Alya às Vezes Esconde seus Sentimentos em Russo

Alya às Vezes Esconde seus Sentimentos em Russo – Vol. 01 – Cap. 06 – É a primeira vez que vejo a sombra da morte

 

Há muito tempo, quando estava na escola primária, eu costumava ir a um parque perto da casa do vovô, para onde eu corria direto no caminho de volta para casa depois da escola. Olhei ao redor na entrada e a vi sentada em uma cúpula de plástico com alguns túneis passando por ela.

        Ei, _____!

— Привет, ______!

Quando chamei pelo nome dela e corri em sua direção, ela olhou para mim com estrelas nos olhos e imediatamente abriu um sorriso enquanto acenava.

<Mashachika!>

        Pela última vez, meu nome é Ma-sa-chika!

— Последний раз, меня зовут Ма-sa-chika!

Eu a corrigi com um sorriso, como sempre fazia, mas ela riu alegremente como se não se importasse. Ver o sorriso dela assim me fez não me importar mais também.

        Masaaachika, venha até aqui comigo!

— Masaaachika, Подойди ко мне!

        Sério?

— Серьезно?

        Vamos! Rápido!

— Поехали! Быстро!

        Ok.

— Окей

A cúpula de plástico tinha uma escada presa ao lado, então eu coloquei minha mochila no chão e subi até o topo da cúpula com meus pequenos braços e pernas, lutando todo o caminho.

        Ta-da! Estou aqui!

— Та-да! Я здесь!

Ela me recebeu com um sorriso enquanto seu longo cabelo dourado brilhava ao sol da tarde. Eu ainda consigo me lembrar do olhar nos seus olhos azuis alegremente franzidos.

        Olhe, olhe! O pôr do sol está lindo!

— Смотри, смотри! Закат прекрасен!

        Sim, realmente está.

— Да, это действительно так.

Nós nos sentamos e assistimos ao pôr do sol juntos enquanto conversávamos sobre nada em particular. Tecnicamente, eu era quem mais falava, no entanto.

        E essa Academia Seiren é na verdade a escola para a qual meus pais foram, parece que é realmente, realmente difícil entrar, mas disseram que seria fácil para alguém com notas como as minhas..

— И эта Академия Сейрен на самом деле та школа, в которую пошли мои родители.

        Uau, Masachika! Você pode fazer qualquer coisa!

— Вау, Масачика! Ты можешь всё!

        Heh. Eu queria.

— Heh. Жаль.

Ela me elogiava genuinamente e até parecia gostar de ouvir minhas constantes bravatas. Eu me sentia tão feliz e orgulhoso sempre que ela me elogiava. Eu teria feito qualquer coisa por ela, não importa o quão difícil, fosse estudar, esportes ou até mesmo música.

        Ah, deveríamos começar a ir para casa…

— Ах, нам, наверное, пора идти домой…

Era uma regra entre nós que nos despediríamos uma vez que escurecesse.

        Boa noite, Masaaaachika. Até amanhã.

— Спокойной ночи, Масачика. До завтра.

        Yeah, até amanhã, _____.

— Да, до завтра, ____.

Ela então me deu um abração e um beijo na bochecha. Eu estava muito envergonhado para abraçá-la e beijá-la de volta, mas isso honestamente me deixou muito feliz. Depois de me soltar, ela sorriu carinhosamente e—

*Bam!*

— Oof?!

Meu torso foi subitamente esmagado, forçando meu cérebro a despertar.

*Cof Cof! Hack! Arg*

— BOM DIA, MEU QUERIDO IRMÃO!

— Ngh… Estava bom até você aparecer!

Depois de finalmente recuperar o fôlego, eu encarei Yuki, que estava sorrindo lá de cima, levantando uma sobrancelha como se estivesse confusa.

— Hmm? O que está te deixando bravo? Tenho certeza de que é o sonho de todo colegial ser pressionado pelo corpo da sua fofa irmãzinha. Você deveria estar sorrindo, garoto.

— Não me venha com essa de que “foi só uma brincadeira, maninho”. Já ouviu falar de violência doméstica?

— Você está me chamando de sua querida Venus?! Ai meu Deus! Você realmente é um siscon! ♡

— Violência doméstica! E eu não tenho complexo de irmã! Você realmente teve que fazer uns malabarismos mentais para isso, né?!1Aqui infelizmente a piada se perdeu na tradução, mas é um trocadilho em inglês com a abreviação DV usada para Domestic Violence(violência doméstica) e também Darling Venus(querida Venus)

— Hmm… O que está te incomodando esta manhã, Masachika?

— Tudo.

Yuki fez um bico enquanto franzia a testa, parecendo estar pensativa, e então estalou os dedos como se tivesse uma epifania2“Epifania” pode se referir a uma experiência súbita de insight ou compreensão, muitas vezes associada a mudanças na percepção ou na resolução de problemas..

— Agora eu entendi! Você não queria que eu te acordasse com um body press. Você queria que eu me escondesse sob as cobertas para que você pudesse acordar comigo ao seu lado.

— Na verdade, seria bastante assustador se você fizesse algo assim de verdade.

— Espera. Isso significa… você prefere que eu me esconda embaixo da cama? Você é meio estranho.

— Isso seria extremamente assustador!

— Tudo bem… da próxima vez me escondo embaixo da cama para que, no momento em que você sair da cama, eu possa agarrar seus tornozelos.

— Você está tentando me matar?

— Uma irmãzinha que assusta o irmão acordando-o todas as manhãs… É um conceito bastante original. Não acha?

— É um pouco original demais para o meu gosto… Agora, saia de cima de mim.

Yuki, que ainda estava em cima de mim enquanto chutava as pernas para cima e para baixo, sorriu e inclinou a cabeça curiosamente.

— Por quê? Isso está te fazendo sentir alguma coisa?

— Vai se catar.

Enviei à minha irmã um olhar gélido à queima-roupa por sujar meus ouvidos com tal obscenidade tão cedo pela manhã, fazendo-a gargalhar enquanto saía de cima de mim e deixava o quarto.

— Aahhh…

Finalmente consegui me sentar em minha própria cama.

— …

Tive um sonho que me levou muito para trás. Era uma lembrança do meu primeiro amor. Foi uma memória do período mais brilhante da minha vida. Conheci ela naquele parque. Costumávamos brincar o tempo todo. Até comecei a aprender russo a sério porque queria muito conversar com ela. Mesmo que meus pais estivessem sempre brigando e eu ficasse na casa do meu avô, eu não me sentia solitário porque ela estava lá para mim. Sim… Eu estava apaixonado por ela. E ainda assim… Ainda não conseguia lembrar o nome dela ou como ela era.

— …Tsc.

Eu realmente era filho da minha mãe. Eu era uma pessoa sem coração. Esqueci tão facilmente alguém que eu uma vez aleguei amar tanto. Algo frio começou a encher meu peito. O amor ardente e a motivação que senti naquela época agora estavam enterrados tão fundo que nem mesmo eram visíveis. Havia uma razão pela qual perdi toda a minha motivação para fazer qualquer coisa. Havia alguém a quem eu poderia culpar. Mas não importava a desculpa ou a quem eu culpava, a verdade do assunto era que eu era simplesmente um saco preguiçoso de lixo. Eu romantizava noções de trabalho duro, mas odiava isso. Eu era o tipo de imundície humana que se satisfazia sabendo que era lixo, já que alguns nunca descobriram. Esse era o tipo de pessoa que eu era.

— Alguém assim não é adequado para o conselho estudantil…

Muito menos para ser o vice-presidente. E eu já sabia que não funcionaria, pois aceitei de forma relutante a oferta de Yuki para me tornar o vice-presidente do conselho estudantil no ensino fundamental. Uma posição assim não era algo que qualquer pessoa deveria fazer sem paixão e resolução. Quando Yuki foi eleita presidente, vi a outra candidata chorando atrás do auditório. Seus olhos estavam inchados. Ela soluçava para suas amigas que havia decepcionado seus pais e não tinha ideia de como enfrentá-los quando chegasse em casa. Trabalhamos juntos no conselho estudantil durante nosso primeiro ano do ensino fundamental e realmente nos conhecemos, então, quando a vi assim, fui dominado por uma incrível sensação de culpa e choque. Isso era como ela realmente se sentia, apesar de agir corajosamente na frente dos outros e desejar boa sorte a Yuki antes. Yuki não era diferente. Seus pais esperavam muito dela. Mas eu? O cara que só se tornou vice-presidente por amor à sua irmã e um senso de obrigação? Eu tinha algum direito de derrubar essa garota assim? No ano seguinte, trabalhei muito para superar essa culpa, mas ela nunca desapareceu. Eu nunca quero me sentir assim de nov—

*Bam!*

— O que você acha que está fazendo, voltando a dormir?! …Oh, você está acordado?

— Você pode parar de chutar minha porta assim? Você já fez uma amasso nela depois de chutá-la tantas vezes.

Eu sabia que estava perdendo meu fôlego, mas havia um pequeno amasso em minha porta ligeiramente abaixo da maçaneta, que era estranhamente mais lisa que a madeira circundante. Yuki olhou para o amasso, então sorriu com evidente satisfação por alguma razão bizarra.

— Aposto que consigo transformá-la em um buraco com mais alguns anos.

— Pare de treinar para lutas de karatê usando minha porta.

— Há inúmeras heroínas que chutaram portas fora das dobradiças ao redor do mundo, mas eu vou ser a primeira a perfurar lentamente um buraco através de uma ao longo dos anos.

— Tenho certeza de que realmente não há tantas mulheres que chutaram portas fora das dobradiças.

Ela nem estava chutando a porta completamente aberta; ela sempre girava um pouco a maçaneta antes. Por que ela fazia isso era um mistério.

— Enfim, apresse-se e levante-se da cama. Sua adorável irmãzinha fez o café da manhã para você.

— Sim, sim.

Quando entrei na sala, realmente fui recebido com o café da manhã, mas…

— O que é, meu querido irmão?

— …O que é isso?

Apontei para o prato no meio, com um prato semi-sólido e pastoso em camadas aqui e ali. Yuki piscou algumas vezes, então respondeu inocentemente:

— Hein? São ovos mexidos.

— Só admita que você estava tentando fazer uma omelete japonesa, e então isso aconteceu.

— …Eu não faço ideia do que você está falando.

Enterrei meu olhar reprovador na parte de trás de sua cabeça enquanto ela desviava o olhar, tornando óbvio que eu estava certo. Para ser honesto, no entanto, na verdade não estava tão ruim. Uma vez que você adicionava um pouco de ketchup, tinha um gosto meio oriental, meio ocidental…

 

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Depois de assistir ao filme conforme planejado, Masachika e Yuki seguiram em direção à saída junto com a multidão e deixaram o cinema, que estava no último andar de um grande complexo comercial, e depois pegaram a escada rolante.

— Ngh…!

Yuki esticou os braços e as costas.

— Aquilo foi péssimo! — ela declarou com um suspiro de alívio.

— Você poderia ser mais específica?

— Foi ainda pior do que eu pensava. Você realmente não pode colocar essas idols fofinhas em mundos de fantasia sombria e esperar que funcione. Parecia apenas que ela estava fazendo cosplay o filme todo. Não ajudou que gastaram o orçamento todo nas cenas de luta e não se esforçaram em mais nada. Não tem como acompanhar se você não leu os quadrinhos.

— Sim. Mas pelo menos as cenas de ação foram bem legais — respondeu Masachika com um sorriso amargo, enquanto Yuki continuava a criticar o filme enquanto sorria alegremente.

Ainda era um pouco cedo para o almoço, então continuaram a andar pelo shopping discutindo o filme.

— Oh, olhe para esse conjunto. É tão fofo. Eu estava querendo um vestido de verão novo, mas planejei gastar na loja de anime depois disso…

— Quinze mil ienes?! Sério?!

— Você também deveria tentar se vestir melhor de vez em quando. Não é como se você não tivesse dinheiro.

— Sim, eu não ganho nem perto do tanto que você ganha.

— Claro, mas você não gasta todo o seu dinheiro comprando coisas nerds como eu.

Yuki tinha um ponto. Ao contrário dela, Masachika não era um colecionador de produtos de anime. Ele mal gastava dinheiro em quadrinhos ou light novels. Por outro lado, ele realmente não precisava, porque Yuki escondia todos os seus itens nerds na casa de Masachika para que ela pudesse manter seu hobby em segredo. Portanto, ele podia pegar emprestado e ler qualquer light novel ou quadrinho que estivesse interessado, em vez de ter que comprá-los.

Na verdade, Yuki até foi quem o converteu em um nerd.

— Você usou essas roupas no ano passado. Já está na hora de comprar algo novo.

— Diz a garota que está usando minhas roupas antigas.

Yuki estava usando uma camiseta um pouco folgada de manga longa e jeans como uma tomboy, mas essas roupas eram na verdade eram emprestadas de Masachika.

— Sim, mas eu fico bem assim. Os jeans melhoram com a idade.

— Uh-huh… A propósito, minha querida irmã…

— Sim, meu irmão?

— É só minha imaginação, ou você também nota algo prateado piscando no canto do seu olho?

— Acho que não é só sua imaginação, irmão.

— Isso é o que eu pensei. Eu deveria ter percebido quando você soltou o cabelo. Você está no modo dama elegante, por assim dizer.

Yuki havia soltado o rabo de cavalo, e enquanto falava em sua voz natural, seu comportamento era muito elegante, como se estivesse na escola.

— Heh! Percebi faz muito tempo, irmão.

— Sério? Quando?

— Quase imediatamente depois de descermos da escada rolante.

— A tanto tempo? Estou impressionado.

— Heh… Eu tenho um sentido sobrenatural que me permite detectar imediatamente os olhares das pessoas que eu conheço.

— Uau. Estou surpreso… que você nem está envergonhada por dizer isso.

— Heh… Estou extremamente envergonhada.

— Então tire esse sorriso presunçoso do seu rosto.

Os irmãos ainda podiam sentir alguém olhando intensamente para eles por trás, mesmo enquanto faziam suas coisas. O reflexo claro de uma garota de cabelos prateados e muito familiar podia ser visto na vitrine de uma loja, enquanto ela tentava se esconder atrás de uma coluna. E talvez isso fosse imaginação de Masachika, mas ele podia praticamente ver uma nuvem de tempestade escura pairando sobre a cabeça dela.

O que eu devo fazer?

Será melhor falar com ela? Ou esperar que ela venha até mim e diga alguma coisa? Ou talvez fugir seja a melhor opção? Enquanto Masachika considerava todas as opções…

— Oh, nossa. Alya? — Yuki disse casualmente, como se tivesse acabado de notar Alisa depois de se virar lentamente.

Yukiiiiiiiii!!

Masachika gritou interiormente por sua decisão repentina e imprudente de enfrentar a situação de frente, mas já estavam no ponto sem retorno. Depois de reunir coragem, ele fez uma expressão de surpresa e se virou também.

— Oh, wow. É a Alya. Que coincidência.

Até mesmo Masachika não tinha muita confiança em sua atuação, mas Alisa aparentemente tinha muito em sua mente para sequer notar. Ela mexeu no smartphone em suas mãos e então se aproximou deles, seus olhos vagando para a esquerda e para a direita.

— Sim, que coincidência. Eu, uh… vi vocês dois juntos há alguns minutos, mas não quis interromper a conversa de vocês… — murmurou Alisa como se ainda estivesse um pouco desconcertada.

Isso foi muito mais do que alguns minutos.

Os irmãos pensaram exatamente a mesma coisa no exato mesmo momento, mas não mostraram nenhuma indicação disso em seus rostos. Masachika não pôde deixar de lançar um olhar frio para Yuki, mas ela já estava no modo de jovem dama adequada.

— Oh, certo — ela respondeu inocentemente. — De qualquer forma, o que te traz aqui?

— Estou comprando roupas novas…

— Ah, sério? Já almoçou?

— Ainda não.

— Então que tal almoçarmos juntos? É…

— Espere, — interrompeu Masachika. Ele fez uma careta para a expressão composta de Yuki e perguntou:

— Não me diga que você planeja levar a Alya para aquele restaurante?

— Por que não? Você estava realmente ansioso por isso.

—Deveríamos ir a outro lugar se a Alya for comer conosco.

— Por quê? Há algum problema? — perguntou Alisa enquanto pareciam ignorá-la enquanto discutiam sobre sei lá o quê.

— Alya, você não gosta de comida apimentada?

— Comida apimentada? Quer dizer, eu não odeio exatamente…

— O restaurante para onde estávamos planejando ir é famoso por seu ramen apimentado, mas se você não se importa com comida apimentada, então…

— Pare de minimizar. Alya, vou ser direto com você. Dizer que é apimentado é eufemismo. É um restaurante especializado em ramen extremamente picante. Eu nunca fui, mas provavelmente não é algo que você vá aproveitar se não gostar de comida extremamente apimentada. Então—

— Vamos lá, — interrompeu Alisa, cortando Masachika. Ver a expressão dela foi o suficiente para saber que era inútil tentar convencê-la do contrário, e ele ficou em silêncio por alguns momentos.

— Realmente não acho que isso seja uma boa ideia. Há muitos outros restaurantes por aqui…

— Mas você estava realmente ansioso por isso, certo? Então, vamos. Além disso, eu me sentiria culpada se você mudasse seus planos por minha causa.

— Você não precisa vir, sabe?

— Oh? Há algum problema se eu me juntar?

— Não foi isso que quis dizer, mas não me lembro de ter te visto comer comida apimentada…

— Eu não desgosto de comida apimentada.

Masachika estava cético, mas não podia simplesmente chamá-la de mentirosa. Dito isso, ele tinha a sensação de que ela preferia doces à comidas apimentadas. Ele nunca tinha perguntado diretamente a ela, mas depois de todo o tempo que passou com ela, tinha uma boa ideia do que ela gostava. Comida apimentada, no entanto? Ele não tinha ideia. Nunca a viu comer algo apimentado, e essa era a única informação que ele tinha. Bem, ela diz que quer ir, e provavelmente eles têm alguma comida menos apimentada no cardápio, então…

Com essa mentalidade, Masachika decidiu ir ao restaurante, embora com um pouco de ansiedade.

 

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— …É aqui mesmo?

— Sim.

Fora do shopping, eles caminharam um curto trecho por um caminho estreito até chegarem a uma loja de ramen. Alisa olhou para a placa e fez uma careta.

— Não a culpo.

Mas enquanto Masachika entendia a reação dela, Yuki estava cheia de sorrisos.

— A placa diz “O Caldeirão do Inferno”. Você tem certeza de que servem ramen aqui?

— Claro que tenho certeza.

— Mas diz Inferno na placa…

— Não se preocupe, Alya. Este é o lugar. Aqui, o nome do restaurante também está no cardápio.

— Oh.

Embora isso ainda não a fizesse se sentir melhor, Alisa assentiu com uma careta, como se estivesse paralisada pelo choque.

— Tem certeza de que não quer ir a outro lugar?

Mas o pensamento de Masachika de repente desencadeou a determinação de Alisa, e ele foi recebido com um olhar penetrante.

— Não seja ridículo. Só fiquei um pouco surpresa com o quão único este lugar acabou sendo.

— Uh-huh…

Ele sabia que não havia nada que pudesse dizer para convencê-la quando seu ódio total por derrota se manifestava, então ele desistiu e seguiu Yuki para o restaurante.

— Bem-vindos!

Eles foram imediatamente recebidos pela voz bem projetada de um homem, enquanto o aroma picante da comida irritava seus narizes.

— Gulp?!

De repente, Masachika ouviu um engasgo fraco vindo de trás.

— Quantas pessoas em seu grupo?

— Três.

— Tudo bem. Por aqui, por favor.

O garçom os levou até três assentos no balcão. Quando Masachika olhou para Alisa à sua direita, ela estava segurando o nariz, com lágrimas nos olhos. Enquanto Masachika e Yuki estavam acostumados ao cheiro devido a comerem constantemente em restaurantes picantes, Alisa parecia estar sentindo dor.

— Você está bem?

— Por que não estaria? — respondeu Alisa em voz baixa, deixando claro que estava apenas agindo como durona. Ela então fechou os olhos firmemente, afastou as lágrimas e tentou fingir que nada estava errado enquanto pegava o cardápio… mas no momento em que o abriu, ela congelou.

— …Ei.

— Hmm?

— Não faço ideia do que estou olhando.

— É… — Masachika concordou constrangido. Fazia sentido, pois com nomes violentos como Poça de Sangue Infernal e Poça de Espinhos Infernal, era difícil imaginar que isso era comida. Yuki, com o cabelo preso em um rabo de cavalo baixo, começou a explicar o cardápio como se fosse uma cliente regular.

— A Poça de Sangue Infernal é um ramen conhecido por sua base de sopa vermelho sangue, como o nome sugere, e é o ramen mais suave do cardápio. A Poça de Espinhos Infernal, por outro lado, é um prato mais picante que faz parecer que sua língua está sendo perfurada por mil agulhas, como o nome sugere.

— O-Oh… Bem, então…

Alisa abaixou timidamente o olhar para o fundo do cardápio, fazendo uma careta.

— E o Inferno de Sofrimento Interminável? — Alisa perguntou timidamente.

Yuki imediatamente sorriu orgulhosamente, como se estivesse esperando pela pergunta.

— É aparentemente tão picante que você perde toda a sensação!

— Você tem certeza que isso não é dano nos nervos?

A expressão de Alisa caiu com desespero, como se finalmente tivesse percebido quão assustador esse restaurante realmente era. Masachika, ao seu lado, também olhou novamente para o cardápio, apenas para perceber que até mesmo o ramen menos picante ainda era muito picante. Ele fechou os olhos.

— Acho que vou de Poça de Sangue Infernal, já que a regra comum é escolher o prato padrão na primeira vez.

— S-Sim, os básicos são importantes, afinal.

— Oh? Vocês dois vão pedir a mesma coisa? Então também vou pedir isso.

Masachika ofereceu toda a ajuda que pôde, que Alisa agradeceu gentilmente, seguida por Yuki. Assim, todos acabaram pedindo a mesma coisa.

— De qualquer forma, fiquei meio surpresa ao ver você vestida de forma meio masculina hoje, Yuki.

— He-heh. Pensei em mudar um pouco, já que é fim de semana.

— É mesmo? Bem, você quase parece uma pessoa completamente diferente. Mas você ainda está muito bem.

— Obrigada. Você está ótima hoje também. Não é sempre que te vejo fora do uniforme escolar. Pensei que você fosse uma modelo profissional por um segundo.

— Sério? Obrigada.

Masachika se sentiu desconfortável e feliz por estar entre duas garotas conversando, mas começou a suar frio quando os homens ao redor o encararam. O olhar do garçom, que parecia ter a mesma idade que ele, foi o pior. Eram os olhos que um homem usaria apenas para o pior inimigo, mas Masachika realmente estava cercado por duas mulheres bonitas, então ele não podia reclamar. Além de serem bonitas, elas eram praticamente incomparáveis, então era normal para um cara com aparência média como Masachika ser encarado. Também era perfeitamente natural para um nerd ficar animado e pensar, “Espera aí. Eu sou o protagonista de uma comédia romântica?! Isso é meu harém?!” Elas não estão brigando por mim, porém. Além disso, provavelmente pareço apenas o carregador profissional delas do ponto de vista de quem observa.

E era exatamente como Masachika imaginava. Os olhares curiosos no restaurante começaram a se concentrar nele novamente quando perceberam que as garotas estavam o ignorando e conversando entre si. Até mesmo o garçom, que o encarava com inveja e ódio, suavizou o olhar e voltou ao trabalho… e foi nesse momento que Yuki decidiu soltar uma bomba.

— Esta camiseta e esses jeans costumavam ser do Masachika.

O sorriso de Alisa congelou, e a temperatura no restaurante despencou.

Yukiiiiiiiii!!

Os olhares curiosos no restaurante começaram a se concentrar nele. Até mesmo o garçom olhava para frente e para trás entre Yuki e Masachika, como se não conseguisse acreditar no que estava vendo.

— Ele te deu essas roupas?

— Sim, minha família quer que eu me vista “como uma dama”… mas sempre quis me vestir mais masculina assim, então pedi ao Masachika algumas de suas roupas antigas.

— Oh…

O sorriso de Alisa se transformou em um sorriso sombrio e sinistro enquanto ela atingia Masachika com um olhar penetrante.

— Não percebi que ser amigos de infância fazia as pessoas ficarem tão próximas. Também não sabia que o Kuze gostava de vestir meninas com suas roupas antigas. Hobby interessante.

— Não é um hobby.

— Sim, não é um hobby dele. É um fetiche.

— Calada.

Ele olhou para Yuki como se estivesse dizendo para ela não dizer mais uma palavra, mas ela simplesmente parecia confusa.

— Hmm? Mas lembro claramente de você ficar animado quando me viu usando uma camisa de namorado pela primeira vez.

— Isso nunca aconteceu!

Yuki continuava soltando bombas sem nenhum vestígio de culpa, causando um rebuliço no restaurante. Os ouvintes interpretaram “Isso nunca aconteceu!” como se ele não tivesse ficado “animado” quando ela usou a camisa. No entanto, Yuki, de vez em quando, usava as camisas dele. Às vezes, ela visitava a casa dele sem aviso prévio e sem roupas extras, então ela usava as roupas antigas dele como pijamas. No entanto, ela era a única que pulava de alegria quando vestia suas roupas antigas, gritando “Camisa de namorado, camisa de namorado!”.

Masachika, por outro lado, apenas revirou os olhos, mas ninguém jamais saberia a verdade, exceto eles.

— … O que é uma camisa de namorado?

Felizmente, Alisa não sabia o que era uma “camisa de namorado,” já que não era fã da cultura geek. Yuki se inclinou em direção a ela com o sorriso de um anjo e o sussurro de um diabo para perguntar se ela queria saber o que era, mas Masachika prontamente começou a interrompê-la. No entanto, antes que  pudesse fazer isso, o garçom veio com os seus ramens, olhando para Masachika como se ele tivesse matado seus pais.

— Desculpe a demora. Três pedidos da Poça de Sangue Infernal.

Um olhar para o ramen à sua frente fez Alisa recuar com um grunhido, engasgando um pouco. O vapor irritante aparentemente não favoreceu a sopa vermelha escura, que estava cumprindo seu nome. Os irmãos amantes de comida apimentada, por outro lado, sorriram e pegaram seus hashis.

— Devíamos nos apressar antes que os macarrões fiquem molengas.

— Boa ideia.

— S-Sim…

Masachika e Yuki comeram seus macarrões sem hesitar, enquanto Alisa timidamente sorvia sua primeira garfada.

— Mmmm! Isso é delicioso!

— Sim, realmente faz jus à sua reputação.

Os irmãos sorriam com clara satisfação após a primeira garfada, mas quando Masachika olhou para Alisa…

— …

…todo o corpo dela estava tenso, e seus olhos estavam abertos, sem piscar. Sua mão esquerda na mesa estava absurdamente cerrada e tremia.

— Você está bem, Alya?

— …! Sim, está… delicioso.

Somente depois de engolir a comida em sua boca ela conseguiu piscar novamente e assumir uma expressão mais calma. Masachika sentiu tanto incômodo quanto admiração quando a viu ainda tentando parecer durona, e entregou um guardanapo a ela.

— Você deveria limpar os lábios após cada mordida, ou seus lábios vão inchar.

— …Obrigada.

Masachika voltou imediatamente para o seu ramen após se certificar de que ela havia limpado os lábios, e o golpe poderoso da pimenta caiena enchia sua boca a cada chupada. Estava tão quente que ele começou a suar, mas a picância realmente ressaltava os sabores dos outros ingredientes, fazendo-o desejar ainda mais. Ele queria espiar o abismo do mar vermelho. (Esta é uma opinião pessoal de Masachika e deve ser considerada como tal.)

— Caramba, isso é bom. — Masachika soltou um suspiro de satisfação. Mas de repente, ouviu um sussurro coçar seu ouvido.

        Dói muiiito.

— Очень больно.

Era um choro lastimável vindo da jovem ao seu lado. Quando olhou para ela, percebeu que os hashis de Alisa estavam congelados no lugar. Embora mantivesse a compostura, aparentemente não conseguia mover os hashis mais um centímetro. Foi quando ela percebeu que Masachika estava olhando para ela, então ela empurrou os hashis na tigela como se não tivesse outra escolha.

— Não, espera. Alya, você não precisa se forçar a comer isso.

— Eu não estou. Já disse que é delicioso.

E ainda assim você disse que dói em russo há apenas um segundo.

— Mas… bem, tudo bem. Se você diz.

Masachika se perguntava se ela ficaria bem, mas sabia que tinha que desistir porque nada do que ele ia dizer a faria parar. Depois de beber um pouco de água e fazer uma pausa rápida, Alisa trouxe os hashis de volta ao ramen quando…

        Não aguento mais…

—Я больше не могу…

Não consigo me concentrar assim!

A voz vinda ao seu lado estava tão fraca que ele sentiu pena; ele tentou não se importar enquanto continuava sua refeição quando, de repente…

        Mamãe…

— Мама…

Assim que Alisa começou a se agarrar à sua mãe imaginária, Masachika olhou para ela, incapaz de ficar parado.

Sim, isso não vai funcionar. Suas pupilas estão dilatadas.

Surpreendentemente, a expressão de Alisa ainda não tinha mudado, mas a sombra da morte estava em seu rosto. Era sem esperança. Masachika planejava deixá-la se divertir até que desistisse por conta própria, mas a situação estava ficando perigosa. O médico tinha que entrar no ringue e interromper a luta.

— Al—

Justo quando Masachika tentou impedi-la, Yuki se pronunciou como se quisesse antecipar a fala dele e cortá-lo.

— Como está, Alya?

Os olhos perdidos de Alisa de repente se focaram ao som da voz de sua futura rival de campanha. Seu espírito de luta foi convocado, trazendo vida de volta ao seu corpo enquanto ela conseguia até mesmo sorrir.

— É delicioso.

— Oh, isso é maravilhoso. Fico tão feliz em ouvir que você também adora comida apimentada.

Yuki sorriu inocentemente de volta para o sorriso um tanto macabro e feroz de Alisa. Em seguida, ela estendeu um condimento para Alisa enquanto continuava sorrindo inocentemente.

— Este restaurante tem algo chamado Lágrimas do Demônio, que pode deixar a comida ainda mais apimentada. Gostaria de experimentar?

Yuki basicamente estava atacando um inimigo em fuga. O canto dos lábios de Alisa tremeu. A propósito, Lágrimas do Demônio era um tipo de tempero, e seu nome oficial era Até os Demônios Mais Malvados Choram. Era uma mistura original criada por este restaurante.

Pare de torturá-la! Alya nem tem mais nenhum ponto de vida!

Masachika estava gritando interiormente quando fez uma realização surpreendente.

Oh! Não havia como Yuki ter percebido, já que Alya estava reclamando em russo.

Assim que percebeu essa omissão, ele se inclinou para sussurrar no ouvido de Yuki…  quando percebeu outra coisa. Enquanto Yuki poderia parecer estar sorrindo inocentemente, havia um fogo sádico que queimava nas profundezas de seus olhos.

Ela está fazendo isso de propósito?!

Enquanto Masachika estremecia, uma mão branca pálida alcançou o condimento.

— Tudo que você precisa são algumas gotas para ficar incrível.

— Espera! Alya?! Eu realmente não recomendo fazer isso!

Mas seus avisos foram em vão, pois Alisa retirou a tampa do recipiente, pegou a colher pequena e colocou um pouco do líquido vermelho escuro, que ela então espalhou sobre o seu ramen. E alguns segundos depois…

— …?!?!

O restaurante foi preenchido pelos gritos sem som de Alisa.

 

 

 


 

Tradução e Revisão: MahouScan

QC: Matface

 

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