A Eminência nas Sombras

A Eminência nas Sombras – Vol. 03 – Cap. 02 – Invadindo a Torre Carmesim!

Haviam três forças correndo em direção à Torre Carmesim.

Uma delas era o Tirano em um ataque violento.

O homem parecia um gigante bronzeado. Sua arma era uma enorme placa de aço em forma de gancho na ponta, e ele a usava em conjunto com sua força bruta para cortar os ghouls.

Ninguém se atrevia a chegar perto dele, pois no momento em que o faziam, eram reduzidos a nada.

A outra força era o Espírito Raposa, saltitando em direção à torre.

Ela era uma mulher raposa com uma beleza encantadora e pelos da cor da neve. Nove caudas brilhavam ao luar. Cada uma de suas mãos segurava um leque com dobras de ferro, e ela executava uma dança elegante enquanto cortava ghoul após ghoul.

No momento em que seus olhos eram desviados pela pele sedutora que aparecia de dentro de seu quimono, ela os levava ao sono eterno.

Enquanto massacravam essas criaturas, as duas forças se chocaram.

— Vá se ferrar, raposa!

— Que homem problemático você é. — O Espírito Raposa esquivou-se habilmente da lâmina do Tirano.

Quando atingiu o chão, uma grande nuvem de poeira ergueu-se.

— Já faz um tempo, Espírito Raposa. — Um sorriso diabólico se espalhou pelo rosto de Juggernaut.

Yukime suspirou de aborrecimento.

— Eu, pessoalmente, teria preferido não te ver.

— Ei, eu só estou aqui pelos sugadores de sangue. Mas fico feliz em poder chutar o seu traseiro, também. — Juggernaut brandiu sua arma gigantesca como se fosse um brinquedo.

— Ninguém gosta de um homem persistente, sabia? — Yukime, por sua vez, preparou seus leques.

Mas no momento em que os dois estavam prestes a atacar, a força final convergiu na direção deles.

Um homem vestindo um longo manto preto silenciosamente veio da noite.

Então, em um piscar de olhos, cortou seus três perseguidores vampiros.

Ver a agilidade do homem deixou o Tirano atordoado. Seus movimentos foram suaves, explosivos e extremamente poderosos. Até o Tirano se viu forçado a admitir que ele era forte.

O que impressionou o Espírito Raposa foi a maneira como ele manejou sua espada.

Ela viveu muito tempo, mas nunca viu uma esgrima tão bonita ou uma técnica tão eficiente e sem movimentos inúteis. Sua dança com a espada era praticamente uma arte, a ponto de surpreender até Yukime.

Os dois falaram juntos:

— Quem diabos é você…?

— E quem seria você…?

O homem de preto se virou para olhar para eles enquanto sacudia o sangue para limpar sua espada.

— Meu nome é Shadow… Eu me espreito na escuridão e caço as sombras…

E com isso, as três forças colidiram.

Cada um deles encarava o outro.

Os olhos de Yukime eram como lagos de água parada, os de Juggernaut, pretos e tinham um brilho de falcão neles, e os de Shadow, vermelhos, brilhantes e desumanos.

— Shadow…? Sinto que já ouvi falar de você antes.

— Há rumores de que existe um misterioso grupo armado chamado Jardim das Sombras fora da cidade. Seu líder tem o mesmo nome, ao que parece.

— Oh, então ele é aquele tal de Shadow.

— Os rumores eram de veracidade questionável, mas esse homem tem as habilidades para apoiar essas afirmações, ao que parece.

Seus olhares fortes caíram sobre Shadow, mas ele não parecia se importar.

O vento soprou, fazendo com que a espada de Shadow assobiasse. Yukime desdobrou seus leques, e Juggernaut colocou sua lâmina em seu ombro.

O impasse sem palavras continuou.

Juggernaut foi o primeiro a quebrar o silêncio.

— Vamos ficar só nos encarando? Ou vamos começar essa luta mortal?

— Se vai haver matança, eu gostaria de ter o Sr. Shadow do meu lado. Com licença, Sr. Shadow, mas o que me diz? — Yukime lançou um olhar amoroso na direção de Shadow.

Juggernaut zombou:

— Ei, um conselho sábio, não confie nessa raposa. Ela vai te matar enquanto você dorme.

— Isso é enfadonho. — Apesar da gravidade da situação, Shadow virou as costas para os outros dois sem um pingo de trepidação.

— A Lua Vermelha se ergueu e o alvoroço começou… Não tenho tempo a perder brincando com vocês.

— Virando as costas para mim? Isso exige coragem. — Juggernaut encarou as costas em questão.

— Parece que você tem uma visão peculiar desta situação. A Lua Vermelha… Sinto como se já tivesse ouvido esse termo antes…

— Você está ficando caduca por causa da velhice, vovó?

— Quieto! Como o Sr. Shadow mesmo disse, eu também acredito de fato que lutar aqui seria uma perda de tempo. Só vim porque não queria perder mais ninguém do meu povo para os ghouls. Você também veio pelo mesmo motivo, não?

— Nós dois não temos nada em comum. A Cidade Sem Lei não precisa de três torres, então resolvi vir derrubar uma das peças sobressalentes, só isso.

— Seus esforços seriam melhores se gastos na Rainha de Sangue, não?

— Dane-se, estou fora. Eu vou te matar da próxima vez, velhota. — Juggernaut encarou Yukime e Shadow, depois foi embora.

Yukime o observou ir, mas parou Shadow antes que ele pudesse  seguir o exemplo.

— Espere. A verdade é, Sr. Shadow, que eu sei quem você é. Eu cuido dos bordéis daqui, sabe.

Shadow olhou para Yukime de soslaio.

— Dizem que várias das minhas meninas devem a vida a você. Tenho uma dívida contigo, certamente, e adoraria ter uma chance de mostrar meu agradecimento a você algum dia, se me permitir.

— Eu não preciso de seus agradecimentos… Não era como se eu estivesse tentando salvá-las.

Os sapatos de Shadow estalavam enquanto ele se afastava.

— E todas elas estavam tão agradecidas… Que homem humilde cruzou nosso caminho… Vou esperar o tempo que for preciso, apenas saiba que as portas da Torre Branca estarão sempre abertas para você.

Yukime se curvou em direção às costas de Shadow.

— Acho que nos encontraremos em breve.

Com um sorriso sedutor, Yukime se virou em direção à Torre Carmesim, e Shadow desapareceu de vista.

 

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O Cão de Guarda estava esperando por uma presa fora da Torre Carmesim.

Estava sentado no chão, embalando seu corpo magro com um sorriso torto estampado no rosto.

Uma vez, ele foi o assassino — não, o cavaleiro — conhecido como o Demônio Branco.

Lá em seu país, serviu como capitão cavaleiro. Com seu cabelo branco esvoaçando sobre seu uniforme de mesma cor, era a imagem de um defensor ideal da paz.

No entanto, sua verdadeira natureza era a de um assassino em série sanguinário que andava pelas ruas à noite. Desde que nasceu, sentia alegria em matar pessoas. O sangue vermelho, os gritos, os olhares de desespero em seus rostos… Matar os outros o fazia se sentir vivo.

Um dia, porém, um de seus colegas o pegou em flagrante. Naquele momento, ele se tornou o Demônio Branco.

Em uma única noite, o Demônio Branco matou toda a sua ordem de cavaleiros e fugiu. Então, quando escapou, continuou matando, chegando até a Cidade Sem Lei no final.

Ele não conhecia o medo. Achava que estava no topo da cadeia alimentar.

No entanto, quando desafiou a Torre Carmesim, seus conceitos errôneos foram destruídos. O Demônio Branco tinha causado medo em incontáveis corações, mas foi incapaz de sequer tocar em Crimson. Foi derrotado facilmente e acabou tendo que implorar por sua vida.

Agora, trabalhava como Cão de Guarda.

A liberdade para matar foi roubada dele.

Matar dava um propósito à sua vida, mas perdeu até isso…

Agora, uma oportunidade enfim se aproximava.

— Hee-hee…

Quando a Lua Vermelha começou, a maioria dos vampiros havia deixado a torre.

Isso significava que não havia mais ninguém para julgá-lo. Enquanto a Lua Vermelha continuasse, ele poderia matar o quanto quisesse.

E assim esperava pela presa. Ele não era mais o Cão de Guarda — agora era o Demônio Branco e estava esperando pessoas para assassinar.

Rumores diziam que a Associação dos Cavaleiros Negros estava planejando assassinar a Rainha de Sangue. Enquanto o Demônio Branco esperava por seu alvo, ele praticamente rezava para que alguém de fato aparecesse.

E então…

Passos violentos ecoaram pelas ruas, e seu desejo fervoroso foi atendido.

— Hee-hee-hee?

O Demônio Branco ergueu os olhos em êxtase ao ver um gigante bronzeado.

O corpo do homem era coberto por músculos grossos e cheios de veias, e ele carregava uma lâmina mais comprida que a sua própria altura.

O homem encarou o Demônio Branco com um brilho severo nos olhos. Ele praticamente exalava violência. O Demônio Branco estava certo disso — aquele era Juggernaut, o Tirano, um dos governantes da Cidade Sem Lei.

— Você está no caminho. Mova-se.

— Hee? — Ele imediatamente desviou olhar e se afastou da porta.

Sabia muito bem que existiam pessoas que eram mais fortes do que ele, e sabia que não podia sequer encostar nos governantes da Cidade Sem Lei ou em seus círculos internos. Aprendeu isso da maneira mais difícil — lutando contra Crimson.

— Irritante.

O Tirano parou na frente da porta, então moveu sua lâmina colossal com um gancho na ponta e a quebrou em pedacinhos.

— Hee?! — O Demônio Branco se afastou para deixar o Tirano passar e olhou para a porta pulverizada.

Ela era espessa, sem contar que era reforçada com ferro. Mesmo um cavaleiro negro teria problemas para passar por ela. O homem que a destruiu com um único golpe entrou na Torre Carmesim.

O Demônio Branco ficou apavorado com a ideia do que poderia estar começando.

Então ouviu passos vindos de trás.

Eles eram reservados e leves, e não havia dúvidas de que pertenciam a uma mulher. Ele gostava de mulheres, pois a carne delas era tão macia.

Um sorriso perverso se espalhou pelo seu rosto ao se virar.

Lá, viu uma mulher tão encantadora e bela que parecia quase sobrenatural.

Seu cabelo era brilhante e branco, adornado com um par de orelhas de raposa. Dois leques de ferro estavam pendurados na faixa do quimono.

Estava tudo perfeito.

No entanto, o problema eram as nove caudas de raposa balançando atrás dela.

— Hee?!

Não havia engano. A mulher era Yukime, o Espírito Raposa, uma das governantes da Cidade Sem Lei.

— Saia.

— Hee-hee!

O Demônio Branco se moveu para o lado antes mesmo que ela terminasse sua frase. Ela era muita areia para a sua carrocinha. Encolheu-se todo quando o Espírito Raposa passou por ele e entrou na torre, então olhou para cima.

A torre vai sobreviver agora que o Tirano e o Espírito Raposa estão lá dentro? Esses monstros vão ter uma guerra?

Então ouviu passos mais uma vez.

Ao ouvi-los, o Demônio Branco sorriu.

O Tirano e o Espírito Raposa já estavam lá dentro, então não havia como alguém do calibre deles aparecer.

No fim, quem encontrara era apenas um cara de preto que nunca vira antes.

O homem estava vestindo um longo manto preto e seu rosto estava coberto por um capuz e máscara.

No entanto, era impossível avaliar sua força. Quando alguém era tão forte quanto o Demônio Branco, ele geralmente podia ver o quão poderoso seu inimigo era antes mesmo de a luta começar. No entanto, estava completamente incerto sobre o homem de manto longo.

Ainda assim, em comparação com o Tirano e o Espírito Raposa, ele provavelmente era um alvo fácil.

Esta é a presa pela qual estive esperando.

— Hee-hee!!

No momento em que o homem de preto entrou em seu alcance, o Demônio Branco atacou.

Peguei ele.

Assim que esse pensamento passou por sua cabeça, o Demônio Branco se viu olhando para o céu.

— Hee?!

Incapaz de saber o que estava acontecendo, olhou ao redor, mas descobriu que sua metade inferior ainda estava de pé.

Ele foi separado da parte de cima, a qual jorrava sangue enquanto caía no chão.

Foi então que o Demônio Branco finalmente percebeu que foi cortado em dois.

— Hee… Hee…

Presumiu que o homem de preto iria simplesmente entrar na Torre Carmesim depois de tê-lo cortado em dois, mas em vez disso, ele bateu o pé na parede do lado de fora da torre e começou a correr direto para cima.

— Hee?!

Enquanto o sangue era bombeado para fora de seu corpo, o Demônio Branco não conseguia acreditar no que via.

Mas o homem de preto ainda não tinha terminado. No meio do caminho, parou de repente, quebrou a parede com o punho e deslizou para dentro do buraco.

Ele era maluco.

Ficou claro que era muito mais perigoso do que os outros dois…

O Demônio Branco agora percebeu que puxou briga com alguém que ele absolutamente não deveria.

— Hee… Hee…

No momento antes de a vida deixar o seu corpo, lembrou-se de algo.

— Espere, lá não é onde eles mantêm o tesouro?

 

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Thump, thump, thump. Ouvindo um baque baixo, Beta ergueu os olhos de seu livro.

Quando observou ao redor da espaçosa biblioteca, viu que uma parte da parede estava vibrando com o barulho.

Alguém está batendo na parede do lado de fora?

Assim que o pensamento cruzou sua mente, a parede repentinamente cedeu, e um par de mulheres veio tropeçando, acompanhadas por uma nuvem de sujeira.

— Ai?!

— Oof.

A garota de cabelos escuros caiu no chão de cara, e a garota ruiva caiu em cima dela.

— Aiii! Eu não esperava que a parede fosse tão frágil.

Quando a garota de cabelos escuros olhou para cima com as mãos no nariz, Beta percebeu que a conhecia. Era Claire Kagenou, irmã de seu mestre.

— Eu disse para você ter cuidado… — comentou sua atraente companheira ruiva, impassível.

— Se tivéssemos ido mais devagar, poderíamos não ter chegado a tempo. Além disso, Mary, você se importaria de sair de cima de mim?

— Oh, desculpe, Claire.

Depois que a ruiva fez o que foi pedido, as duas se levantaram e espanaram as roupas.

— A propósito, onde exatamente estamos?

— Devíamos estar bem embaixo da Torre Carmesim, mas…

Beta optou por responder às suas perguntas:

— Vocês estão na biblioteca subterrânea da Torre Carmesim.

Foi quando finalmente notaram que ela estava sentada em sua cadeira.

— Bem… nos encontraram rápido.

— Foi por isso que eu disse para você ter cuidado…

— Olha, sinto muito. Mas parece que teríamos sido descobertas de uma forma ou de outra.

As duas desembainharam as espadas e encararam Beta.

Que suspirou e fechou seu livro.

— Pela madrugada… Nunca esperei que alguém saísse da parede. Agora, devo me livrar das testemunhas… — Beta olhou para Claire enquanto murmurava. — Mas parece que isso não é uma opção. Ninguém põe as mãos nelas.

Embora ela discretamente desse algumas ordens, tudo sugeria que as três estavam sozinhas.

— Eu não tenho nenhuma intenção de lutar com você. Poderia fazer a gentileza de guardar sua espada, Sra. Claire?

— …! Você me conhece?

— Você é Claire Kagenou, a vencedora do Festival Bushin.

— Eu acho que meu nome ficou famoso. Verdade. Me diga quem você é e o que quer. Assim que tiver certeza de que não é minha inimiga, ficaremos felizes em recuar.

— Espere, Claire…

— Não temos tempo para travar batalhas desnecessárias. Ela não parece estar do lado da Rainha do Sangue e… parece uma oponente difícil. — O olhar de Claire se aguçou enquanto Mary falava.

Beta perecia estar apenas casualmente sentada, mas o ar sobre ela sugeria que não cairia tão fácil.

— Concordo.

Beta usava um traje preto e máscara, e certamente não se parecia com uma das apoiadoras da Rainha de Sangue. No máximo, talvez fosse uma intrusa como Claire.

— Quem eu sou e o que eu quero, hein…? Tem razão. Assim como você, estou aqui para invadir a Torre Carmesim.

— Eu preciso de mais detalhes.

— Receio que vá demorar um pouco.

— Dê-me os detalhes, mas seja rápida.

— Minha nossa, que persistente. — Beta deu de ombros. — Meu nome é Beta, e trabalho para o Jardim das Sombras. Vim para a Torre Carmesim porque tenho alguns negócios a resolver.

— É mesmo? E o que exatamente o misterioso Jardim das Sombras está fazendo aqui?

— Hmm… Quanto será que posso te contar? Afinal, há coisas que posso dizer e outras não. Vamos fazer o seguinte: estamos conduzindo pesquisas sobre a Possessão por alguns motivos e queríamos uma amostra de sangue de um Progenitor.

— Sobre a Possessão…?!

— Por que você precisa do sangue de um Progenitor…?

Claire reagiu ao assunto da Possessão, enquanto Mary respondeu à menção do sangue do Progenitor.

— Ao longo de nossa pesquisa, chegamos a uma determinada hipótese. Existe a possibilidade de que o sangue dos Possuídos e o sangue dos Progenitores compartilhem a mesma origem e que os dois meramente divergiram, pois foram herdados de pai para filho.

— Você ousa blasfemar contra os Progenitores…? — Um olhar severo cruzou os olhos de Mary, e ela apertou o punho de sua espada.

— É apenas uma teoria, e certamente não queremos insultar os Progenitores. Queríamos apenas uma amostra para que pudéssemos verificar por nós mesmos. Eu acho uma coisa intrigante, no entanto. Por que esse pensamento a deixa tão irritada, Sra. Antiga Caçadora de Vampiros?

— …?! Você também sabe quem eu sou, pelo que parece…

— Eu ouvi os rumores.

— Entendo… Então sabe que não deve ficar no meu caminho.

— Oh, eu não sonharia com isso.

Mary olhou para Beta enquanto guardava sua espada. Beta deu de ombros e reabriu o livro.

— Os vampiros vivem uma vida longa, e a qualidade de suas bibliotecas certamente reflete isso. Existem todos os tipos de documentos valiosos aqui. Você está satisfeita agora, Sra. Claire? — perguntou ela enquanto voltava a ler.

Claire olhava entre Mary e Beta, pensativa.

— Há mais uma coisa que eu quero saber. — Ela encarou Beta, sua expressão severa.

Sentindo o olhar aguçado de Claire, Beta ergueu os olhos.

— Se for algo que posso responder.

— Existe uma maneira de curar os Possuídos?

Beta não respondeu de imediato. Ela encarou Claire por um tempo, claramente perdida em pensamentos.

— Receio… não poder te dizer. No entanto, direi que você mesma não tem nada com que se preocupar.

— O que quer dizer com isso?

— Isso mesmo que eu disse. — Beta virou a página de seu livro, claramente sem intenção de dizer mais nada.

Claire estalou a língua em silêncio, então se virou.

— Vamos.

Antes que ela e Mary pudessem sair da biblioteca, Beta as chamou.

— Esperem. Sra. Claire, você estaria disposta a me dizer por que se uniu à Antiga Caçadora de Vampiros para vir à Torre Carmesim?

— Por que quer saber?

— Curiosidade apenas, nada mais.

Claire franziu a testa enquanto respondia:

— A Rainha de Sangue sequestrou Cid, meu irmão caçula. Se eu não me apressar, ele será usado como sacrifício humano.

— Seu irmão mais novo foi…? — Beta inclinou a cabeça para o lado.

— Isso é verdade?!

De repente, uma quarta voz ecoou na biblioteca ocupada por três pessoas.

Quando olharam na direção de onde veio a voz, outra mulher apareceu quase que do nada. Ela usava um traje preto e seu rosto estava escondido atrás de uma máscara.

— Número 666, controle-se.

— Mas eu… Sinto muito…

Embora parecesse querer sair correndo naquele exato momento, a Número 666 se recompôs e deu um passo para trás com a cabeça baixa.

— Isso é tudo? Se for assim, vamos embora. — Claire alcançou a porta da biblioteca.

— Uma última coisa. Não há nenhuma maneira mesmo de você tentar recriar o Refúgio…?

Claire se virou.

— O que isso quer dizer?

Mas Beta não estava olhando para ela, e sim para Mary.

— Ei, espere!

Mary desviou o olhar e saiu da biblioteca sem dizer nada. Claire correu atrás dela.

Por um tempo, a biblioteca ficou silenciosa novamente. O único ruído era o som das páginas virando.

— Número 666, estou decepcionada com você. — disse Beta enquanto lia.

— Minhas mais profundas desculpas. — Número 666 inclinou a cabeça em contrição.

— Lambda elogiou suas habilidades, e Alpha tem grandes expectativas. Mas isso é um ponto contra você. Além disso, vocês duas deveriam tê-la impedido.

— Sinto muito.

— Desculpaaaaa.

Mais duas mulheres apareceram atrás da Número 666.

— Este é o primeiro exercício de campo da Número 666. Número 664, como líder de esquadrão, isso é responsabilidade sua.

— Entendido…

— Precisamos ser mais cuidadosas no futuro. Para ser bem clara, nossa missão é recuperar uma amostra de sangue Progenitor para o laboratório. No entanto, o Mestre Shadow disse que lidaria com a Rainha de Sangue, então temos que ter certeza de não agirmos com descuido. Até ele chegar, nosso trabalho é continuar examinando os materiais da biblioteca e coletando tudo que for importante. Agora, voltem ao trabalho.

— Sim, senhora.

Conforme solicitado, as outras três voltaram rapidamente às tarefas em mãos.

 

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Como Mary imaginava, quase não havia mais vampiros na Torre Carmesim.

Ainda assim, às vezes apareciam alguns, e as duas acabavam sob ataque.

Claire balançou sua espada e cortou o pescoço de um vampiro. No entanto, seu corpo ainda se movia.

— Perfure o coração deles!

Seguindo as instruções de Mary, Claire perfurou o coração do vampiro sem cabeça. Quando o fez, finas fissuras vermelhas de luz se espalharam a partir dele, e, sem demora, nada além de cinzas permaneceu.

Atrás de Claire, Mary derrotou seu inimigo final.

Foi graças à ajuda dela que as duas passaram ilesas por todos os ataques.

Embora ela tenha menos magia bruta à sua disposição do que Claire, seu domínio com a espada era incrível demais. E mais importante, estava acostumada a lutar contra vampiros.

A maioria dos vampiros confiava em sua força física na batalha, e era fácil imaginar o quão difícil seria enfrentar um oponente com tais movimentos sobre-humanos e incríveis habilidades regenerativas em uma luta justa.

No entanto, Mary parecia saber praticamente o que os vampiros iriam fazer antes de realmente o fazer, e suas respostas eram rápidas e precisas.

Ter a ajuda dela seria essencial para resgatar Cid, e Claire sabia disso muito bem.

Mesmo assim, não conseguiu deixar de dizer algo:

— Você está escondendo algo de mim? — perguntou enquanto Mary olhava sombriamente para a última pilha restante de cinzas.

— O que você quer dizer com “algo”…? — responde Mary, seu rosto ilegível.

— Estava agindo estranha na biblioteca. Era como se estivesse do lado dos vampiros. Não estava aqui para caçar a Rainha de Sangue?

— Estou.

— É mesmo? Então eu tenho que perguntar: como sabe tanto sobre vampiros? Posso perceber só de ver a sua luta contra eles. Sabe como pensam. Você os entende melhor do que ninguém.

— É porque dediquei minha vida inteira para caçar a Rainha de Sangue…

— E estou dizendo que isso não é suficiente para explicar. O que houve com aquela última conversa na biblioteca, então? O que é o Refúgio? Qual é a dessa de recriá-lo?

A cada frase, o tom de Claire ficava mais duro.

No entanto, Mary não respondeu a nada.

— Você não pode simplesmente bancar a idiota — comentou Claire.

— Bem, você não é diferente.

— Hein?

— Tem coisas que está escondendo de mim também. Por que está tão obcecada com a Possessão?

— Eu…

— Todo mundo sabe que não há como curar.

— Suponho… que não. — Claire mordeu o lábio.

— Todo mundo tem seus segredos. Não é?

— Talvez nós duas devêssemos simplesmente parar de fazer perguntas. Eu vou te ajudar a derrubar a Rainha de Sangue; você me ajuda a salvar meu irmão.

— Parece bom para mim…

Nenhuma das duas se olhou enquanto continuavam a subir.

 

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— Espere.

Um pouco depois, Mary, que estava andando na frente, parou no meio do caminho.

— Qual é o problema?

— Estou ouvindo alguém lutando à frente.

As duas caminhavam em silêncio enquanto se aproximavam do barulho. Parecia que havia uma batalha acontecendo do outro lado da porta. No entanto, não tinham outras rotas que pudessem seguir.

— Parece que não temos escolha…

— Tente abrir um pouquinho e espiar lá dentro.

Mary acenou com a cabeça para a sugestão de Claire e, em seguida, espiou pela porta.

Lá dentro, parecia haver um corredor de tamanho considerável. A lua escarlate flutuava no céu do lado de fora de uma grande janela.

Um gigante bronzeado estava segurando um vampiro pela garganta e sorrindo.

— Vocês são fracos…

A enorme lâmina do homem estava manchada de sangue e ele estava rodeado por pedaços de ghouls e pilhas de cinzas.

— E você também faz parte dos chefões por essas bandas… Eu reconheço seu rosto. Então, onde está Crimson? — O homem torceu o pescoço do vampiro enquanto fazia sua pergunta.

— Q-Quem sabe…?

— O quê? Não vai falar?

— Não… Não… preciso…!

No momento em que as palavras saíram da boca do vampiro, seu corpo se transformou em uma nuvem de névoa vermelha. Era a Forma de Névoa, uma habilidade que apenas os vampiros mais fortes podiam usar.

— Oh? — A mão do homem bronzeado agarrou o ar vazio e a névoa vermelha se formou atrás dele.

A mão do vampiro emergiu da névoa, e suas garras afiadas caíram sobre o homem.

No entanto, o homem bronzeado nem mesmo olhou para trás.

— Meu instinto está sempre certo…

Ele apenas balançou casualmente sua arma colossal.

Uma terrível rajada de vento soprou até a porta, e Mary e Claire precisaram empurrá-la com força para mantê-la fechada.

Quando espiaram de novo, viram a carne do vampiro espalhada pelo chão, esmagada. Os pedaços se transformam em cinzas depressa.

— Quem é aquele cara? — sussurrou Claire.

Ele certamente não parece um vampiro, mas também é difícil vê-lo como um aliado.

— Ele é Juggernaut, o Tirano, um dos três governantes da Cidade Sem Lei. Devemos tentar evitar uma luta com ele. Aquele vampiro que ele acabou de matar era o terceiro mais forte entre o círculo interno da Rainha de Sangue…

— Aquele cara era o terceiro mais forte…?

Dado a absurda diferença de poder entre ele e o Tirano, certamente não parecia.

— Vamos ficar escondidas…

Claire acenou com a cabeça, concordando com a sugestão de Mary.

No entanto, o Tirano disse do outro lado da porta:

— Meu instinto está sempre certo… Alguém está aí, não está?

— Gh!

De repente, a porta se estilhaçou.

À medida que a lâmina cortava horizontalmente do outro lado, Mary e Claire se jogaram no chão. O som da violência irrompeu acima delas.

— O quê, duas garotinhas? — O Tirano olhou para as duas do outro lado da porta quebrada. — Bem, isso é ruim.

— Parece que não temos escolha.

Elas desembainharam suas espadas, e o Tirano riu.

— Vocês não parecem vampiros, mas… mhn, ainda é seu funeral.

Ele trouxe a lâmina colossal com gancho na ponta para baixo.

As duas evitaram o golpe ao saltarem para o lado. A arma bateu no chão, enviando destroços pelos ares.

O Tirano lançou um olhar penetrante em seus alvos de dentro da tempestade de destroços e, em seguida, mirou em Claire, a mais próxima das duas.

Deu um grande passo à frente e, com um movimento de seus braços grossos, trouxe sua lâmina com tudo.

No entanto, Claire pôde prever seus movimentos.

Embora o Tirano fosse abençoado com velocidade e poder, sua arma peculiar necessitava de movimentos radicais. Ele podia ser rápido, mas Claire podia lê-lo como um livro.

Como esperado, ela bloqueou o ataque dele com sua espada.

Mas o impacto do golpe excedeu em muito as suas expectativas. Sua expressão se contorceu, e sua reação foi lenta demais.

Um momento foi tudo o que o Tirano precisou.

— Todos vocês espadachins usam o mesmo manual de estratégias…!

Em um momento, ele começou a segurar a lâmina com uma das mãos.

A outra, agora livre, afundou no rosto de Claire.

— Claire!!

Mary se moveu para cobrir Claire, mas o Tirano a fez parar com um único olhar. Ela sabia que qualquer movimento errado de sua parte significaria a morte.

Embora tenha sido atirada para longe e rolado pelo chão, Claire se levantou como se nada tivesse acontecido.

Ela cuspiu um bocado de sangue.

— Ai. Agora o interior da minha boca está todo cortado… — Ela encarou o Tirano.

O Tirano, por sua vez, levantou uma sobrancelha e sorriu. Por algum motivo, havia um corte superficial em seu peito.

— Sabe, aquele golpe era o suficiente para derrubar a maioria das pessoas. Este não é o seu primeiro combate, é?

— Eu tenho um irmão, então, é isso aí.

O sangue escorria da boca de Claire enquanto ela abria um sorriso vermelho brilhante.

No momento em que o Tirano a socou, ela não apenas se inclinou contra o golpe, mas também acertou um corte decente em seu peito. Ela fez um giro prático com sua espada, como se fosse testá-la, e então cuspiu sangue mais uma vez.

— Você é um homem violento, pelo que vejo. Só força, sem habilidade.

Ela estava colocando uma fachada corajosa, mas não estava tão composta como suas palavras mostravam. Os cortes em sua boca eram profundos e sangrentos, e sua cabeça ainda estava zumbindo por causa do golpe.

Trocar golpes com ele foi um erro, pois os dele eram muito mais pesados do que os dela.

— Você me pegou. Nunca aprendi nenhuma técnica… porque nunca precisei!

Ele atacou Claire.

O poder do Tirano vinha de sua força física bruta, sua magia inata e sua intuição de combate insana. Ele não precisava de habilidade. No caso, isso só iria atrasá-lo.

Claire preparou-se para bloquear novamente com o corte de força total.

Desta vez, porém, o golpe rompeu sua postura.

Seus pés estavam trêmulos. O dano em sua cabeça ainda persistia.

— …!!

O Tirano não era de deixar uma oportunidade passar.

Ele segurou sua lâmina gigantesca acima da cabeça…

— Eu já falei. Meu instinto está sempre certo…

… e a moveu com força.

O golpe tinha um alcance longo, passando por Claire a uma velocidade alarmante.

Um grande jato de sangue atingiu o rosto dela.

— Hein?

Ela estava ilesa…

Quando olhou para o lado, porém, viu Mary com o estômago dilacerado.

Estava praticamente atravessado.

Mary tossiu sangue ao se ajoelhar.

— M-Mary!!

— Todos vocês, espadachins, realmente usam o mesmo manual de estratégias. Ela estava esperando que eu baixasse minha guarda o tempo todo, e eu estava esperando que ela viesse me matar… E deu nisso aí.

O Tirano abriu um sorriso maligno.

Enquanto Mary se ajoelhava sem vida, Claire correu até ela com lágrimas nos olhos.

— Mary… Não! Não pode ser…

A ferida atingiu seus órgãos. Foi fatal.

Claire colocou as mãos na ferida e fez magia correr para dentro dela.

Porém, quando o fez, Mary as agarrou.

— Cof! Seu sangue…cof…

Mary olhou para Claire, que estava tentando dizer algo a ela enquanto tossia sangue.

— Mary! Você não deveria se mover…!

Mary agarrou as mãos dela com mais força enquanto ela tentava explicar:

— Claire… por favor… deixe-me beber… seu sangue…

— Espere, beber…?

De repente, Mary cravou seus lábios nos de Claire.

— Hmm-hmph?! — Os olhos de Claire se arregalaram de choque.

Mary chupou os lábios dela, sugando o sangue que escorria.

Seus olhos brilharam de vermelho.

— O que você…?

Claire tentou tirar Mary de cima dela, mas Mary não estava mais lá.

— Hein?!

— Gah!

O grito de surpresa de Claire e o grito de dor do Tirano vieram ao mesmo tempo. Ela se virou e viu o Tirano olhando para cima com o braço todo cortado.

— O que está lá em cima…? Espera! Mary?!

Mary estava flutuando no ar. Seus olhos brilhavam de vermelho, e caninos afiados saíam de sua boca.

Além disso, a ferida em seu peito fechou completamente.

— Então era isso que estava havendo. Interessante! — O Tirano riu como um carnívoro, e Mary mostrou-lhe um sorriso triste.

A lâmina do Tirano e a espada de Mary colidiram.

A força deles estava… de igual para igual. Não, o Tirano estava se saindo um pouco melhor.

— Você não é ruim…!

— …!!

Faíscas voavam enquanto eles lutavam.

— Mas eu sou melhor — rosnou ele.

Em seguida, Mary foi arremessada. Detritos voaram quando a lâmina com gancho foi erguida.

— Mary!!

Ela se chocou contra a parede e caiu de joelhos.

— Rgh…! Não estou acostumada… com o sangue ainda…

— Acabou.

Como Claire acabou se distraindo por causa de Mary, o Tirano apareceu diante dela e levantou sua arma para o alto.

Ela não conseguiria se defender a tempo.

— Cid… Me perdoe…

Em seus momentos finais, a única coisa em que pensava era em seu irmão.

Mas então…

— A hora do despertar está próxima…

Um homem vestindo um longo manto preto passou entre Claire e o Tirano.

— Ei!! Qual é o seu problema?!

— Você está no meu caminho. — O homem bloqueou a lâmina e, em seguida, deu um simples chute.

Por mais simples que fosse, também foi incrivelmente rápido.

O golpe fez o Tirano voar. Ele arrebentou a parede com força, tossindo sangue enquanto avançava.

Infelizmente para ele, a parede levava para fora.

Sem ter onde se agarrar, entrou em queda livre.

Ao fazê-lo, seus gritos desapareceram ao longe.

— SHADOW! SEU MERDAAAAAAAAAAAAAAAA…!!

Claire olhava para as costas dele.

— Você é… o Shadow…

Em circunstâncias normais, seu poder opressor poderia ter feito com que ela ficasse atenta.

Mas agora, por algum motivo, vê-lo acalmou seu coração.

Por que ele estava inspirando tantas emoções nela, embora nunca tenham se visto antes? Claire não sabia.

Ela não conseguia tirar os olhos dele.

— Não há muito tempo…

De repente, ele sumiu.

— Ah…

Foi como se nunca estivesse lá.

— Shadow…

Um leve vislumbre de solidão permaneceu no peito de Claire.

— Aquele era o Shadow…? Ele nos salvou? — perguntou Mary enquanto se levantava.

— Acho que sim…

— Ele acabou com o Tirano com apenas um golpe…

— Mary, você está bem?

— Provavelmente. Desculpe por aquilo, Claire. Por beber o seu sangue do nada.

— Oh, já são águas passadas, mas… Mary, era o que você estava escondendo de mim…?

— Sim, eu sou uma vampira…

— Huh…

— Vou lhe contar tudo: quem eu sou, meus motivos e a verdade por trás da Rainha de Sangue…

E com tristeza em seus olhos, Mary começou sua história.

 

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Mary já foi uma seguidora de Elisabeth, a Rainha de Sangue.

Isso foi na época em que os vampiros governavam a noite. Naquele tempo, Elisabeth detinha grande poder, até mesmo para um Progenitor.

Os vampiros caçavam e matavam humanos praticamente por esporte. A maioria deles via os humanos como refeição apenas, e havia até alguns países onde eles os comerciavam.

Para os vampiros, foi sua era de ouro.

Elisabeth, no entanto, não suportava a ideia de caçar mais humanos do que o necessário.

Por causa disso, caçava apenas o mínimo necessário para sobreviver, recusando-se a tirar suas vidas em excesso. Não havia escassez de vampiros que se opunham a seus métodos, então, apesar de seu poder, seus seguidores eram poucos.

Porém, os vampiros logo entraram em sua era sombria.

Os humanos começaram a caçar os vampiros de volta, transformando a era dos vampiros em uma era de pesadelos. A destruição da capital dos vampiros acendeu o fogo da rebelião, e o número de vampiros diminuiu em um piscar de olhos.

Na época, Elisabeth e seus seguidores governavam um pequeno país humano. Eles araram os campos ao lado dos humanos, lutaram contra monstros juntos e protegeram suas fronteiras.

Os vampiros não desprezavam os humanos em suas terras, nem os humanos temiam os vampiros. A maneira como eles mantinham esse relacionamento era deixando de beber sangue.

Sem beber sangue humano, os vampiros não podiam continuar vivendo.

Essa era a crença predominante na época, mas ao se abster, Elisabeth refutou essa teoria.

A compulsão dos Progenitores de beber sangue era dezenas de vezes mais forte do que a dos vampiros normais. A dor que ela suportou deve ter sido inimaginável. Mas manteve o controle com sucesso em meio à agonia comparável a decepar o próprio braço. Ao ver sua resolução, seus seguidores fizeram o mesmo.

Sem beber sangue, os vampiros gradualmente perderam seus poderes, não sendo mais fortes que humanos no fim.

No entanto, houve coisas que eles ganharam também.

Por um lado, obtiveram o poder de permanecer sob o sol. Ao desistir do sangue, tornaram-se capazes de viver no mesmo mundo lindo e ensolarado que os humanos.

Eles também ganharam tranquilidade em seus corações. Ao se abster de sangue e viver suas vidas sob os raios do sol, seu desejo de beber diminuiu aos poucos. No fim, suas disposições não eram diferentes das dos humanos.

Apesar de tudo isso, os poderes de Elisabeth, a Progenitora, continuavam grandes como nunca.

Sua pele queimava quando exposta à luz, então ela não podia sair sem uma sombrinha preta grossa. A única razão pela qual não a transformava instantaneamente em cinzas era porque a maioria dos Progenitores tinha um certo grau de resistência à luz solar.

Além disso, não importava quanto tempo ficasse sem sangue, seus impulsos enlouquecedores nunca cessavam.

No entanto, apesar de sua agonia, vivia sob a sombrinha da mesma forma que todos os outros. No final, reuniu seus seguidores e falou com eles:

— Vamos construir um Refúgio aqui. Uma terra onde os humanos e vampiros podem viver em paz…

E ao receber e proteger os vampiros perseguidos pela humanidade, as fileiras de seus seguidores cresceram.

Claro, a condição para sua proteção era que eles abandonassem o sangue.

Alguns deles passaram a ter ressentimento contra ela e por isso se revoltaram. Foi com o coração pesado que precisou exilá-los. Alguns se recusaram a obedecer, e aqueles ela mesma eliminou.

Em algum momento, todos os vampiros do mundo foram atacados por humanos e todos se reuniram sob a bandeira de Elisabeth.

Sua população se expandiu, humanos e vampiros se misturaram e sua terra prosperava. Ela usou seus grandes poderes para defender suas terras, então os caçadores de vampiros não ousavam entrar.

O Refúgio que ela se propôs a criar foi um sucesso.

Ela orou para que todos pudessem continuar vivendo em paz.

No entanto, bastou uma única noite para que o Refúgio desmoronasse.

Foi a noite em que a Lua Vermelha surgiu no céu.

A vontade de beber sangue de Elisabeth ficou cada vez mais forte, então foi forçada a se trancar em seu castelo.

Naquela época, Mary era a segunda em comando, e Crimson, o terceiro.

Os dois se revezavam trazendo suas refeições, mas quando foi a vez de Crimson, a tragédia aconteceu.

Crimson misturou sangue humano à comida de Elisabeth.

Se ela estivesse em um momento melhor, poderia ter notado o cheiro antes de consumir. Ou talvez tivesse consumido, mas ainda seria capaz de suportar seus impulsos.

Mas aquele era o dia da Lua Vermelha.

Ela estava sem sangue por muito tempo, e não foi capaz de evitar um frenesi. Crimson e seus seguidores se juntaram ao mesmo tempo.

Entre o alvoroço de Elisabeth, Crimson e seus homens, apenas algumas horas foram o suficiente para massacrar todos os humanos no país.

Os vampiros viam a humanidade como mero alimento. Não havia como viverem lado a lado.

O sonho de Elisabeth, o Refúgio, tinha sido uma mera fantasia.

Pelo fato de os seguidores de Elisabeth terem parado de beber sangue, não tiveram poder para resistir, então acabaram mortos enquanto fugiam.

Mary foi a única sobrevivente.

Para impedir Elisabeth, ela lambeu o sangue dos mortos. Em seguida, perseguiu Elisabeth e os outros até saírem do país.

O fervor deles não tinha limites e, antes que o dia acabasse, Elisabeth destruiu outro pequeno país e dilacerou seu rei, membro por membro.

Mary não tinha chegado a tempo.

O alvoroço de Elisabeth durou três dias inteiros e, nesse tempo, ela desferiu golpes catastróficos em outros três países.

Mary a encontrou na noite depois que tudo acabou.

Elisabeth estava chorando enquanto olhava para os países que devastou.

— Por favor, jogue minhas cinzas no mar para que eu nunca mais possa me levantar novamente e repetir este erro… — implorou, então enfiou a espada em seu próprio coração.

Ela deveria ter se transformado em cinzas.

Mas não foi o que aconteceu. Sua lâmina errou por pouco os órgãos vitais.

Seu coração parou e seus pulmões não respiravam mais.

Era como se estivesse morta.

Mas não estava.

Se Mary colocasse sangue humano em sua boca, ela seria ressuscitada de imediato.

Por outro lado, se desse um pequeno empurrão na espada, Elisabeth se transformaria em cinzas na mesma hora.

Mary também não conseguiu.

Ela não podia ir contra a vontade de sua mestra, mas também não conseguia matá-la. Em vez disso, escondeu sua rainha adormecida eternamente em um caixão e jurou protegê-la até o fim dos dias.

 

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— Foi uma decisão tola. Alguns anos depois disso, Crimson roubou a Rainha Elisabeth. Por eu ter me recusado a beber sangue, não fui poderosa o suficiente para protegê-la. Agora ele planeja usá-la de novo. Não sei como poderia vê-la se deixasse a tragédia de mil anos atrás se desenrolar mais uma vez… — Mary sorriu com tristeza. — Isso é tudo. Eu não sou humana. Sou uma vampira. E sinto muito por esconder isso de você…

— Tudo bem. Eu não sou diferente. Sabe, eu posso ser uma das Possuídas. Há alguns anos, umas contusões pretas apareceram nas minhas costas e não paravam de se espalhar. Mas quando me olhei um dia no espelho, tinham sumido. Puf! Se aquelas contusões pretas eram a marca dos Possuídos, então, no fim, eu me tornarei um monstro… É por isso que forcei meu irmão a vir aqui comigo. Eu queria colocá-lo na Ordem dos Cavaleiros enquanto ainda posso. Mas no momento em que desviei o olhar, o inimigo o levou… Não sei como serei capaz de encará-lo se alguma coisa acontecer com ele…

— Ah…

As duas ficaram em silêncio por um tempo.

— Acho difícil acreditar que o Refúgio seja realmente uma fantasia. Você não pode tentar de novo?

Claire não achava que Elisabeth estava errada. Se pudesse, queria salvá-la.

Mary balançou a cabeça.

— Não quero cometer o mesmo erro de novo.

— Entendo… Bem, se você não vai salvá-la, eu vou. Se a sequestrarmos e esperarmos que a Lua Vermelha acabe, ela não deve começar o alvoroço.

— Mas, Claire… por que ir tão longe?

— Assim que isso acabar, podemos acordá-la. Então vocês duas podem conversar sobre o assunto.

— Mas… tenho certeza de que a Rainha Elisabeth só quer morrer. — Mary olhou para baixo, pensativa. Todos os tipos de conflitos surgiam dentro dela.

— Você não saberá disso até perguntar. E seria muito triste se as coisas acabassem assim, sem mais nem menos. Você ficaria triste, Elisabeth ficaria triste e todas aquelas pessoas mortas ficariam tristes…

Claire encarou Mary nos olhos e sorriu.

Os olhos de Mary estavam cheios de hesitação. No fundo, ela também não queria que as coisas acabassem assim.

— Seu Refúgio não era apenas uma fantasia. Isso é o que eu acredito, de verdade. Vamos tentar encontrar um final que faça todos sorrirem.

— Sinto muito… por colocar um fardo tão pesado sobre você. — Mary olhou para cima e acenou com a cabeça.

— Não se preocupe. Agora, vamos dar uma surra no Crimson e sequestrar sua rainha adormecida.

— Parece bom. E vamos nos certificar de salvar seu irmão também.

Claire parou do nada.

— Eu que vou salvar o Cid. Não se intrometa.

— Uh, certo…

— Você só vai me apoiar enquanto eu realizo meu belo e galante resgate.

— Entendido…

Com isso, as duas retomaram a subida.

 


 

Tradução: Taiyō

 

Revisão: Kenichi

 


 

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