A Eminência nas Sombras

A Eminência nas Sombras – Vol. 04 – Cap. 04 – Se Escondendo na Escuridão no Fantástico Japão!

 

 

— Onde estou? — murmurei em confusão.

Ser sugado para um buraco negro e desaparecer ao longo da escuridão é uma maneira muito legal de fazer uma saída.

Essa foi a lógica por trás de eu pular como fiz, mas nunca esperei que isso me cuspisse nas ruínas de alguma cidade.

— Bem, sempre posso correr até em casa, eu acho. Ainda assim, este lugar parece estranhamente familiar…

Com esse pensamento em mente, olhei ao redor e percebi algo.

O chão era feito de asfalto rachado e, embora estejam cobertos de hera, há postes ao redor e até um monte de casas em ruínas ao lado da estrada.

A placa de identificação em uma delas diz “Tanaka”.

— Nem a pau… estou no Japão?

Dei uma boa olhada em tudo ao meu redor.

Havia casas em ruínas, plantas crescendo no concreto, carros enferrujados…

— Sim, isso é totalmente Japão.

Não sei porquê, mas estou de volta.

Na verdade, esta é até mesmo a cidade onde morava.

Acho que depois de ter reencarnado no meu novo mundo, ainda devia estar ligado ao Japão de alguma forma.

— Bem, aqui estou eu.

A questão é: o que aconteceu aqui?

Definitivamente não era assim que as coisas eram quando saí. Não havia ninguém por perto, então acho que deve ter havido algum tipo de grande desastre ou algo assim.

Mistérios, mistérios…

— Hum?

De repente, sinto alguém atrás de mim e me viro.

Tem alguém ali, tudo bem.

— Mestre Shadoooow! Ai!

Beta desabou.

Ela caiu de bunda, então olhou em volta com os olhos arregalados.

— Mestre Shadow, graças a Deus você não está ferido… espere, onde estamos?!

Você realmente não precisava vir, Beta.

Espere, risque isso. Acabei de ter uma ótima ideia.

Ela não sabe nada sobre o Japão, então posso usar essa chance para fazer uma doce vibe de eminência nas sombras.

— Você descobriu onde estamos? — Pergunto a ela.

— Huh? Nós, hum… — Ela pensou por um momento, então abaixou a cabeça e respondeu: — Receio que não.

— Estamos em outro mundo… Este mundo é chamado de “Terra”, e esta terra é chamada de “Japão”.

— U-uau! E pensar que você já investigou os nomes do mundo e do país em que estamos…!

— Apenas peguei os dados visuais disponíveis, organizei e analisei. Certamente, isso é óbvio.

— Suas maravilhas nunca cessam, meu senhor!

Os olhos de Beta estão praticamente brilhando. Hehe, isso é muito divertido.

— Então, Mestre Shadow, por que você decidiu vir para Perra?1NT: Está errado mesmo

— Gaia sussurrou para mim e me disse para brilhar ainda mais.

Eu só pulei no buraco porque pensei que seria legal, mas nem fodendo que vou dizer isso a ela.

— Então, você quer dizer que não estava satisfeito… e que está buscando alcançar alturas ainda maiores?! Oh, que mentalidade nobre!

— Sim, é isso aí que você disse. — Estou cansado de estar no modo Shadow, então volto a agir como de costume. — Para começar, devemos nos trocar.

— O que quer dizer?

— Nossas roupas são muito chamativas para este mundo. Vamos para a casa dos Tanakas e encontrar algumas roupas novas.

Não sinto ninguém por perto, mas se alguém nos visse assim, pensaria que éramos cosplayers ou algo assim.

— O que é um Tanakas?

— As pessoas que moram aqui. Está vendo a placa de identificação?

— Incrível… Você já decifrou o idioma deste mundo?

— Sim, descobri como a maior parte da linguagem deste mundo funciona. É fácil, na verdade. Tudo o que precisa fazer é procurar os padrões.

— I-isso é incrível. Aprender um idioma apenas procurando padrões é uma façanha tão inimaginavelmente complexa, que nem consigo… Só Mestre Shadow poderia fazer isso parecer tão simples. — Beta estava tão emocionada que tremia.

Bwa-ha-ha, deleite-se com meu brilho. Graças à minha vida passada, tenho um domínio impecável do japonês.

— Vamos lá.

E assim, pego Beta — que estava tomando algum tipo de anotação — e invado a casa dos Tanakas em alta velocidade.

 

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A casa Tanaka está em um estado lamentável. O próprio edifício caiu em ruínas, e a comida está podre demais para comer.

Começo vasculhando os quartos e pegando qualquer peça de roupa que chame minha atenção.

Acabo escolhendo um moletom com capuz, jeans e um par de tênis — a roupa perfeita para uma tarde de outono como esta.

Então, temos Beta.

— Mestre Shadow, realmente peço desculpas por todos os problemas. — Ela estava modelando mais uma roupa. — O que você acha desse aqui…?

— Beta… isso é o que chamamos de “maiô escolar”.

Quando Beta sai de trás da porta, meus olhos encontram um tecido azul-marinho, pele clara e carne protuberante.

O maiô estava praticamente estourando nas costuras.

— Uma roupa para nadar, você diz…? Mas é fantasticamente elástico e o material é eficiente e fácil de mover.

— Talvez, mas você vai ficar com frio pra caramba.

— Posso usar magia para compensar…

— Vetado.

— Ah… — Beta abaixa os ombros e sai da sala.

Gostaria que ela tivesse ido com a roupa que montei. Ela disse: “Muito obrigada!” quando dei, mas o olhar em seu rosto contava uma história bem diferente, então disse que poderia escolher o que quisesse e a deixei por conta própria.

Como se vê, nenhuma boa ação fica impune.

Suspiro e volto à minha busca.

Isso é bom, no entanto.

Afinal, não é como se estivéssemos com pressa. Não há mal em levar as coisas sem pressa.

Como um ex-cidadão japonês, estou meio curioso sobre o que aconteceu com este mundo. Espero que a humanidade não tenha sido extinta, mas acho que nunca se sabe com coisas assim.

As três coisas que precisamos agora são comida, água e informação.

Continuo procurando entre os escombros e, eventualmente, encontro alguns telefones e tablets. Testei para ver se ainda ligavam, mas sem resultados. Há algumas mídias em papel também, mas a maior parte está muito desgastada e danificada pela chuva para que seu texto seja legível.

Mal consegui distinguir as palavras “Japão Colapsa” em um pedaço de jornal, seguido por algo ilegível.

Seria uma coisa se dissesse “A economia do Japão colapsa”, mas cara. “O Japão colapsa”, hein?

Eu me pergunto se queriam dizer isso metaforicamente ou em sentido literal. Se for o último, algo muito ruim deve ter acontecido.

Assim que termino de procurar no quarto, vou para o corredor e abro a próxima porta.

Quando o fiz, fui recebido por uma surpresa.

— Eu pensei ter sentido o cheiro de sangue…

Dentro, encontro três cadáveres branqueados pelos ossos.

Seu sangue e fluidos corporais secaram há muito tempo, mas o forte odor ainda persistia. Ao que parece, estavam mortos há pelo menos alguns anos.

Estavam acompanhados de manchas de sangue, e não apenas no chão. Há sangue respingado nas paredes também. Além disso, seus esqueletos foram esmagados e há alguns ossos desaparecidos.

Independente da causa da morte, claramente não foi agradável.

— Muito grotesco para um velho e comum homicídio…

Foi vingança, talvez? O trabalho de um serial killer? Ou algo totalmente diferente?

Coloco os ossos quebrados e tento reorganizá-los em alguma semelhança com suas formas originais.

— O osso da coxa está conectado ao osso do quadril, o do quadril à espinha dorsal…

Não há como reconstruir completamente o esqueleto, mas mesmo assim, consigo encaixar um monte de partes de volta.

Os ossos começam a contar uma história — uma história com dentes.

Quando remonto um fêmur quebrado, encontro um conjunto profundo de marcas de mordida nele.

Os dentes definitivamente não eram humanos. O que quer que tenha mordido esses caras, tinha uma boca grande e algumas presas pontudas e afiadas.

— Era um cachorro grande? Não, teria que ser algo ainda maior…

Estamos olhando para algo tão grande quanto um leão. O problema é que os leões não são nativos do Japão e, embora algum possa ter escapado de um zoológico, isso é tão improvável que nem vale a pena considerar.

Huh.

Acho que poderia ter sido um urso?

Nenhum outro provável culpado vem à mente, mas o que quer que tenha feito isso, foi definitivamente um carnívoro.

Não só atacou os pobres coitados que moravam aqui, como também os comeu.

— Com licença, meu senhor…?

— Sim?

— Sinto muito por continuar incomodando, mas o que você acha dessa roupa?

Quando Beta entra, dá uma rápida olhada nos esqueletos, mas rapidamente volta sua atenção para mim e dá uma voltinha.

Não sei em que métrica ela está baseando essas roupas, mas quanta pele é deixada exposta parece ser uma alta prioridade para ela.

— Beta… onde você encontrou isso?

Mais uma vez, a roupa que ela escolheu é ousada pra caralho.

— No que parecia ser um quarto. Estava debaixo da cama, quase como se alguém estivesse escondendo.

Aposto que sim.

— Beta, essa roupa… não é para o dia-a-dia.

— Mas se parece com o meu body de slime e me serve perfeitamente.

— “Perfeitamente” é um pouco exagerado. Literalmente. Essa é uma roupa de BDSM.

O tecido preto e brilhante gruda bem na pele e, além disso, há tão pouco dele que, como da última vez, seu corpo está saliente. Bastaria um único empurrão para enviar certas partes para fora.

A roupa é claramente projetada para atividades noturnas.

— Bedê Esseme?

— Sim. Ele foi projetado para um propósito extremamente específico.

— Que pena. E é tão fofo. — Beta abaixou os ombros desanimada. — Até encontrei essa máscara e chicote com ela também…

Ela veste a máscara preta brilhante e estala o chicote.

— Suponho que usavam isso para esconder sua identidade e combater o mal, assim como nós. Estou um pouco confusa sobre o chicote, no entanto. Parece um toque muito frágil para usar em uma luta real.

Ela o estala mais algumas vezes, fazendo com que seu corpo inteiro balance enquanto imagina tentar usá-lo em combate.

— Beta, esse chicote é uma arma feita especificamente para subjugar uma criatura muito fraca. Um porco pequeno e fraco que está morrendo de vontade de ser disciplinado como o garoto mal que ele é…

— Não sabia que a Perra tinha porcos assim… estou aprendendo tanto.

Os olhos de Beta brilham enquanto ela acena contemplativamente.

— Devo dizer, Mestre Shadow, estou impressionada! Você já descobriu para que servem as roupas especializadas deste mundo, e não faz nem uma hora desde que chegamos aqui!

 

 

 

— Uhh … sim. Isso é definitivamente uma coisa que fiz.

— Incrível! Vou ter que trabalhar mais para poder aprender a descobrir as coisas tão rapidamente.

— Boa sorte com isso…

— Obrigada!

O sorriso de Beta é absolutamente deslumbrante.

— Por curiosidade, por que você continua escolhendo roupas tão reveladoras?

— Bem, é tão raro eu ter uma oportunidade como essa…

O que há de tão raro nisso?

Ela está falando sobre experimentar roupas feitas de materiais desconhecidos? Seus projetos desconhecidos? Suas características desconhecidas? Tudo o que precede?

— Vamos, vá escolher algumas roupas normais.

— Sim senhor…

Beta relutantemente saiu da sala.

Quando tudo já estava dito e feito, levamos mais uma hora inteira para deixarmos a residência dos Tanaka.

 

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— Então, para onde vamos? — Beta perguntou.

Ela tinha terminado de se trocar e acabávamos de sair da casa.

A roupa que escolheu foi um suéter de malha folgado, jeans, um par de tênis e um chapéu para esconder as orelhas e o cabelo. Consegui convencê-la enfatizando como era fácil se mover com isso.

Também tenho uma mochila de trinta litros que peguei e enchi com garrafas vazias e nossas roupas sobressalentes.

— Vamos começar encontrando um rio de onde tirar água. Então, vamos reunir mais informações sobre este mundo.

Quero descobrir se este é realmente o mesmo Japão de onde vim, e se for, por que está em ruínas.

— Concordo, esse é um bom plano. Este mundo parece estar cheio de tecnologia fascinante.

E assim, partimos em busca de água.

Se eu conservar minha energia, posso funcionar por pelo menos um mês sem comida, e presumo que Beta possa fazer o mesmo.

Água, no entanto, precisaríamos pegar. Nunca testei quanto tempo posso ficar sem, mas mesmo eu provavelmente atingiria meu limite em cerca de dez dias.

— Eu me pergunto para que servem esses pilares? Parece que são feitos de concreto, mas por que os têm em intervalos tão regulares? Eles são usados em algum tipo de ritual religioso?

Enquanto caminhávamos, o olhar ansioso de Beta pousou nos postes telefônicos. Estava armada com uma caneta e um bloco de notas, desenhando em um ritmo alucinante.

— Ei. Olhe para os fios pretos que correm entre os pilares. Vê aquele metal em suas seções transversais? A partir disso, você pode deduzir que são usados para fornecer eletricidade para cada uma das residências.

— Ah, você está certo. Os fios estão ligados às casas. Este mundo deve usar a eletricidade de maneiras realmente sofisticadas. Não posso acreditar que encontrou a resposta tão facilmente com tão poucas pistas.

— Heh-heh-heh…

— Mas… se for esse o caso, então por que eles simplesmente não enterram os fios no subsolo?

— Huh? Bem, isso é, errr…

Eu não sei.

— P-por razões de desempenho de custos…? E-e tornaria mais difícil realizar a manutenção. Ah sim, e terremotos; fios subterrâneos teriam grandes problemas se tivessem um terremoto.

— Mas um terremoto não derrubaria os pilares também?

— Eles, uhhhhhhh, são pilares realmente resistentes.

Beta acenou com a cabeça.

— Você está absolutamente correto. Enterrar os fios no subsolo seria demorado, então, se pendurá-los for barato, provavelmente é uma alternativa viável.

— Com certeza, com certeza, com certeza.

— Mas então, se esse “Japão” tinha toda essa tecnologia avançada, como caiu em tamanha ruína? Não vejo nenhum sinal de seca ou inundação, então acho difícil imaginar que tudo isso tenha sido causado por um desastre natural.

— Sua confusão é razoável, mas… tenho uma boa ideia do que aconteceu aqui.

Essa parte é verdade, na verdade.

— O quê… Você já deduziu a causa?!

— Na verdade… — disse com um sorriso significativo.

Tenho uma teoria sólida, embora ainda não tenha certeza de nada.

Não quero dizer isso em voz alta no caso de estar errado, mas provavelmente está relacionada à magia flutuando no ar.

Que eu saiba, ninguém jamais encontrou magia no meu velho mundo além daquelas duas luzes que vi logo antes de morrer. Agora, porém, este lugar está cheio dessa coisa.

Em outras palavras, o Japão provavelmente foi vítima de algum tipo de incidente mágico.

Quando isso aconteceu, todas as mudanças repentinas causaram um pânico enorme.

É nisso que estou apostando, pelo menos.

O nariz de Beta se contraiu.

— Sinto cheiro de água naquela direção.

— Você tem razão.

Eu morava aqui, então já sabia onde ficava o rio, mas não é tão por aqui.

Quando chegamos ao rio, estava muito mais cristalino do que me lembrava. Acho que é isso que acontece quando todos os humanos desaparecem.

— Parece potável, pelo menos — disse Beta.

Divido as garrafas vazias e começo a encher as minhas com água.

Não estamos fervendo a água, mas graças à têmpera mágica, nossos estômagos são como aço, então vamos ficar bem.

— Estou vendo peixes, então devemos estar bem no que diz respeito à comida também — observou Beta. — Vamos pegar alguns?

— Não, vamos nos preocupar com isso depois. Podemos caçar se ficarmos com fome.

— Ah, você está certo. Há pássaros no céu também, então temos muitas opções.

— Sim.

Enchi as garrafas e as guardei na minha mochila, colocando-a nas minhas costas.

— Aqui, deixe-me levar isso — ofereceu Beta.

— Não, eu levo. Na cultura desta nação, é costume os homens carregarem a bagagem.

— Entendo… suponho que não deveria me surpreender que já tenha dominado os costumes deste mundo.

— Claro que não. Agora, quanto ao nosso próximo destino…

— Gostaria de ir a algum tipo de prédio comunitário. Podemos encontrar alguns documentos ou feitos impressionantes de engenharia lá.

— Hum. Nesse caso, talvez a biblioteca…? Ah, podemos ir para a Universidade Nishino!

Nishino Zaibatsu é muito rico, e uma das coisas que fez com seu dinheiro foi construir uma universidade de alta tecnologia ridiculamente chique no topo de uma montanha próxima. É uma escola para garotos ricos mimados e um inimigo das massas. Uma vez jurei pegar um pé-de-cabra e quebrar todas as janelas do campus, mas acabei reencarnado antes que pudesse cumprir essa promessa.

— O que é isso? — Beta perguntou.

— De acordo com algumas informações confiáveis, um bando de canalhas ricos despejou um monte de dinheiro na construção de uma instituição de pesquisa chique. Eles provavelmente a usaram para realizar experimentos humanos ilegais.

— Vejo que este mundo não é estranho ao mal.

— Onde há luz, também há escuridão. Assim é o mundo…

— Sábias palavras, meu senhor.

E assim, partimos.

Paramos na minha antiga casa no caminho e descobrimos que não restou nada além de escombros.

Mamãe, papai e meu cachorro, John, tiveram que se mudar para a América por causa de uma mudança de emprego, então provavelmente estão bem.

 

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O sol começa a se pôr e, honestamente, o céu vermelho de outono é super bonito.

Poderíamos ter chegado à universidade em pouco tempo se tivéssemos corrido lá a toda velocidade, mas Beta estava se divertindo tanto fazendo passeios turísticos, e eu estava me divertindo tanto bancando o guia para ela que acabamos indo bem devagar.

Está tudo bem, no entanto. De qualquer forma, chegaremos lá até o final do dia.

Enquanto caminhamos, uma expressão séria cruzou o rosto de Beta.

— Depois de ver tudo isso, comecei a pensar…

— Ah sim?

— O alfabeto que este “Japão” usa parece estranhamente familiar.

— É mesmo…?

Beta é de um mundo totalmente diferente, então não tem como já ter visto o idioma japonês antes, a não ser que… ah!

Agora que ela mencionou, usei japonês naquela mensagem codificada que dei a ela, não foi?

Espere, isso significa que ela realmente decifrou?!

Não, não. Vamos pensar sobre isso racionalmente.

Não há como uma elfa de quinze anos ter feito isso. Ela provavelmente apenas notou inconscientemente as semelhanças entre os caracteres, isso é tudo.

— V-você provavelmente está apenas imaginando coisas.

— Estou? Não sei…

Isso pode ser ruim.

Se Beta descobrir como ler japonês, vai descobrir que toda a minha Sabedoria das Sombras é realmente daqui.

Quando contei a ela e as outras sobre chocolate, papel-moeda, bancos e literatura, disse que era tudo coisa que inventei por conta própria.

Tenho que levá-la de volta ao seu mundo original, o quanto… antes?

Então, finalmente me dei conta.

Como deveríamos voltar?

— O que há de errado, Mestre Shadow? Parece que começou a suar frio.

— Estou, uhhh… fazendo treinamento de termorregulação.

Tudo o que queria fazer era conseguir uma saída foda, mas agora estou em uma bagunça gigante!

Como poderia, de todas as pessoas, esquecer de planejar uma rota de fuga?

— Mestre Shadow, você está tremendo.

— Estou, uhhh… experimentando uma técnica onde vibro meu corpo para gerar ondas sônicas.

— Esse é o meu Mestre Shadow, sempre se esforçando para melhorar a si mesmo!

Vamos, acalme-se.

Cheguei a este mundo pulando em um buraco negro, então se encontrar outro buraco negro para pular, ele deve me atirar de volta.

Vai ficar tudo bem. Tudo vai dar certo.

Para começar, só preciso procurar uma poderosa fonte de magia…

Antes que pudesse terminar meu pensamento, no entanto, senti um sopro de brisa.

— Hum. Conheço esse cheiro…

É um com o qual estou bem familiarizado — o fedor pútrido da morte.

É como o cheiro na casa Tanaka, mas muito, muito mais forte. O cheiro é praticamente sufocante.

— Acho que o cheiro está vindo daquele prédio ali — disse Beta.

— Ah… o hospital.

— Você quer dizer, como uma grande enfermaria? Acho que esta sociedade não deve ter desenvolvido técnicas mágicas de cura.

— Parece que não.

Quero dizer, eles não deveriam ter magia nenhuma.

— Parece que o cheiro está vindo do último andar — disse.

— É verdade — respondeu Beta.

— Devemos?

— Sim, senhor.

— Ao meu sinal, pule.

Posso sentir traços de magia vindos do hospital.

Espero que haja uma pista lá que possa me levar ao buraco negro.

Nós dois pulamos em uníssono e fomos por um atalho para o último andar. O vidro se quebrou quando fizemos nossa entrada dinâmica com sucesso.

As luzes estavam apagadas, então o quarto estava escuro. Felizmente, poderíamos nos mover muito bem, mesmo estando escuro como breu.

— É um quarto de paciente — notei.

— Vejo manchas de sangue.

— E sinais de luta.

— Sem corpos, no entanto.

Ainda assim, provavelmente está nas proximidades. A mesma coisa acontece muito quando as pessoas são atacadas por bandidos. Uma vez que alguém perdeu tanto sangue, provavelmente não vai muito longe.

Abrimos a porta e saímos do quarto.

— Bingo.

Quando o fizemos, encontramos um conjunto de cadáveres espalhados pelo corredor encharcado de sangue.

Beta nem hesitou antes de ir inspecioná-los manualmente.

— Parece que foram comidos por algum tipo de animal.

— Faz sentido.

Não quero sujar as mãos ou que o cheiro fique grudado na roupa, então deixo a autópsia para Beta.

Considerando o estágio de sua decomposição, estimo que provavelmente morreram há menos de uma semana.

Oh hey, Beta fez luvas com seu slime.

Luvas de slime, hein? Nunca pensei nisso.

É uma espertinha, essa Beta.

— Acho que é seguro dizer que eram humanos deste mundo. Ao todo, são três corpos: dois homens, uma mulher, todos adultos.  — Enquanto Beta falava, mostrou os três crânios com um pouco de cabelo ainda preso. — Com base na temperatura e umidade do ambiente, estimo a hora da morte em cerca de cinco dias atrás.

— Em outras palavras, até recentemente ainda havia pessoas aqui — pensei.

— Podemos encontrar outros sobreviventes.

Então, senti.

Algo no hospital estava em movimento.

— Beta.

— Hum…? Ah, não estamos sozinhos.

Um momento depois, Beta percebeu a mesma coisa.

Há uma presença um andar abaixo.

— Vamos conferir.

Sem mais delongas, descemos as escadas para pegar as criaturas.

As criaturas em questão eram algum tipo de besta sombria.

Peguei duas delas, e Beta pegou uma terceira.

Nós as pegamos pelas patas traseiras e as jogamos no chão.

— Acha que essas coisas estão por trás da cena do crime lá em cima? — Beta perguntou.

— Provavelmente, sim.

Observamos as feras enquanto lutavam e se debatiam.

— Sabe, — ela disse — elas se parecem muito com as feras mágicas que estavam devastando Oriana.

— Você está certa, se parecem.

Agora que ela mencionou, elas realmente meio que se assemelham às criaturas negras que foram convocadas junto com o morcegão.

Têm o mesmo pelo preto e seus olhos vermelhos também parecem semelhantes. Em termos de quanta mana possuem, no entanto, as criaturas em Oriana superam essas em muito.

Estas são como um cruzamento entre um leão e um urso, e entre isso e a quantidade reconhecidamente escassa de mana que tinham, um humano comum teria uma baita dificuldade de lidar com uma dessas.

Comparado a mim e Beta, no entanto…

— Elas são tão fracas.

— Realmente são — concordou Beta, plantando o pé no pescoço da fera furiosa e pisando no chão, pulverizando sua garganta e acabando com sua vida.

Sangue espirrou em todos os lugares, então tive que usar as feras que peguei como escudos para bloqueá-lo.

— Oh, me desculpe, meu senhor.

— Não se preocupe.

Com uma criatura em cada mão, as esmaguei para matá-las.

Sabe, olhando o tamanho das presas dessas coisas, aposto que são do mesmo tipo de feras que estão por trás do ataque à casa dos Tanaka.

Parece que a descoberta da magia no Japão fez um grande estrago no meio ambiente.

A fauna local deu um pulinho na academia ou algo assim?

— Mestre Shadow, esses são os porquinhos fracos que mencionou antes?

— Não, os porcos são ainda mais fracos do que isso.

— Mais fracos que isso? Isso me confunde um pouco. Como sobrevivem na natureza?

— É um mistério, com certeza.

— Mistérios sobre mistérios…

— Ah, wow.

Rapidamente conjuro uma espada de slime e corto atrás de mim, partindo em dois a fera que estava vindo por trás de mim.

— Trabalho esplêndido — disse Beta. Ela também faz uma espada e a balançou para baixo.

Uma fera a estava atacando de frente, mas embora seu ataque a partisse ao meio, mais e mais criaturas negras estão se reunindo a cada momento.

— Parece que este lugar é o ninho delas — comentei.

— É verdade, não é? Suspeito que comecem o dia por volta do pôr-do-sol.

Isso explicaria porquê a magia que senti antes era tão fraca.

Passamos o próximo tempo limpando as feras mágicas enquanto tentavam nos atacar.

Ao todo, acabamos matando cerca de cinquenta delas.

Durante toda a batalha, certifiquei de usar meu slime para me proteger de sujar minhas roupas com sangue.

— Parece bobo até sugerir, mas… Existe uma chance de que aqui no Japão, essas criaturas governarem o ecossistema no topo da cadeia alimentar? — Beta perguntou.

— É… uma possibilidade definitiva.

Tentar vencer esses bad boys sem magia seria uma dureza.

Mesmo se conseguir feri-los com ataques convencionais, podem regenerar o dano num piscar de olhos.

Essas feras mágicas são muito fracas, então mil tiros de uma metralhadora provavelmente seriam suficientes para deixá-las muito feridas para se regenerarem, mas nesse ponto, seria quase mais eficiente apenas tentar fazer com que elas atacassem umas as outras.

Em nosso mundo, lidar com bestas mágicas poderosas é um trabalho para cavaleiros negros, e enquanto cavaleiros comuns enfrentam bestas mágicas mais fracas, fazem isso com espadas magicamente encantadas.

Embora essas feras sejam bem fracas para nossos padrões, não seria surpresa se fossem capazes de reinar supremas em um mundo que não desenvolveu magia.

— Mestre Shadow, suponho que já tenha notado, mas…

— Hum?

— Sinto a presença de pessoas.

Oh hey, sim, alguém acabou de entrar no hospital.

— Devemos fazer contato? — Beta me perguntou.

— Boa pergunta… vamos ser flexíveis e ver o que acontece.

 

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Akane Nishino chegou ao hospital abandonado com quatro companheiros de equipe a reboque.

Seu cabelo preto era elegante e arrumado, seus olhos num impressionante tom de vermelho.

— Este é o lugar onde os três estavam procurando antes de desaparecerem.

— Pelas nossas informações, sim.

Cinco dias atrás, três de seus cavaleiros foram para este hospital em ruínas a fim de investigar as feras que haviam se aninhado aqui.

O hospital ficava perto de sua base, a Universidade Nishino. Um ninho ali poderia ficar grande demais para darem conta se não lidassem com isso.

A questão é que os cavaleiros nunca voltaram.

Akane votou para enviar uma missão de resgate, mas seu pedido foi vetado pelos superiores. A base já estava ocupada com a investigação do outro incidente da semana anterior e não tinham cavaleiros sobrando. No final, a situação do hospital foi colocada em segundo plano.

Akane sabia quão pequenas eram as chances de que qualquer um dos cavaleiros ainda estivesse vivo.

Ao mesmo tempo, porém, não conseguia abandonar as pessoas com quem lutou lado a lado.

O olhar em seus olhos endureceu.

— Essa investigação era realmente mais importante do que a vida das pessoas…?

A pessoa que se opôs à missão de resgate era um homem pesquisando magia, assim como o próprio irmão de Akane.

— Akan…

— Desculpe, não é nada. — Ela respondeu. — Deveríamos nos apressar.

Por enquanto, sua principal prioridade é confirmar se esses três estavam vivos ou mortos.

Ela gostaria de ajudar antes, mas a segurança à tarde é muito rígida, então sua única chance para agir seria pela noite.

Nem mesmo seu irmão esperaria que ela saísse tão tarde.

Afinal, a noite é quando as feras reinam…

— Preparem-se para uma luta. Elas estão aqui.

Quando passaram pela entrada do hospital, foram atingidos pelo cheiro enjoativo da morte.

Nenhum deles perdeu tempo em sacar suas armas.

A maioria deles estava armado com pouco mais que facas de cozinha, mas Akane estava equipada com uma longa katana.

Sua arma brilhava enquanto imbuía magia nela.

A maneira mais eficiente de matar uma fera é cortá-la com uma arma branca imbuída em magia, pois as armas de projéteis perdem sua carga mágica muito rapidamente enquanto voam para longe do corpo do usuário.

— Vamos lá.

A noite é quando as feras estavam mais fortes. Uma única delas era o suficiente para dar a um cavaleiro mediano uma luta pela vida.

O grupo prosseguiu com a máxima cautela.

Seus passos ecoavam pelos corredores iluminados por lanternas do hospital em ruínas.

As feras já notaram sua incursão, sem dúvida.

A qualquer momento, vão pular e…

Goteja.

— Huh?

Algum tipo de líquido pegajoso escorreu sobre eles.

— O que é isso…?

— Tenham cuidado! Acima de nós!

É baba de fera grudada no teto.

— AHHHHHHHH!

A besta desceu, sufocando o cavaleiro com seu corpo.

— Estão atrás de nós também!

— E-estamos cercados!

Outra besta saltou da escuridão em Akane, que pode se esquivar para o lado e trazer sua katana para baixo em suas costas.

Aquilo soltou um grito horrível e se contorceu de dor.

Então, ela se virou e abateu a fera que pousou no cavaleiro.

— Você está bem?!

— M-meu ombro… Está sangrando muito…

Não é um perigo mortal imediato, mas a ferida é profunda.

— Todo mundo, fiquem calmos! Formação com a parede nas costas!

Akane empurrou o soldado ferido contra a parede e balançou sua katana enquanto o protegia com seu corpo.

Seus companheiros de esquadrão em pânico lentamente começaram a voltar à formação.

De uma forma ou de outra, conseguiram se recompor.

— HRAAAAAH!

Então, Akane abandona a formação e dá um grande passo à frente.

Sua lâmina brilhando enquanto derramava enormes quantidades de magia nela.

Quando então…

— Wh-whoa.

— A Akane é tão incrível…

Seu golpe cortou três feras, terminando a luta ali mesmo.

Limpando os respingos de sangue de si mesma, inspecionou seus inimigos derrotados.

Há sete deles ao todo, cinco dos quais Akane derrubou sozinha.

Ela dá a volta e aplica o golpe de misericórdia para cada uma das feras. Eram tão resistentes que os cavaleiros comuns teriam que cortá-los várias vezes para realmente matar uma.

Se as coisas tivessem ficado um pouco piores, ela e seu esquadrão poderiam ter sido exterminados. Isso só mostra como as feras eram aterrorizantes à noite.

Uma vez que acabou de matar todas elas, Akane deu um suspiro de alívio.

— Estão todos bem?

— E-estou bem.

— Eu também. Apenas alguns arranhões.

— Elas tiraram um bom pedaço do meu braço.

— Meu ombroooo…

Mesmo aquela curta batalha teve um grande impacto sobre eles. Pressionar seria uma provação perigosa.

— Você… você está encarregado dos primeiros socorros — disse Akane.

— Entendido.

— Mas e você, Akane?

— Vou checar lá em cima.

A luta deles naquele momento deveria ter deixado o andar térreo livre de feras.

Se Akane deixasse os outros aqui, estaria livre para explorar o resto do prédio e lutar o quanto quiser.

— N-não pode! Não podemos deixar você ir sozinha!

— Sim! Não vamos abandonar a Salvadora!

— Parem com isso — silenciou-os Akane, sua voz fria como gelo. — Eu… não sou uma salvadora.

— M-mas você tem esse poder especial…

— E todos te chamam de Salvadora! Dizem que você vai salvar a todos nós!

Akane desviou os olhos, incapaz de suportar os olhares suplicantes de seus companheiros de esquadrão.

Claro, ela tinha mais magia do que um cavaleiro mediano.

E claro, usou esse poder para matar toneladas de feras e salvar toneladas de vidas.

Mas não é por isso que as pessoas a chamam assim.

É tudo por causa daqueles rumores que seu irmão começou. Ele só quer usar ela e seu poder como meio de manipular os desesperados.

Ela não é forte o suficiente para salvar o mundo.

No entanto… Akane não conseguia dizer isso a eles.

— Estou apenas fazendo o que posso — disse evasivamente.

— Nós sabemos disso. É por isso que a seguimos.

— E não vamos deixá-la sozinha!

— Façam o que quiserem… — Ela respondeu.

Akane e os demais carregaram seus feridos e seguiram em direção às escadas.

Cada passo diminuía um pouco mais a determinação de Akane. Então, o cheiro espesso de sangue a atingiu, e ela parou.

— O-o que é isso…?

Suas lanternas revelaram uma poça de sangue vermelho no final do corredor. A piscina se estendia além da curva no corredor.

Ela pôde dizer pelo cheiro e cor que não era sangue humano.

Era sangue de fera.

E não apenas o sangue de uma fera, também. Seria necessário centenas delas para derramar tanto sangue.

Eles acenderam suas lanternas na esquina do corredor.

— Ahh!

Um de seus companheiros de esquadrão soltou um ruído, algo entre um suspiro e um grito, e mesmo Akane não pode deixar de recuar um passo.

Foi como olhar para um lago de sangue.

O teto e as paredes tingidos de vermelho assim como o chão, e o sangue era acompanhado por pedaços flutuantes de feras mortas.

Havia tantos cadáveres que parecia impossível contá-los.

— O que poderia ter acontecido aqui?

— O-o quê…?

— Tá de brincadeira…

Matar tantas feras exigiria a mobilização de um esquadrão de cavaleiros de várias dezenas.

Que grupo local tem tantos cavaleiros à sua disposição?

Até onde Akane sabe, nem seu próprio Messias nem qualquer uma das facções vizinhas tem algo parecido com esse tipo de poder humano.

Quem fez isto? E por quê?

De repente, Akane pensou numa possibilidade.

— Uma Fera Superior poderia ter feito isso…?

— O quê? Uma Fera Superior?!

— Pelo que ouvi, uma Fera Superior pode estar envolvida com o incidente que meu irmão está investigando também.

— ………

Seus companheiros de esquadrão ficaram brancos como lençóis.

Não há facções nas proximidades com o poder de fazer algo assim, então as chances de que isso tenha sido feito por algo que não seja um humano — como uma Fera Superior — são extremamente altas.

Nem todas as feras deste mundo são iguais.

Mais de dez subespécies diferentes já foram identificadas, mas uma delas em particular — a variante incrivelmente poderosa apelidada de Fera Superior — foi responsável por inúmeros cavaleiros mortos e bases destruídas.

As Feras Superior são como a encarnação do medo.

— Akane, n-nós deveríamos sair daqui, agora.

— Não tem como ainda estar por aqui — respondeu ela. Se fosse, estaríamos todos mortos há muito tempo, disse a si mesma. — E ainda temos que investigar. Se uma Fera Superior realmente fez isso, então precisamos de todas as informações que pudermos obter.

— S-sim, senhora…

O grupo timidamente começou a trabalhar.

— Esses parecem terem sido dilacerados por presas, mas… não faz sentido. Esses cortes são muito limpos.

— Tem garras afiadas, então — observou Akane.

— E-esses foram esmagados. Oh, Deus, isso é nojento.

— Força tremenda — acrescentou ela.

— E-esses têm partes por todo o lugar… É como se tivessem sido triturados em pedaços.

— Sórdido e cruel — concluiu.

É uma notícia ruim atrás da outra.

Mesmo Akane precisava admitir que o poder desta Fera Superior estava fora do normal.

Todas as feras foram derrotadas num único golpe.

Akane já derrubou algumas Feras Superior num bom dia, mas essa coisa é claramente muito mais forte do que qualquer coisa que já encontrou.

— Precisamos de um nome para essa nova Fera Superior — disse ela. — Sugiro “o Bruto”.

— Olhando para essa bagunça, diria que é mais do que apropriado.

De repente, outro companheiro de esquadrão a chamou.

— Tem alguém aqui! Encontramos sobreviventes!

— O quê?! — Akane gritou.

Ela tinha quase desistido de encontrar o trio desaparecido vivo.

Um momento depois, porém, suas esperanças recém-reacendidas foram frustradas.

As pessoas deitadas de bruços no corredor eram estranhos que nunca viu.

— Quem são?

— Nem ideia, acabei de encontrá-los deitados aqui. Acho que estão inconscientes.

Havia dois deles.

O primeiro era um menino de cabelo preto.

Estava vestindo jeans e um moletom com capuz e carregando uma mochila nas costas. O tipo de refugiado genérico que pode se encontrar em qualquer lugar.

— Acha que talvez a base deles tenha sido destruída recentemente ou algo assim?

— Com uma Fera Superior vagando por aí, diria que isso parece provável.

Fortalezas humanas caindo para ataques de feras se tornaram uma ocorrência tristemente comum.

Sempre que isso acontece, os moradores eram obrigados a procurar novas bases para ingressar como refugiados.

Se um refugiado pode usar magia, será aceito em qualquer lugar de braços abertos.

No entanto, é muito comum que refugiados não tão úteis fossem rejeitados nos portões e, mesmo se tivessem permissão para entrar, muitas vezes eram forçados a fazer trabalhos manuais exaustivos para ganhar seu sustento. Hoje em dia, ninguém tem suprimentos suficientes para todos.

Akane se perguntou se a Universidade Nishino o aceitará.

— A-Akane, olhe para a garota! Olha o cabelo dela! É prateado!

— O quê?!

Para surpresa de todos, o cabelo da menina refugiada é de um lindo tom de prata.

Akane tirou o chapéu da garota para dar uma olhada melhor.

Com certeza, era prata até as raízes.

— Ela poderia realmente ser uma Desperta…?

Existem alguns cavaleiros chamados Despertos cuja magia era muito mais forte do que a de qualquer outro.

Akane, com seus olhos vermelhos, era uma dessas pessoas.

Eram as duas características notáveis dos Despertos, sua tremenda magia e suas idiossincrasias físicas.

No caso de Akane, seus olhos ficaram vermelhos, mas sua anomalia está no lado mais claro. Algumas pessoas, como essa garota, veem a cor do cabelo mudar, e outras almas infelizes até experimentam horríveis mutações em todo o corpo.

— E olhe para as orelhas dela, Akane. São tão longas.

As orelhas da menina são longas e pontudas, quase como as de um elfo de conto de fadas.

— Isso mata a questão. Ela é uma Desperta, com certeza.

— U-uma Desperta…

— Os companheiros de esquadrão de Akane se afastaram da garota, quase como se estivessem com medo dela.

Não é incomum que as mudanças pelas quais os Despertos passam afetem suas personalidades.

Não faltam casos de Despertos que usam sua incrível magia para matar pessoas e acabam tendo que ser eliminados.

Aqueles como Akane, que não apresentam mudanças visíveis em sua personalidade, são minoria. E por isso que tantos a chamavam de Salvadora.

— Não se preocupem. Ela estava junto com o menino, então não deveria ser perigosa.

— O-oh sim, bom ponto. Você está certa, ela provavelmente está bem.

As expressões dos membros do esquadrão se iluminaram um pouco.

Por mais que as pessoas temam os Despertos, também buscam seu poder.

— Vamos levar os dois de volta conosco?

— Obviamente — respondeu Akane.

— Mas nossos suprimentos são escassos. Poderíamos deixar o garoto para trás e apenas pegar a…

— Agora ouçam bem.

Por um breve momento, Akane perdeu o controle.

No entanto, ver o desconforto que apareceu nos rostos de seus companheiros de esquadrão a ajudou a voltar aos seus sentidos.

— Ele pode ser um parente dela. O que planeja dizer quando ela acordar?

— V-você está certa! Não gostaríamos de aborrecê-la e correr o risco de deixá-la ir embora!

— Sim, vamos pegar os dois e sair daqui!

Akane pode sentir seu coração esfriar enquanto olhava para os sorrisos forçados de seus companheiros de esquadrão.

No entanto, não poderia realmente culpá-los.

Todo mundo tem as mãos ocupadas apenas se preocupando consigo mesmo.

A única razão pela qual era capaz de mostrar mais compaixão do que eles, era a segurança que sua magia poderosa oferecia a ela. Pelo menos, era o que dizia a si mesma para tentar diminuir seu descontentamento.

— Vamos lá.

Akane levantou a garota de costas e deixou o garoto para os outros cuidarem. Sentiu o calor gentil da garota se espalhar por seu corpo.

Ela realmente é bonita.

Provavelmente ainda está no ensino médio. Akane se lembrou do ensino médio. Nunca esquecerá aquela juventude feliz que teve.

Sempre que as coisas ficavam difíceis hoje em dia, ela sempre relembrava aquela época e fantasiava que ele viria e a salvaria de novo.

No entanto, sabia que isso nunca iria acontecer.

Afinal, ele morreu há séculos.

 


 

Tradução: Nero_SL

Revisão: Bravo

 

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Bravo

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