Bruxa Errante, a Jornada de Elaina

Bruxa Errante, a Jornada de Elaina – Vol. 01 – Cap. 04 – Captação de Recursos

— Ah, isso é ruim…

Eu tinha chegado a um pequeno país que não parecia ter nenhuma característica definida, mas não estava lamentando o clichê do ambiente urbano. Minha bolsa, por outro lado, estava em péssimo estado.

Depois que fui forçada a sacrificar três moedas de prata com a taxa de entrada, os três cobres restantes e uma única moeda de prata tiveram que se contentar em um pequeno quarteto lamentável. Infelizmente, a moeda de prata era tão velha e suja que ninguém conseguiria distingui-la dos cobres, a menos que olhasse direitinho. Eu não tinha certeza nem se seria capaz de usá-la.

Uma moeda de cobre geralmente era o suficiente para comprar um pão. Com uma moeda de prata, poderia passar uma noite em uma pousada barata e, se tivesse ouro, poderia comprar alguns acessórios de alta classe.

Ou seja: o melhor que eu poderia fazer seria cravar os dentes em um pedaço de pão em uma velha pousada capenga, me enrolar sob alguns lençóis finos e tentar dormir para esquecer as dores da fome. Isso era tudo.

Resumindo, estava à beira da morte.

— O que eu vou fazer…?

Sempre que estou com problemas financeiros fico com vontade de gastar dinheiro. Segurando meu estômago roncando, caminhei por uma grande avenida. Barracas de comida estavam alinhadas como joias cintilantes, vendendo pão, frutas, vegetais e também algumas outras coisas. Faminta como estava, quase podia ouvi-las me chamando.

Ah, eu quero comer tudo…

Eu quero comeeeer…

— Hmm, eu gostaria de um pouco de pão, por favor.

Quando me dei conta, estava em frente a uma barraca de comida. O rico aroma de trigo flutuava pelo ar. Não tinha nada indicando os preços.

A bem-humorada senhora sentada do outro lado da bandeja de pão olhou para mim e sorriu.

— Vai custar 3 moedas de cobre.

Nossa, que ousadia. Vir aqui foi um erro.

Aconteceu de ela ser uma raposa velha que extorquia dinheiro dos pobres.

— Hmm? Com licença; talvez minha audição não seja das melhores. Você poderia repetir o preço?

— Vai custar 3 moedas de cobre.

— Entendi, então três pedaços de pão vão me custar três cobres?

— Não, cada pão custa 3 moedas de cobre, obviamente. Algo de errado com a sua cabeça, senhorita?

Eu deveria estar perguntando a mesma coisa! Você é louca? Por que eu teria que pagar três cobres por um pão velho que ficou jogado aí sabe-se lá por quanto tempo? Queria que ela ouvisse as minhas reclamações, mas, infelizmente, não tive energia para levantar a voz.

No final, não disse nada e fui embora. Ainda exausta e sustentada por nada além de ar e minha própria saliva, passei pelas horríveis barracas de comida que me tentavam.

Seguindo direto pela larga avenida, cheguei a uma praça aberta onde uma grande fonte se estendia em direção ao céu. Não havia nada de incomum; era o tipo de arquitetura que poderia ver em qualquer lugar. E no banco ao lado da fonte estava um homem e uma mulher conversando e rindo, sem prestar atenção nos arredores – outra cena completamente comum.

Decidi não pensar se minha irritação realmente justificava o desejo de assá-los vivos e fui em direção à fonte. Pegando a água corrente com as duas mãos, bebi. O líquido gelado desceu pela minha garganta e me senti instantaneamente revigorada.

— Olhe, querido, aquela bruxa está bebendo água da fonte.

— Ela está mesmo! Que rude! Ha-ha-ha-ha!

— … — Reuni energia mágica em minhas mãos, puxei minha varinha e me virei em silêncio.

Na mesma hora, com um estalo sutil, o banco se dividiu em dois.

— Kyah! O que aconteceu com o banco?

— Talvez seja inveja do nosso amor! Ha-ha-ha!

— …

Eram tão estúpidos que eu não conseguia nem continuar brava com eles.

A fonte de água acalmou um pouco meu estômago vazio, então, depois de guardar minha varinha, continuei.

Antes de mais nada, precisava encontrar um lugar para passar a noite.

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— Quer alugar um quarto? São três moedas de prata.

— Por três noites, né? Desculpe, eu só quero reservar uma noite.

— Não, uma noite são três pratas.

— …

Já era a sexta pousada. Eu tinha começado minha busca pelos hotéis mais baratos, então como isso estava acontecendo? Cada pousada estava cobrando pelo menos três vezes o preço normal.

Este lugar tinha rachaduras nas paredes e nem tinha banheiro, mas o proprietário estava dizendo que uma noite custava três moedas de prata? Que piada.

Eu continuei:

— Não podemos negociar? Só tenho uma prata e três cobres… — Virei minha bolsa de cabeça para baixo no balcão. Clink… a triste verdade era até mesmo audível.

— Não são quatro cobres?

— Ah, esta é de prata.

— Ah, é mesmo… Está bem suja.

— Não tem nada que você possa fazer?

— Não tem nada que eu possa fazer. — O homem que dirigia a pousada suspirou. — Por favor, entenda, senhorita. São negócios.

— Então extorquir dinheiro dos pobres faz parte dos negócios?

— O comércio sempre foi assim.

— Aughhh… — Não havia como negar, e parecia que ficar nesta pousada não era uma opção. — Eu só tenho uma pergunta para você.

— E qual seria?

— Não acha que os preços deste país estão um pouco altos? A cidade nem mesmo tem atrações para visitar, ou algum produto local exclusivo que justificaria aumentar tanto os preços básicos de todas as coisas.

— Uh… Senhorita, você é uma viajante, então não saberia… — murmurou o homem.

Como eu esperava, tinha algo a mais.

Depois de olhar ao redor, o homem abaixou a voz.

— O rei recém-coroado é um homem mesquinho e inflacionou a moeda local artificialmente.

— Artificialmente? Você quer dizer que dinheiro falso está circulando no mercado?

O homem assentiu.

— Isso mesmo. E com todo o dinheiro falso circulando, o valor de nossa moeda despencou. Como uma estranha, os preços neste país parecem um pouco altos, mas para todos que vivem aqui, está tudo com um preço razoável.

— Razoável, hmm…? Mas é dinheiro falso, certo? Não tem nenhuma penalidade por usá-lo?

— Foi o rei quem colocou isso no mercado, então espero que não.

Entendo.

Finalmente entendi o que estava acontecendo neste país. Eu não sabia o que o rei estava tentando fazer, mas se ele pensava que poderia estimular sua economia com moedas falsas, então com certeza era uma pessoa muito idiota. Mas, pelo visto, não teve muita resistência de seus cidadãos quanto a isso…

— Na verdade, não importa se o dinheiro que estamos usando é real ou falso. Se o rei aumentar a quantidade de dinheiro em circulação, os cidadãos podem simplesmente aumentar os preços. Isso não nos causa problemas, aos habitantes locais, digo. Quem acaba se complicando são só aqueles iguais a você, os viajantes.

— Nós com certeza sofremos… Pessoas que vêm de fora podem ficar com o coração partido pelos preços altos. — Pessoas como eu.

O homem olhou rapidamente para algo atrás de mim. Quando olhei, vi que outro cliente fez fila atrás de mim e me deparei com as três moedas de prata para uma noite. Pelo visto, pagar o triplo do preço normal realmente parecia apropriado para os habitantes locais.

— Isso é tudo, senhorita?

— Sim. Muito obrigada por suas valiosas informações.

Fiz uma reverência e saí da pousada.

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Eu teria que trabalhar para ganhar dinheiro para conseguir dormir em um quarto decente.

Voltei para a larga avenida onde não consegui comprar pão e sentei-me discretamente na beira da rua para observar as pessoas passando. Pareciam bem despreocupadas enquanto iam às compras.

Mesmo sabendo que estavam usando dinheiro falso, estavam felizes como se não estivesse acontecendo nada.

— …

Como eu era uma viajante, mais cedo ou mais tarde acabaria usando todo o meu dinheiro. Nunca tinha me estabelecido em algum lugar e aceitado um emprego, então isso era inevitável. Já tive problemas com dinheiro muitas vezes antes. Afinal, não poderia nem entrar em um novo país se ficasse sem qualquer tostão.

Normalmente, fingiria ser uma lojista, ou ajudaria alguém necessitado, ou faria outra coisa para ganhar alguns trocados. Mas, pensei, se não importa se o dinheiro que as pessoas estão usando é real ou falso, então não tem razão para não usar isso em meu benefício, certo?

Desta vez, também venderei meus serviços por três vezes o preço normal. Então, serei como todo mundo por aqui, alguém que pode usar moedas falsas sem um pingo de culpa.

— Ei, você! — gritei para um jovem que descia a rua com uma expressão séria.

Seus ombros se curvaram de surpresa e ele se virou para mim.

— Hã, eu?

Balancei a cabeça e acenei para ele.

— Tem alguma coisa te incomodando, não tem?

— Hmm, quem é você?

— Caramba, que rude da minha parte. Esqueci de me apresentar. Sou uma adivinha viajante — falei sem vergonha nenhuma, depois ergui meu chapéu pontudo e olhei para o jovem cabisbaixo.

— Alguma coisa me incomodando…? — repetiu ele, ainda cético. — Realmente pareço tão chateado?

— Com certeza. É a única coisa que vejo em seu rosto.

— Sério…

— Sério. — Balancei a cabeça vigorosamente.

De acordo com minha experiência, quando se trata de negociações comerciais, a hesitação está diretamente ligada ao fracasso. No momento em que se mostra hesitação – no momento em que uma rachadura se torna visível – é quando a outra parte começa a suspeitar das coisas. Em outras palavras, é melhor agir com confiança.

Foi por isso que prontamente afirmei:

— Muitas vezes não sabemos o que está nos incomodando. Por exemplo, falta de confiança em sua aparência pessoal, ou problemas no trabalho, ou sentimentos de pavor por não conseguir encontrar a alma gêmea mesmo depois de tanto tempo…

— …!

Percebi a ligeira mudança em sua expressão. Aha, então ele está tendo problemas para encontrar uma namorada. É isso?

— Você está se sentindo preocupado porque… não consegue encontrar uma namorada. Não é verdade?

— Acho que sim…

Ele se virou para desviar o olhar e eu voltei a falar:

— Devo ler sua sorte e descobrir quando sua alma gêmea aparecerá diante de seus olhos?

Peguei minha varinha e convoquei um pouco de energia mágica. Com um puf! fofo, uma pequena chama apareceu.

— Ah… — E imediatamente depois de aparecer, foi soprada por uma brisa. Pelo visto, não convoquei energia mágica suficiente. A fumaça saiu da ponta da minha varinha em uma despedida relutante.

Eu deveria examinar as chamas para ver a sorte de alguém, mas não estava rolando.

Depois de soprar todo o resto da fumaça, balancei a minha varinha.

— Ah, entendo, entendo.

— Hã? Isso foi o suficiente?

— Sim. O que acabei de fazer é conhecido como leitura de fumaça, é um estilo de leitura da sorte em que prevejo seu futuro examinando a fumaça. — Uma mentira, claro.

— Nunca ouvi falar sobre algo assim antes.

— Normal que não tenha ouvido. Esse estilo de adivinhação é uma arte secreta, transmitida de geração em geração na minha família, então não é algo que a maioria das pessoas conheça.

Eu não podia me dar ao luxo de arruinar o meu disfarce, então tive que cortar esse tipo de assunto.

— A propósito, em relação à sua alma gêmea…

— S-sim. E então? Quando eu posso encontrá-la?

— Hoje.

— Huh, hoje? Espera, você está dizendo que é v…?

— Esta noite, sua alma gêmea aparecerá diante de seus olhos — continuei, antes que ele pudesse se envergonhar e dizer algo de que se arrependeria. — Se seguir em frente, chegará a uma praça com uma fonte, certo? Deve ter um banco quebrado próximo à fonte. — Peguei algo da minha bolsa e estendi para ele. — Se enrolar isso em sua mão e ficar ao lado do banco, sua alma gêmea aparecerá diante de você.

Ele pegou o objeto da minha mão e inclinou a cabeça, confuso.

— O que é isso…? Parece só um pedaço de barbante comum.

— Mas não é. É um barbante mágico, imbuído com minha energia mágica. Ele tem o poder de atrair boa sorte.

Eu não tinha realmente colocado nenhuma energia mágica no barbante, é claro. E mesmo se fizesse isso, não teria o poder de atrair a boa sorte de ninguém. Na verdade, acabei pegando ele em uma das barracas pelas quais tinha passado.

— Se eu estiver com este barbante… vou encontrar a minha…

— Sua alma gêmea, sim. Agora fique atento e espere até esta noite. Não gostaria de decepcionar a pessoa a quem está destinado, não é?

Um tanto intrigado, o jovem agarrou o barbante com força.

— Entendi. Vou enrolar isso em volta da minha mão e esperar no banco.

Ele se levantou para sair, com um sorriso renovado, mas o interrompi na mesma hora.

— Senhor, a taxa pelo barbante e pela leitura da sorte equivalem a uma única peça de ouro. — O jovem fez uma careta, obviamente, até que eu disse as palavras mágicas: — Não se preocupe. Se por acaso não encontrar o que busca, vou te oferecer um reembolso.

Cerca de uma hora se passou desde que o jovem de rosto sério partiu.

Uma jovem passou. Seu vestido era simples, assim como seu rosto – tudo nela era simples. E parecia ter a mesma idade que eu.

Havia muito com o que trabalhar, mas ela estava desperdiçando seu potencial com roupas que pareciam ter saído do chão do armário, para não falar de sua pele e cabelo.

Assim como minha moeda de prata sem graça. E então meu próximo cliente foi escolhido.

— Ei, você! — gritei quando ela passou, de cabeça baixa. — Estou certa em assumir que está sofrendo para encontrar um amante?

A jovem saltou de surpresa e se virou para mim.

— E-eu…?

— Sim, você.

— Hmm, quem é você?

— Caramba, que rude da minha parte. Esqueci de me apresentar. Sou uma adivinha viajante — disse descaradamente, depois ergui meu chapéu pontudo e a encarei.

A garota tremia como uma presa aos olhos de um predador.

— C-como você sabia disso? — perguntou ela com medo.

— Eu sei essas coisas. Afinal, sou uma adivinha. Posso ver tudo, desde seus sentimentos perturbados até sua alma gêmea predestinada.

— M-minha alma gêmea? V-você realmente pode ver?

— É claro. Posso ver claramente, bem diante dos meus olhos. — Claro, era tudo mentira.

— Então, quando ele vai aparecer?

— Hoje.

— H-hoje…?

A garota olhou para mim com apreensão, seu coração disparando com a menção de uma alma gêmea. Mas eu não estava com pressa. Tudo estava ocorrendo exatamente como planejado.

— Se você for em frente, verá uma praça com uma fonte, certo? Deve ter um banco quebrado próximo à fonte. — E, assim, mantendo uma compostura muito uniforme, contei o resto. — Esta noite, um jovem com um pedaço de barbante velho enrolado na mão estará lá. É ele.

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As coisas continuaram assim por um tempo.

Peguei algumas pedras ao redor da área e disse às pessoas que iriam melhorar a sorte, manipulei almas gêmeas para se conhecerem, e assim por diante. Após vários dias de excelentes negócios, minha bolsa ficou cheia de moedas. Pelas minhas estimativas, ganhei o suficiente para viver bem por vários meses.

Ora, ora, devo agradecer ao rei que fez as moedas falsas.

Como os preços eram tão elevados neste país, gastei muito dinheiro com hospedagem e alimentação, mas todos ficaram felizes em pagar uma tarifa muito mais alta pelos meus “serviços” do que o normal. O valor real do dinheiro neste país era menor do que nos outros.

— Sim, eu imbuí esta placa de PROMOÇÃO com meu poder mágico… Se você pendurar na frente de sua loja, os pães vão sumir das prateleiras.

— Sério? Vou colocar agora mesmo.

— Que ótimo. Bem, a taxa para a placa e a taxa para a consulta somam três moedas de ouro.

— Você vai me dar três placas?

— Não, cada uma custa três moedas de ouro, é óbvio. Algo de errado com a sua cabeça?

As moedas em minha carteira se multiplicaram mais uma vez.

Vendi minha placa escrita à mão para a mulher da padaria, que veio até mim depois de ouvir rumores sobre meus serviços, e com isso meu trabalho acabou. Um tilintar alegre soava de minha carteira muito pesada.

Pois bem, é hora de voltar para o meu lamentável alojamento. Me levantei, me espreguicei um pouco e peguei meus pertences.

— Você aí!

De repente, alguém agarrou meus ombros por trás e eu me virei, surpresa. Ali, parado, estava um soldado.

Vários soldados, na verdade. Tinha mais ou menos uns dez, todos vestidos da mesma forma, e lentamente se moveram para me cercar. Cada um estava segurando uma lança e armas penduradas nas costas. Não pareciam nada com os habitantes locais.

— Você é a adivinha, certo? — perguntou o homem parado bem na minha frente.

— Não, você está enganado.

— Não minta. Temos observado você interagir com os clientes.

— …

Suor se formou em minhas bochechas.

Merda. Merda, merda, merda.

O que eu faço? Alguém deve ter feito uma reclamação sobre o fato de eu estar fazendo estelionato, mas não é como se realmente tivesse enganado alguém. Ahhh, o que eu faço agora…? Não posso correr; eles me cercaram. Poderia usar magia para escapar, mas não quero me tornar inimiga de um país inteiro…

— Venha comigo — disse o homem na minha frente, todo desapaixonado. — O rei quer vê-la.

Não pude acreditar no que estava ouvindo – mas tenho certeza de que isso não seria surpresa.

O círculo de homens ao meu redor me levou pela cidade insípida e chegamos a um palácio muito sem graça. Exceto pelos preços absurdos, não havia realmente nada de interessante neste país.

Em um estrado elevado, onde duas escadas se encontravam, na sala mais espaçosa do palácio, um jovem estava sentado entre dois tronos, em uma cadeira que parecia bem cara.

De sua cadeira, o jovem rei olhou para mim e falou:

— Então você é a adivinha viajante, hein? Você é muito jovem.

— Você também é muito jovem, Vossa Majestade. Achei que seria mais velho. — Os soldados olharam para mim friamente, mas eu não quis ser sarcástica. Realmente esperava alguém mais velho.

O rei se dirigiu aos soldados:

— Vocês todos podem ir. Deixem-nos — disse, afastando-os com a mão. Os soldados se retiraram, deixando apenas nós dois na espaçosa câmara, e o rei falou novamente: — Ouvi rumores de que você pode realmente prever o futuro. Isso é verdade?

— Sim, bem… é mais correto dizer que ajudo o futuro.

— E suas habilidades só funcionam em humanos?

— Como assim?

— Estou perguntando se poderia funcionar em uma escala mais ampla também. — Sua voz estava bem calma. Eu não consegui ler o que ele estava pensando.

Ele acredita em minhas habilidades? Ou não? Ou será que viu através das minhas mentiras?

Evitei a pergunta.

— Sobre que tipo de futuro você quer saber?

— O futuro deste país — respondeu o jovem rei.

— O futuro do país… Huh. — Enquanto balançava a cabeça obedientemente, pensei: É isso? Não precisava ser um adivinho para prever o futuro deste país. Era simples.

Bem, tanto faz, não sou nenhuma adivinha mesmo.

— Antes de responder à sua pergunta, tem uma coisa que gostaria de te fazer, Vossa Majestade.

— E qual seria?

— Por favor, diga-me suas razões para colocar dinheiro falso na economia do seu país.

Ele franziu as sobrancelhas e soltou um suspiro.

— Isso não faz sentido.

— O quê, é tudo dinheiro de verdade? — Pensei nas moedas esticando minha carteira. Se todas forem reais, estou extremamente rica! Yay!

— Sim… Coloquei dinheiro real e autêntico em circulação, embora não tenha sido ideia minha.

— Alguém disse para você fazer isso?

O jovem rei acenou com a cabeça.

— Uma pessoa que era muito próxima do rei anterior. Como acabo de ascender ao trono, confio a ele todas as questões de política econômica. Seu plano era estimular nossa economia circulando a moeda recém-cunhada, mas não está dando muito certo.

— …

Esse não parece ser o problema aqui, mas…

— Após o aumento repentino da cunhagem, espalhou-se a notícia de que o novo dinheiro era falso, mas isso é um completo absurdo.

— Não existe nenhuma chance de que este conselheiro próximo esteja mentindo…?

— Sem chance. Chamei vários especialistas ao palácio e pedi que investigassem o assunto em segredo, mas as moedas recém-cunhadas são, sem dúvida, reais. O boato sobre dinheiro falso é mentira — disse o jovem rei antes de se levantar.

Ele desceu as escadas do estrado lentamente e se aproximou de mim.

— Meu conselheiro fez muito bem por este país. Na verdade, acho que ele deveria ser rei no meu lugar, embora a natureza hereditária de nossa monarquia torne isso impossível. Além de impulsionar as políticas governamentais, ele está sempre ao meu lado para me aconselhar. Se não estivesse aqui, eu já teria perdido minha coroa, tenho certeza.

— …

Parando bem na minha frente, o rei demonstrou uma expressão de dor.

— Mas, desta vez, estou começando a me perguntar. Não acho que ele esteja nos guiando para a prosperidade. Não quero duvidar dele, mas o estado atual de nossa economia não é boa. Esses rumores infundados sobre moeda falsa estão correndo soltos, e agora que os preços estão subindo, os viajantes estão indo embora. O comércio também não está indo bem.

Depois de ouvir seus problemas, só consegui pensar em uma coisa: Ele quer que eu o tranquilize. O rei queria que alguém lhe dissesse que o futuro do país seria pacífico, que o conselheiro em quem confiava não estava mentindo e que colocasse seus medos de lado.

Parece ser uma pessoa muito simples. Não, provavelmente é mais correto dizer que é honesto ao ponto de ser sem noção.

— E é por isso que quero que você preveja o futuro deste país. Consegue? — perguntou.

Claro, minha resposta já estava decidida.

— Consigo. — Balancei a cabeça, e os olhos do jovem rei brilharam.

— Ah, sério?! — Ele pegou minha mão em seu entusiasmo, então puxei minha mão e dei um passo para trás.

— Sim, eu nunca minto — falei. É sobre isso que as pessoas falam quando dizem que alguns acham que mentir é tão fácil quanto respirar? — No entanto, antes de prever o futuro do seu país, tenho algumas condições.

— Diga-as.

Levantei meu dedo indicador.

— Em primeiro lugar, deixe-me ficar aqui por uma noite. A previsão da sorte para um país inteiro é um trabalho exaustivo. Além disso, é necessário que eu compreenda todo o país a partir do palácio que fica no seu centro.

— Certo. Entendi. Vou providenciar isso agora mesmo. — O jovem rei assentiu com entusiasmo.

Levantei o próximo dedo. A primeira condição era apenas um brinde. Não seria errado dizer que era uma etapa preparatória para ajudar no meu plano real. A próxima condição que era a importante.

— E segundo…

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Depois disso, fui para o quarto fornecido pelo jovem rei, deitei-me em uma cama macia e fofa pela primeira vez em muito tempo e revi minha estratégia. Teria que esperar até a hora de agir.

Quando o sol do lado de fora da minha janela se pôs completamente e o céu ficou escuro, abri os olhos.

Finalmente chegou a hora.

Peguei minha varinha e coloquei a ponta contra minha cabeça.

— Ey.

Com um puf! baixinho, virei um ratinho.

Havia lançado um feitiço em mim mesma para mudar de forma. Eu estava cansada, então realmente não queria fazer isso, mas não havia maneira de contornar. Minha transformação permitiu que me movesse com facilidade enquanto corria em direção ao meu objetivo, relembrando o mapa que pedi ao jovem rei para me mostrar.

Como havia a possibilidade de encontrar um fim violento se seguisse pelo corredor errado, optei por passar pelo sótão em vez do interior deslumbrante do palácio. Andei ao longo das tábuas empoeiradas do piso até chegar diretamente acima da sala do conselheiro do rei.

Espiando por um buraco no teto, pude ver um homem de meia-idade com os cotovelos apoiados em uma mesa. Um único soldado estava parado em posição de sentido em frente a ele, vestindo o mesmo uniforme dos soldados daquela tarde.

Pude adivinhar pela tensão no ar que esta não era uma conversa amigável.

— Bem, que tal, Pai? — disse o jovem.

— Que tal o quê? — O homem mais velho coçou a cabeça. — O plano está indo bem. Em breve, chegará a hora de expulsar aquele rei.

— E quando será isso? Já faz um bom tempo que você diz “em breve”.  — A voz do jovem estava tensa de frustração.

Espera um segundo – já ouvi essa voz em algum lugar. Meu minúsculo cérebro de camundongo tentou se lembrar, e uma pessoa com a voz bem parecida surgiu em minha mente.

Acho que o jovem falando com o homem mais velho é o soldado que me agarrou pelo ombro nessa tarde. Se não estou errada…

— O rei convocou uma adivinha viajante ao palácio, e tenho certeza que ele perguntou a ela sobre o futuro de nosso país. É provável que nosso plano agora seja descoberto.

O homem mais velho sorriu.

— Aquele menino é totalmente dedicado a mim; duvido que faça tal coisa. Ele provavelmente apenas a fez prever sua sorte para amanhã.

— …

— Além disso, aquela adivinha viajante também é suspeita. Ela provavelmente é uma vigarista mesquinha.

Cof.

— A adivinha é só uma jovem…

— As aparências enganam.

Sim, você está exatamente certo. Não sou só uma jovem, sabe. Sou uma bruxa.

Talvez cansado da conversa, o jovem suspirou profundamente.

— De qualquer forma, mantenha sua promessa — disse.

— Sim, pretendo, então você cumpra sua parte nisso também. Afinal, suas ações são críticas para o meu plano.

— Entendo.

O jovem estava prestes a sair do cômodo quando tudo aconteceu.

O teto rangeu, então se abriu com um estalo alto de trituração, e uma bruxa com cabelos acinzentados e uma varinha na mão caiu na sala.

Quem será que era?

É isso mesmo que você pensou.

— Hah, hah, uf…

Ahhh, devo estar parecendo tão estranha…

Meu feitiço havia acabado na metade da minha missão. Devo tomar mais cuidado ao tentar feitiços desconhecidos.

Aparentemente, o teto era perfeito para um rato espiar por um buraco e olhar para baixo, mas não um corpo humano. Ele quebrou no momento em que voltei à minha forma normal.

Será que estava podre de tão velho? Com certeza não é por causa do meu peso… Eu acho.

— Q-quem é essa?!

Quando me levantei, limpando a poeira, descobri que o homem mais velho tinha uma arma apontada para mim. Devia estar escondida na mesa.

Bem, ele está preparado.

Balancei minha varinha. Instantaneamente, um buquê de flores surgiu na ponta da arma. Era um belo buquê, se é que posso dizer.

— Por que você…! I-isso é…

Na minha admiração pelas flores, havia me esquecido completamente do fato de que havia outra pessoa atrás de mim. Mas dar meia-volta daria muito trabalho. Tonk. Bati no chão com minha varinha e dei ordens para os fragmentos de madeira espalhados.

Os fragmentos de repente brotaram com trepadeiras verdes de hera que voaram em direção aos dois homens e os capturaram.

— Você é o conselheiro do rei, né? — Encarei o homem mais velho, cujas mãos e pés agora estavam amarrados.

Ele olhou para mim com confusão e ódio.

— Quem é você?

— Pai, esta é a adivinha viajante — gritou o jovem atrás de mim.

Balancei a cabeça calmamente.

— Ele tem razão. Adivinha viajante, ao seu dispor.

O homem mais velho se contorceu como uma lagarta, completamente imóvel.

— O quê você quer comigo…?

— Qual é, já não sabe a resposta?

— …

Silêncio.

Eu me virei. O homem que me escoltou durante a tarde estava olhando para mim.

— Quais são as suas intenções?

E então respondi:

— Pretendo prever um futuro de paz para este país.

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Depois disso, os dois homens foram presos quando os guardas do palácio apareceram para ver a comoção. Eles foram apresentados ao rei e forçados a revelar toda a verdade.

Pai e filho planejavam conquistar o país.

Como eu suspeitava, a nova moeda foi falsificada. Pelo visto, os especialistas que disseram ao jovem rei que a moeda era genuína aceitaram subornos do conselheiro e também eram mentirosos.

Os dois tentaram mergulhar o país no caos de propósito, criando dúvidas sobre o sucessor da coroa. O plano deles era colocar a culpa no jovem rei e orquestrar sua queda em desgraça. Devem ter esperado que o conselheiro pudesse se tornar o novo rei, com seu filho como herdeiro.

Bem, esse plano acabou em fracasso.

Agora estavam trancafiados na prisão. Eu não sabia o que seria deles, mas não precisava mais me envolver.

Depois que o interrogatório dos dois conspiradores foi concluído, fui convocada entre os tronos para aceitar um presente do jovem rei.

— Muito obrigada. — Verifiquei o conteúdo e balancei a cabeça. Dentro da minha bolsa havia um grande número de moedas antigas.

Como minha segunda condição para prever o futuro do país, fiz com que ele trocasse todo o dinheiro que ganhei pelo velho, para me livrar de qualquer falsificação.

— Vou trocar todo o dinheiro falso que circula pelo país. — O jovem rei parecia exausto. — Parece que a maior parte do dinheiro em sua carteira também era falsificada.

— Imaginei que fosse.

O significado da minha promessa de prever o futuro do país tornou-se um pouco vago. Desde que eu tinha livrado o jovem rei do verdadeiro problema que o atormentava, ele não precisava mais de uma adivinha.

Fiquei aliviada ao descobrir que não precisava esticar ainda mais a verdade.

Havia algumas coisas que me preocupavam um pouco sobre o que viria a seguir para ele e seu povo, mas teria que deixar este lugar logo. Afinal, eu era uma viajante. Quanto a que caminho este país seguiria, a menos que alguém realmente olhasse para o futuro, ninguém jamais saberia. Incluindo eu, é claro.

— Mas é realmente uma pena. — O jovem rei suspirou profundamente. — E pensar que ele estava mentindo para mim o tempo todo.

— Esse é o problema dos mentirosos — respondi. — Você nunca consegue ver a mentira em suas faces.

 


 

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Bravo

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