O vento soprava sobre um prado suavemente inclinado, tingindo tudo de verde brilhante. As flores silvestres cintilavam à luz do sol como a superfície de água parada, balançando ao vento.
Quando olhei para cima, notei uma nuvenzinha vagando vagarosamente pelo céu, e senti até que poderia estender a mão e tocá-la.
Uma bruxa estava voando por esta vista cativante em sua vassoura. Ela estava no final da adolescência e usava um chapéu pontudo e um robe preto com um broche em forma de estrela sobre o peito. Não preciso nem mencionar quem era ela, né — Isso aí. Euzinha.
Agora, podemos tirar um tempo para realmente apreciar este cenário incrível, mas vamos seguir com a história…
Vi uma pessoa parada sozinha no meio da campina. E quando me viu, acenou.
Ele não parece hostil. Vou acenar de volta – da forma mais elegante possível, é claro.
— Heeey! Heeeeey! — A pessoa estava pulando, balançando os braços e tentando o seu melhor para chamar a atenção… Acho que ele realmente quer que eu vá até lá.
Mudei um pouco o curso da minha vassoura e fui naquela direção.
— Yay! Você veio!
Quando cheguei lá, encontrei um menino abraçando uma garrafa.
— Olá. — Desci da minha vassoura e me curvei um pouquinho.
— Hiya! Uau, senhorita, você é uma bruxa de verdade! — O menino olhou para meu broche e sorriu.
— O que você está fazendo? — perguntei.
— Estou em uma caça à felicidade!
— O que quer dizer com isso?
— Uma caça à felicidade é uma caça pela felicidade — disse o menino. — A propósito, senhorita, você está ocupada?
Ele está… me convidando para sair? Não, não, claro que não.
— Acho que você pode dizer que estou livre, mas também pode dizer que estou ocupada.
— Então você está livre!
…
— A propósito, tem alguma aldeia ou cidade próxima onde moram pessoas? — Se eu não encontrasse um lugar para ficar, teria que acampar neste prado, e não posso dizer que seria uma opção muito atraente.
— Se você está procurando uma aldeia, tem uma ali. — Ele apontou, e havia de fato uma pequena aldeia… ou algo parecido com uma. Parecia muito isolada.
— Aham.
— Na verdade, aquela é a minha aldeia.
— Ah, então você é o chefe da aldeia? Prazer em conhecê-lo. Meu nome é Elaina. Sou uma viajante.
— Ah, prazer em conhecê-la. Me chamo Emil… Espera, não, não foi isso que eu quis dizer! Quis dizer que é a aldeia onde eu moro. — Emil estufou as bochechas.
— Eu sabia. Era só uma piada — falei sorrindo.
Emil ficou de mal-humor e abraçou sua garrafa em vez de responder.
Quando olhei mais de perto para a garrafa, mal consegui distinguir a forma de algo se contorcendo dentro dela, era uma espécie de névoa branca flutuante que se movia como uma coisa viva.
— O que é isso aí? — perguntei enquanto apontava para a garrafa.
Ele provavelmente queria que eu perguntasse. Com um bufo orgulhoso, Emil me deu uma resposta.
— É a garrafa em que estou guardando a felicidade! No instante em que uma pessoa ou animal sente felicidade, eu a transformo com um feitiço e a coloco bem aqui.
— Hmm…
A magia pode mover objetos, transfigurar coisas em chamas ou gelo, ou… qualquer outra coisa, na verdade, e duplicar coisas bem diante dos olhos. É possível usá-la para voar em uma vassoura, fazer o vento soprar ou se transformar em um rato. Mas reunir a felicidade no momento em que ela é sentida significa transformar a emoção usando um feitiço.
Isso pode ser interessante.
— Posso abrir e olhar?
— C-claro que não!
Quando estendi minha mão, Emil apertou a garrafa ainda mais forte em seus braços e recuou um pouco. Com um olhar hostil em seus olhos, e proclamou:
— Estou fazendo isso para uma garota que gosto, então não vou deixar você tocar!
— Uhum.
— Hmm, você ficou brava?
— Não, na verdade fiquei até um pouco impressionada.
Me lembrei de um livro que li há muito tempo. Era a história de um marido que caminhava mundo afora, duplicando magicamente as belas imagens no momento em que as via e levando-as para casa para mostrar à sua esposa doente que não podia sair de casa. Bem, como é que essa história terminava mesmo? Era uma história de muito, muito tempo atrás, então eu esqueci tudinho.
— Então você gosta desta garota?
— Hmm? Sim, é uma empregada chamada Nino, uma que trabalha na minha casa. Ela sempre parece tão triste, então vou dar um pouquinho de felicidade para ela.
É por isso que ele está colocando felicidade em uma garrafa.
O garoto segurou a garrafa bem alto para eu ver e olhou para ela com amor. Ele parecia bastante contente; se pudesse transformar a expressão que estava mostrando naquele momento, poderia engarrafar um pouco de felicidade de ótima qualidade.
Depois disso, nós montamos em nossas vassouras e nos dirigimos para a aldeia. Emil realmente era um mago, mas desde que já tinha mencionado feitiços mágicos, não havia necessidade de perguntar sobre isso. Fiquei muito curiosa para saber o que o menino estava fazendo no meio da campina.
— Eu estava testando para ver se também conseguia pegar a felicidade das plantas — disse Emil, voando atrás de mim.
— E como foi? — perguntei.
— Mais ou menos. O feitiço me deixou transformar algo parecido com emoção, mas estava meio turvo, e a cor também era meio embaçada. Então deixei pra lá.
— Ora, ora.
Bem, são plantas, afinal. Se perguntasse a alguém se as plantas têm emoções distintas, simplesmente olhariam para você e ririam. Além disso, se você descobrir que a resposta é sim, talvez nunca mais consiga comer uma salada. Talvez seja melhor deixar alguns mistérios permanecerem como mistérios.
— Ah, aí está. — Ele apontou para a aldeia que eu já podia ver à frente.
Era uma aldeia minúscula, pequena o suficiente para que alguém provavelmente pudesse percorrer a circunferência da lamentável cerca do perímetro em menos de uma hora. Havia apenas cerca de dez casas esparsas pela área, todas de madeira. E também alguns pequenos campos e poços intercalados entre elas, como se fosse para preencher as lacunas.
Ah, uau.
— Que aldeia pacífica.
— Não é?
Descemos das vassouras e passamos entre duas árvores que serviam de portão para a aldeia. Bem à nossa frente na estrada ficava uma casa que era uma grande e esplêndida mansão quando comparada às outras. Quero dizer – bem, era quase do mesmo tamanho que a maioria das casas normais dos outros países.
— Essa é a casa do chefe da aldeia?
Apontando para a casa, Emil assentiu.
— Isso mesmo. E também é a minha casa.
— Eh? — Então não era necessariamente errado dizer que esta aldeia era a aldeia do Emil.
— Você não parece nada impressionada, senhorita…
— Ah, eu deveria ter ficado surpresa? Uau, isso é incrível, você deve ser muito rico!
— Hmm… quero dizer, não é isso… — Uma sombra caiu sobre a expressão do menino.
— De qualquer forma, Emil, quando você vai dar a garrafa para a garota? — perguntei, e ele se animou de novo. Seus altos e baixos emocionais eram divertidamente extremos.
— Hoje! Vou dar para ela depois do almoço. Ah, sim, você deve ficar! A comida da Nino é a melhor!
— Fico feliz por você querer me convidar, mas acabei de comer.
— Certo, vou pedir para que a Nino prepare uma porção pequena para você! Tem alguma coisa que você não come? Vou pedir para ela não colocar!
Parecia que ele queria que eu ficasse para o almoço, não importava o quê. Bem, eu não tenho nenhum motivo para recusar, tenho?
— Não, qualquer coisa serve para mim, mas realmente acabei de comer, então, por favor, peça para que ela prepare pouco, tá?
— Deixe comigo! Vou preparar algumas coisas realmente gostosas!
Mas não é você quem faz a comida. É a Nino.
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E foi assim que me tornei hóspede da casa do chefe da aldeia
Apesar da aparência externa luxuosa e exuberante da casa, o interior era totalmente normal. A sala de jantar que Emil me mostrou era decorada com móveis antigos e a casa do chefe parecia levar uma vida modesta, assim como o resto da aldeia. Na verdade, estava ficando com a impressão de que a propriedade era apenas um grande pedaço de terra com o qual não sabiam o que fazer.
— Certo, sente-se. — Emil puxou uma cadeira e gesticulou em minha direção, e eu me sentei.
— Obrigada. A propósito, onde está a sua empregada?
— Eu me pergunto… Ela provavelmente estará aqui logo, logo.
— E o chefe da aldeia?
— Ele também não deve demorar.
— E o que há com essa sua atitude evasiva?
Depois de passar algum tempo conversando com Emil, senti alguém aparecendo atrás de mim. Mas não foi uma forma de sexto sentido; acabei ouvindo um barulho. Enfim, me virei.
— Ah…
Era uma jovem. Quando nossos olhos se encontraram, ela deu um pulo de surpresa e fez uma pequena reverência assustada. Para ser sincera, isso foi meio patético.
A julgar por suas roupas, esta é a empregada em questão. Ela usava um vestido com avental (o traje clássico de uma empregada doméstica) que era um pouco grande para seu corpo pequeno.
— Como vai? Você é do Leste?
Seu cabelo preto brilhante era liso e seus olhos eram de um castanho escuro e profundo. Parecia uma certa aprendiz de bruxa que encontrei em outro país, também do Leste. Só que o cabelo daquela aprendiz era um pouco mais curto.
— Ah? Uh, hmm…
Talvez tenha sido rude de minha parte perguntar de onde ela era. A garota confusa olhou para Emil em busca de ajuda.
— Sim, ela é. Meu pai encontrou Nino em um país oriental.
— Ouvi dizer que eles estão fazendo você trabalhar como empregada doméstica nesta casa, é verdade?
A garota chamada Nino deu um breve aceno de cabeça.
— S-sim… o chefe da aldeia cuida de mim com muito cuidado.
Sua resposta foi mecânica, como se ela estivesse sendo compelida a ler um roteiro.
— E cadê o chefe da aldeia?
— Ah, hmm… Agora ele está no escritório, trabalhando… — disse Nino, segurando a barra do vestido. — Hmm, você tem algum negócio com ele?
— Não, na verdade não. — Balancei minha cabeça.
Provavelmente irei encontrá-lo quando for hora de comer, de qualquer maneira, então não tenho motivos para pressionar.
Quando esse pequeno diálogo terminou, Nino baixou o olhar, parecia querer evitar qualquer contato visual. Ela não parecia muito boa em conversar com as pessoas.
Mas o menino que a amava não se importou nem um pouco ao se aproximar dela e se abaixar para ver seus olhos.
— Ei, ei, Nino, o que tem para o almoço de hoje? — Não consegui ver sua expressão porque ele estava de costas para mim, mas tenho certeza de que tinha um sorriso enorme.
— Ah, h-hoje é… peixe grelhado, a pedido do chefe da aldeia.
— Yay! Diga, se estiver tudo bem, posso pedir para você fazer um pouco para aquela garota também? — Emil apontou para mim. Nino me observou por um momento e acenou com a cabeça.
— Viu, senhorita?
— Eu agradeço. Obrigada, mas não estou com muita fome, então, por favor, faça uma porção pequena para mim.
— S-sim, senhorita… — Como Emil havia dito, Nino realmente parecia triste. Se alguém entrasse naquele momento e visse seu rosto, poderia supor que nós dois estávamos a intimidando.
— Ah, sim! Ei, Nino, depois do almoço de hoje, tenho um presente para você.
— Ah, p-para mim…?
— Sim. Espero que fique animada!
— N-não… está tudo bem. S-se você der algo a uma serva como eu… o chefe da aldeia ficará bravo… — Mesmo por trás da resposta humilde, essa era uma coisa particularmente servil para se dizer.
— Sem problemas, sem problemas. Vou explicar tudo ao meu pai.
— Ah… mas…
Impaciente, Emil jogou seu trunfo contra a garota mansa.
— Bem, então é uma ordem minha. E aí?
— …
Seus sentimentos deviam ter chegado até ela; afinal, ele foi muito direto, talvez até exagerado. Nino balançou a cabeça lentamente.
— Se é uma ordem… — disse ela, então sorriu levemente.
O menino sorriu de volta.
Pelos próximos momentos fiquei bem entediada.
Emil foi ajudar Nino, deixando a convidada (eu) sozinha na sala de jantar. Eu também tinha ido à cozinha para dar uma mão, mas ele me rejeitou com um sorriso deslumbrante.
— Vá se sentar, senhorita! Nós dois vamos cozinhar!
Não tinha com quem conversar e nada a fazer a não ser esperar o tempo passar, de maneira extremamente improdutiva. Não consigo ficar parada. Quero ler um livro ou algo assim. Mas eu não carrego nenhum comigo…
Acabei passando o tempo sem fazer nada além de sentar na minha cadeira.
Já estava esperando há vários minutos quando um homem gordo se sentou à minha frente.
— Ah, uma convidada.
Ele não era especialmente velho ou jovem, devia estar no final dos trinta ou no início dos quarenta. Talvez. Será?
— Boa tarde. Por acaso você é o chefe da aldeia? — perguntei, convencida de que ele deveria ser.
— Exatamente. — Viu só?
— Me chamo Elaina, sou amiga do seu filho. Sou uma viajante. Prazer em conhecê-lo.
— É um prazer conhecê-la. Sou o pai de Emil.
Eu sei disso. E agora ele havia feito sua aparição no momento perfeito. Exatamente quando precisava de algo para fazer.
— Sr. chefe da aldeia, há quanto tempo está no comando daqui?
— Desde o começo.
— Ah, é mesmo?
— Mm.
— É uma aldeia adorável.
— Mm.
— Vocês têm alguma especialidade culinária local pela qual são conhecidos?
— Não.
— Nenhuma?
— Mm.
— Sério mesmo…?
Sinto que continuei essa tentativa fútil de conversar com o chefe, mas não tenho absolutamente nenhuma lembrança do que discutimos.
Para ser franca, não descobri nada.
Depois de um tempo, Nino e Emil apareceram com a comida. Enquanto os dois preparavam a mesa, minha leve sensação de fome foi acompanhada por uma inquietação indescritível.
— …
Eu poderia jurar que só pedi uma porção pequena.
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— Hã? Nós fizemos pouco! — respondeu Emil, olhando para mim perplexo. — Olha, o peixe é pequeno, e demos a você um pouco menos de salada.
Bem, agora que você mencionou, posso dizer que me deu um pouco menos, mas eu teria ficado bem com menos da metade do que você preparou.
— Hmm… t-talvez seja realmente demais…? Se você não conseguir terminar, sinta-se à vontade para deixar no prato…
— …
Fui silenciada antes que pudesse dizer qualquer coisa.
Ao lado de Nino, Emil estava olhando para mim. E seus olhos diziam: “Não ouse deixar nada para trás.”
Eu comi. Limpei meu prato, na verdade. Foi realmente uma refeição deliciosa, mas só provei as primeiras mordidas. Depois disso, enfiar o restante no estômago provou-se uma tarefa árdua. Que desperdício.
— Obrigada pela refeição! Estava realmente delicioso, Nino.
— O-obrigada… — Nino fez uma pequena reverência envergonhada. — Vou lavar a louça… — Ela se levantou e juntou os pratos e copos. Emil deu uma mão, como se fosse algo natural.
Nesse caso, também ajudarei. Comecei a me levantar, mas, novamente, Emil se virou para mim com um sorriso e disse:
— Está tudo bem, senhorita.
Enquanto os dois se dirigiam para a cozinha, fiz uma pergunta ao chefe da aldeia:
— Onde você encontrou a Srta. Nino?
Depois de esvaziar o resto da água de seu copo, o chefe me respondeu:
— Eu a comprei no Oriente — disse, como se fosse a coisa mais comum do mundo.
Comprou. Em outras palavras…
— Ela é uma escrava?
— Mm. Eu a peguei há alguns anos. Minha esposa nos deixou e, por um tempo, não consegui cuidar de todo o trabalho de casa.
— …
Havia muito que eu queria dizer, mas me contive. Silenciosamente, o incitei a continuar.
— Naquela época, eu viajava para o Leste de vez em quando, a trabalho, e foi onde a encontrei. O preço estava um pouco mais alto do que eu esperava, mas ela era adequada aos trabalhos domésticos e, mais importante, tinha um rosto bonito e parecia que ia crescer e ser uma mulher bonita. A comprei sem pensar duas vezes, e foi uma boa decisão. Ela é uma boa empregada.
O chefe soltou uma risada vulgar.
— Emil sabe disso?
— Acho que disse a ele, mas o menino não parece se importar muito se a sua companheira for uma escrava.
Emil havia dito que o chefe havia “encontrado” Nino, então ele podia não ter percebido que ela era uma escrava.
Mas mesmo que Nino tivesse sido comprada, eu tinha a sensação de que o garoto não mudaria seu comportamento em relação a ela. Ele parecia tratar a todos da mesma forma.
Nino voltou silenciosamente da cozinha no momento em que nossa conversa foi interrompida, olhou nossos copos para se certificar de que estavam vazios e depois os tirou, um por um, da mesa. Ela manteve a cabeça baixa o tempo todo. Acho que ouviu nossa conversa.
— Ei, Nino, onde devo colocar este prato grande?
— Eek…!
Houve um estrondo ensurdecedor.
Emil saiu repentinamente da cozinha e Nino colidiu com ele enquanto retornava, deixando os copos em suas mãos caírem. Fragmentos de todos os tamanhos acabaram espalhados pelo chão.
— O que diabos você está fazendo?! — rugiu o chefe do outro lado da mesa. Ele se levantou furioso e agarrou a estupefata Nino pelas lapelas do avental. — Limpe isso agora mesmo, sua garota inútil! Quanto tempo terei que esperar até que você possa completar todas as suas tarefas direito?!
— S-sinto muito, sinto muito, sinto muito, sinto muito…
— Pare, pai! A culpa foi minha, não foi?! Não culpe só a Nino…
— Cale a boca, garoto! — Emil estremeceu e abaixou a cabeça.
Pelo visto, decidindo que já havia gritado o suficiente, o chefe largou Nino e apontou com o queixo para o vidro.
— Limpe isso.
Com lágrimas nos olhos, Nino acenou com a cabeça e curvou-se várias vezes para os dois e para mim.
— Sinto muito, sinto muito, sinto muito… — repetiu, como se as palavras fossem um feitiço de proteção.
Isso é extremamente desagradável. Sério, que desconfortável.
Empurrei minha cadeira para trás, agachei-me sobre os destroços dos copos e peguei minha varinha.
— Não foi nada demais. Contanto que você tenha todas as peças, não precisa limpar.
Usei um feitiço de reversão do tempo convenientemente projetado para consertar feridas e coisas quebradas. Uma substância branca como a névoa roçou os cacos transparentes. Com a reversão do tempo, as peças se juntaram e voltaram à sua forma original.
Entreguei os copos restaurados a Nino.
— Da próxima vez, tome cuidado para não deixá-los cair, tá?
Eu poderia dizer que ela não fazia ideia do que havia acontecido.
— Ah, obrigada. Você consertou os copos mesmo depois de testemunhar aquela desgraça. — O chefe interrompeu ao meu lado com uma voz calma. — Ei, você, agradeça também.
Espere, você não deve forçar as pessoas a dizerem obrigado.
— Sinto muito… — Além do mais, Nino não entendeu o assunto e disse a coisa errada. Ela estava se curvando profundamente.
— Não se desculpe, agradeça, Nino — falei.
Nino ergueu a cabeça e forçou as palavras para fora com uma voz chorosa.
— Muito… obrigada.
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— Eu também posso fazer esses feitiços, sabe.
Depois que o chefe se trancou em seu escritório e Nino voltou a lavar a louça, Emil ficou calado.
Você não precisa mostrar uma coragem de fachada.
— Ah não, sinto muito. Nesse caso, você não precisava da minha ajuda.
— Não, eu não podia fazer nada. Obrigado senhorita.
— Não foi nada.
— Mas, só para você saber, eu posso fazer aquilo.
— …
Deve ser constrangedor ter sua fraqueza exposta na frente da garota de quem você gosta.
— Você realmente não tem nada com que se preocupar. — Coloquei a mão em seu ombro. — De qualquer forma, agora Nino deve estar muito chateada. Não é sua melhor chance de dar a ela o seu presente?
— Senhorita, você é genial…
— Ehe, vá em frente.
Suas esperanças reacenderam, o humor de Emil melhorou na mesma hora. Ele é uma criança tão simples. Sério, que adorável.
Escondendo a garrafa nas costas, Emil esperou que Nino terminasse seu trabalho.
— Ah… — Nino saiu da cozinha e se encolheu de surpresa quando Emil apareceu de repente diante dela, como um animalzinho. Talvez ela ainda se lembrasse do encontrão que deu com ele.
Emil deu um passo em sua direção.
— Nino, eu disse que tinha um presente para você depois do almoço, não disse?
— S-sim… — respondeu Nino, hesitante.
— Aqui. Este é o seu presente.
Emil estendeu a garrafa para ela. Nino olhou, perplexa, para a névoa branca que se contorcia dentro do objeto. Ela claramente não fazia nem ideia do que era.
— É uma garrafa que enchi com felicidade. — Emil colocou a mão na tampa. — Dentro está cheio de felicidade. Andei por toda parte coletando isso das pessoas.
— Felicidade das pessoas…?
Nino inclinou a cabeça, confusa, e Emil sorriu.
— Você só pode ver uma vez, então observe atentamente, tá?
Com uma sacudida satisfatória, ele destampou a garrafa. Agora que estava livre, a névoa branca voou para fora da garrafa, até o teto. Quando o teto ficou completamente coberto por nuvens brancas, pequenas partículas começaram a girar lentamente na névoa.
Como cacos de vidro, as partículas brilharam com a luz refletida para criar uma tela fantástica. As partículas brilhantes eram os fragmentos de felicidade que Emil havia coletado, projetando as cenas que o inspiraram.
Alegria pelo nascimento de uma criança. O contentamento de ver uma paisagem pitoresca. O sutil deleite ao se encontrar uma linda flor. A satisfação de superar uma dificuldade. O prazer tranquilo de se esparramar ao sol para ler um livro em um dia de folga e cochilar sem se preocupar.
— O mundo exterior está cheio de muita felicidade, sabe? — Emil segurou a mão de Nino. — Então, não fique tão triste o tempo todo. Também estou aqui para te fazer feliz.
Quanto a Nino, ela observava as luzes brilhantes com espanto e, em pouco tempo, começou a chorar em silêncio. Ela cobriu a boca com a mão para abafar o som enquanto as lágrimas escorriam por seu rosto.
Emil sorriu, um pouco confuso, e gentilmente a abraçou.
As lágrimas escorrendo por seu rosto brilharam como os fragmentos de felicidade.
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— Você poderia ficar um pouco mais.
Estávamos nas duas árvores que ficavam no lugar de um portão. Emil tinha ido para a periferia da aldeia para se despedir de mim e estava fazendo beicinho como um cachorrinho abandonado. Ao lado dele estava a empregada, Nino. Ela nunca foi muito expressiva, então não pude dizer se ficou triste com a minha partida.
Balancei minha cabeça.
— Desculpe, mas não posso ficar mais — disse, pegando minha vassoura.
— Então venha nos ver de novo, tá bom…? Nino e eu cozinharemos para você de novo, e da próxima vez ficará ainda melhor, entendeu?
— S-sim… estaremos esperando. — Nino fez uma pequena reverência.
Peguei minha vassoura e a segurei no ar.
— Pode deixar. Eu voltarei. Algum dia, com certeza.
Quando minhas viagens chegarem ao fim, quem sabe.
Os dois acenaram para mim enquanto eu recuava, Emil balançando os braços freneticamente e Nino acenando com calma e delicadeza.
— …?
Acidentalmente fiz contato visual com a garota.
Seus olhos eram como a escuridão profunda, e quero dizer mais do que apenas a cor. Eles estavam ansiosos, desesperados, como se ela estivesse em um estado de desespero inimaginável. Como se já estivesse morta. Não era nada parecido com quando nos encontramos na mansão do chefe da aldeia.
Me pergunto o motivo…
Eu já estava vendo a próxima estrada quando me lembrei do final daquele livro que li há muito tempo.
A história de um marido que caminhava mundo afora, capturando magicamente belas paisagens no momento em que as via, e levando-as para casa para mostrar à sua esposa doente, que não podia sair de casa.
Como foi que esqueci daquilo? Aquilo me deixou uma sensação horrível.
A história terminou quando a esposa, que ansiava por ver o cenário por si mesma, forçou seu corpo enfraquecido a se mover e morreu mais cedo do que deveria. Era uma fábula, e a moral era: “As coisas que pensamos que fazemos para o bem dos outros nem sempre são o melhor para as pessoas”.
O que será que Nino ficou pensando depois de ver o conteúdo daquela garrafa? A que decisão ela chegou? Ela não poderia…
— …
De jeito nenhum. Ela não iria.
Quando olhei para trás, o vento soprava através da ampla campina de um verde brilhante. As flores silvestres brilhavam ao sol, como a superfície da água parada balançando ao vento.
Realmente era um lugar lindo. Mas eu não tinha motivos para voltar.
Se voltasse, acabaria ficando triste.
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