A Eminência nas Sombras

A Eminência nas Sombras – Vol. 04 – Cap. 02 – Começar operação: Obstrução!

 

— Sabe, acho que esta é a primeira vez que você falhou em uma missão.

Epsilon leva uma taça de vinho a seus adoráveis lábios enquanto olha para o horizonte noturno de Oriana.

— Minhas mais profundas desculpas.

Número 559, Victoria, estava ao lado dela.

As duas estavam na Super Royal Suite do Mitsugoshi Deluxe Hotel ao lado da loja filial do Reino Oriana.

A mobília do quarto praticamente gritava elegância, e a janela tinha uma vista deslumbrante de toda a capital real.

Uma única noite lá custaria um milhão de zenis e era restrita apenas aos nobres, contudo, mesmo sob estas circunstâncias, estava lotado para o próximo ano.

— Vi seu relatório sobre a Número 666 — comentou Epsilon.

— Precisamos dar um jeito nela o quanto antes.

— Embora concorde que suas ações foram precipitadas, acho um pouco prematuro classificá-la como traidora.

— Mas…

— Sua lealdade é admirável, mas você tem uma tendência a ser excessivamente zelosa. Eu pretendo ter você entre as Sete Sombras algum dia. Não me decepcione.

Número 559 apertou os punhos com força e respondeu:

— Sim, senhora…

— Além disso, a culpa pelo fracasso da operação não recai exclusivamente sobre você. Não avisei sobre a mãe da Número 666, e isso é por minha conta.

— Isso é…

— Nunca imaginei que a Rainha Reina estaria na Fortaleza Saisho. Jamais deveria ter deixado aquelas duas se encontrarem e, por isso, assumo total responsabilidade.

— Você não…

— Eu nunca mentiria para ela, mas esperava que pudéssemos encerrar as coisas sem que ela tivesse que descobrir a verdade — disse Epsilon tomando um gole de seu vinho. — Soube que o Mestre Shadow se manifestou sobre o assunto, correto?

— Está correto. Ele estava furioso. Disse que o que ela fez foi “inaceitável”.

— Interessante. Ele fez contato com a Número 666 hoje cedo, sabia?!

— Nosso senhor trabalha rápido.

— Com certeza. Contudo, ele não a executou.

— Ele deve estar atrás de alguma coisa — supôs Número 559. — Ele pode planejar segui-la. Ou talvez tenha alguma razão ainda mais profunda…

— Não faço a mínima ideia. Existem algumas coisas que apenas o Mestre Shadow consegue ver. — Epsilon balançou a cabeça. Um gesto tingido de tristeza.

— A visão de mundo dele deve ser realmente solitária.

— De fato é. E apesar dessa solidão, ele luta com mais nobreza do que qualquer outro. É isso que o torna Mestre Shadow.

Victoria enxugou as lágrimas que brotaram no canto do olho.

— Mestre Shadow…

— Quaisquer que sejam os planos de nosso senhor para a Número 666, nós seguiremos sua liderança. O problema é aquele anel que você viu nas ruínas.

— Deveríamos tê-lo recuperado ali mesmo. — Número 559 disse com uma careta de desgosto.

— Isso teria sido o melhor, sim. Você tomou a decisão correta, no entanto. Aquele anel era a chave.

— Então, o Culto está realmente atrás da Rosa Negra?

— Certamente parece assim — respondeu Epsilon.

— Nesse caso, precisamos recuperar o anel o mais rápido possível.

— Temos que jogar com inteligência. Se os encurralarmos, eles podem usar a chave, e se as lendas forem verdadeiras, isso significaria que o Reino Oriana…

— A Rosa Negra é realmente tão perigosa?

— Há uma velha história sobre como Oriana estava à beira da destruição. Isto é, até que usaram a Rosa Negra para matar os cem mil soldados Velgaltas que cercavam sua capital em uma única noite. Esse conto não é uma mera história infantil.

— O poder que exigiria…

— Entrei em contato com Alpha e ela está reunindo mais pessoal. Assim que estivermos prontos, vamos…

De repente, as duas foram interrompidas.

A porta se abriu, revelando Cid vestindo um roupão de banho.

— Uau, isso foi uma imersão incrível. Nada supera um banho privado ao ar livre.

Ele se jogou no sofá elegante da sala, parecendo extremamente feliz e satisfeito.

— Vamos terminar esta discussão mais tarde — disse Epsilon calmamente e então se acomodou bem ao lado de Cid. — Você gostaria de algo para beber? — perguntou.

— Um café com leite seria perfeito.

Epsilon pegou uma garrafa do artefato refrigerador.

— Que tal algo para comer com ele? Posso ligar para o serviço de quarto.

— Eu poderia ir com um lanche leve, com certeza. Ooh, como aquele rosbife que comemos no jantar. Aquilo estava ótimo.

— Ah, a carne cinco estrelas Mitsugoshi? Se me permite dizer, fica muito bom em um sanduíche.

— Legal, então vou pegar um sanduíche de rosbife. E também um rosbife normal. Ah, e um prato de frutas ao lado também.

— Vamos enviá-los imediatamente.

Número 559 tocou uma campainha e transmitiu o pedido a um funcionário.

Cid pegou a garrafa de leite de Epsilon e deu um grande gole.

— Uau. Café com leite depois de um banho quente, não há nada melhor que isso.

— Aqui, deixe-me massagear seus ombros — ofereceu Epsilon.

— Uau, isso é nostálgico. Quando morava com meus pais, você costumava me fazer chá todos os dias enquanto eu vadiava.

— Foi bom estarmos juntos o tempo todo naquela época.

— Estou no paraíso. — Cid disse fechando os olhos em êxtase. — E você tem certeza que não tenho que pagar por nada disso?

— Ah, claro que não.

— Nem mesmo o serviço de quarto?

— Não, não, o serviço de quarto também é gratuito.

— Obrigado, Epsilon. Você é meu anjo da guarda.

— E-Eu… V-você é muito gentil.

Epsilon abaixou a cabeça. Seu rosto estava vermelho brilhante das orelhas para baixo.

Então, Número 559 se juntou à massagem.

— Deixe-me pegar seus pés.

Cid relaxou com a expressão mais preguiçosa imaginável em seu rosto. No entanto, Epsilon e Número 559 sabiam muito bem que este não era o verdadeiro ele.

O mob comum que elas estavam vendo nada mais era do que um papel que desempenhava. Shadow, o sempre digno senhor e mestre do Shadow Garden, é a pessoa que ele é lá no fundo.

Ao fingir habitualmente ser um personagem de fundo infeliz, seria capaz de se mover como quisesse sem que ninguém percebesse ou suspeitasse de nada.

No entanto, isso também significava que ele sempre tinha que estar “ligado”, nunca descansando nem por um momento.

Epsilon queria dar a ele um breve momento de tranquilidade, mesmo sabendo que não poderia durar muito. Ela se aninhou tão perto dele quanto pode.

— Sobre o você-sabe-o-quê…

Apesar das esperanças de Epsilon, entretanto, Cid começou a falar sobre trabalho. Uma pontada de tristeza a percorreu quando ela pressionou seu slime contra a parte de trás de sua cabeça.

— Aparentemente serei capaz de resolver as coisas mais cedo que imaginava.

— Meu Deus. Não foi nem um dia inteiro.

— Minha infiltração e investigação ocorreram sem problemas. A única coisa que resta a fazer é cortar o mal pela raiz e a missão estará completa.

— Acho que você resolveu as coisas com ela, então?

— Sim. Quando me envolvo, obtenho resultados.

Epsilon corou um pouco, fascinada pela confiança em sua voz.

— Você nunca deixa de me impressionar, Mestre Shadow. Em apenas um dia, já descobriu tudo e encontrou um caminho para a solução…

— É claro. Os feitos de que sou capaz podem causar medo até mesmo nos deuses.

— M-Mesmo em deuses?! — Epsilon se impressionou. — Não tinha ideia de que você tinha alcançado tal nível! Considere-me com admiração, meu senhor!

— Ei. Eu posso nocautear um deus com apenas um dedo.

— Um único dedo?! Isso é incrível!

— Heh-heh-heh. Se eu tiver uma chance, vou te mostrar alguma hora.

Os olhos de Epsilon e Número 559 brilhavam.

Este era o Mestre Shadow delas, fazendo o impossível parecer fácil!

 

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A luz fresca do sol da manhã me banhava enquanto seguia para o Castelo de Oriana.

Ontem à noite consegui passar a noite em uma suíte chique de graça. Não poderia pedir por nada melhor.

O café da manhã desta manhã foi em estilo buffet, o que era excelente, e entre isso, o banho rápido que tomei, a sauna e a massagem, não consigo pensar em uma maneira melhor de começar o dia.

Diria que é bom ter amigos com conexões, mas pelo que ouvi, a Mitsugoshi está pensando em abrir uma linha de salões de beleza para ricos. Elas provavelmente estão apenas me usando como cobaia.

Além disso, elas basearam praticamente todas essas coisas nas histórias que contei sobre cirurgia plástica e cosmetologia. Agora, estão planejando ganhar dinheiro com o meu conhecimento.

— Está bem, está bem. Eu tenho minha felicidade e não se pode comprar isso com dinheiro.

Não sou mesquinho sobre isso. Sem chance. Eu não.

Agora, Epsilon tem trabalho esta tarde, então parece que estarei a sós comigo mesmo.

Graças à minha investigação de ontem, descobri que Rose só vai concordar com o casamento porque sua mãe foi feita refém. Tudo o que tenho de fazer é salvar a Rainha Reina para tirar as correntes de Rose, deixando-a livre para matar Doem e tomar o trono.

É a solução perfeita. Às vezes, a vida te dá um caminho fácil.

— Primeiro de tudo, vamos descobrir onde a Rainha Reina realmente está…

Já até posso imaginar agora, uma eminência nas sombras surge, conduz uma operação de resgate impecável por trás dos panos e alimenta o nascimento de uma monarca lendária.

— Heh-heh-heh…

Meu status como aprendiz de Epsilon me permite entrar no castelo e um monte de pessoas me cumprimentam enquanto vou para a sala de música. Meu disfarce é que estou indo para lá a fim de afinar o piano.

Devo dizer, porém, que este lugar leva bem a sério essas coisas relacionadas à arte e cultura. Não tinha ideia de que chamaria tanta atenção como um mero aprendiz falso.

— Senhor Aprendiz!

Margaret estava na frente da sala de música. Quando me viu, correu e invadiu meu espaço pessoal.

— Você está bem?! Depois de ontem, quero dizer.

— Sim, eu sou craque nisso.

— Estava tão preocupada com você que não consegui dormir ontem à noite. Aquele guarda horrível…

— Ha-ha, está tudo bem.

— Você não está ferido, está? Eu juro, se aquele miserável machucou seus dedos, vou me certificar de que ele nunca mais acorde…

— Estou bem, de verdade.

— Ah, graças a Deus. Seus dedos são mais valiosos do que a vida de um guarda, afinal.

— Com certeza, com certeza.

— Não há nada para você se preocupar, no entanto. O guarda horrível não está mais aqui.

— Huh?

— Ele foi pego roubando comida, então foi transferido. — Ela sorriu. — Fui eu que o denunciei!

— Cara, que tipo de idiota rouba comida?

— Todas as vezes que ele me dava aqueles olhares assustadores, devia estar procurando uma oportunidade para cometer seus crimes. Foi assim que soube que era ele.

— Espere, então você realmente não o pegou no ato?

— Eu não, mas… sabia que ele era o único que faria isso, então juntei todos para que pudéssemos esclarecer nossas histórias primeiro.

— Ah, inteligente.

— Quero dizer, o bruto comeu todo o chá e doces no quarto da princesa Rose. Você acredita nisso?

— Caramba, isso é doentio.

Hum?

Agora que ela mencionou isso, sinto como se tivesse feito exatamente a mesma coisa ontem, mas… nah, provavelmente é apenas uma coincidência.

— Eu fiz tudo por você, Sr. Aprendiz. Não vou deixar nada acontecer com você.

— Ah, obrigado.

— A propósito… você e a Sra. Silon não vieram juntos hoje?

*Batida.

Margaret fechou a porta da sala de música atrás de nós.

— Não.

— Nesse caso, o que você diria para uma reunião com Earl Parton?

Ela se aproximou de mim.

— Não sei…

Habilmente recuei para trás. Meu trabalho de pés é impecável.

— Por que não?! E por que não consigo te alcançar?! Eu… eu… eu posso marcar um encontro com o Marquês Newwealth também, sabia?!

— Ainda não sou um pianista de verdade.

— V-você é um pianista fantástico! Tch, e é tão rápido! Não é só sua velocidade, seus movimentos são tão suaves e eficientes!

— Nah, eu realmente não sou tudo isso.

— A Sra. Silon está apenas te usando! Você tem todo esse talento e ela está perfeitamente feliz em desperdiçar tudo isso. Tch, você está tão longe… mas uma boa empregada nunca desiste!

Apesar de estar sem fôlego, Margaret se recusava a jogar a toalha.

— Você, uh…

— Desculpe, o que era esse papinho sobre alguém desperdiçando o talento de alguém?

A porta da sala de música se abriu. Epsilon estava atrás dela.

O sorriso de Margaret endureceu por um breve momento, mas rapidamente se recuperou e fez uma reverência para Epsilon.

— Bom dia, Sra. Silon. Achei que estaria ocupada até a tarde.

— Eu estava, mas então fiquei com essa preocupação mesquinha de que alguém pudesse estar incomodando meu adorável aprendiz e atrapalhando seu trabalho.

— Nesse caso, senhora, fico feliz em informar que suas preocupações eram infundadas.

— Ah, acho que elas eram bem fundadas.

As duas cruzaram os braços em sincronia.

A sala de música foi tomada por um silêncio peculiar.

— Você se importaria? — Epsilon quebrou o silêncio primeiro. — Meu aprendiz e eu precisamos nos preparar para o trabalho.

— Nesse caso, vou preparar um chá para você.

— Vai realmente me fazer soletrar para você? Por acaso há um campo de flores crescendo onde seu cérebro deveria estar ou algo assim?

— Se você está no mercado de flores, o jardim de flores real seria do seu interesse?

— Ouça aqui, sua criança de cérebro de flor: você é um incômodo. Se manque garota.

— Eep, ela é assustadora! Salve-me, Sr. Aprendiz! — gritou Margaret correndo para atrás de mim.

— Agora você vê quem a Sra. Silon realmente é — sussurrou furtivamente em meu ouvido.

— Eu posso ouvi-la, sabia? — gritou de volta Epsilon.

— Lembre-se, Sr. Aprendiz, estou do seu lado. Contudo, por agora, você terá que me desculpar.

Com isso, Margaret reconheceu que a maré virou contra ela, então bateu em uma retirada tática.

— O país dela está à beira da guerra e ela está agindo como se não tivesse nenhuma preocupação no mundo. — Epsilon suspirou.

— Sim, as pessoas aqui quase nem parecem tensas.

— Os aristocratas desta nação desprezam a violência e adoram as artes, assim como fizeram ao longo da história de Oriana. E tudo por causa da Rosa Negra…

— Uma rosa negra, hmm? Eu adoraria ver.

O jardim real tinha todos os tipos de rosas, mas nenhuma preta.

Engolindo em seco, Epsilon perguntou: Você realmente planeja testemunhar a Rosa Negra?!

— É claro.

Quer dizer, vim até aqui, no Reino Oriana. Se eles têm rosas negras raras e legais, definitivamente quero dar uma olhada.

Por alguma razão, Epsilon começou a murmurar algumas coisas que não consegui entender.

— Mas… A destruição total… E é tão perigosa… Por outro lado, é do Mestre Shadow que estamos falando…

— O que há de errado, Epsilon?

— Não é nada. Se é isso que prefere, Mestre Shadow…

— Sim, obviamente vou querer ver as rosas negras.

— Como… Como você desejar, meu senhor! — Ela disse se ajoelhando.

Era assim que ela sempre foi. Sempre fazendo tempestade em copo d’água, mesmo com algo tão simples como olhar para algumas flores.

— A propósito, você sabe onde fica o quarto da rainha Reina?

— A rainha? Ah, então é nisso que está mirando. — Ela sorriu significativamente.

— Sim, é nisso que estou mirando.

— Para o quarto da rainha, você vai ter que ir…

Depois de me contar onde era o quarto da rainha Reina, saí da sala de música. No caminho, fico de olho se encontro rosas negras.

 

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Acabei não encontrando nenhuma rosa negra, mas encontrei o quarto da rainha rapidamente.

Estranhamente, não parecia ter alguém o guardando. Espiei pela janela e vi a Rainha Reina e o Duque Doem.

— Huh?

Parece que eles estão conversando, mas algo parece estranho.

— Ah, Doem… Tem certeza de que ainda não podemos tornar nosso amor público?

— Só mais um pouco, querida. Temos que terminar o casamento e tirar o que precisamos de Rose primeiro.

— Às vezes parece que você realmente quer se casar com ela…

— Não, não, querida. Você é a única para quem tenho olhos.

— E você promete que vai matar Rose logo depois para que possamos nos casar?

— Claro, querida.

Doem e a rainha trocaram um beijo apaixonado.

SASSINHORA QUE PORRA FOI ESSA?

— Querida, está na hora. O trabalho chama.

— É sempre a mesma coisa. Você diz isso e depois sai para ver aquela garota. Ainda assim, só tenho que aguentar um pouco mais, então serei paciente com você, mas você virá me visitar esta noite, certo?

— Claro, querida. Te vejo mais tarde, então.

Rainha Reina observou Doem sair do quarto com muita relutância.

— Bem, isso não é bom — murmurei para mim mesmo enquanto silenciosamente me afastei da janela.

Doem e a Rainha Reina estão juntos nessa.

Em outras palavras, salvar a rainha não vai funcionar.

O que fazer, o que fazer…? Espera aí, é isso!

— Só tenho que contar para a Rose!

Quando ela descobrir que eles estão armando uma cama de gato para cima dela, chamas de raiva se agitarão dentro dela e a despertarão para a ação. Estou certo disso.

O plano é o seguinte.

Agindo como Shadow, vou levar Rose para assistir ao pequeno encontro de Doem e Reina esta noite.

— Posso até dizer algo legal como, “É hora de você ver a verdade.”

Serei “a eminência nas sombras que sabe de tudo”.

Quando Rose descobrir que sua mãe a traiu, sua raiva a levará a assumir sua posição como monarca.

— Então, poderei dizer algo foda como: “Desperte, Monarca da Morte”. Heh-heh-heh… Um plano perfeito, se é que posso dizer.

Agora, tudo o que tenho a fazer é me retirar por enquanto e esperar o anoitecer.

— Ah, é Epsilon.

Enquanto matava o tempo procurando rosas negras no castelo, encontrei Epsilon. O que é estranho; Presumi que ela ainda estaria na sala de música.

Por alguma razão, parece que ela está escondendo sua presença e se esgueirando.

Também escondo minha presença e rastejo atrás dela enquanto ela abre a fechadura de uma porta.

— …E pronto, aberto.

No momento em que a fechadura se abriu, eu a chamei.

— Pare aí mesmo.

Epsilon imediatamente se preparou para lutar, mas ao ver meu rosto, ela deu um suspiro de alívio.

— I-impressionante como sempre, Mestre Shadow… não consegui sentir sua presença. Você era praticamente um com o próprio ar, como se tivesse se tornado a personificação de toda a criação. Sua técnica me impressiona, meu senhor.

Nunca mude, Epsilon. Nunca mude.

— O que você estava fazendo? — perguntei.

— Eu, er… — Ela desajeitadamente desviou o olhar. Aposto que estava tentando saquear o lugar. — Não consigo encontrar a chave em lugar nenhum. Presumi que Duque Doem a teria, mas minha investigação revelou que tudo o que ele tinha era uma caixinha vazia. O problema é que não tenho ideia de onde ele a escondeu…

Ela não conseguiu encontrar a chave, então decidiu arrombar a fechadura?

Acho que há um certo tipo de lógica perversa nisso.

— Precisamos pelo menos descobrir onde está, ou não conseguiremos lidar com quaisquer problemas que possam surgir.

— Não há mais necessidade de procurar a chave, não é?

— Não há? Tem certeza?! — Ela parecia chocada.

— Obviamente.

Por que você precisaria da chave quando já arrombou a fechadura?

— Você nunca deixa de me surpreender, Mestre Shadow. Não havia percebido que as coisas já tinham progredido tão longe… Quão longe você teria que ter visto para poder preparar isso? Realmente, seus olhos devem conter a centelha da divindade. Não, mesmo isso não explicaria… Você é de longe o homem mais nobre de toda a criação, meu senhor, e poder servi-lo me faz a pessoa mais feliz do mundo!

Fiz a observação mais básica possível, e você conseguiu transformá-la em tudo isso? Se alguém nunca deixa de me surpreender, Epsilon, é você.

— Então, os preparativos estão todos completos? — Ela perguntou.

— Os preparativos…? É claro.

Meus preparativos para esta noite estão perfeitos. Vou mostrar a Rose a verdade nua e crua.

— Neste caso, vou voltar e me preparar para o trabalho.

— Faça isso.

Com isso, deixei Epsilon e o castelo real para trás e chutei meus pés no hotel até o anoitecer.

 

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Rose esperava nervosamente que a empregada de cabelos avermelhados preparasse seu chá.

Quando tomou um gole, sua boca se encheu com um delicioso sabor floral.

— Isso é maravilhoso. Obrigada, Margaret.

— ………

Margaret não respondeu.

Ela faz seu trabalho desapaixonadamente, ignorando Rose o tempo todo.

Rose olhava tristemente para suas costas.

— Com licença… Margaret?

— Se isso é tudo que você precisa de mim, vou me despedir.

— Um…

Enquanto Rose se atrapalhava com suas palavras, Margaret saiu do quarto.

A porta se fechou e Rose soltou um suspiro.

Ela e Margaret cresceram juntas. Ela adorava a forma como o sorriso de Margaret parecia uma flor desabrochando.

Agora, porém, Margaret não sorria mais para ela.

Mas tudo bem.

Rose decidiu que salvaria sua mãe, custe o que custar. No mínimo, ela devia isso ao pai.

O vento frio da noite soprava em seu quarto solitário.

— Eu poderia jurar que fechei a janela…

Poderia ser que…? Ele está aqui de novo?

O pulso de Rose acelerou. Sabia que precisava parar de vê-lo, mas não conseguia deixar de esperá-lo de qualquer maneira.

— Cid…? — Ela chamou seu nome enquanto caminhava até a janela.

De repente, todas as luzes da sala se apagaram e uma presença feroz surgiu para substituí-las e anunciar o advento de alguém diferente.

Ela estava errada. Não era ele.

Um casaco de ébano esvoaça ao luar.

— Shadow… M-Mestre Shadow — murmurava Rose sem expressão.

Aquele homem é como um deus para o Shadow Garden. Gotas de suor surgiram em suas mãos por causa da tensão.

— Você… veio para me matar?

Ele está aqui para derrubar a traidora, sem dúvida.

Ela nunca imaginou que realmente seria ele a fazer isso pessoalmente.

— Eu sinto muito…

Rose tinha uma grande dívida com o Shadow Garden. Eles a salvaram de inúmeras crises e a levantaram quando mais precisava.

Ela lamentava o fato de que, inadvertidamente, retribuiu sua boa vontade com traição.

No entanto, o que Shadow disse foi algo totalmente inesperado.

— É hora de você ver a verdade.

Sua voz soou profunda enquanto estendia a mão para Rose.

— Que verdade?

— Pegue minha mão.

Os olhos vermelhos e brilhantes sob sua máscara estavam fixos nela.

Ela era incapaz de recusar.

 

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Rose foi com Shadow, que a levou para uma das varandas do castelo. O vento noturno estava frio contra sua pele.

— Espere, este é…

É o quarto de sua mãe, a Rainha Reina.

— A verdade está do outro lado da janela.

— Mais uma vez, que verdade?

Ela não entendia o que ele queria dizer.

Apreensão e expectativa brotaram dentro dela. Seus globos oculares praticamente tremiam enquanto espiava o quarto.

— O quê…?

O que viu lá dentro, no entanto, a chocou profundamente.

Iluminados pela luz fraca da lareira, Duque Doem e Rainha Reina estavam entrelaçados em um abraço forte.

Rose olhou para eles petrificada.

— Mas por quê?

Rainha Reina não estava resistindo ao Duque Doem, pelo contrário, estava aceitando-o de braços abertos.

Rose mal conseguia distinguir suas vozes pela janela.

— Não vai demorar muito até que o reino seja nosso — disse a rainha.

— E é tudo graças a você, querida.

— Todo o trabalho que dediquei para drogar meu marido idiota finalmente vai valer a pena. Ele foi um bom fantoche, no entanto, vou dar esse crédito a ele.

— É uma pena que tenha sido morto assim. Tínhamos tantos planos para ele…

— Viu, é por isso que disse a você que deveríamos ter matado Rose desde o início. Pense em todo o trabalho extra que tivemos quando ela se tornou sua sucessora…

Rose não aguentava mais ouvir.

Ela se afastou da janela, embora ainda pudesse vê-los se beijando apaixonadamente através das cortinas.

— Isso não está acontecendo…

Ela tremia da cabeça aos pés e sua visão estava se distorcendo. O mundo inteiro começou a girar.

— É a verdade.

— Não, não pode ser… Não é… Minha mãe nunca…

Ela cambaleou pela varanda e se inclinou contra o corrimão.

— Aceite o que você sabe ser verdade.

A voz de Shadow soava como se estivesse vindo de um milhão de milhas de distância.

— Não… Não, não é…

— A hora chegou.

Ela pôde sentir sua consciência se esvaindo.

— Lembre-se do que você viu. Lembre-se do que você deve fazer.

— Oh…

— A espada da justiça deve ser…

Em meio à névoa em sua mente, todas as peças se encaixaram. Agora, ela entendeu o porquê de sua mãe estar seguindo as ordens do Culto naquela época… e também a razão da Número 559 tentar matá-la.

No momento em que tudo ficou claro, ela desmaiou como uma boneca de pano.

Shadow olhou para ela com surpresa enquanto seu cabelo loiro mel se espalhava pelo chão da varanda.

— Espera… você desmaiou? Justo quando as coisas estavam ficando boas?

Rose não respondeu.

— E ai, qual vai ser? Você está bem?

Ele sacudiu os ombros dela. Nada ainda.

— O traidor está bem ali, no entanto! Esta é sua chance de matá-los! Eu até ajudo!

O vento soprava, frio e sem vida.

Shadow inclinou a cabeça, olhou para o céu e soltou um longo suspiro branco nublado.

— Aaaah cara… Meu plano perfeito…

Ele pegou Rose e, com uma queda desanimada de seus ombros, saltou da varanda.

 

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Ela errou em algum lugar?

Ou tudo estava confuso desde o início?

Imagens passaram pela mente de Rose. Ela viu os rostos mortos de seu pai e os soldados de Oriana.

Pelo que ela estava lutando?

Pelo que eles morreram?

E quanto ao pai dela… Por quê? Apenas por quê?

Vendo sua mãe beijando Doem, Rose sentiu como se sua vida inteira tivesse sido uma mentira.

Quando acordou, estava em sua própria cama, olhando para o teto. Seu rosto coberto de lágrimas secas e novas fluindo sobre aquelas e molhando suas bochechas mais uma vez.

— Eu quero voltar…

Ela pensou nos dias que passou na Academia Midgar para Cavaleiros Negros.

Se ao menos ela pudesse voltar àqueles dias de feliz ignorância — aqueles dias com ele.

— Cid…

O que ele estava tentando fazer?

No que estava trabalhando?

Desde que ela matou seu pai, sentia que suas engrenagens estavam lentamente saindo do eixo.

Era em prol do reino, de seu próprio pai, por sua mãe e para ela mesma. Tudo isso era verdade, e ainda assim tudo parecia mentira também.

Ela não sabia mais o que era verdade. Não sabia mais de nada. Queria que tudo acabasse.

Mas então, assim que o desespero começou a engolir…

…ela ouviu uma bela melodia de piano.

Sonata ao luar

Era uma peça que ela nunca iria esquecer. Certa vez, ouviu o próprio Shadow tocar nos esgotos de Midgar.

Desta vez, porém, a pessoa que estava tocando Sonata ao Luar no piano perto da janela era outra pessoa.

Um garoto normal, de cabelos escuros.

— Cid…?

Rose se perguntou se estava sonhando de novo.

Cambaleando, ela foi até ele e estendeu a mão para tentar tocá-lo.

A mão dela acariciou a bochecha dele e então a música parou.

Não é um sonho, nem é uma ilusão. Ele está realmente aqui.

— Cid… você quer fugir comigo?

Ele vai tirá-la de tudo isso. Vai levá-la para algum canto distante do mundo onde ninguém sabe quem ela é. Os dois poderão se casar e começar uma família feliz lá.

Rose matou seu pai e foi traída por sua mãe. Ela mesma traiu o Shadow Garden. Foi abandonada por seu povo.

Mas ele… ele é a única pessoa que nunca vai abandoná-la. Não importa o que aconteça, ele sempre ficará ao lado dela… ou assim ela acreditava.

Enquanto estiver com ele, tudo ficará bem.

— Cid…

As pontas dos dedos dela roçaram seus lábios, e seus olhos escuros encontraram os dela.

Eles eram tão negros quanto a noite mais escura.

— Gosto muito desta peça. Faz o mundo fazer sentido. — O luar brilhava sobre ele enquanto falava baixinho.

— Como assim…?

Ela não entendeu o que ele estava tentando dizer a ela.

— Vejo o mundo em duas categorias. Coisas que são importantes e coisas que não são.

— …Por quê?

— Porque tenho um sonho que não poderei realizar se não fizer dessa forma. Há um limite na quantidade de horas que um dia pode ter, de igual forma há um limite no tanto de esforço que uma pessoa pode dar. É por isso que despejo todo o meu no que é importante e deixo todo o resto de lado.

Agora, Rose entendia.

Ele estava dizendo que sacrificou tudo, tudo por ela.

Cruzou a fronteira por ela, derramou seu suor e sangue para aprender piano para ela, e se esgueirou para o castelo por ela.

Suas ações falam muito.

No entanto, ele não pode sair por aí dizendo isso.

Ele não queria colocar esse tipo de pressão em Rose.

Lágrimas brotaram nos olhos de Rose com o quão puro era seu amor.

— Mas acontece que é mais fácil falar do que fazer. Há muita estática. O mundo está cheio disso, e encobre essas coisas importantes. É tão fácil para nós perdermos de vista aquilo que importa.

Havia uma profundidade estranha em seus olhos. Rose sentiu quase como se estivesse sendo sugada.

— Do jeito que eu vejo, o mundo é um pouco brilhante demais. Ele mostra todas essas coisas, mas mostra muitas delas e faz você perder de vista o que é realmente precioso – assim como você está perdendo de vista agora.

— Eu…

Rose matou seu precioso pai. Sua preciosa mãe a esfaqueou pelas costas.

O que realmente era precioso?

Rose não sabia mais.

— É tão assustadoramente fácil para nós esquecermos quais são nossos propósitos na vida. Então, sabe… — disse ele olhando para a lua pendurada no céu noturno — este mundo é melhor sob o luar. Ele nos força a forçar os olhos para ver e, por causa disso, somos capazes de manter nossos olhos fixos no que é importante. Sob o luar, tudo o que temos que olhar é o que é precioso para nós.

Seus dedos se moveram e ele continuou tocando Sonata ao Luar.

A luz suave da lua brilhava sobre o mundo, e as belas notas enchiam os ouvidos de Rose.

A partir daí, elas reverberavam através de seu corpo e penetravam profundamente em seu coração.

— O que você vê, neste mundo enluarado?

Com essas palavras finais, ele desapareceu.

Não havia ninguém no banco do piano. Foi como se ele não passasse de uma ilusão lançada pela luz da lua.

— Cid…?

Mas ele não era uma ilusão.

Um pequeno anel ficou no banco onde ele estava. Ele brilhava ao luar.

Era uma aliança de casamento.

— Cid!

Rose apertou o anel com força contra o peito.

Era um artefato com um design artístico e ela pôde sentir um pouco de magia vindo dele. Ela mal conseguia imaginar o quão caro deve ter sido. Poderia supor que ele pensou muito em escolhê-lo.

Ele estava tentando usá-lo como uma tentativa desesperada de transmitir seu amor verdadeiro e insubstituível…

— O que…? — Ela olhou para a lua. — O que eu vejo…?

Sua luz parecia incrivelmente gentil.

 

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— Perdi o anel! — Lamentei enquanto mergulhava na banheira ao ar livre.

Azar é pouco para descrever.

Enfiei ele no bolso e esqueci lá. Antes que me desse conta, tinha desaparecido. Eu deveria ter penhorado o quanto antes. Quanto será que poderia ter conseguido por ele.

— Ah, tudo bem.

O que vem fácil, vai fácil.

Deixo de pensar no que perdi e passo a olhar para o céu noturno. A neve estava começando a cair.

— Cara, que banho maravilhoso.

Fiz o que pude para chegar até Rose.

Nada do que qualquer um dissesse poderia ter me impedido de trabalhar para me tornar uma eminência nas sombras, então se ela tem o coração de um leão, tenho certeza que vai se reerguer e levantar o estandarte da rebelião.

O resto é com ela.

Mas, por outro lado, se ela não se recuperar…

— É melhor eu estragar o casamento.

Não há outra opção se não for isso.

Posso ser a eminência nas sombras que irrompe no casamento, dispara algumas citações profundas e leva a princesa embora.

— Acredito que o Banho Estelar Especial do Mitsugoshi Deluxe Hotel é do seu agrado?

Epsilon entrou. Ela me conseguiu uma reserva exclusiva para o banho, é claro.

— A neve adiciona um toque elegante.

Não saberia distinguir elegância de um buraco no chão, mas parece legal dizer isso.

— Devo lavar suas costas para você?

— Eu já lavei, mas obrigado.

— Ah. Que pena.

Epsilon se sentou ao meu lado com um sploosh.

Ver sua pele clara enviou um arrepio na minha espinha.

— NÃO. BRINCA.

Ela desenvolveu seu controle sobre o traje de slime ao ponto de parecer indistinguível da pele real.

Não pude deixar de dar outra olhada.

— Tee- hee- hee… Isso é um pouco embaraçoso, sabia?!

— Ah, desculpe.

Como um aficionado por magia, no entanto, não posso deixar que sua conquista não seja elogiada.

O grau absoluto de controle mágico fino, a moldagem, os ajustes secundários de textura… É incrível o quão longe ela levou seu trabalho.

— Magnífico, Epsilon.

— Huh?

Eu disse tudo o que precisava ser dito.

Há certas coisas que simplesmente não precisam ser colocadas em palavras.

— A neve é linda, não é? — Ela comentou.

— Com certeza.

Nós dois sentamos lado a lado e apreciamos a paisagem de neve.

— Fui pego de surpresa hoje. — Decidindo conversar um pouco sobre o meu dia.

— Oh meu Deus. Espero que não esteja ferido, está?

— Não, estou bem.

— Eu deveria saber. Mesmo se vasculhássemos o mundo inteiro, nunca encontraríamos alguém que tivesse uma chance contra você, meu senhor.

— Se ela encontrar a vontade de se levantar, espero que levante o estandarte da rebelião.

— Você já sabe como tudo vai se desenrolar?!

— O confronto acontecerá no casamento.

Conjurei uma lâmina de magia e cortei o reflexo da lua na superfície da água em dois.

Um jato de água disparou com o impacto, fazendo com que o luar refletisse em todos os sentidos.

— Lá… o leão irá despertar.

Sorri significativamente. Estou certo disso, ela irá despertar e matar aquele cara, Doem.

Heh. Isso vai ser um choque e tanto para os convidados.

— O confronto será no casamento, você disse? Farei os preparativos necessários!

Epsilon saiu correndo do banho.

Que preparativos ela quer dizer? Tipo, ter certeza de que a pipoca estará pronta?

— Eu provavelmente deveria sair em breve também, hein?

Não demorou muito para chegar o dia do casamento.

 


 

Tradução: Nero_SL

Revisão: Bravo

 

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