.
Em suma, o que ela está tentando dizer é: “Alguém como você, que nem consegue lidar com o currículo básico, tem um futuro bem triste lhe aguardando se algo não mudar.
Talvez porque sentiu quão abalada fiquei com suas palavras, ela sorriu gentilmente para mim e disse: — E escola também é um lugar onde se aprende a fazer amigos. Você tem algum?
— Quê? Por que você tá me perguntando isso do nada?
— Gastar todo seu tempo estudando não te levará longe na vida… — A professora continuou, mantendo seu sorriso leve, mas com um olhar distante em seu rosto. Realmente não entendi na hora, mas ela resmungou, — Aqueles que dão tudo de si só para conseguir boas notas são condenados ao ostracismos por todos ao seu redor… A fim de sobreviver na sociedade humana, você também precisa aprender a ser popular… Pessoas que só aprendem como estudar tendem a ter dificuldade quando partem para o mundo real…
Parecia que algo havia acontecido com ela em seu passado, mas não era como se eu pudesse pedir por mais detalhes.
Este era provavelmente o lado sombrio da professora.
— Ah, parando para pensar, você participou dessas aulas suplementares durante esses seis meses, então não tem algum amigo de estudo ou algo do tipo? Se sim, então tentar ensinar um ao outro seria uma ótima forma de estudar também.
Do que essa mulher tá falando?
— Com licença, Senhora. Primeiro de tudo, não tenho um amigo de estudo ou o que seja — disse, interrompendo ela.
A aula suplementar de hoje estava acontecendo numa sala vazia e eu era a única recebendo aulas particulares de uma professora.
Normalmente, as aulas depois da escola aconteciam na biblioteca, mas ontem, alguém se esgueirou lá no meio da noite e roubou um livro que não podia ser tirado de lá. Então, a escola fechou temporariamente a biblioteca Muitos livros de referência úteis estavam lá, então havia com certeza muitos estudantes que estavam angustiados e irritados por esse fechamento temporário, incluindo eu.
De qualquer forma, apesar dela estar na mesma sala que eu, a outra aluna com certeza não estava participando da aula suplementar.
A outra aluna.
Eu olhei de relance para ela.
— … — A menina de cabelo roxo amarrado em um rabo de cavalo estava encarando sua mesa, estudando silenciosamente. Seus olhos azuis frios não pareciam perceber meu olhar e ela nem ao menos se moveu um pouquinho.
Sentada lá naquela mesa estava uma aluna famosa.
Seu nome era Linaria.
Era uma estudante de honra que tirou dez em todas as provas que falhei.
O dia depois da rodada de provas, quando o quadro de pontuações foi colado no corredor, ela era sempre a pessoa no outro extremo de mim, encarando o quadro.
Em outras palavras, ela era um gênio. Filha de uma família boa também. E sendo dotada com ambos, intelecto e beleza, era praticamente perfeita. Basicamente, muito acima de mim em todos os aspectos.
Ela era intocável.
— …
Fiquei bem para baixo quando percebi a diferença absurda entre nós.
— Alte, — a professora tocou no meu ombro e disse gentilmente. — A propósito, sei que é um assunto diferente, mas… quando acabar de estudar, por favor jogue o lixo fora. A verdade é que os outros professores me forçaram a assumir essa tarefa…
— …
Fui uma tola por pensar por um instante que ela tentaria me encorajar. Em vez disso, a professora me deu um chute na cara quando eu já estava caída.
Acho que estou começando a entender como ela acabou gastando todo seu tempo estudando em vez de fazer amigos…
— Um, você não tá me pedindo para fazer isso porque você tá com pregui…?
— Bom, você pode pensar nessa como uma forma de estudar também.
— É óbvio que você só não quer fazer iss…
— Você não estava ouvindo? Nesta escola, não há um único aspecto irrelevante para você…
— …
Não pense que vou te perdoar só porque você tá falando breguice pra mim!
No fim, a professora ofereceu terminar a aula mais cedo se eu concordasse em ajudar, então tive que me tornar cúmplice da preguiça dela.
Nessa escola, jogar o lixo fora era um trabalho simples que consistia de pegar os sacos dentro das latas de lixo espalhadas por todo campus e jogá-los dentro do incinerador atrás de um dos prédios. Mesmo que conseguisse usar um feitiço para transportar grandes quantidades de lixo de uma só vez, ainda estava para nascer algo mais chato de se fazer que isso. Consequentemente, todos os professores e alunos odiavam fazer isso.
— Tá… pensa nisso como uma forma de aprender a estudar… — Menti para mim mesma conforme balançava minha varinha e jogava o lixo que peguei no incinerador.
Chamas engoliam o lixo pedaço por pedaço conforme eu jogava os sacos. As chamas mágicas transformavam o lixo em carvão de forma completamente independente. Não tinha certeza de onde vinha a energia mágica, mas havia muitas instalações estranhas neste lugar.
O lixo sendo jogado pedaço por pedaço; queimando no fogo crepitante. Eu, de pé lá só observando, com minhas notas lixosas. De repente, a inutilidade de tudo aquilo quase me esmagou.
— O que cacetas eu tô fazendo num lugar desses…? — perguntei ao incinerador com um suspiro. Meu suspiro cálido fez as chamas no interior balançarem levemente.
Me esforcei tanto para ir embora do campo pra estudar magia na cidade grande e, antes que percebesse, estava prestes a ser expulsa. Só não conseguia acompanhar as aulas.
Nessa situação, não havia chance alguma de eu ao menos conseguir chegar perto de me tornar uma bruxa braba. Me tornar mais parecida com a maga que salvou minha vida não passava de um sonho bem, bem distante agora.
A realidade não funcionava tão bem.
Tudo que pude fazer foi suspirar, pensando sobre minhas falhas óbvias e encarar o céu noturno.
— O que eu faço agora…? — sussurrei cheia de tristeza.
Então, aconteceu.
*Whack!*
Com um som alto, algo me acertou bem na testa.
— Aaaaiiiiiiii!
Uma dor aguda perfurou minha cabeça e meus olhos se encheram de lágrimas. Me agachei com a cabeça abaixada, cobrindo minha testa com ambas as mãos e gemendo. Algo caiu bem na minha frente.
Eu vi com olhos lacrimosos que era um relógio de bolso de prata.
Aparentemente, foi esse relógio de bolso que me acertou quando eu já estava no fundo do poço. Que merda!
— Fala séeeeeeerio! Quem tá aí?! Queeeeem que tá aí me assediando?!
Peguei o relógio de bolso conforme me levantava e encarava um prédio da escola enquanto gritava. Porém, ninguém apareceu para responder a caipira irritada aqui.
O prédio estava vazio.
— …
A inutilidade da vida voltou com força total.
O relógio de bolso era de um design antigo. Provavelmente, daria para chamá-lo de antiguidade.
…..
Deve valer uma grana boa se eu vender isso aqui, hein…?
— Alte? — Então, uma voz perfurou a escuridão atrás de mim e me acordou do meu devaneio. — Bom trabalho com o lixo. Obrigada. — Era minha professora.
— Ah, o que você tá fazendo aqui, professora…?
— Hmm? Você guardou algo no seu bolso?
— Quê? Não sei do que você tá falando. — Era uma mentira. Guardei o relógio no bolso. Foi reflexo.
— …? Ah é…? Bom, tudo bem, mas… — A professora me encarou com seus olhos azuis.
— A propósito, Alte, está livre agora?
— Huh? Algum problema…?
Fiquei bem alerta, mas a professora balançou sua cabeça. — Ah não, é porque quero que me faça outro favor. Na verdade, foi decidido que a biblioteca abrirá de novo amanhã. Então, eu abri ela hoje para limpar um pouco.
Aparentemente, a professora estava limpando a biblioteca enquanto eu estava tirando o lixo.
Então, ela não queria empurrar o serviço dela para outra pessoa, hein?
— Bom, consegui adiantar bem o serviço, então, que tal? Se quiser, pode pegar alguns livros emprestados. No momento, a biblioteca está basicamente deserta, então achei que você poderia pegar o que quisesse. Claro, se for agora, também pode ler quantos livros proibidos de sair da biblioteca você quiser.
— Sério?! — Essa era a melhor notícia que poderia ouvir agora. Mas… — Mas… está tudo bem mesmo? Parece que estou recebendo algum tipo de tratamento especial…
Não podia negar a culpa forte no meu peito.
Na verdade, normalmente, não é contra as regras usar a biblioteca sob o pretexto de limpar?
— Bom, é o meu jeito de agradecer você por tirar o lixo para mim. — Minha professora sorriu levemente e disse: — Já se esqueceu do que te falei antes? Nenhuma coisa aqui é inútil.
— Tudo bem, vou fechar o lugar daqui uma hora, às oito em ponto. Traga quaisquer livros que você queira pegar emprestado até lá. A propósito, não comente com os outros professores sobre a nossa “troca”, tudo bem?
Depois de colocar seu indicador em seus lábios e sorrir, a professora se sentou atrás do balcão de retirada e começou a ler um livro.
— Tudo bem, cada um de vocês pode cuidar de si próprio, por favor. — Ela adicionou aquelas palavras perfunctórias.
Cada um de vocês…
O que significava que havia alguém além de mim que sabia desse segredo não tão secreto.
— Entendido. — Linaria respondeu simplesmente, então foi em direção às estantes. Realmente, uma boa resposta.
Ela é incrível demais.
Aparentemente, Linaria, que estava estudando no fundo da sala a um tempo atrás, também foi envolvida em um trabalho após a aula como eu.
Ela sumiu rapidamente entre as fileiras de estantes bem organizadas, tão altas que você tinha que esticar o pescoço para ver a última seção de livros – era impossível chegar naqueles níveis sem usar uma vassoura ou algo do tipo.
Também me curvei para professora. — Entendido! — Então, me virei para vasculhar o lugar.
Andando até chegar nos fundos da biblioteca, passei por vários quartos trancados. Eles tinham ainda mais cheiro de mofo do que o restante desta biblioteca velha e continham grimórios maravilhosos e documentos abordando tudo, desde o tempo da fundação da escola até os dias de hoje, e até volumes de receitas para poções perigosas.
Abri a porta que estava com o seguinte letreiro REGISTROS HISTÓRICOS e entrei. Era aqui onde estavam todas as perguntas e respostas de exames anteriores, junto com documentos históricos relacionados à escola.
Materiais como esse eram geralmente proibidos de saírem da biblioteca e estavam sendo usados por outros estudantes sempre que eu tentava vir aqui. Ainda não teria conseguido se não fosse por essa oportunidade de ouro.
Passando meu dedo pelas costas dos livros, procurava um volume em particular.
UM RELATO SOBRE O MONSTRO QUE SELEI NO OUTRO DIA.
Ah, esse não.
SOBRE O SISTEMA DE SUPRIMENTO MÁGICO DA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LATORIA.
Me interessa, mas não também.
QUESTÕES DAS ÚLTIMAS PROVAS (MATEMÁTICA)
Ah, esse aqui.
Na hora peguei todos os livros da estante que possuíam QUESTÕES DAS ÚLTIMAS PROVAS no tombo e…
— …? — Olhando para elas, as perguntas do último ano – os dois volumes de questões passadas mais recentes – eram os únicos faltando.
Talvez ainda estejam sendo usados…?
De qualquer forma, li e reli, devorando cada livro que podia encontrar e anotei muitas coisas. Não podia falhar de novo. Pelo menos, tinha que me esforçar mais.
Continuei estudando o máximo que pude.
Então, durante isso, percebi do nada…
— …hmm, parando pra pensar, não tem relógio aqui…
Observei meus arredores, mas não conseguia ouvir o tique de um relógio. Já que esse lugar seria fechado depois de uma hora, parte de mim preferiria ficar de olho no tempo enquanto eu lia, mas…
…estou lascada, hein…?
— …ah! — toquei levemente em minha testa. — …acabei de lembrar, tenho aquela parada que peguei mais cedo… — Ri comigo mesma enquanto enfiava uma mão no bolso.
O relógio antigo que me deu uma testada.
Quem diria que algo pego por impulso viria a calhar tão cedo… Usando as palavras da professora, parece que de fato nada aqui é inútil.
— …
Porém, fui forçada a rever meus conceitos no momento que abri a tampa do relógio de bolso.
— Não… consigo entender essa coisa….
Em primeiro lugar, não entendia muito bem como ler o disco dessa coisa. Havia mostradores e ponteiros de relógio demais.
Que bizarro… todos os relógios que vi no passado só tinham um disco e dois ponteiros, mas…
Fora isso, havia botões estranhos na lateral. Parecia estar funcionando, pelo menos por agora, mas estava perdida sobre qual mostrador estava exibindo a hora atual. O design do relógio com certeza tinha coisas a dizer sobre o ego e o narcisismo de quem fez essa coisa.
— Um…? Uh…? Não entendo… que coisa é essa…?
Estava perturbada conforme colocava o relógio contra luz, tentava balançá-lo, examiná-lo mais de perto e todo tipo de coisa, mas ainda assim, não fazia ideia de como ler aquilo.
E, então…
— Um…? — Lágrimas começaram a gradualmente encher meus olhos conforme eu ficava ainda mais frustrada sobre como usar essa coisa.
— …ah! — apertei um dos botões na lateral.
*Kiiiii*
O relógio fez um barulho e um dos mostradores se iluminou com uma luz azulada.
— Uaah-aaaaaaah! — Entrando em pânico por causa da situação estranha, joguei o relógio brilhante para longe. Ainda brilhando, ele rolou pela mesa.
Uma bomba? Acabei de armar uma bomba?
Morrendo de medo, corri para um canto do quarto pegando documentos históricos no caminho para proteger meu rosto…
…mas nada em particular aconteceu. Com um som leve, a luz azulada simplesmente sumiu, e o quartinho ficou escuro.
— …
É possível que aquele botão era só para ligar uma lanterna?
Foi a primeira vez que considerei aquilo.
Ufa… assustei fácil demais… essa me pegou de jeito.
Me xingo silenciosamente.
Aquele foi o começo da minha jornada estranha.
— …quê? — Vi que os livros que usei como escudos eram os volumes das questões passadas do ano anterior. — …mas tinha certeza de que eles não estavam aqui a um momento atrás… — Quando fui colocá-los na mesa, me deparei com outra coisa estranha. A montanha de livros com questões de anos anteriores que estava lá sumiu.
— Mas que merda…? — Quando me viro para olhar, todos os volumes exceto os dois primeiros na minha mão estavam perfeitamente enfileirados na estante.
Além disso…
O quartinho estava um breu só.
A biblioteca inteira, na verdade, estava envolvida em escuridão.
Tudo parecia estranho.
Vou fechar o lugar em uma hora – me lembrei das palavras da professora. Porém, parece que nem trinta minutos se passaram.
— Mas que merda tá acontecendo…?! — guardei o relógio no meu bolso novamente e corri para fora do quarto de documentos históricos. Em total escuridão, corri ao longo das estantes enormes e fui até a entrada da biblioteca.
Mas como eu temia…
As portas já estavam fechadas, não havia uma alma viva ali. Nem minha professora, nem Linaria, ninguém. Era como se apenas eu estivesse aqui todo esse tempo.
E, então…
Naquele momento, dentro do meu bolso, eu estava certa que conseguia ouvir um tilintar.
— Alte…? O que você está fazendo na frente das portas?
Em um piscar de olhos, a biblioteca estava iluminada novamente. Minha professora estava no balcão, franzindo o cenho.
Minha memória da biblioteca em um breu não passou de um sonho? Estava dentro de uma ilusão?
— Um… uh… professora?
Me sentindo confusa por este fenômeno sobrenatural e inexplicável, encarei minha professora, tentando pedir ajuda para ela.
— …? — Ela ainda estava me encarando com uma expressão confusa, então bateu palmas. — Ah! Você quer pegar emprestado esses livros?
Ela apontou para mim.
Os livros que usei mais cedo como escudos ainda estavam nas minhas mãos. Estava tão preocupada que nem notei, mas de alguma forma, parece que eu ainda estava com eles em minhas mãos.
— Ah, não… não é isso… o que eu quero, mas…
As palavras saíram desengonçadas, visto que ainda não tive tempo de me acalmar.
— …meu deus. — Minha professora estreitou seus olhos seriamente conforme me olhava e disse: — …Alte. Esses livros não podem sair da biblioteca. É proibido! Se você quiser levar eles, me deixará irritada.
Seus olhos ainda estavam focados em minhas mãos.
— Ah, desculpa… eu estava em pânico… nem percebi que livros tinha pego.
— …
Minha professora não parecia muito chateada, mas ainda inclinou sua cabeça e perguntou, enquanto encarava as capas dos livros, — Afinal, onde você achou esses livros?
— Quê? Eles estavam no quarto de documentos históricos, mas…
Só perdi o controle e tirei os livros do quarto. Não sabia o que dizer quando ela me perguntou onde os encontrei.
— Há algo estranho neles. — Ela levou seu indicador a sua boca e cantarolou enquanto pensava, então disse como se fosse óbvio. — Ah, na verdade…
Às oito horas da noite, nós nos separamos
— Tudo bem, vocês duas, cuidado ao voltarem para suas casas.
O mundo lá fora estava completamente coberto por escuridão. A professora balançou sua mão e se despediu de Linaria e de mim.
Nós nos curvamos e começamos a voltar para nossas casas.
— …
Isso significava andar pela cidade até os dormitórios, onde aqueles que moravam em outros lugares ficavam. Aparentemente, a cidade natal de Linaria era bem longe porque ela e eu estávamos indo na mesma direção.
— …
Um silêncio desconfortável surgiu entre nós. Nunca falei com ela antes, nem ao menos fiz contato visual. Então, o mero ato de andar ao lado dela era estressante para uma covarde como eu.
Só deixava mais evidente quão distante Linaria era de alguém como eu.
Se ela falasse comigo agora, acho que eu morreria na hora.
— Ei, me fala, qual seu nome?
— Eeek! — E eu realmente quase morri. Limpei minha garganta para esconder o barulho estranho que fiz e respondi. — Ah, um… é A… Alte.
— Tudo bem. Eu sou Linaria.
Eu já sabia tudo sobre ela, mas a menina não parecia nem me reconhecer. Porém, já esperava que fosse esse o caso.
— Prazer em te conhecer. — Ela assentiu levemente enquanto andávamos.
— Ah, sim… prazer em te conhecer. — Ainda nervosa, imitei ela.
Fazia meio ano desde que entrei nessa escola. Já que gastei cada momento acordada até agora trabalhando duro em ambos meus estudos e trabalho de meio período, não fiz uma única amizade. Se as coisas continuarem nesse ritmo, sempre que alguém me perguntar depois da graduação, “Como foram seus dias na escola?” Provavelmente, me depararia com uma situação desconfortável, por ter que dizer, “Vamos ver… joguei muito lixo fora… eu acho…” — Não estava certa se conseguiria viver comigo mesmo se isso acontecesse.
Entretanto, nesse caso, será que essa é a minha tão esperada chance? — O pensamento surgiu em minha mente do nada.
Essa não é uma ótima oportunidade de conversar um pouco e conhecê-la melhor? Quero dizer, a garota perto de mim é a estudante mais braba da escola toda, certo? Eu poderia fazer uma amiga e uma colega de estudos numa tacada só! Dois coelhos com uma cajadada só!
Outra versão de mim sussurrou dentro da minha própria cabeça.
— Um… — Depois de uma leve hesitação, me virei para olhar para ela. — Li… Linaria, você sempre fica até tão tarde…?
— Ah, vou comprar umas coisas, então é aqui que nos despedimos.
Linaria foi embora rapidamente. Eu conseguia ver pela sua disposição fria que ela não estava interessada em ser minha amiga. Parecia bem claro para mim.
— …waaah…
Eu chorei sozinha enquanto ia embora.
Bom, Mãe e Pai, vocês estavam certos… não é fácil fazer amigos na cidade grande.
Voltei para o dormitório e fui direto para o meu quarto. Depois de jogar minha bolsa na cama, tranquei a porta. Meu movimento perturbou o calendário ao lado da minha cama, o que passou suas páginas. Mesmo que não tivesse trancado aquele cômodo, não esperava que qualquer um visitaria o quarto da pobre e solitária eu, mas era melhor prevenir do que remediar.
— ….
Com as costas para a porta, peguei o relógio no meu bolso. Quando abri sua capa de prata, ele ainda estava registrando o tempo silenciosamente, em meio aos muitos mostradores que ainda não conseguia entender.
Conforme encarava o objeto misterioso que acertou minha testa do nada mais cedo, me lembrei do que aconteceu na biblioteca.
— Ah, na verdade, — A professora disse enquanto encarava com suspeitas para os livros em minhas mãos. — são esses os livros que sumiram da biblioteca anteriormente. Depois da confusão após o roubo, nós tivemos que fechar a biblioteca por um período.
De acordo com minha professora, aparentemente, todos aqueles livros que não podiam sair da biblioteca possuíam um encantamento que os transportava para as estantes depois que um dia se passava, mas, de alguma forma, aqueles dois livros em particular não voltaram e isso causou uns bons problemas. A administração teve de fechar a biblioteca e esperar o seu retorno, mas mesmo assim, eles nunca voltaram.
Era como se tivesse desaparecido totalmente do mundo.
— Eventualmente, desistimos desses dois volumes e planejamos reabrir a biblioteca, mas… que coisa estranha, hein?
A professora deu de ombros e sorriu, então guardou os livros em suas estantes.
— …
Naquele momento, eu pensei que… talvez…
Vamos supor. E se os eventos estranhos que experimentei quando apertei o botão no relógio não foram uma ilusão ou sonho, mas sim a realidade?
E se aquela biblioteca sombria fosse real?
Isso me levaria a uma única conclusão, não?
— Alte. Vou te perguntar mais uma vez. Onde você achou esses livros? — Sua mão estava nos livros, minha professora disse jocosamente. — Será que você voltou para uma versão passada da biblioteca?
Pera, pera, não tem como eu conseguir voltar no passado. Isso seria maluquice.
Não tem como algo do tipo acontecer, tem? Do que a professora estava falando? Se eu tivesse uma ferramenta tão útil, eu poderia dominar o próprio tempo! Seria a melhor maga de todas!
Rindo internamente, me inclinei contra a porta e encarei o relógio.
Se me lembro corretamente, na biblioteca, acho que apertei esse botão aqui do lado.
— …sem chance.
Meio acreditando, meio duvidando de que seria realidade, fui em frente e apertei o botão de novo…
*Kiiii*
Mais uma vez, o relógio emitiu aquela luz azulada.
— …
E, então, quando a luz do relógio desvaneceu, vi outra coisa estranha.
A bolsa que eu tinha certeza que joguei na cama sumiu. Em seu lugar estava a figura de uma pessoa dormindo pacificamente na cama.
— …heh-heh… que que cê tá falanu? Vamu lá… heh… heh…
Outra estudante estava lá, na minha cama, com uma expressão estúpida no rosto e balbuciando bobagens (com sotaque).
Independente de quantas vezes olhasse, a garota na cama era… eu.
— …não, não, não…
Isso não pode ser verdade. É uma ilusão?
Estava começando a entrar em pânico. Para testar se não era um sonho, me belisquei na bochecha.
— Heh… heh… aaaai…
Para ser mais específica, belisquei a bochecha da outra eu que estava dormindo na cama.
Não parecia muito ser um sonho ou ilusão. Eu conseguia sentir a pele quente em meus dedos.
— …fala sério.
Isso significa que é realidade.
Significava que o relógio de bolso que peguei era capaz de me jogar para o passado. Era a única conclusão que explicava o que aconteceu antes e o que estava vendo agora.
— Tá de sacanagem…
Ainda estava incrédula, mas como se para me dar uma última confirmação, o calendário do lado da minha cama mostrava a data de vários dias antes daquilo tudo.
Geralmente, há duas possibilidades quando pessoas comuns se deparam com uma situação onde elas coincidentemente adquiriram um item bem estranho, mas útil.
Possibilidade número um: depois de experimentar um pouco e descobrir o que a coisa pode fazer, elas a jogam fora dizendo: — Sem chance! Não posso usar essa coisa assustadora! — As pessoas mais sérias e sensíveis entrariam nessa categoria.
Possibilidade número dois é se deixar levar, tipo: — Pensa no que eu poderia fazer com algo assim! Ah eeeee! Finalmente, os humilhados foram exaltados!
Bom, então, acho que você consegue imaginar o que eu fiz com o relógio de bolso estranho…
— Tá bom!
Na manhã seguinte, apertei o botão assim que cheguei na escola. Para meu arrependimento eterno, eu com certeza caía na segunda categoria. Claro, qualquer tolo que consegue um item como aquele relógio de bolso com certeza ia se dar mal uma hora, mas naquele momento, não tinha tempo para contemplar lições tão filosóficas.
Não esqueci por um segundo que estava falhando em cada uma das minhas matérias. Fiquei desesperada. Minha energia estava focada em agarrar esse último fio de esperança. Se eu pudesse usar o relógio para voltar no passado e me salvar da expulsão, iria fazer isso com certeza. Eu apertei o botão.
Não seria exagero dizer que aquele dia foi um marco na minha carreira acadêmica.
Enquanto estava usando o relógio para voltar no tempo, as mãos do tempo no presente aparentemente não progrediram muito. Por exemplo, se apertasse o botão logo antes do começo de uma aula, eu seria puxada para uma aula do passado e mesmo quando voltava da viagem, a classe no presente não teria começado ainda. Em suma, poderia esticar um único dia na minha experiência subjetiva. Eu podia participar das aulas no meu horário, era como se os professores esperassem por mim. Que maravilha!
Animada pela minha descoberta, comecei a testar o relógio de todas as formas que conseguia pensar.
Explorei o quão no passado conseguiria ir e quanto tempo podia ficar lá. Tentei todo tipo de coisa só para descobrir o que essa coisa conseguia fazer mesmo.
— Certo. Bom, então, há alguém aqui que sabe a resposta? Nós vimos isso na última aula.
No meio da aula de história, a professora tocou no quadro-negro com sua varinha.
Escrito lá estavam várias questões sobre os nomes e características do monstro que atacou a cidade sete anos no passado, especulações sobre o motivo do ataque, e por aí vai. Conforme os estudantes ao meu redor reviravam seus cadernos para encontrar as respostas, eu levantei minha mão na hora.
— Um golem! Uma classe problemática de monstro com um corpo animado por magia! O motivo do seu ataque ainda é um mistério, mas a destruição causada por ele foi uma tragédia terrível.
Eu tinha um sorriso de orelha a orelha.
— Correto. — A professora assentiu solene. — Parece que a última lição ficou na sua mente, hmm?
Bom, é porque você acabou de me ensinar! Ha!
Eu estava com uma expressão de vitória no rosto.
— Bem como ela disse, ainda há muitos mistérios a respeito daquele ataque do golem. A destruição foi considerável. É realmente incrível que não houveram quaisquer casualidades…
Fiquei com minha expressão vitoriosa pelo restante da aula.
Eventualmente, aprendi a usar o relógio de outras maneiras.
— Cara, esticar um dia dessa forma com certeza cansa… — massageei meus ombros. Visitei muitas vezes o passado em um único dia, então fisicamente, parecia que vivi por vários dias de uma só vez. Entretanto, o dia original nem sequer acabou e eu ainda precisava ir na padaria vizinha (a com a área de jantar) para trabalhar.
Mas se eu continuasse dessa forma, estaria cansada demais para trabalhar.
Sem problema!
— Tudo bem!
Apertei o botão no relógio e voltei no tempo. Depois de descansar na cidade do passado, fui trabalhar. Era outro jeito de usar o relógio.
Naquele dia, consegui trabalhar ainda melhor do que o normal.
— Eheheheh, foi como pensei!
Quero dizer, eu só tinha que cochilar!
Com movimentos rápidos e ágeis, completamente diferentes do normal, dei voltas e voltas na loja, lidando com todos os pedidos dos clientes. Eu me despedi para sempre da fadiga e nunca teria que me preocupar em perder tempo novamente.
A propósito, naquele dia, tive uma cliente conhecida.
— Boa tarde, Alte. — De pé na porta que acabara de abrir com o tinido dos sinos estava uma estudante com um rosto familiar.
Era Linaria.
— Ah, bem-vinda a nossa loja! — Agora que eu podia voltar no tempo à vontade, meu complexo de inferioridade era coisa do passado, literalmente. — Você está indo para casa agora, Linaria? — Usava meu sorriso despreocupado para servir os clientes. Se fosse minha velha eu, não acho que teria conseguido agir assim.
Ela assentiu e respondeu: — Às vezes, gosto de estudar em uma padaria.
Mostrei a ela seu assento e a menina olhou para o menu. — Um café da casa. — Ela olhou para mim.
Aparentemente, ela só pediria isso.
— É pra já! — Eu ainda estava com meu sorriso profissional.
Não falei muito com ela, mas para mim, até aquela breve interação parecia como um passo enorme.
Depois disso, era como se eu pudesse fazer tudo. Não importava o que acontecesse, não importava o que eu fizesse, estava tudo no passado, então não era relevante.
Eu apertava o botão para assistir as aulas que não conseguia ver antes, apertava o botão sempre que queria cochilar, apertava o botão sempre que queria estudar na biblioteca.
Ao brincar com os botões e os mostradores, descobri como conseguia voltar não só dias, mas anos e até como manipular a duração da minha estadia no passado. Aparentemente, o motivo de haver tantos mostradores era para que o usuário não perdesse a noção de todas essas escalas temporais.
No momento que descobri tudo isso, eu era praticamente imparável.
— Tudo bem, eis a questão. O que aconteceu com aquele golem caído?
Em meio a aula de história, a professora tocou no quadro-negro com sua varinha. Enquanto os outros estudantes também tinham aquela expressão de dúvida acima de suas cabeças, como esperado, levantei minha mão com confiança.
— Ele se transformou em areia! Até três anos atrás, havia um monte de areia no lado de fora da cidade feito dos restos do golem, comumente conhecido como as Dunas do Golem, mas visitantes continuavam levando areia para casa como souvenir, então agora é só um campo vazio!
— Correto. — A professora assentiu em afirmação. — Três anos atrás, alguém aparentemente descobriu que poderia vender a areia e, então, começaram a embalar e vender ela. Graças a eles, nosso país perdeu um de seus pontos turísticos mais famosos. Que marginais. — Ela suspirou.
Como a professora tinha dito, quando voltei no tempo três anos atrás e dei uma olhada, havia alguém guardando a areia em garrafas e vendendo tudo em um camelo com uma placa que dizia: ITEM EXTREMAMENTE RARO! AREIA DE GOLEM!
A garota atrás da barraca gritava: — Venham e peguem! Areia de golem famoso à venda!
Bom, mas aquela garota do passado era eu! Era apenas natural que conseguisse responder a essa pergunta. Quero dizer, eu estava lá!
Por agora, já tinha confirmação de que, por algum motivo, quanto mais no passado eu voltava, mais o tempo passava quando retornava ao tempo atual. Como resultado de voltar três anos atrás e ficar lá por várias horas, quando voltei para o presente, meia hora havia se passado. Aparentemente, o aparelho não era tão poderoso.
Mas, sério… trinta minutos era nada basicamente!
— Alte, você sabia disso? Ouvi dizer que a areia de golem contém uma energia mágica especial.
— Sério?
Linaria começou a visitar frequentemente a padaria. Aparentemente, a atmosfera do lugar combinava com ela e a menina disse que era perfeito para estudar.
— Mais cedo, eu estava pesquisando na biblioteca. Aparentemente, os magos ficariam mais fortes só de ficarem próximos às Dunas do Golem.
— Ahã….
— Porém, já que os turistas compraram toda a areia três anos atrás, provavelmente nunca saberemos a verdade… que pena, né?
Ela deu de ombros.
— Você realmente sabe muito sobre golens, não?
O que será que te atraiu tanto neles?
— Infelizmente, não sei muita coisa. — Ela balançou levemente a cabeça. — Não importa o quanto eu pesquise, sempre há tantas coisas sobre aquilo que ninguém tem certeza. E quando se trata daquele incidente de sete anos atrás, nós ainda não sabemos de onde aquele golem apareceu. Tudo que sabemos é que ele surgiu do nada e igualmente do nada começou a atacar. Ele pode até surgir de novo.
— Isso é bem assustador, hein? — respondi enquanto assentia em concordância.
Me vejam, Pai e Mãe, estou falando com uma garota da cidade grande! E ainda por cima ela é uma das estudantes mais brabas da escola! Que foda!
— Eu sei. É por isso que estou pesquisando eles.
Viajei por um momento, pensativa, mas a voz de Linaria estava monótona enquanto continuava.
— Odeio não saber as coisas.
Ela era sempre tão legal.
Eu continuava mexendo no relógio, aprendendo mais e mais sobre ele.
Primeiro, o número de anos que eu podia voltar no tempo era bem maior que três. Também podia voltar dúzias, até centenas de anos. O máximo de tempo que podia ficar no passado era umas dez horas. Ficar mais tempo que isso não parecia possível.
Se eu voltasse no tempo uma vez por dia, voltasse a três dias no passado e ficasse lá por dez horas, fisicamente, aquele dia duraria trinta e quatro horas para mim. Entretanto, já que não havia limite nas vezes que podia-se voltar no passado, trinta e quatro horas eram nada basicamente. Eu podia fazer um dia durar centenas de horas se quisesse.
Desde que descobri que voltar mais no passado me custava mais tempo no presente, decidi que era melhor só voltar alguns dias no passado se possível.
Fora isso, parecia haver todo tipo de regra regendo essa coisa.
Assim como na primeira vez que usei o relógio, conseguia trazer as coisas que eu segurava comigo para o futuro. Aquele dia quando usei o relógio pela primeira vez, trouxe dois livros para o futuro sem perceber que voltei no tempo e, assim, fiz com que a biblioteca fechasse.
Entendo, entendo. Em outras palavras, se eu quiser, poderia pegar coisas que não estão sendo vendidas hoje, certo? — Estava sorrindo sugestivamente para mim.
— Areia de golem! Venha e pegue sua areia de um golem famoso!
Para isso, eu estava determinada a pegar os restos do golem de três anos atrás. Vendi um monte. Tanto que pensei até em simplesmente largar meu trabalho de meio período.
Dessa forma, resolvi o problema do dinheiro e o problema do tempo de uma só vez.
— Alte, você parece estar indo muito bem, ultimamente.
Infelizmente, não importava quantas vezes voltasse no passado, não consegui mudar as notas horríveis que tirei nas últimas provas, então ainda precisava ter aulas suplementares. Porém, a impressão da professora sobre mim parece ter mudado completamente. — Recentemente, você aparenta estar estudando com uma paixão genuína. Ouvi dos outros professores, sabe? Me disseram que você está animada e energética, como uma pessoa totalmente diferente.
— Ah, é mesmo? Ehehehe….
— Se me lembro corretamente, você está trabalhando meio período enquanto estuda aqui, certo? Você está bem?
— Estou ótima. Agora tenho tanta energia que sinto como se pudesse fazer qualquer coisa — estufei o peito orgulhosa.
Sem qualquer mudança de expressão, a professora continuava olhando para mim, então se focou na minha mão.
— A propósito, o que é isso na sua mão?
Havia um pequeno frasco cheio daquela areia rara na minha mão. Eu peguei isso de três anos atrás.
— Quê? Bom, na verdade… — Mas não havia chances dela acreditar em mim se eu dissesse a verdade e daria espaço para todo tipo de perguntas desconfortáveis, então me esquivei da pergunta. — Consegui de um amigo. Aparentemente, esta areia guarda energia mágica.
— Hmm… se isso é verdade, então acho que é incrível. Mas… — Ela tirou o frasco da minha mão. — Ouvi falar que recentemente algum malfeitor está andando por aí vendendo areia de golem e enganando muitas pessoas. Você devia tomar cuidado, Alte.
— Eu já tomo, então não precisa se preocupar comigo.
Afinal, a culpada sou eu…
Porém, é claro que nunca admitiria.
No dia anterior, Linaria veio a padaria. Parecia que estávamos nos vendo quase todo dia.
— Bem-vinda! — Eu me curvei como sempre. Assim que se assentou, ela respondeu: — O mesmo de sempre, por favor.
— Você está sempre estudando. Não fica cansada? — Coloquei sua xícara na mesa.
Ela olhou para mim e me respondeu com uma pergunta. — Você está sempre trabalhando. Não fica cansada?
— Mm… — Depois de uma breve hesitação, respondi: — Estou cansada, mas sempre me divirto, então não é tão difícil assim.
Agora que conseguia fazer dinheiro vendendo areia de golem, não precisava mais trabalhar aqui, mas mesmo assim, ainda era garçonete na padaria.
Quando não tinha tempo para nada, parecia um trabalho bem chato e cansativo, mas agora que tinha todo tempo do mundo, era legal gastar um tempo botando a mão na massa.
Além disso, se eu estivesse aqui, poderia conversar com Linaria.
Queria me tornar amiga dela.
— Certo. Digo o mesmo. — Linaria sorriu brevemente.
— Eu odeio não saber das coisas. — Me lembrei das palavras que ela falou mais cedo. Imagino que, para Linaria, estudar, satisfazer sua sede por conhecimento é a coisa que lhe dá um senso de satisfação.
— …
Supondo que eu conseguisse ajudar uma garota como ela, não conseguiria virar uma amiga mais íntima dela? — Parecia que uma vozinha dentro da minha cabeça sussurrou para mim.
— Ah, Linaria? Aqui.
Eu coloquei um frasco pequeno na mesa.
Era areia de golem.
— Se lembra do que você me contou antes? Bom, meio que acabei encontrando um pouco, então pode ficar com isso, se quiser.
Ofereci para ela educadamente.
— Caramba! — Seus olhos azuis se arregalaram levemente. — Você encontrou essa substância rara por coincidência? — Então, ela me deu um olhar perfurante. — Talvez você possa me dar uma resposta.
— Hmm? Sobre o quê?
Pega de surpresa por seu olhar severo, eu inclinei minha cabeça.
E, então.
— Quantas vezes?
Linaria me encarou diretamente.
— Quantas vezes você voltou no tempo?
Tradução: Worst
Revisão: Alice & Nero
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