Uma carta foi entregue ao palácio de um determinado país.
O remetente era uma bruxa – uma jovem viajante conhecida como a Bruxa Cinzenta.
Alguns dias antes, ela havia recebido uma encomenda diretamente de Sua Majestade, o Rei, e tinha ido visitar os próximos Bosques do Norte. Aparentemente tinha enviado de volta seu relatório.
— Oh-hoh, aquela bruxa tinha um olhar vago em seu rosto o tempo todo em que esteve me ouvindo falar, mas parece levar seu trabalho bastante a sério.
Haviam combinado entre si que o rei pagaria em dinheiro depois que a bruxa atendesse ao seu pedido. Ela provavelmente havia enviado esta carta como um relatório do progresso, dizendo ao rei que ainda estava trabalhando.
Pelo menos, foi o que o rei pensou até que cortasse o lacre.
Saudações, Vossa Majestade.
Por favor, perdoe minha brusquidão enquanto vou direto ao ponto.
Um dia se passou desde que aceitei a comissão de seu belo país.
Atualmente, há duas coisas que posso relatar a Vossa Majestade.
Como diz o ditado comum, tenho boas e más notícias.
Qual gostaria de ouvir primeiro? Ah, comecemos com a boa notícia? Como quiser.
Primeiro então, as boas notícias.
Consegui encontrar Elfriede e Louis, que deixaram seu país há um ano, sem problemas.
Como sua inteligência sugeriu, os dois estavam vivendo em uma aldeia deserta nos Bosques do Norte. Aparentemente, estiveram escondidos lá desde que deixaram seu país.
Consegui entregar-lhes a mensagem de Vossa Majestade sem incidentes.
Isso conclui a boa notícia.
Bem, então vamos às más notícias.
Quanto aos dois indivíduos que me instruiu a localizar…
Disse a eles que Vossa Majestade desejava trazê-los de volta ao seu país, e então…
Eles morreram.
Ambos.
Com certeza, a floresta conhecida como Bosques do Norte estava localizada ao norte da capital.
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Não era uma floresta particularmente complicada, apenas um pouco selvagem e coberta de vegetação. Se olhasse para o céu por baixo das árvores, os raios de sol parcialmente bloqueados formavam um padrão que parecia oscilar para frente e para trás. Agora que o inverno havia acabado e a primavera chegado, a luz do sol descia calorosamente.
Tinha recebido um mapa para a aldeia deserta junto com arquivos sobre as duas pessoas que deveria trazer de volta comigo, então não havia como me perder.
Se estiverem na aldeia deserta, como sugere a inteligência – e eu não tomar o caminho errado – devo dar de cara com eles em breve.
Então parei por um momento e examinei os arquivos mais uma vez.
À minha frente podia ver a aldeia deserta.
Também podia ver a figura de um único homem caminhando em minha direção.
De acordo com o arquivo, seu nome era Louis.
Seu cabelo dourado caía suavemente sobre os ombros e seu físico delicado e estatura diminuta tornavam difícil dizer de relance se era um homem ou uma mulher. O fato de estar vestindo uma estranha túnica com babados contribuiu para sua aparência externa andrógina, ou de gênero ambíguo.
Ele estava andando com passos instáveis e vacilantes, balançando uma longa vara da esquerda para a direita.
Certamente se parece com o mago que costumava trabalhar naquele país. Ele corresponde à descrição em todos os documentos…
Estava morando aqui o tempo todo desde que deixou o país um ano antes.
— ……
Sua aparência incomum não era a única coisa notável sobre ele.
Louis chegou bem perto de mim e então parou, com uma expressão perplexa.
— …? Quem é? Tem alguém aí?
Farejando o ar, Louis inquieto balançou a cabeça para esquerda e direita, porém seus olhos nunca pousaram em mim.
Louis era cego.
Ele não conseguia ver nada.
— Olá.
Chamei o homem que estava no escuro.
— Prazer em conhecê-lo. Eu sou Elaina, uma bruxa — falei cuidadosamente as palavras que havia preparado com antecedência. — Na verdade, sou uma viajante, mas… você mora naquela vila ali?
Então Louis disse: — Huh? Uma viajante? Uau, que raro…! — Olhando para o espaço vazio, ele sorriu amplamente. — Talvez você tenha algum negócio na aldeia à frente?
— …Não, eu me perdi. Estou andando por aí procurando um lugar para ficar.
— Ah… bem, esta área é bem fácil de se perder, não é? Eu também me perco às vezes… Embora me perca porque não consigo ver para onde estou indo!
— ……
Louis não hesitou em fazer uma tentativa desajeitada de piada.
— Oh, me desculpe, você não percebeu? Não posso ver…
— Não, é bastante óbvio que você é cego.
— Suponho que sim. Você pode dizer isso apenas olhando para mim, certo? Embora não tenha ideia de como me pareço, heh-heh!
— Ah, hum… não sei como responder a isso…
— Oh, desculpe. Quase nunca tenho a oportunidade de conhecer novas pessoas, morando em um lugar como este, então… Só tenho que conversar com minha colega de quarto e os pombos-correio! — Louis disse, rindo e coçando a cabeça com vergonha.
Ele parecia ser um indivíduo muito, muito alegre.
— A propósito, Elaina, você está perdida, certo? Se quiser, pode ficar na minha casa. Estou morando em uma casa bastante espaçosa agora, então se quiser descansar, acho que posso te acomodar. Você pode até fazer uma estadia prolongada se sentir necessidade.
Ele também era aparentemente uma pessoa muito gentil. Pelo menos, essa foi a impressão que passou.
— ……
Depois de um breve silêncio, perguntei, baixando a voz: — Sou grata pelo convite, mas… tem certeza de que não serei um incômodo para sua colega de quarto?
— Está tudo bem! Minha colega de quarto não gosta de falar com pessoas, além de mim, é claro. Na verdade, minha colega de quarto nem chega perto de estranhos, então não há problema!
— A propósito, posso saber um pouco… mais sobre sua colega de quarto?
— Ela é uma garota.
— …Está tudo certo?
— Por que não estaria?
— ……
Tem certeza de que não serei esfaqueada ou algo assim?
Estava desconfiada, mas desde que tinha aceitado a responsabilidade desta comissão, não tinha a opção de fugir agora.
— …Bem, então, sou grata pela hospitalidade.
Não havia nada a fazer além de me preparar.
— Fantástico! — Louis disse com um sorriso largo. — Ok, por favor, venha por aqui.
E então estendeu a mão em direção à aldeia e me mostrou o caminho.
— ……
Quanto sangue foi derramado por aquelas mãos…? Era uma pergunta que eu preferiria não saber a resposta.
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Fui convidada ao castelo assim que cheguei àquele país.
Talvez tenham ouvido um boato sobre mim em algum lugar porque uma multidão de soldados se reuniu ao meu redor e me escoltaram para dentro.
— Há algo que gostaríamos muito de pedir a você, Senhorita Bruxa Errante. Por favor, precisa nos atender.
Tenho certeza de que, para quem assistia a esse espetáculo ostensivo, parecia que eu estava simplesmente sendo arrastada pelas autoridades.
No castelo, o rei corpulento estava esperando por mim no topo de seu trono.
— Então você é a bruxa errante, não é? Há algo que gostaria muito de pedir a você.
Quando nos encontramos cara a cara, o rei olhou para mim com olhos frios e estalou os dedos sem desviar o olhar. Soldados apareceram perto do trono e colocaram várias folhas de papel em minhas mãos. Aparentemente, o rei não tinha a menor intenção de se mover de seu assento.
Entendo. Agora entendo como você cresceu em tais proporções.
— …O que é isto?
Inclinei a cabeça em confusão.
O rei me disse: — Quero que traga de volta duas pessoas que deixaram este país há um ano.
Incluído nos documentos que me foram entregues estavam um mapa da área circundante e informações sobre um homem e uma mulher. Havia perfis escritos em cada um deles, acompanhados de fotografias.
Olhei para os documentos enquanto os folheava.
— O primeiro é Louis. Ele é um mago cego. — O rei começou a me contar sobre Louis em um tom indiferente.
— Quando pequeno, sofria de uma doença nos olhos e está cego desde então, embora para compensar, seu nariz ficou muito mais sensível. É inteligente também. Na guerra mais recente do meu país, ele exerceu seu poder principalmente nos bastidores.
Segundo o rei, Louis também era um mestre dos venenos e inúmeras pessoas morreram por suas mãos.
Às vezes, espalhava seu veneno por países inimigos. Outras vezes, envenenava traidores. Ainda outras vezes, usava seus venenos para eutanásia em soldados que não eram mais úteis.
Muitas, muitas pessoas foram mortas por seus venenos inodoros e incolores únicos, que não podiam ser detectados por ninguém, exceto pelo próprio Louis.
Aparentemente, ele tinha uma história encharcada de sangue que ninguém imaginaria olhando para a foto do rosto gentil e andrógino em seu arquivo.
— …Então você deixou um indivíduo tão perigoso viver fora do país por um ano?
— É porque ele é um indivíduo tão perigoso que não podemos deixá-lo permanecer dentro das fronteiras do país. — Sua Majestade baixou os olhos enquanto falava. — Há um ano, a guerra acabou. Não havia mais necessidade dele fabricar venenos, mas, como você entenderá ao dar uma olhada em seus atos, ele cometeu muitos crimes contra a humanidade. O povo do meu país o evitou unanimemente, não importando o fato dele ser um herói de guerra.
— ……
— E então, lhe dei muito dinheiro para viver e o exilei. Deve ter sido doloroso para ele ter que ficar em um lugar onde não era desejado, afinal.
Presumi que a outra pessoa que tinha ido com Louis, uma mulher chamada Elfriede, havia deixado o país em circunstâncias semelhantes. Apesar do excelente serviço prestado à sua nação, eles eram temidos por seus próprios compatriotas, então não fiquei surpresa por terem sido forçados a sair.
No entanto…
— Então, por que está tentando trazê-los de volta?
Em resposta à minha pergunta excessivamente ingênua, o rei respondeu prontamente.
— Porque vamos guerrear de novo. Sabe? — explicou. — Esses dois não pertencem a nenhum lugar além do campo de batalha.
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— Geralmente estou fazendo algum tipo de pesquisa medicinal, entende? Então frequentemente entro na floresta para coletar plantas silvestres.
Louis andou na minha frente, balançando sua bengala para a esquerda e para a direita como o pêndulo num relógio.
Mesmo que seus olhos não pudessem ver, seu corpo parecia se lembrar da rota. Dando passos firmes ao longo do que equivalia a uma trilha de caça que atravessava a floresta, não pareceu hesitar.
— Esta floresta é ótima. Quase todos os ingredientes que preciso para as poções que estou estudando fazer agora estão aqui. O ar é limpo e, o melhor de tudo, não há barulhos, é agradável e silencioso. Eu aproveito todos os dias aqui.
— Que poções você está estudando agora? — perguntei.
— Ah, Elaina? Assim que passarmos esta cerca, estaremos na minha aldeia.
Tinha certeza de que tinha feito uma pergunta, mas talvez não tenha chegado aos seus ouvidos. Louis bateu na cerca esfarrapada com sua bengala. A placa que deveria estar escrito o nome da aldeia estava tão embrulhada em hera que as letras estavam ilegíveis.
— Bem, eu digo “minha aldeia”, mas é apenas uma cidade fantasma comum agora. — Ele soltou uma risada silenciosa.
— ……
Com certeza, a aldeia era abandonada, como prometido.
As casas particulares pelas quais passamos estavam todas desmoronando lentamente, os lugares que antes abrigavam jardins estavam infestados de ervas daninhas, o lago estava totalmente seco e eu quase não conseguia ver sinais de pessoas morando aqui.
Mas não tinha caído completamente em ruínas. Tampouco mostrava sinais de ter sido atacada por alguém. Parecia que, alguns anos antes, os cidadãos desta aldeia tinham simplesmente desaparecido, de uma só vez.
— População total: dois — acrescentou Louis. — Somos apenas eu e minha colega de quarto, Elfriede. — Louis continuou batendo seu bastão, balançando-o para frente e para trás enquanto falava. — Esta aldeia foi abandonada há algum tempo e ninguém vive mais aqui.
— Para onde foram as pessoas que moravam aqui?
Parecia que um bom tempo havia se passado desde que a aldeia havia sido abandonada.
— Ah… — Louis murmurou, como se tivesse acabado de se lembrar de algo significativo. — Aparentemente, todo mundo morreu.
— …Isso é…
Mas por quê?
Quase fiz a pergunta.
— Ah, falando nisso!
Mas quando estava prestes a abrir a boca, exatamente no momento errado, Louis bateu palmas como se de repente tivesse se lembrado de outra coisa e se virou para mim.
— Elaina. Esqueci de te dizer uma coisa — olhando para o espaço atrás de mim, Louis disse: — É sobre minha colega de quarto, Elfriede. Não quero falar muito, mas se você puder, por favor, tente evitar encarar.
— …… — Depois de um breve silêncio, inclinei a cabeça e perguntei: — Por quê?
Ele respondeu: — Você saberá quando a vir.
E então, finalmente chegamos na casa dele.
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— Quanto a Elfriede, a outra pessoa que deixou nosso país há um ano, é com ela que você precisa ter um cuidado especial.
O rei falou numa torrente. — Ao contrário de Louis, que fazia seu trabalho nas sombras, o poder daquela mulher realmente brilhava no campo de batalha. Eu a coloquei no campo por um momento e a força do exército oponente imediatamente desmoronou. Provavelmente não há outra pessoa viva tão forte e aterrorizante quanto aquela mulher.
— ……
Folheando os materiais que me deram, cheguei a uma fotografia e um arquivo de uma única mulher.
Era uma mulher adulta com cabelos verdes que quase chegavam aos ombros. Estava com uma expressão sombria e tinha os olhos voltados para baixo. Usava apenas uma túnica e roupas simples.
À primeira vista, não parecia haver nada de aterrorizante nela. Achei que parecia uma foto de um mago normal.
Além disso, havia até uma legenda na foto: “ESPECIALISTA NA ARTE DA MAGIA DE CURA.” Na verdade, aquilo concluía da seguinte forma: “NUNCA USOU UM FEITIÇO DE ATAQUE. COMO SE FOSSE INCAPAZ DE FAZER ISSO.”
O que diabos ele quis dizer quando avisou que essa maga brilhava no campo de batalha? Tipo, ela saia curando todos os soldados feridos?
Mas se assim fosse, seria difícil acreditar que era temida pelos cidadãos e obrigada a deixar o país.
— Que tipo de poderes ela tem?
Inclinei a cabeça interrogativamente e o rei respondeu: — Dê uma olhada na próxima foto e veja por si mesma.
Fiz o que me foi dito e virei a primeira foto. Aparentemente, havia duas.
— ……
Lá, na segunda, estava Elfriede, parada no centro de um campo de batalha, de costas para a câmera. Ela não estava segurando uma varinha.
Ao redor de Elfriede foram dispostas várias estátuas de pedra em forma de soldados.
— Elfriede tem a capacidade de transformar em pedra qualquer um que encontre seus olhos.
O rei continuou: — Aquela mulher possui um poder terrível que assusta até as bruxas.
Então ela era temida por transformar até o último inimigo no campo de batalha em pedra. É por isso que eu tinha de ser especialmente cuidadosa.
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— Ok, entre! Esta é a minha casa!
— Uh, ah… obrigada…
Fiz o que Louis pediu e entrei pela porta de sua casa. Embora esta fosse uma aldeia deserta, o interior estava em muito bom estado e ele havia arranjado um mínimo de móveis e acessórios para que parecesse uma casa comum.
Se tivesse de apontar algo diferente das casas em outros lugares, teria que mencionar a maneira como poções suspeitas e documentos misteriosos estavam espalhados casualmente sobre a mesa da sala de jantar. Isso, e o fato de que Louis tinha uma colega de quarto que podia transformar as pessoas em pedra.
— Ah, Louis! Bem-vindo de vol…
Enquanto olhava distraidamente o interior da casa, uma mulher de cabelo verde apareceu de repente, saltando para dentro da sala.
Certo, ela deve ser…
— Q-quem é essa forasteira?!
— ……
Ela havia se escondido novamente no momento em que me viu, mas pelo breve vislumbre que tive dela, parecia ser exatamente a mesma Elfriede que tinha visto nas fotos.
— Você trouxe uma mulher para nossa casa… Adúltero…! Louis, seu… adúltero…!
…Embora ela dê uma impressão totalmente diferente da sua fotografia…
Rosnando de seu esconderijo, ela parecia um animal selvagem que mostrava os dentes em hostilidade para os humanos.
— Que crueldade quando você já me tem! Então prefere meninas mais novas? Você é o pior!
Sinto que a mulher que vi nas fotos tinha um ar meio apático, mas essa…?
— Ah, desculpe, Elfriede. — Ao contrário de Elfriede, que nunca baixava a guarda por um segundo, Louis era o mais despreocupado possível. — Esta pessoa é a bruxa errante Elaina. Ela se perdeu, então quero que a deixe ficar aqui.
— Ficar…? Você disse “ficar”? — Pelo tom de voz irritado, ficou claro que Elfriede não era fã da ideia. — De jeito nenhum, Louis. Não podemos deixar as pessoas ficarem aqui nestes tempos…
Ah, eu sabia.
— Pode dizer isso, mas se ela não puder ficar aqui, ficará em apuros e terá de dormir ao ar livre. Devemos ajudar os outros quando necessário! — Louis acalmou Elfriede um pouco, depois fechou a porta da casa.
Com um estrondo, meu caminho de saída foi fechado.
Por fim, Louis convenceu Elfriede e acabei ficando.
— Louis, sou contra isso. Não importa o que você diga, não vou ouvir.
— Oh? Mas o que poderia estar errado? Não há realmente nada para se preocupar.
— A verdade é que eu tenho alergia a bruxas…
— Nunca ouvi falar de tal coisa.
— Sempre que estou perto de uma bruxa, não consigo parar de sentir náuseas.
— Você nunca chega perto de ninguém de qualquer maneira, então não há problema!
— ……
— ……
Bem, não a convenceu, exatamente. Era mais como se apenas ignorasse suas queixas.
|
Naquela noite, fui brindada com a comida caseira de Louis. Como a casa deles estava localizada no meio de uma floresta, a mesa de jantar estava repleta de verduras, cogumelos e coisas do gênero. Não havia carne. Também não havia pão.
Mastigando um bocado de salada, Louis disse: — Desculpe por isso. Se soubéssemos que um convidado viria, tenho certeza que poderíamos ter preparado algo um pouco mais substancial, mas esses são os únicos tipos de alimentos que temos aqui — sorriu. — Fiz o meu melhor, no entanto. Quero dizer, estou encarregado de fazer o jantar e não consigo enxergar!
— ……
Era para ser uma piada?
— Talvez tenha cometido um erro e usado cogumelos venenosos em vez de cogumelos normais!
— ……
Acho que era para ser uma piada?!
— Hum, na verdade… não tenho certeza se posso comer isso…
— Oh, desculpe! Não os cozinhei o suficiente? Como você pode esperar, quando não se pode ver, é difícil ajustar a temperatura, então…
— Não, não é isso que quero dizer.
— Ah, talvez não goste de cogumelos?
— Não, não é isso que quero dizer.
— Bem, então, o que você quer dizer?
— Não tenho ideia de como devo reagir… Tudo bem rir?
Não conseguia esconder minha perplexidade com o comportamento sempre alegre de Louis, especialmente agora que sabia um pouco sobre o passado dele e de Elfriede.
— Louis sempre foi assim — Elfriede acrescentou de seu lugar ao lado dele na mesa.
Pouco depois, Louis pousou o garfo com um barulho e respondeu: — Bem, se eu não agir assim, as pessoas ao meu redor são muito reservadas! Você sabe, não estou realmente incomodado com o fato de que sou cego. Certamente não levei a melhor vida, mas olhando como as coisas estão agora, só posso concluir que tudo valeu a pena.
— Tenho certeza que você está certo. — Elfriede assentiu levemente ao lado dele. — E você sempre pareceu gostar de sua pesquisa sobre novas poções, Louis.
— Isso com certeza. — Louis voltou a mastigar sua salada.
— …Embora você nunca me diga em que tipo de pesquisa está trabalhando. — Elfriede tinha algumas palavras bem mordazes para ele.
— Se eu te contar, você vai me dizer em quais feitiços está trabalhando agora, Elfriede?
— Vou te dizer se você me disser, Louis.
— Não, você me diz primeiro.
— Não, não, você primeiro.
— Não, primeiro você.
Sentado em frente aos dois quando começaram a ter esse vai-e-vem inútil, tudo o que pude fazer foi soltar um suspiro.
Esses dois namorados apaixonados poderiam realmente ser temidos e odiados em sua terra natal?
— Geralmente, estou sempre misturando poções em meu quarto, então se você quer saber tanto assim, pode entrar no meu quarto e dar uma olhada. Duvido que entenderá o que seja qualquer coisa, no entanto.
— E se quiser saber no que estou trabalhando, pode olhar nos meus materiais de pesquisa, não pode? Estou sempre escrevendo meus documentos na sala, para que você possa dar uma olhada quando quiser!
— Espere, mas eu não consigo enxergar!
— E eu não posso misturar poções apenas pelo cheiro!
Enquanto os dois continuavam gritando um com o outro, notei Elfriede olhando Louis nos olhos e Louis agarrando a mão de Elfriede para confirmar onde ela estava. Em contraste com suas palavras fortes, esses gestos eram algo que namorados normais fariam.
— Um…
Interrompi a briga dos amantes.
— Ah, me desculpe! O que foi, Elaina?
Louis me emprestou seu ouvido com um sorriso.
— ……
Elfriede se virou. Ela provavelmente fez isso para ser atenciosa e evitar fazer contato visual inadvertidamente. Ou talvez ela estivesse simplesmente envergonhada.
Olhei diretamente para os dois e tossi uma vez, limpando a garganta apreensiva, então perguntei: — Por que vocês dois estão morando em um lugar como este?
Louis respondeu, não parecendo particularmente interessado.
— …Ah, pensando bem, ainda não te contei sobre isso, contei, Elaina? — continuou, com um sorriso amável: — A verdade é que Elfriede e eu morávamos em um país próximo…
Era uma história que eu já conhecia.
E foi a versão verdadeira, contada pelas pessoas que a viveram.
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Louis era muito jovem quando perdeu a visão, mas nessa época já havia desenvolvido certas habilidades como mago.
Também era habilidoso em misturar poções mágicas e podia até identificá-las pelo cheiro.
E assim, quando perdeu a visão, não caiu no desespero. Pelo contrário, já sabia há muito tempo o que ia acontecer, pois a doença foi tomando sua visão aos poucos, segundo me contou.
Quando perdeu completamente a visão, aprendeu a viver sozinho. Sua especialidade era fazer poções mágicas, então era capaz de ganhar a vida e podia usar outros tipos de magia também, então experimentava pouco desconforto em sua vida diária.
Depois de perder a visão, administrou uma drogaria em um canto tranquilo do país por um longo tempo.
Então, um dia, algo aconteceu.
Um funcionário do estado apareceu diante de Louis e o comissionou para um trabalho.
Para declarar a substância do trabalho claramente…
— Queremos que você faça venenos para sacrificar o gado.
Era isso. De acordo com o funcionário, os antigos métodos de abate de gado eram muito desumanos, então o estado queria passar a realizar a eutanásia com veneno.
Para isso, Louis foi solicitado a criar um veneno que fosse inodoro e incolor, e que absolutamente não permaneceria no corpo após a morte.
— Ah, não… eu não poderia…
Honestamente, Louis não estava interessado em aceitar esse tipo de trabalho. Ele não gostava de matar. No entanto, se havia uma maneira de matar sem causar sofrimento, se sentia obrigado a verificar se o veneno seria um método eficaz.
No final, decidiu aceitar o trabalho.
A poção foi logo terminada e uma comissão suplementar foi feita para sua produção em massa.
— Uau! Isso é fantástico, Mestre Louis! Graças a você, as pessoas contra a eutanásia podem finalmente parar de reclamar.
— …É mesmo? Isso é ótimo. — Louis não estava particularmente entusiasmado. — Mas essa grande quantidade é realmente necessária? Sinto como se já tivesse feito muito…
— Não não. Recentemente, uma pestilência está se espalhando entre os rebanhos de gado e, não importa quanto veneno tenhamos, nunca é suficiente.
— ……
Embora de repente se sentisse ainda mais desconfortável, Louis continuou fazendo seu veneno especial.
Foi apenas vários anos depois que descobriu que o veneno não havia sido usado no gado.
O veneno de Louis havia se espalhado amplamente pelos países e vilarejos vizinhos… usado para matar pessoas.
Elfriede havia nascido em uma linhagem de magos, mas me disse que, desde que se lembrava, havia sido deserdada de sua família.
Isso foi totalmente devido ao poder que residia em seus olhos.
Quanto tempo seus olhos estavam assim, ou porquê diabos esse tipo de poder habitava dentro deles, ninguém, nem mesmo a própria Elfriede, poderia dizer. Mesmo quando era criança, as pessoas tinham medo do poder de seus olhos.
— Você traz vergonha para nossa família. Apresse-se e vá embora.
Não havia um único parente que a aceitaria com seu estranho poder.
Depois de ter sido expulsa, Elfriede ficou sozinha e começou a viver nas ruas. Em sua tenra idade, a falta de moradia a atingiu com força. Ela implorava por trocados e, ocasionalmente, roubava comida das barracas à beira da estrada.
Mas nunca usou intencionalmente o poder em seus olhos. Era dolorosamente claro que ela havia sido expulsa de sua casa por causa desse poder.
— Mais uma vez… mais uma vez, quero voltar para minha família…
Ela viveu cada dia com esse desejo em seu coração. Aprendeu magia de cura e descobriu como curar qualquer um que acidentalmente petrificasse.
Não foi capaz de usar sua magia de cura para se curar de seus olhos amaldiçoados, mas mesmo assim, conseguiu encontrar um mecanismo de contra-medida.
— Agora que posso fazer isso, provavelmente posso voltar para casa…
Ou assim pensou.
Mas sua família ainda a rejeitava.
— Então descobriu uma maneira de curar as pessoas que você transforma em pedra. E daí?
— Você não foi deserdada há muito tempo? Não volte.
— Não ouviu? Não queremos ver você nunca mais, seu monstro.
Não havia nenhuma maneira deles a aceitarem. Mesmo se tivesse aprendido a usar magia, ainda assim, qualquer um que fizesse contato visual com ela seria transformado em pedra.
Parecia natural que ninguém quisesse se aproximar dela.
Depois disso, não teve outra escolha a não ser continuar morando sozinha. Vivia tranquilamente, tentando ao máximo não fazer contato visual com ninguém, mas não é possível evitar o contato visual para sempre. Às vezes, acidentalmente encontrava os olhos de alguém e depois tinha de aplicar um feitiço de cura para fazê-los voltar ao normal depois que estavam petrificados. E cada vez que isso acontecia, enfrentava outra rejeição cruel. Eventualmente, ninguém sequer chegaria perto dela. Foi amaldiçoada, evitada e mandada deixar o país. A vida dela era uma existência solitária.
Então, um dia, algo aconteceu.
— Você tem o poder de transformar qualquer um que encontre seu olhar em pedra, não é? — Um funcionário do governo do país chamou por ela. — Se estiver interessada, há um trabalho que gostaríamos muito que você fizesse. Que tal?
E então o oficial a levou para o campo de batalha.
— Queremos que você transforme os soldados inimigos em pedra.
Em última análise, foi assim que ela acabou ficando na linha de frente do campo de batalha.
Então Elfriede, que passou a vida inteira rejeitando sua maldição, recusou.
— De jeito nenhum! Não quero usar meu poder para algo assim!
Mas ela não tinha o direito de resistir. No momento em que foi trazida para o campo de batalha, a partir do momento em que seus olhos foram alistados como armas de guerra, não havia como ela simplesmente voltar para casa.
Contra sua vontade, foi amarrada por soldados de seu próprio país, carregada na frente do inimigo e forçada a abrir os olhos. Embora chorasse e gritasse, ninguém veio em seu socorro.
Ela sofreu sozinha no meio do campo de batalha.
Até o dia em que a guerra acabou.
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Depois que a guerra acabou, Sua Majestade, o Rei, convocou Louis e Elfriede ao palácio e entregou a cada um deles uma grande soma de ouro.
— Gostaria que pegassem esse ouro e encontrassem um novo país para morar.
Um deles era um assassino diabólico que havia causado a morte de muitas pessoas com seus venenos inodoros e incolores. A outra era uma maga que impiedosamente transformou batalhões inteiros de soldados inimigos em pedra.
Depois da guerra, tudo o que qualquer um sentia por eles era medo.
A ansiedade estava inundando o país, enquanto as pessoas se perguntavam quando os dois poderiam se voltar contra seus compatriotas e se seus poderes perigosos poderiam ser direcionados aos cidadãos.
Então eles foram convidados a se retirar.
Era muito conveniente. Nem uma única pessoa mostrou qualquer preocupação com os dois.
— Em suma, nós servimos ao nosso propósito, então estamos banidos? — Louis perguntou amargamente.
— …… — Elfriede não disse uma palavra. Apenas pegou o dinheiro.
Por fim, os dois deixaram o país.
Essa era a única opção que restava a eles.
— Ei você. Este é o caminho para os Bosques do Norte?
Parado na frente do portão que acabara de ser fechado atrás deles, Louis deu um tapinha gentil no ombro de Elfriede.
— …… — Elfriede assentiu.
— Hum? Desculpe, sou cego. Você estava balançando a cabeça agora?
— …Está correto. Esse é o caminho para a floresta.
— Tudo bem. E seu nome é?
— …Elfriede.
— Entendi. Obrigado, Elfriede.
Ele olhou na direção de Elfriede e sorriu alegremente. Essa era uma expressão que ninguém jamais dirigiu para ela antes.
E então…
Pela primeira vez desde seu nascimento, ali estava uma pessoa que ela não podia transformar em pedra.
— Até mais!
Louis começou a andar, balançando sua bengala enquanto andava.
Não houve hesitação em seus passos. Nos Bosques do Norte, não havia nada além de uma aldeia deserta que todas as pessoas já haviam deixado. Ele devia estar planejando viver ali na floresta sozinho. Elfriede não teve que pensar muito sobre isso para entender.
— ……
Elfriede me disse que o perseguiu espontaneamente. Pela primeira vez desde que nasceu, conheceu uma pessoa que não se transformaria em pedra mesmo se ela fizesse contato visual com ele. Havia encontrado alguém com quem poderia viver.
Depois de caminhar por um momento ou dois, Louis parou.
— Elfriede, você possivelmente estaria atrás de mim agora?
Ele devia estar ouvindo os passos dela. Havia feito a pergunta sem se virar.
Elfriede estava bastante perturbada. Percebeu que devia parecer com algum tipo de perseguidora ou algo assim.
— …E-eu sinto muito. Hum… — Ela se desculpou numa pressa febril, com gestos selvagens, mas é claro, Louis não viu nada disso.
A agitação dela não chegou até ele e com um comportamento extremamente calmo, Louis se virou.
— Talvez você venha comigo?
— ……! — Elfriede assentiu animadamente. — S-sim… eu vou! — correndo para o lado dele.
— Tudo bem. Bem, vamos lá.
Então começaram a andar novamente.
E desde aquele dia, os dois viviam nesta aldeia, Louis me disse.
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— Agora nós dois vivemos aqui sem problemas. Atrevo-me a dizer que estamos ambos muito mais felizes do que quando vivíamos naquele país.
Aqui, não estavam sendo usados pelos outros ou forçados a serem cúmplices de más ações. Comparado com o que passaram, viver em uma vila deserta deve ter parecido o paraíso.
— A propósito… — Louis cruzou os braços e falou em voz baixa. — Recentemente, houve sinais de que os países vizinhos estão planejando lançar ataques contra nossa antiga casa.
Assumindo o lugar dele, Elfriede manteve os olhos baixos e disse: — Nas últimas semanas, recebemos muitas cartas pedindo para voltarmos àquele país. Disseram que a guerra está estourando novamente, então precisam de nossos poderes.
— ……
— Claro, nós os temos ignorado. Não temos intenção de desistir de nossa vida aqui.
Ela parecia ter intenções bem firmes.
Mas as cartas provavelmente continuariam chegando, desde que ficassem aqui. Repetidamente, receberiam pedidos para retornar ao seu país.
— …Suponha que alguém do seu país viesse aqui diretamente… Se alguém assim aparecesse diante de vocês, o que fariam?
Louis inclinou a cabeça por um momento, como se estivesse pensando. — Eu me pergunto… — disse, então —, se fosse alguém com quem pudéssemos conversar, resolveria isso conversando com eles.
— E se for alguém com quem falar não funciona?
Ele sorriu com a minha pergunta.
— Deixe-me ver. Provavelmente alimentaria a nós três com veneno e mataria todos nós, incluindo o visitante.
Não consegui dizer se ele estava brincando ou falando sério.
Mas, por enquanto, havia apenas uma coisa que eu poderia dizer.
— …Não tenho certeza se posso comer isso…
— Foi apenas uma pequena brincadeira. Por favor, não deixe isso te incomodar.
Louis parecia despreocupado.
Mas Elfriede, que estava sentada ao lado dele o tempo todo com os olhos voltados para baixo para não fazer contato visual comigo, parecia preocupada.
Seus olhos estavam focados diretamente na minha frente, no prato ao qual eu não tinha dado uma única mordida.
Pouco tempo depois, após terminarmos nossa refeição, Louis disse: — Bem, estou trabalhando em minha pesquisa médica, então, por favor, me dê licença —, e se trancou em seu quarto. — Ah, e Elaina, por favor, relaxe e sinta-se em casa, ok?
Ele não deixou de estender essa consideração antes de desaparecer.
Mas…
— ……
— ……
Será que ele realmente acha que vou conseguir relaxar com Elfriede sentada bem do meu lado? Não tem como!
Silêncio estranho e uma forte sensação de tensão dominaram a sala. Era difícil acreditar que a atmosfera tivesse ficado tão opressiva apenas com a ausência do despreocupado Louis.
Vários minutos se passaram e nós duas permanecemos em silêncio. Então, finalmente, Elfriede abriu a boca.
— Agora, se eu te olhasse nos olhos, você se transformaria em pedra e não haveria como voltar ao normal.
Seu tom de voz calmo era um pouco incompatível com suas palavras assustadoras.
Não haveria retorno ao normal. Em outras palavras, ela não tinha intenção de me curar.
— Isso é uma ameaça?
— Não. — Elfriede balançou a cabeça lentamente. — Só quero te fazer uma pergunta.
— ……
Fiquei em silêncio, esperando que falasse novamente.
Elfriede respirou fundo e suspirou, então disse: — Você é uma maga enviada por aquele país para vir aqui e nos trazer de volta. Estou errada?
Ela empurrou a verdade diretamente para mim.
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— Você pode enganar o doce e inocente Louis, mas não pode me enganar, Elaina.
Seu tom era aguçado enquanto ela me examinava.
— ……
Mas não a respondi. Estava simplesmente em silêncio.
— Vou tomar seu silêncio como confirmação.
— Faça o que você quiser.
Eu realmente não me importava como ela percebia minha reação.
Em resposta, Elfriede soltou um único suspiro e disse: — Tinha certeza de que viriam nos levar de volta à força em breve… Mas nunca pensei que enviariam uma bruxa errante para fazer o trabalho.
— …Tenho certeza que não.
— Elaina. Você está planejando nos levar daqui de volta para aquele país, não é?
— ……
Não respondi.
Mas ela continuou falando assim mesmo.
— Como você ouviu em nossa história anterior, Louis e eu amamos nossas vidas aqui nesta vila. Não temos intenção de sair.
Isso ficou dolorosamente claro só de observar a maneira como os dois se comportavam. Para essas duas pessoas, que nunca pertenceram a lugar nenhum, esta aldeia era o único lugar onde podiam relaxar.
— …Mas sei que você tem ordens para nos levar de volta. O rei não tem problemas em cometer crimes contra a humanidade, então…
Ela mordeu o lábio.
Agarrou com força algumas folhas de papel que estavam sobre a mesa.
— Elaina. Há algo que devo pedir a você. Por favor, por favor, eu imploro… nos dê apenas mais alguns dias.
— … Alguma coisa estará acontecendo em alguns dias?
Elfriede assentiu e baixou o olhar para as folhas de papel farfalhantes.
— Minha pesquisa estará completa.
Ela estava pesquisando um novo feitiço e mantendo isso em segredo de Louis.
Ela devia querer que eu esperasse até que estivesse terminado.
— O que vai fazer com ele quando estiver completo?
— Retirar a magia de Louis — respondeu claramente — e restaurar sua visão.
— ……
Em outras palavras…
— Ele se tornará um homem comum, que não pode fazer venenos nem nada do tipo.
Isso é o que ela estava atrás.
Elfriede provavelmente vinha realizando essa pesquisa desde que as cartas começaram a chegar, ou talvez até antes disso.
Louis, um mago que se destacava na fabricação de veneno. O rei só o queria por seus talentos especiais. Isso significava que se ele perdesse a habilidade de usar magia, não valeria mais nada. Essa era a ideia.
Elfriede curvou-se muito, muito profundamente e disse: — Não me importa o que acontecerá comigo. Se querem usar meus olhos novamente, isso não me incomoda. Há muito tempo aceitei meu destino. Então, por favor, estou implorando. Por favor, deixe-o fora disso. Não arraste a pessoa mais importante da minha vida para a guerra novamente…
Ela estava tentando me dizer que queria salvá-lo, e ele sozinho, não importaria o que acontecesse consigo mesma.
Esse era um sentimento muito puro e admirável.
No entanto.
— Infelizmente —, eu disse, — receio que não possa realizar seu desejo.
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— Que tipo de pessoa é Elfriede? — Perguntei a Louis enquanto caminhávamos pela vila deserta até a residência deles.
Tinha lido o arquivo dela, então já sabia um pouco sobre ela, mas ao longo da nossa conversa, acabei perguntando sobre ela de qualquer maneira.
— Ela é a pessoa que mais amo neste mundo.
— Não, queria perguntar, tipo, como está o temperamento dela…?
Você certamente estava pronto para se gabar sobre ela, não estava?
— Seu temperamento? Hum… ela tem uma grande personalidade e é uma pessoa alegre e gentil…
— …O que há com essa resposta evasiva?
Sinto que você poderia descrever qualquer pessoa que gosta dessa maneira…
— Bem, não consigo ver nada, então realmente não sei nada sobre suas características externas. — Louis tinha um sorriso calmo enquanto falava. — A única coisa que sei é que os olhos dela estão doentes de uma maneira diferente dos meus.
— E isso seria…?
— Você vai entender quando a vir.
Louis se esquivou da pergunta com uma resposta ambígua.
Embora, é claro, tendo em vista que já havia lido o arquivo sobre Elfriede, não precisava que ele se esforçasse para explicar novamente. Estava plenamente consciente do perigo de seus olhos.
Então Louis se virou para mim e disse: — Elaina. Você poderia, por favor, esperar apenas alguns dias?
— …Do que você está falando?
— Você é uma bruxa enviada aqui por nossa pátria. Estou errado?
Meu segredo foi revelado.
Embora fosse bastante improvável que uma viajante viesse deliberadamente para um lugar tão remoto como este, então imaginei que provavelmente seria descoberto em pouco tempo, mas…
— Bem, é mais ou menos como você suspeita. — Não tentei negar. — Sou uma bruxa que foi pedida pelo rei do país em questão para trazer vocês dois de volta. A propósito, se alguma coisa acontecer comigo, parece que ele tentará de novo. Com força.
Sua Majestade parecia querer os dois de volta custe o que custar.
Ele provavelmente iria persegui-los até conseguir o que desejava.
…Isso me fez pensar o que havia de errado com o país, que perder apenas duas pessoas pudesse causar tal crise.
— Com força, hein? Suponho que ele enviará soldados atrás de nós, então? — Louis soltou uma risada silenciosa, como se fosse tudo uma piada. — Mas mesmo assim, gostaria que esperasse alguns dias, Elaina.
— …Por quê?
Inclinei a cabeça interrogativamente e Louis respondeu: — Neste momento, estou trabalhando em uma nova poção. Uma que vai curar a desordem de seus olhos.
— ……
— Daqui a alguns dias, poderei consertar os olhos dela. Já completei a poção que a transformará em uma maga normal.
Após uma breve pausa, continuou: — Acha que poderia deixar Elfriede escapar? Não me importo com o que acontecerá comigo. Então, por favor, estou te implorando.
Então, no final do dia, era com isso que estava lidando. Seria impossível atender a ambos os pedidos. E, de qualquer forma, não gosto muito de ajudar as pessoas a se sacrificarem.
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Sou uma pessoa bastante impaciente, então mesmo se me pedissem para esperar alguns dias, não podia ficar sentada sem fazer nada.
— Louis. Sua mistura está um pouco passada. Olha, há muito de um ingrediente.
E assim, para fazer os dias passarem mais rápido, eu estava, por exemplo, ajudando Louis com sua pesquisa, e também…
— Elfriede. Você não tem energia mágica suficiente para usar este feitiço. Se fizer isso, mesmo que a visão dele volte, não será capaz de ver claramente.
Ou ajudando Elfriede com sua pesquisa de feitiços, por mais presunçoso que fosse.
Eu também…
— …Devo escrever uma carta ou algo assim?
Escrevi uma carta e a enviei ao rei, antecipando o que estava por vir.
Na carta, informei que Louis e Elfriede haviam morrido.
No final, foi tudo o que consegui fazer.
E então, no dia seguinte…
Tanto o feitiço de Elfriede quanto a poção de Louis estavam completos e não havia mais um papel para mim.
— …Elaina, podemos fazer você ficar um pouco mais? Ainda não fomos capazes de agradecer adequadamente… — Louis franziu a testa, olhando para algum lugar longe de mim.
Ambos terminaram seus respectivos projetos e tudo o que restava era que cada um entregasse ao outro os resultados finais. Achei que era hora de me despedir.
— Oh, não, não quero me intrometer com vocês dois por mais tempo. Sou o tipo de pessoa que sabe ler o ambiente.
Além disso, com certeza seria estranho se eu estivesse por perto na primeira vez que eles se veriam com seus novos olhos.
E o mais importante, não queria ter de ficar lá e vê-los flertarem.
— Nesse caso, gostaríamos pelo menos que você aceitasse algum dinheiro. — Com palavras espinhosas, Elfriede colocou um saco cheio de moedas de ouro em minhas mãos.
Empurrei de volta para ela.
— Não preciso disso.
— Por quê?
— Depois disso, vocês dois precisarão sair desta floresta, certo? Não sou o tipo de pessoa que roubaria o dinheiro que vocês precisam para começar sua nova vida em um novo país.
— ……
Elfriede estufou as bochechas em desagrado. — De jeito nenhum. Elaina, nunca ficarei satisfeita se não conseguir que pegue esse dinheiro.
— Ah, vamos lá, eu acabei de dizer que não preciso disso…
— Não, você deve.
— Não, não posso.
— ……
— ……
Eventualmente, depois de passarmos vários minutos empurrando o dinheiro entre nós…
— Ah, chega disso! Eu entendo. Bem bem. Se eu pegar isso, você ficará satisfeita, certo? Só para deixar claro, realmente não preciso disso… — Com muito mau humor, concordei com um compromisso: aceitaria uma única moeda de ouro. Normalmente, teria levado todo o dinheiro, mas este era um caso especial.
— O que está planejando fazer depois disso, Elaina?
Depois que nossa briga acabou, Louis fez essa pergunta com sua atitude despreocupada de sempre.
Claro, eu respondi: — Não é óbvio? Voltarei às minhas viagens. — E então. — É possível que eu possa encontrar vocês dois novamente em algum lugar.
Estávamos todos saindo. Eu para voltar às minhas viagens e os dois para começar uma jornada para encontrar uma nova cidade natal.
Pensando que gostaria de vê-los novamente se surgisse a chance, abri a porta para sair de sua casa.
Louis, olhando para minhas costas, sorriu e disse ao se despedir: — Na próxima vez que nos encontrarmos, será pela primeira vez.
E assim, a maga maligna que transformava as pessoas em pedra com um olhar e o mago que produzia venenos inodoros e incolores desapareceram deste mundo.
De agora em diante, seriam apenas duas pessoas, amarradas com fios invisíveis.
Tradução: Nero
Revisão: Bravo
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