Às vezes, as pessoas percebem quando estão tendo um sonho.
Para Rose Oriana, acontece sempre no mesmo momento.
No sonho, ela está no Festival Bushin.
Seu pai diante dela.
Ela saca sua lâmina e o atravessa com a mesma.
Lenta, mas segura, pouco a pouco.
O mundo está quieto e as únicas coisas que se movem suavemente são Rose, seu pai e a espada.
Lenta, mas segura, pouco a pouco.
A lâmina atravessa seu pai.
Ela não pode pará-la. Não pode puxá-la de volta. O tempo só flui para frente, cruel em sua lentidão e em sua segurança.
Enquanto viver, Rose nunca será capaz de esquecer a sensação de cortar a carne de seu pai, ou o quão quente seu sangue estava ao borrifa-la.
Ela não podia chorar. Não podia gritar. E certamente não podia correr.
Seu pai olhou para ela. Ele está tentando lhe dizer alguma coisa.
Então, estendeu os braços em direção a ela e envolveu as mãos ao redor de sua garganta.
“Eu nunca vou te perdoar.”
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— Me desculpe, me desculpe, Me des…
Todas as manhãs, Rose acorda ao som de sua própria voz.
Tudo o que há em seu quarto é uma cama e uma pequena escrivaninha. Ela está em uma base do Shadow Garden no Reino Oriana.
— Pai…
Lágrimas escorrem por suas bochechas.
A imagem do pesadelo está queimando em suas retinas.
O que seu pai tentou dizer a ela naquele fatídico dia?
Ele se ressentia dela?
Ele a odiava?
Aquelas palavras que falou em seu pesadelo eram realmente como se sentia?
Rose agarra seus lençóis encharcados de suor.
Então, alguém bate em sua porta.
É Número 664.
— Número 666, está na hora.
— Já estou indo.
Rose enxuga as lágrimas e se troca.
Tira a camisa fina grudada em sua pele suada, então um monte de slime preto se enrola em seu corpo nu.
É o traje de slime dela.
Ele conduz magia a uma imensa velocidade e pode ser moldado livremente em qualquer formato. Quando Rose passa sua magia através dele, ele se fortalece a tal ponto que um cavaleiro negro mediano teria problemas para sequer arranhá-lo.
Os trajes eram inovadores o suficiente para revolucionar todo o mundo dos cavaleiros negros e, no entanto, eram apenas uma das muitas inovações que o Shadow Garden havia criado.
Quando Rose terminou de se trocar e saiu para o corredor, encontrou suas companheiras de esquadrão de sempre esperando por ela – as Números 664 e 665.
— Bom dia, — ela as cumprimentou.
— Vamos indo — respondeu Número 664.
— Booom diiia, 666 — diz a 665.
Número 664 parte em ritmo acelerado, Rose e 665 a seguiram.
As paredes e o teto do corredor são artificiais, cinzas e sem adornos. Feitos de um material secreto que o Shadow Garden está pesquisando chamado “concreto reforçado”. Não é impressionante de se ver, mas isso apenas faz com que o carpete e a iluminação se destaquem ainda mais.
As luzes são feitas de vidro de cristal altamente transparente especialmente cortado. Seu brilho lança sombras radiantes pelo corredor.
Estas coisas também são frutos de um processo de fabricação exclusiva do Shadow Garden, usada para fazer os lustres de alta qualidade da Mitsugoshi.
Os modelos mais baratos custam colossais dez milhões de zeni, mas mesmo assim, eles voam das prateleiras como se não houvesse amanhã.
Há rumores de que, algum dia, a Mitsugoshi Ltda. planeja colocar suas inúmeras técnicas em uso no ramo de construção.
Rose solta um pequeno suspiro com o grau de proeza de engenharia em exibição apenas naquele corredor.
Ainda a surpreende como tudo isso originalmente surgiu da Sabedoria das Sombras de Shadow. Não são apenas suas habilidades de combate ferozes, seu intelecto também parece quase infinito. Ela se pergunta como ele veio a ser assim.
— Eu ouvi isso — diz Número 664. Por isso, ela queria dizer o suspiro de Rose. — Se há alguma coisa martelando seus pensamentos, você deveria me contar sobre isso. Posso ver que você está com a cabeça cheia.
— Não, não, não é nada.
— …Se você diz.
A Número 664 é uma pequena elfa um ano mais velha que Rose. É rigorosa, mas responsável, e por isso foi escolhida como líder de esquadrão.
A Número 665 é uma elfa com um traço preguiçoso que tem a mesma idade de Rose. Ela sempre parece estar prestes a cochilar.
Não eram apenas lindas, mas a maioria dos padrões classificaria ambas individualmente no mesmo nível de um cavaleiro negro de primeira classe.
Dentro de sua organização, no entanto, ambas estavam mais próximas da parte inferior do ranking do que do topo.
Rose é a número 666.
Os números referem-se estritamente à ordem em que se juntaram. Não era um sistema de classificação.
No entanto, cada conjunto de 100 tendia a ser muito mais forte do que o próximo conjunto, então os números acabaram sendo uma forma decente de medir de qualquer maneira.
Dito isso, havia exceções.
Rose teve a chance de ver a Número 559 treinar uma vez.
Sua oponente era a Número 89. Com uma diferença numérica de mais de quatrocentos, a Número 559 não deveria ter a menor chance.
E ainda assim, ganhou do mesmo jeito – uma vitória esmagadora.
Isso lhe rendeu o direito de desafiar as Números.
O Shadow Garden é surpreendentemente organizado.
Rose sentiu como se sua magia tivesse ficado mais forte. Sentiu que se juntar ao Shadow Garden a permitiria começar a mudar as coisas. Que se ela se tornasse forte, poderia salvar o Reino Oriana.
Mas não foi capaz de mudar nada.
— Preciso trabalhar ainda mais… — murmurou para si mesma enquanto perseguia as duas elfas à sua frente.
Hoje, a Número 559 estará liderando a missão.
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As três saíram da base na calada da noite e correram silenciosamente por um campo coberto de neve.
Rose vê uma fortaleza ao longe.
Uma garota atraente estava em uma pequena colina com vista para ela.
— Aí estão vocês — disse ela enquanto se vira.
Seu cabelo loiro morango balança de forma elegante atrás de si. Iluminada pela luz do luar como estava, até mesmo uma garota como Rose podia ver como ela era sublimemente linda.
Ela é a primeira e única Número 559 do Shadow Garden.
— Nossas desculpas por deixá-la esperando.
— Vocês já sabem os detalhes? — perguntou 559, sucinta como sempre.
— Não, apenas nos disseram que envolveria a Fortaleza Saisho.
— Entendo.
Número 559 exalou uma baforada de fumaça branca enquanto virava as costas para elas e começava a explicar.
— Dois dias atrás, a Fortaleza Saisho caiu nas mãos da Facção Doem.
No momento, o Reino Oriana está travado em um conflito feroz entre a Facção Doem e a Facção Anti-Doem. Nenhuma grande batalha estourou ainda, mas pequenas escaramuças em regiões periféricas estão se tornando uma ocorrência regular.
— A Fortaleza Saisho é um pequeno forte perto da fronteira de Midgar de pouco valor estratégico. A parte importante é que o Culto mobilizou secretamente as Crianças de Diabolos para tomá-lo.
As Primeiras Crianças são a nata do Culto. Usá-los para tomar uma fortaleza sem importância seria um completo desperdício de recursos.
— Há mais na Fortaleza Saisho do que aparenta — continuou Número 559. — Nosso trabalho é entrar e descobrir o que o Culto está procurando. Suponho que saiba porquê foi escolhida para a missão?
Ela voltou seu olhar para Rose, que respondeu: — Porque já conheço o layout do forte.
A Fortaleza Saisho fica nas montanhas e a família real costuma usá-lo como casa de férias para fugir do calor do verão.
— Correto. Porém, isso não é tudo.
Com isso, Número 559 desceu a colina e começou a atravessar o campo de neve tão graciosamente quanto um pássaro voando pelo céu.
Rose e as outras a seguiram apressadamente.
— Fui eu quem te indicou, Rose Oriana.
Rose vacilou por um momento ao ser chamada por seu nome verdadeiro.
Entre as fileiras do Shadow Garden, a identidade da Número 666 como Rose Oriana é um segredo aberto.
— Mestre Shadow lhe concedeu poder pessoalmente.
As Números 664 e 665 olharam para Rose em choque.
— O quê?
As únicas a terem os poderes concedidos pelo próprio Shadow eram as sete iniciais – as Sete Sombras. As Sete Sombras estão em um nível próprio no Shadow Garden, e essa bênção que Shadow lhes deu é parte do que as torna tão especiais.
Rose dá-lhes um pequeno aceno de cabeça. — …É verdade.
Com certeza, Shadow foi quem a salvou dos estragos da possessão.
— Ele fez o mesmo por mim — disse Número 559.
— É sério…?
— Mestre Shadow me concedeu força, assim como fez com você. Com exceção das Sete Sombras, você e eu somos as únicas duas que receberam esse privilégio. — Ela lançou um olhar perscrutador para Rose e então murmurou: — Tão fraca.
— …
— Como serva fiel do Mestre Shadow, é meu dever purgar qualquer um que seja indigno de sua graça.
Ela virou as costas para Rose.
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Os cadáveres dos soldados estavam empilhados na Fortaleza Saisho.
Rose mordeu o lábio enquanto olhava para baixo do topo da muralha.
Suas ações tinham começado a guerra, e foi aqui que essas ações a trouxeram.
Seus soldados estão morrendo e seu povo está sofrendo.
Para Rose, no entanto, a parte mais dolorosa de tudo é saber que era incapaz de fazer qualquer coisa a respeito.
Talvez ela fosse vaidosa.
Talvez acreditasse que poderia mudar alguma coisa.
Mas agora, não era mais do que um dos soldados do Shadow Garden. A organização está repleta de pessoas mais fortes e mais sábias do que ela, e juntar-se a elas a ensinou o quão pequena realmente é.
— Tem algo errado, 666?
Que papel ela poderia desempenhar nesta guerra?
Parecia que os rostos contorcidos de dor dos soldados estavam todos olhando com ressentimento para ela.
— Número 666!
Rose é trazida de volta ao presente pela sensação de alguém sacudindo seus ombros.
A Número 664 estava olhando para ela preocupada.
— Desculpe, não é nada — respondeu Rose.
— Tente não deixar isso te afetar, ok? — Número 664 sorriu.
Número 559, observando as ações do Culto, falou: — Eles estão em movimento.
Um grupo de pessoas vestidas com mantos negros emergiu do portão da frente iluminado pela lua.
— Há mais de quarenta deles — observou a Número 665.
Os lábios da Número 559 se contorceram em um sorriso satisfeito.
— Isso é mais do que eu esperava.
— O que faremos?
— Segui-los à distância.
Número 559 assumiu a liderança, e as quatro seguiram pela escuridão, tomando muito cuidado para não fazerem barulho.
O grupo de mantos entrou em uma floresta perto da fortaleza.
— Vamos usar a floresta para nos aproximarmos — disse Número 559.
— Entendido.
— E mantenham a guarda alta. Dado o quão fortes eles parecem, provavelmente são todos Primeiras Crianças.
— Todos eles?!
As Primeiras Crianças são os indivíduos mais fortes que o Culto tem, e não há muitos deles. Ter quarenta deles todos no mesmo lugar é uma ocorrência altamente incomum.
— O que há nessa floresta, 666? — 559 perguntou.
— Apenas algumas ruínas históricas. Costumava ser um santuário em homenagem aos perdidos na batalha contra Diabolos, mas a maior parte está em ruínas.
— Ruínas, hmm. Achei muito…
A Número 559 pareceu entender o que estava acontecendo.
Elas entraram na floresta e gradualmente fecharam a lacuna entre elas e os membros do Culto. Em pouco tempo, chegaram às ruínas.
O grupo encapuzado cercou o altar do santuário.
Rose e as outras os observaram silenciosamente por trás da cobertura de árvores.
— Não há dúvidas… Isso… uma porta…
Rose mal conseguia entender as palavras do líder deles. Com o rosto iluminado pela luz de tochas, ela pode ver as cicatrizes nas bochechas do homem de meia-idade.
— Aquele é Kwadoi, o Furioso, um dos líderes do Culto.
— …Entendo. — Os lábios de Número 559 se contorceram num sorriso mais uma vez.
— Para o altar… com… deixem para… Rainha Reina. — Kwadoi puxou uma mulher pequena da multidão de figuras com mantos negros e a fez ficar na frente do altar.
Quando ela tirou o capuz, a garganta de Rose tremeu.
— M-Mãe…?
A mulher era, sem dúvidas, a mesma mulher que a deu à luz. O Culto deve tê-la ameaçado a seguir suas ordens.
Rose estava confusa. Ela havia sido informada de que toda a realeza de Oriana estava sob a proteção da Facção Anti-Doem.
— Por que minha mãe está aqui…?
O Culto a pegou? Ou o Shadow Garden simplesmente mentiu para ela?
A mente de Rose corria a mil por hora.
— Coloque sua mão aí.
Quando a Rainha Reina seguiu a ordem de Kwadoi e estendeu a mão, runas mágicas brilharam na superfície do altar.
— Assim como pensávamos… Sangue… Real é a chave…
A luz diminuiu, deixando um pequeno objeto brilhante flutuando acima do altar.
Era um anel.
— Com certeza… Este é… O… do Reino Oriana…
Kwadoi guardou o anel em uma pequena caixa.
— Preparem-se para lutar — avisou Número 559. O sorriso torcido nunca deixando seu rosto.
A Número 664 ofereceu a ela uma objeção silenciosa. — M-mas isso era para ser só uma missão de reconhecimento!
— Aquele anel é a chave. Precisamos eliminá-los e recuperá-lo.
— Isso não me diz nada. O que é essa “chave”?
— Os detalhes não importam. Agora, a única coisa que vocês três precisam saber é que falhar em recuperá-lo não é uma opção. Tudo o que devem pensar é em como podemos fazer isso.
Peões como Número 664 e Rose raramente têm acesso a informações confidenciais. O Shadow Garden era linha dura quando se tratava de gerenciamento de informações.
— Mas estamos em grande desvantagem aqui!
Havia quatro delas e quarenta Cultistas. Estavam em desvantagem de dez para uma.
— E? — Número 559 puxou friamente sua lâmina de ébano. — É hora da execução.
— P-por favor, espere! — Rose chorou. — Aquela é minha mãe ali emb…
Número 559 a ignorou.
Ela correu adiante, alcançando o altar num piscar de olhos. Sua lâmina se estendeu em sua mão.
Seu plano era ceifar todo mundo de uma só vez.
— Q-quem vem lá?!
As Crianças também sacaram suas espadas.
No momento em que o fizeram, um barulho horrivelmente estridente soou.
O golpe de Número 559 cortou espadas como palitos de dente, e algumas das Crianças com a mesma facilidade.
— É o Shadow Garden! Espalhem-se!!
Uma onda de choque muito poderosa percorreu a área, lembrando até mesmo um ataque das próprias Sete Sombras.
Uma agitação alarmada tomou conta dos Cultistas, mas rapidamente recuperaram a compostura e se dispersaram. No entanto, Número 559 apenas usou esse tempo para começar a cortá-los um a um.
Para seu próximo alvo, ela escolheu a Rainha Reina.
— Mãe!
Nesse momento, uma imagem do rosto de seu pai passou pela mente de Rose.
Era uma imagem que viu repetidamente em seus sonhos. Perfurado no peito, ele tossia sangue enquanto a vida desaparecia dele.
— NÃO!!
Rose estendeu a mão, agarrou sua mãe e se esquivou do ataque de Número 559.
A rainha olhou para Rose em choque.
— Rose…?
— Mãe!
Rose segurava sua mãe com força.
— Por quê? Por que você atacaria minha mãe?!
Seus olhos cor de mel queimam de raiva enquanto encarava Número 559.
— …Hmph.
Número 559 dá a ela um sorriso frio.
Rose aperta a Rainha Reina com força para protegê-la, mas o fato é que elas estavam cercadas por Cultistas, que apontaram suas espadas para as duas.
— Qualquer movimento em falso e elas morrerão — alertou Kwadoi. — Mesmo nos pegando de surpresa, eliminar nove Primeiras Crianças não é tarefa fácil. Você deve ser uma das Sete Sombras.
Nove cadáveres estavam espalhados ao redor deles.
— Desculpe, — Número 559 respondeu — mas eu não sou uma das Sete.
— Você não é?! Você deve ser pelo menos uma das números de classificação mais alta, então.
— Por enquanto, sou apenas a Número 559…
— Um membro da base é tão poderosa assim…?! — Os olhos de Kwadoi se arregalaram em choque. — B-bem, não importa. Forte ou não, seu fim está próximo.
Ele acenou com o braço e três dos cultistas vestidos de preto abaixaram seus capuzes.
Os rostos das Números 664 e 665 se contorceram em desespero.
— Não pode ser… Três dos líderes do Culto estão aqui?!
O rosto de Número 559 se contorceu também, mas no caso dela em um sorriso.
Kwadoi apontou sua espada para a nuca de Rose. — Não tente nenhuma gracinha. Temos reféns.
— Faça como quiser — respondeu Número 559.
— O quê?
— Aquela mulher não serve para o Shadow Garden. — A densidade de sua magia aumentou. — São execuções para todos vocês.
Rose e sua mãe foram amarradas e arrastadas. A última coisa que viram foi Número 559, cercada por Cultistas.
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Sentei-me numa taverna na Cidade Castelo da Fortaleza Saisho, bebendo meu suco de maçã e ouvindo a explicação.
Depois de fugir de Delta, acabei correndo por toda a fronteira e me esgueirando para o Reino Oriana.
— A guerra estourou. Lord Kwadoi controla a área ao redor da Fortaleza Saisho, e muitos dos moradores aqui morreram.
— Hum. Hum. Entendo — murmurei preguiçosamente de vez em quando para mostrar que estava prestando atenção. A anfitriã era uma barista chamada Marie. Sinto que já a vi antes, mas provavelmente estou apenas imaginando coisas.
Pelo que ouvi, 90% dos caras nesta taverna estão tentando levá-la para a cama.
— As coisas estão muito confusas agora. Os soldados estão nos extorquindo por tudo o que temos.
— Droga, isso é difícil — ofereci.
— Temo que você escolheu um momento ruim para ficar preso em Oriana, Cid. Acabei de abrir esta taverna e…
Basicamente, o caso era que Oriana não tinha um rei agora, então havia duas facções competindo pelo poder.
Disputas entre facções, guerras… Coisas assim têm um certo tipo de je ne sais quoi[1]. Esses tipos de cenários sempre têm uma ou duas aberturas para uma eminência na sombra entrar em cena e desfilar.
— Tenho certeza que tudo vai acabar bem, no entanto — disse Marie esperançosa.
— Sim, com certeza.
— Não podemos desistir, só isso. Enquanto continuarmos aqui, vamos descobrir como superar isso.
— Com certeza, sim.
Os olhos de Marie brilhavam enquanto ela olhava para longe. Exceto pelo fato de que não havia qualquer distância para olhar. Apenas a porta suja da taverna.
Então, a porta se abriu.
Um trio dos soldados dos mais mal-educados imagináveis apareceu.
— Ei senhora, entregue seus lucros!
Como um homem com uma carruagem disse uma vez, a realidade é cruel.
— I-isso não é justo! Acabei de lhe dar todo o dinheiro que…
— Cale a boca! Se não nos der o dinheiro, terá que nos pagar com seu corpo!
— V-você não pode…
— Ei!
Um jovem corajoso plantou-se bem na frente dos soldados tirânicos.
Você adivinhou… sou eu!
No começo, estava pensando que a coisa mais normal a se fazer seria me encolher para o lado como todos os outros clientes, mas não. Este momento pedia um clássico.
— Deixe Marie em paz!
É aquela situação em que o poder do amor inspira um menino a enfrentar um grupo de soldados – e falha miseravelmente!
— Ak!
Um único soco me faz voar e o sangue jorrar do meu nariz enquanto faço uma rotação e meia perfeita no ar e aterrisso diretamente com meu rosto.
Heh. Uma bela interpretação de “figurante se fodendo”.
— Cid! — Maria chorou.
O soldado zombou dela:— Heh heh. Você é a próxima.
— A-aqui, pode ficar com o dinheiro! Apenas peguem isso logo!
Marie recolheu seus ganhos e os entregou aos soldados.
— Ha, deveria ter feito isso desde o… Ei, quase não tem nada aqui!
— I-isso é tudo que eu tenho. Reabastecer tem sido difícil ultimamente…
— Você acha que eu sou algum idiota?!
O soldado agarrou Marie pelo colarinho.
— Vou deixar você em paz desta vez. Da próxima vez, porém, podemos não ser tão generosos.
Ele e seus amigos soldados a olham de cima a baixo como se ela fosse um pedaço de carne, depois saíram da taverna.
— Cid, você está bem?
Marie se inclinou ao meu lado e deitou minha cabeça em seu colo.
— Ai, ai… Desculpe, Marie…
— Isso foi tão imprudente!
— Desculpe… eles levaram todo o seu dinheiro…
— Está tudo bem. — Ela acariciou minha cabeça e sorriu.
— Você parece calma sobre tudo isso.
— Eu morava na Cidade Sem Lei. Você se acostuma com esse tipo de coisa.
Eu amo a Cidade Sem Lei. Penso nela como minha casa longe de casa.
— Trabalhei lá como prostituta por muito tempo. Violência como essa era apenas uma coisa do dia-a-dia por lá, e cheguei tão perto de desistir mais vezes do que posso contar, mas nunca o fiz. E por causa disso, estava lá quando ele apareceu e me salvou.
Seus olhos praticamente brilharam.
— É por isso que me recuso a desistir. Tenho a sensação de que se eu continuar lutando, o encontrarei de novo algum dia…
— Legal, legal. Bem, eu tenho que ir.
— Obrigado por intervir assim, Cid. Isso me deixou muito feliz.
Marie se despediu de mim com um sorriso.
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Três soldados passeavam pela fria estrada noturna.
— Ha-ha, que tarefa fácil. E o que uma coisinha linda como ela está fazendo em uma cidade atrasada como esta?
Seu saco de ouro tilintava enquanto eles andavam.
— Por que caralhos eu saberia, cara?! Ouvi dizer que o plano é matar todos os aldeões para garantir que nenhum deles fale.
— Algo sobre uma ruína importante nos arredores da cidade, sim. Heh-heh, pelo menos, podemos nos divertir antes de matar os pobres bastardos.
Sua respiração escapava de suas bocas em baforadas brancas enquanto conversavam.
Quando entraram em um beco, encontraram um menino lá.
— Ei — disse ele com um sorriso.
Tinha cabelos pretos, olhos pretos e parecia tão comum quanto possível.
— Ei, você é aquele garoto de antes.
— Quem? Ah sim, aquele verme patético que beijou o chão com um único soco.
— Ha-ha, vamos matar o merdinha.
Os soldados sacaram suas espadas sem hesitar nem por um segundo.
No entanto, o menino não estava mais lá.
— Para onde ele foi?!
— Que porra?! Ele se foi!
— Ah! Atrás de nós!
Com certeza, o menino estava atrás deles.
Ele estava ali parado como se nada tivesse acontecido.
— Vindo em busca de sangue? Vocês se encaixariam perfeitamente na Cidade Sem Lei. — Ele acenou. — Eu amo aquele lugar.
— Como diabos você chegou aí, garoto?!
— Tem alguma coisa errada com esse cara…
— Vamos lá, rapazes, juntos, porra!
Um dos soldados balançou sua espada em um amplo arco.
Mas o menino não estava mais lá.
— E-ele se foi de novo!
Eles ouviram a voz do menino novamente, embora não tenham certeza de onde.
— Isso torna as coisas muito mais simples.
— Onde ele es…? Glourgh!
O menino estava atrás deles de novo. Estava segurando o coração de um dos soldados em sua mão.
Sangue respingando sobre a neve no chão.
— C-como?! Como ele arrancou o coração dele com as próprias mãos?!
— Não faz sentido! Mais cedo, ele caiu em um único…
O menino fluía perfeitamente de um movimento para outro.
Depois de jogar de lado o coração pingando, seguiu atrás do soldado em fuga e enfiou o braço direto no peito do homem.
— Gahh! A-ajuda…
Ele apertou e esmagou o segundo coração.
Uma flor de sangue desabrochou no chão.
— O-olhe, me desculpe, ok! Me desculpe por ter dado um soco em você!
O menino virou a mão manchada de sangue para o último soldado.
— Na Cidade Sem Lei, segue-se a lei do mais forte.
— E-eek! Alguém, me salv…
Ele perfurou direto através do peito do homem.
O sangue escorreu no beco mais uma vez.
— E eu sou mais forte.
O luar caiu, iluminando os três cadáveres com buracos em seus peitos.
— Uma fortaleza e algumas ruínas, hein? Gosto de como isso soa.
O menino descartou o último coração e pegou o saco de ouro do chão.
Então, se virou e olhou para a fortaleza ao longe.
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— V-você é um monstro… — murmurou Kwadoi.
A Número 664 não pôde deixar de concordar com a avaliação.
Ela caiu contra uma das árvores da floresta, e Número 665 caiu aos seus pés.
As duas estavam sem mana. Não tinham mais condições de lutar.
Mesmo assim, havia cadáveres empilhados ao redor delas.
Facilmente uma centena de corpos no total.
Número 559 permaneceu sombriamente no centro da carnificina, coberta de sangue da cabeça aos pés.
Ela esteve lutando desde que Rose foi arrastada. E não apenas derrubou os três líderes do Culto, como também massacrou os reforços que o Culto enviou da fortaleza.
Nada pôde parar a Número 559 enquanto ela corria pela floresta. Até o momento, a batalha durou três dias e três noites.
No entanto, isso não quer dizer que 559 saiu ilesa.
Suas costas foram cortadas, sua barriga rasgada e seu braço esquerdo desapareceu completamente do cotovelo para baixo. Sua mão direita ainda segurava sua lâmina de ébano, mas apenas balançando impotente ao seu lado.
É uma surpresa que ainda estivesse de pé.
Mesmo agora, o sangue ainda estava jorrando de seu toco do braço esquerdo.
Não havia lhe sobrado mana para estancar o sangramento.
— Pa-parece que seu poço finalmente secou — disse Kwadoi com sua voz trêmula. — Você simplesmente não sabe quando parar, não é?
Ele caminhou até ela e a mandou voando com um chute para o lado.
— Ah…!
Ela pousou no chão com um grito estranhamente frágil.
Kwadoi plantou seu pé no pescoço dela.
— Talvez eu só devesse esmagar sua garganta aqui e agora.
Gradualmente pressionando cada vez mais forte.
— Não, isso seria uma morte muito rápida para alguém como você. V-você tem ideia de quantas pessoas perdemos por sua causa?
Um sorriso trêmulo se estendendo em seu rosto enquanto apertava o pescoço de Número 559.
— Mas não os perdemos por nada, então já é alguma coisa. Colocamos as mãos em Rose Oriana. O Duque Doem ficará encantado.
Ele pegou uma carta e a examinou com óbvia satisfação.
— Por onde devo começar? Seu braço bom? Suas pernas? Seus olhos, talvez? — disse ele enquanto passava sua espada pelo corpo de Número 559, deixando feridas superficiais em seu rastro. Sem mana correndo por ele, seu traje de slime não oferecia nada em termos de proteção.
Número 664 e Número 665 sem forças para fazer qualquer coisa além de assistir.
— O que há com esse olhar? — Uma expressão perplexa surgiu no rosto de Kwadoi enquanto olhava para Número 559.
Ela estava sorrindo.
O sorriso era radiante e bonito.
— Você está aqui para me salvar de novo…
Lágrimas escorrendo de seus olhos.
— Deus, você é assustadora. Vamos ver se um braço a menos pode consertar isso.
Kwadoi começou a baixar sua espada. Ênfase em “começou”.
— Aaaargh!
Em vez de terminar seu golpe, no entanto, ele foi ao chão com um grito. Tudo, do tornozelo para baixo, foi cortado em tiras.
— M-mas como…?
Número 559 se levantou calmamente.
Estava segurando algo em sua mão direita.
Era o que sobrou do pé de Kwadoi.
— V-você deveria estar sem mana… Como isso é possível…?
Em algum momento, a área ao redor de Número 559 ficou cheia de magia roxo-azulada rodopiante.
Era tão densa que fazia o próprio ar tremer, e as feridas de Número 559 começaram a se fechar diante dos olhos de Kwadoi.
Em seguida, a magia se acumulou em seu braço esquerdo decepado.
Condensando-se ainda mais, brilhando o tempo todo.
E então…
— Este é o poder que ele possui.
O braço esquerdo de Número 559 estava novo em folha.
Kwadoi se virou para fugir. — Pensei que as Sete Sombras deveriam ser os únicos monstros no Shadow Garden… Mas você é tão ruim quanto!
Mesmo com o pé rasgado em pedaços, ele ainda era digno do título de “o Furioso”.
Se movendo mais rápido do que o olho podia ver, perceptível apenas como uma rajada de vento.
— Que tolice — murmurou Número 559. — Você entrou direto no alcance dele.
Sangue jorrou pelo ar como pétalas de flores.
Pedaços picados de Kwadoi rolaram pelo chão. Sua expressão final era de puro choque.
O som de botas pretas ressoava.
Clop. Clop.
— Faz muito tempo… — Número 559 se ajoelhou, o rosto corado de alegria.
Um homem com um sobretudo preto azeviche saiu da escuridão. Listras de sangue brilhavam ameaçadoramente em sua espada de ébano.
— …Mestre Shadow.
Número 664 também se ajoelhou apressadamente.
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Não havia ninguém na Fortaleza Saisho quando fui dar uma olhada, mas senti pessoas usando magia na floresta próxima. Quando cheguei lá, vi uma garota de aparência familiar com cabelo loiro morango que parecia estar com alguns problemas.
Se bem me lembro, o nome dela é Victoria.
Eu a conheci no ano passado quando estava em um dos meus passeios pelo país. Ela tinha a possessão, então a curei e a deixei com Alpha.
Era tão tímida que não machucaria uma mosca naquela época, então estou meio surpreso por encontrá-la lutando por sua vida enquanto estava completamente coberta de sangue
Pude ver que estava ferida, então a curei, mas ela provavelmente ainda deveria ter mais calma no futuro. Então, cortei o velho que estava intimidando ela.
— Você está bem? — perguntei a ela.
— Sim, senhor, — Victoria respondeu.
Bem, isso é bom, pelo menos.
Mas isso levanta a questão: o que ela estava fazendo brigando com todos esses soldados?
— O que aconteceu aqui?
— Eu cometi um erro. O Culto Diabolos já colocou seu plano em ação.
Um erro, hein?
Deve ser algo que ela tem vergonha de contar a alguém. Ela provavelmente estava fazendo algo ilegal e os soldados a pegaram. Estou impressionado que ela foi capaz de inventar essa história de fundo sobre o Culto Diabolos tão rapidamente, no entanto.
Além de Victoria, também vejo as duas garotas que estavam saindo com Rose no outro dia.
Nenhuma delas parecia estar muito machucada, mas decido curá-las também, só para garantir.
— M-muito obrigada!
— Obrigadaaaa.
Eu gosto dessas duas. Elas têm boas maneiras.
— …Mestre Shadow, tenho um relatório.
Victoria puxou meu casaco com um olhar um pouco irritado em seu rosto.
Cara, isso me traz uma nostalgia. Depois que a curei no ano passado, ela costumava puxar meu casaco o tempo todo.
— É sobre a Número 666. A traidora.
Quem?
Olha, entendo que a Mitsugoshi chama seus funcionários por seus números de identificação, mas você não pode esperar seriamente que eu me lembre de seiscentas pessoas diferentes.
— Uma traidora, você diz…?
— N-não! — A garota que parecia um tipo de representante de turma saltou para defender a suposta traidora. — A Número 666 não é uma traidora… ela estava apenas tentando proteger sua mãe!
— Huh…
Ah, entendi. Esta “Número 666” deve ter traído a Mitsugoshi. Elas provavelmente roubaram segredos corporativos sobre algum novo produto e fugiram com eles.
Concordo com a cabeça em compreensão e Victoria puxa meu casaco com ainda mais raiva que antes.
— A Número 666 é indigna de sua graça, meu senhor. Eu juro, eu vou…
De repente, uma rajada de vento frio sopra uma carta em nossa direção.
— Hum?
Isso desperta meu interesse, então abri e li seu conteúdo.
“Anote na sua agenda! A princesa Rose Oriana e o duque Doem Asshat vão se casar!”
— O quê…?
Rose vai se casar?
Pensei que a razão pela qual ela havia matado seu pai no Festival Bushin era para que pudesse se tornar a nova monarca.
Além disso, esse cara com quem ela está se casando é seu antigo noivo, o cara que ela já largou. Por que voltar e se casar com ele agora?
Algo está acontecendo.
Não vão me dizer que ela desistiu de se tornar a monarca, não é?
— Isso é inaceitável.
Rasguei a carta, até o nível de partículas.
A existência da luz é o que torna a escuridão tão radiante.
Se Rose se tornar a monarca, minha eminência na representação de sombras se tornaria muito mais legal.
— O-o quê?! — A garota-representante de turma chorou. — Mas isso não é justo!
— Não esperava nada menos de você, meu senhor! — Victoria corou.
— Eu me recuso a deixar isso de pé.
De jeito nenhum vou permitir que esse casamento aconteça.
Eles podem ter as bênçãos de seus pais, mas não têm as minhas.
— Estou indo atrás de você, Rose Oriana.
Vamos, Rose! Se lembra do porquê você esfaqueou seu velho?
Era para se tornar a monarca de Oriana, não era?!
— Então deixarei a tarefa de dar cabo da traidora para você, meu senhor.
— Não… Número 666…
Não tenho certeza do porquê, mas os olhos de Victoria estavam brilhando, e a dupla de garotas elfas pareciam estarem dominadas pelo desespero. As deixei para trás, levantando neve em meu rastro enquanto corri a toda velocidade.
…Ah, espera. Tenho de voltar e pagar pelo suco de maçã primeiro.
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Os olhos de Marie se abrem na calada da noite. Está quieto e muito frio.
Sua janela estava ligeiramente entreaberta. Isso era estranho; ela tinha certeza de ter fechado antes de dormir.
Sua respiração saia em fumaça branca pelo ar quando saiu da cama. No momento em que ela o fez, algo se moveu ao lado de sua janela.
— Q-quem está aí?
— ………
Havia uma pessoa parada ali. A luz do luar entrando no quarto.
— O quê? — Ela reconheceu aquele sobretudo preto. — V-você é…?
A janela se abriu e a figura desapareceu num piscar de olhos.
— Por favor, espere um pouco!
Marie correu até a janela.
Entretanto, não havia mais ninguém lá.
— Eu me pergunto se era ele…
A maioria das pessoas simplesmente assumiria que era um ladrão que escapou.
Marie, no entanto, tinha alguém que não podia deixar de procurar.
Ela o procurava enquanto estava andando pela cidade ou enquanto trabalhava. Ela não deixou de procurá-lo. Por alguma razão, até mesmo o garoto em sua taverna hoje mais cedo a lembrava dele.
— Eu sou uma tola…
Então, quando foi fechar a janela, percebeu uma grande bolsa no chão.
— O que poderia ser isso? Oh meu Deus…
Quando abriu e encontrou a montanha de moedas de ouro empilhadas dentro, lágrimas começaram a escorrer de seus olhos. Marie abraçou a bolsa com força contra o peito. Ainda estava um pouco quente.
[1] (NT: É uma expressão que significa mais ou menos que está uma confusão e que ninguém sabe ao certo o que está acontecendo, o que fazer ou contra o que lutar).
Tradução: Nero_SL
Revisão: Bravo
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