A Prisão Infernal – Cap. 146 – Os Concorrentes

 

A brisa da noite acariciava as chamas das velas. A luz diminuiu e brilhou mais intensamente conforme as labaredas da chama vacilaram. O rosto diante de Kieran embaçou e se iluminou junto com elas.

O rosto estava cheio de cicatrizes entrelaçadas. Era como um quebra-cabeça. Não se podia dizer como o rosto dessa pessoa era antes dessas cicatrizes. Uma delas era enorme e se estendia da têmpora direita até o canto esquerdo da boca, destacando-se das outras.

O rosto sem vida olhou para Kieran com seus olhos mortos, seu olhar sinistro desgastava seus nervos. As cicatrizes confusas faziam o rosto parecer maligno e fazia a espinha de Kieran se arrepiar. Ele deu uma olhada cuidadosa antes de entrar pela porta.

Quando a porta se abriu, o rosto voltou para escuridão na mesma hora. As chamas das velas foram apagadas e caíram no chão quando o rosto desapareceu. O corredor inteiro e o salão da frente ficaram instantaneamente cobertos pela escuridão.

De repente ouviram-se sussurros da sala de estar, mas a voz embaçada era muito rude para que a Percepção C- de Kieran percebesse o que estava dizendo.

Quando Kieran pegou uma vela do chão e acendeu, os sussurros sumiram, como se tivessem medo da luz. Assim que os sussurros pararam, um som de respiração preencheu a sala.

Antes que Kieran pudesse fazer qualquer movimento, um par de olhos fogo fátuo apareceu em sua frente. Os fantasmas flutuavam sem pensar, passando diante de seus olhos.

Kieran os ignorou e pegou a vela, se aventurando na sala de estar. A sala não era grande. Havia um par de sofás dentro, e o calor vinha de uma lareira falsa que na verdade era um aquecedor.

Kieran foi até um sofá e sentou-se, colocando a vela ao lado de seus pés. Exceto pelas faíscas que a vela produzia de tempos em tempos, havia um silêncio total.

Depois de dez minutos completos, uma voz diplomática foi ouvida de um lado do corredor.

— Tudo bem, tudo bem, você venceu.

Quando as palavras pararam, uma garota de roupas comuns com feições delicadas entrou na sala de estar, segurando um castiçal. Seu rosto era bastante bonito, mas a luz fraca da vela que segurava fazia seus olhos parecerem astutos.

O castiçal na mão dela iluminava a sala de estar.

Ela sentou-se no sofá ao lado de Kieran, olhando para ele com espanto.

— Você não está com medo? — Ela perguntou.

— Com medo? De quê? A máscara? Os balões cobertos de fósforo? Ou talvez o gravador que você colocou atrás da lareira falsa? — Kieran disse para a garota enquanto se virava.

—Você viu através de tudo? Haha, parece que você é digno de ser meu concorrente! Prazer em conhecê-lo! Meu nome é Elli, Elli Jones!

Surpreendida pela descoberta de Kieran, Elli estendeu a mão animadamente para um aperto de mão.

Kieran não tinha intenção de apertar a mão dela.

Enquanto inspecionava a palma da garota, notou um anel em seu dedo indicador longo e delicado. A parte interna do anel refletia um brilho incomum produzido pelo brilho da chama da vela. Parecia úmido.

— Isso é super cola? — Kieran perguntou.

— Whoa, que olhos afiados!

Elli não parecia envergonhada ou desconcertada. Em vez disso, ela sorriu brilhantemente e energicamente, inspecionando Kieran como se estivesse tentando ver através dele.

Kieran não se incomodou com sua intensa inspeção. Ele apenas se levantou e continuou seu plano original, que era inspecionar a casa.

A casa tinha apenas 2 andares, o andar térreo e o primeiro andar. As escadas da sala de estar ligavam os dois andares. Havia corredores, uma sala de estar, cozinha, escritório e uma porta no térreo que levava ao quintal. Kieran tentou abrir a porta que levava ao quintal, mas a maçaneta estava enferrujada demais.

Quando subiu ao primeiro andar, encontrou um quarto principal, três quartos de hóspedes e uma varanda.

A varanda era acessível, e podia-se ver o quintal dela. Havia um pequeno jardim no quintal com apenas uma dúzia de vasos de flores e um parterre. As plantas no jardim haviam murchado há muito tempo, pois ninguém estava lá para cuidar delas. O jardim estava cercado por uma cerca de metal, e a ferrugem e as plantas mortas faziam a cena parecer uma gaiola de morte sem nenhum sinal de vida.

Kieran notou uma entrada que parecia levar ao subsolo.

Estava do lado da casa principal, então se Kieran não tivesse olhado para o jardim da varanda, ele nunca teria encontrado essa entrada.

Kieran voltou para o andar térreo e se dirigiu para a entrada subterrânea. Enquanto estava saindo, Elli disse:

— Não há nada lá, nenhuma mensagem de Nikorei. Nenhum outro competidor também. Eu ainda não sei como será o teste. Você sabe de alguma coisa? — Elli perguntou com uma expressão confusa, esperando por uma resposta.

Kieran, claro, sabia do que se tratava o teste. Ele já havia descoberto algumas pistas importantes antes de entrar, mas nunca lhe diria o que havia encontrado. Era a chave para completar a Missão Principal e se tornar assistente de Nikorei.

Kieran não daria muita atenção se não fosse relacionado à Missão Principal. No entanto, conseguir a posição era a própria Missão Principal, e a penalidade seria pesada demais falhasse.

Kieran nunca confiaria completamente em Elli.

Ele não diminuiu a velocidade para responder a pergunta dela. Apenas foi direto para a entrada subterrânea. Abriu a porta, que estava em um canto da casa principal, e um lance de escadas apareceu.

Kieran pegou a vela e cuidadosamente desceu as escadas com vigilância extra. Ele não apenas precisava tomar cuidado ao seu redor, mas também de Elli.

Elli agiu normalmente até chegar à sala subterrânea.

A sala estava exatamente como ela havia dito. Estava vazia e não havia portas que levassem de volta para casa principal. Não havia nada incomum.

— Você deveria confiar mais nas pessoas. — Elli disse a Kieran quando o viu sair da sala subterrânea mais uma vez.

— Hmmm!

Kieran assentiu sem falar nada. Seu olhar apenas passou por Elli. Seus modos rudes fizeram a garota franzir a testa, mas de repente houve outra batida na porta.

— Alguém mais está aqui.

Um sorriso astuto se formou no rosto de Elli. A 5° série dentro dela assumiu quando ela ouviu a batida na porta. Rapidamente voltou para a casa principal e esperou na porta.

Assim que ela entrou, um grito alto escapou de sua boca. Quando Kieran voltou, ele encontrou Elli pressionada contra o chão, seu braço estava sendo torcido para trás por um homem de meia-idade.

Elli viu Kieran entrar e naturalmente tentou gritar por ajuda. As palavras ficaram na ponta da língua, porém, quando ela percebeu que não sabia o nome de Kieran. Ainda assim, a dor em seu braço a incentivou a gritar por socorro antes que seu braço quebrasse.

Assim que Elli estava prestes a gritar novamente, a dor desapareceu e o homem de meia-idade a empurrou para Kieran.

Antes que o homem pudesse se mexer, Kieran apontou um revólver de prata para ele.

— Quem é você? — Kieran perguntou.

— Debosky! Recebi um convite de Nikorei, a xamã. Eu não pretendia ferir a jovem. Ela que mostrou intenção maliciosa primeiro.

Debosky estava bastante cooperativo. Ele levantou as mãos para cima imediatamente quando viu o revólver.

— Era apenas uma brincadeira. — Elli, que estava esfregando o braço para aliviar a dor, olhou para Debosky com raiva.

— Brincadeiras também escondem intenções maliciosas! — Debosky falou enquanto olhava para Kieran.

O homem, que usava um smoking, sentiu-se desconfortável em torno de seus ombros e gola enquanto levantava as mãos, mas não se atreveu a abaixá-las antes de confirmar que Kieran não atiraria.

Ele sabia que Kieran não era alguém com quem mexer. Ele estava suando forte sob a pressão de seu revólver. Felizmente, Kieran abaixou a arma e Debosky soltou um longo suspiro de alívio.

— Vocês dois também receberam o convite de Nikorei? Vocês estão aqui para o teste? — Debosky perguntou.

— Nós somos seus concorrentes! Não se preocupe, conosco no jogo, você nunca se tornará o assistente da xamã! — Elli disse irritada.

Por instinto, ela rotulou Kieran como aliado e começou a agir como uma raposa com o poder de um tigre.

— Eu não teria tanta certeza disso. Sou especialista em atividade paranormal! — Debosky disse confiante depois de disparar um olhar assustador para Kieran.

— Sua confiança levará ao seu fracasso. — Elli zombou dele.

— O mesmo vale por se superestimar. — Debosky respondeu com um sorriso.

Kieran não estava interessado em suas brigas.

Ele voltou sua atenção para fora quando viu outra pessoa entrar pelo portão da frente.

A pessoa usava um casaco impermeável e sob o topo preto havia um rosto coberto de ataduras. Apenas seus olhos, narinas e queixo não estavam cobertos.

Quando a pessoa se aproximou, Elli e Debosky voltaram sua atenção para ela também.

— Desculpe a minha aparência. Sofri essas lesões depois de um grande incêndio. Fui convidado aqui por Nikorei, a xamã. E vocês são?

A voz seca e áspera da pessoa passava uma sensação de amizade.

— Fomos convidados também. — Elli disse enquanto olhava para o quarto competidor com curiosidade.

— Você pode me chamar de Raul. — O homem se apresentou.

Depois de Raul, todos os outros começaram a se apresentar também. Kieran satisfez a curiosidade de Elli dando seu codinome “2567”. Ninguém parecia surpreso com seu apelido, nem mesmo Elli.

Parecia bastante normal para as pessoas que lidavam com o paranormal. Em outras palavras, cada um dos seus nomes poderia ser um pseudônimo, embora talvez não tão estranho quanto o de Kieran, que era obviamente um codinome.

Os quatro voltaram para dentro da casa. Kieran voltou para a sala e sentou-se no mesmo sofá em que estava sentado mais cedo.

Debosky e Raul passaram por todo a casa, até mesmo pela sala subterrânea, apesar do fato de que Elli contou que não tinha nada na sala.

Isso a deixou irritada.

— Seus idiotas. Vocês nunca aprenderam a confiar nas pessoas? — Elli disse irritada.

Enquanto ela falava, um grito repentino foi ouvido do andar de cima, seguido por algo caindo no chão.

De repente, houve uma batida na porta e um som pesado.