A Eminência nas Sombras

A Eminência nas Sombras – Vol. 02 – Cap. 09 – Final – Quem é Aquele Fodão Misterioso?!

Até ver aquele belíssimo arco, Rose estava preparada para morrer. Se fosse capturada e transformada em um peão, a morte do seu pai teria sido em vão, por isso não deixaria que isso acontecesse.

Morrer era aterrorizante.

Entretanto, essa era a única opção que lhe restava. Ela se deu ao luxo como princesa, mas ainda pretendia realizar seus deveres como realeza.

Essa era a sua última tarefa.

Estava preparada para isso.

— V-Você é…

Entretanto, no instante em que viu aquele garoto lindamente cortar tudo, lembrou-se de algo da sua infância.

— O tempo das mentiras chegou ao fim…

E, com isso, Jimina arrancou o próprio rosto.

A multidão agitou-se.

Debaixo da pele de Jimina estava uma máscara que já era familiar.

Líquido negro girava e serpenteava ao redor dele.

Quando os giros pararam, o que apareceu foi um homem usando um longo manto negro.

— Shadow… — murmurou alguém.

Mas, para Rose, não era Shadow.

Ele era o homem que a fez querer pegar a espada. Aquele que a lâmina incorpora a beleza.

— Shadow, você é…? Você é o Assassino?

As memórias passaram pela mente dela.

 

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Uma vez, há muito tempo, Rose foi sequestrada.

O seu pai tinha negócios oficiais em Midgar, e ela saiu escondida da estalagem para brincar no lado de fora. Enquanto brincava com as crianças plebeias, tudo ficou escuro de repente.

Então, desmaiou.

Quando voltou a si, viu-se confinada em um aposento pequeno e escuro.

Suas mãos e pernas estavam presas por cordas, e havia uma mordaça presa na sua boca.

Embora não apresentasse ferimentos visíveis, o seu corpo tremia de preocupação e medo. Conseguia ouvir os bandidos conversando na sala ao lado.

— Cara, eu sabia que as roupas delas pareciam bacanas, mas quem diria que capturamos a princesa!

Eles provavelmente tinham descoberto a partir dos seus itens pessoais, por isso agora sabiam quem ela era.

— Chefe, você conseguiu de novo! Tiramos a sorte grande!

— Não foi sorte, idiota! Foi pura habilidade!!

Risadas cruéis ecoavam.

Aterrorizada pela sua segurança, Rose entrou em desespero. Os bandidos tinham duas opções: poderiam usá-la como refém para barganhar com Oriana, ou poderiam vendê-la para alguém que sabia qual era o seu real valor.

Ela tinha certeza de que iriam escolher a última opção. Embora fosse valiosa como refém, meros bandidos seriam pressionados demais para usá-la direito.

Ao vendê-la, poderiam conseguir ouro fácil. Então, ela acabaria caindo nas mãos de inimigos políticos…

Essa ideia a deixava aterrorizada.

Virou o corpo para tentar desfazer as amarras e gritou pela mordaça, mas os seus esforços foram em vão.

— Ei, parece que a princesa acordou.

— Vá conferir, então.

Ela conseguia ouvir os passos se aproximando. Seus chiados abafados se transformaram à medida que lágrimas escorriam pelas suas bochechas.

Mas justo quando a porta se abriu…

— E aí, cambada!! Entreguem toda a bufunfa!!

Ela ouviu a voz de uma criança dizendo coisas nada infantis.

— Q-Quem caralhos é esse garoto?!

— Ele apareceu do nada! Mata essa praga!!

— Venha aqui, maldito!!

Algo fez um som de ar sendo cortado.

Um grito ecoou.

— Q-Quem é ele?! É forte demais!!

— O quê?! Matou três de uma só vez?!

— Vocês podem me ajudar a praticar minha bela esgrima.

Algo cortou o ar novamente.

Rose sentiu o cheiro de sangue, então, devagarinho, espiou pela fresta na porta.

Do lado de fora, havia um garoto usando um saco na cabeça e um grupo de bandidos fugindo.

— Se fugir, não passam de bandidos! Mas se não fugirem, quer dizer que são bandidos treinados!!

— Ah, ahhhhh!

— P-Por favor…!!

O garoto com cabeça de saco de papel moveu a espada.

— …?!

O arco foi tão lindo que Rose esqueceu o que estava acontecendo e simplesmente observou.

Ela não sabia muito sobre espadas, mas aquela técnica… era muito mais linda do que qualquer trabalho de arte.

A lâmina cortou habilmente o pescoço dos bandidos, e a gritaria parou.

Boquiaberta, ela apenas encarava o garoto com o saco.

— Cara, vim até aqui, mas eles não têm nada de ouro. Hã? Oh, tem mais deles.

Ao perceber o olhar de Rose, o garoto com o saco abriu a porta.

Luz entrou no aposento à medida que seus olhos se encontravam.

— Ah, uma criança sequestrada. Dia complicado para você, hein?

O garoto com o saco moveu a espada. Rose ficou encantada pela elegância do seu trabalho de espada.

— Tchauzinho. Tome cuidado no caminho para casa.

O garoto com o saco começou a se afastar de repente.

Antes que ela percebesse, suas amarras tinham sido cortadas. Então o chamou, desesperada:

— E-Espere!

— Hmm? — O garoto parou e se virou na direção dela.

— Q-Quem é você?

— Eu? Hmm. Ainda estou no meio do meu treinamento, então… pense em mim como um assassino de bandidos estiloso que acabou por estar de passagem.

— O Assassino de Bandidos Estiloso… Hm, quero agradecê-lo de alguma forma.

— Hã… Beleza, bem, então eu gostaria de que não contasse a ninguém sobre mim.

— T-Tudo bem, eu não vou.

— Boa, estou contando contigo.

E, com isso, o Assassino de Bandidos Estiloso desapareceu.

— Assassino de Bandidos Estiloso…

Ele a salvou das profundezas do desespero e, ao fazer isso, mudou toda a sua vida. Pela admiração que sentia pela beleza da sua esgrima e forma com que levava a vida, Rose decidiu pegar a espada naquele mesmo dia.

 

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Era uma memória preciosa da infância dela, uma que nunca contou a ninguém. Era o segredo de Rose.

Naquele momento, entretanto, ela deu voz àquele segredo pela primeira vez.

— Shadow… você é o Assassino de Bandidos Estiloso, não é?

Shadow não respondeu.

Mas para Rose, seu silêncio já servia como resposta.

Desde a infância, ele lutava sem parar contra o mal. Esteve salvando pessoas por trás das cenas esse tempo todo, assim como salvou Rose uma vez.

As palavras de Shadow percorreram a mente dela. Se força de verdade não vinha do poder, mas sim da forma que se vivia a vida… então Shadow deveria ser a força encarnada.

Rose sentia-se envergonhada por ter escolhido a morte tão prontamente.

Buscou refúgio na morte.

Mas ainda podia lutar… pois admirava a belíssima esgrima dele e sua maneira de viver a vida.

— Sua luta ainda não chegou ao fim… — Shadow cravou sua espada negra à frente, perfurando a parede do estádio e criando um grande buraco. — Vá…

— Entendido!

Rose guardou o florete e saltou sem hesitar pela abertura. Ela ainda tinha coisas que precisava fazer.

— P-Parem ela!!

— Ninguém mais passa…

Shadow colocou-se na frente do buraco.

 

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Nuvens espessas se aproximaram em algum momento e cobriram o sol, encobrindo o estádio em sombras. Trovões ecoavam dentro dela.

Gota por gota, chuva começou a cair.

— O que estão esperando?! Atrás dela!! — gritou Doem, e seus homens começaram a agir.

Eles se moveram para cercar o guarda do buraco, Shadow, então saltaram na direção dele ao mesmo tempo.

No momento em que o fizeram, um arco negro os cortou.

Um único golpe foi tudo que precisou para fazer com que todos os cavaleiros negros, escolhidos a dedo por Doem, saíssem voando.

— Não pode ser…

Então esse é o Shadow. Confirmando os rumores que ouvira, ele não podia ser contido por qualquer um.

Ele pressionou o corte que sangrava e se afastou.

— S-Socorro! Alguém me ajude! Alguém pode acabar com ele?! — gritou.

A única resposta que ouviu foi o som da chuva.

Os cavaleiros de Midgar cercaram Shadow de longe, mas só isso.

Não havia uma pessoa sequer presente que planejava enfrentar o homem que derrotou Iris.

A chuva agora era um dilúvio divino. Gotas gigantescas despencavam do céu.

Os relâmpagos refletiam o longo manto encharcado de Shadow.

Cada vez que um raio disparava, seu corpo era iluminado em meio à escuridão.

— Eu vou.

Quando a mulher de manto cinza falou, saltou no ar.

Ela tirou o manto no meio do ar e pousou com sua longa espada desembainhada.

— A Deusa da Guerra Beatrix… — murmurou alguém.

A linda elfa loira deixou sua espada a posto debaixo da chuva.

Ela não usava mais do que uma tanga e um peitoral, e os relâmpagos faziam sua pele pálida e encharcada brilhar.

Shadow e Beatrix silenciosamente mediam a distância entre eles enquanto se encaravam.

Um trovão violento marcou o início da batalha deles.

Shadow esticou sua espada negra para se igualar com a espada longa de Beatrix, então cortou.

Sua lâmina negra rasgou o ar.

A chuva se partiu.

Por um breve instante, um caminho de ar vazio e sem chuva seguiu o sulco da espada.

Mas errou.

— Oh…?

Beatrix reagiu no mesmo instante ao dar um passo para trás e se esquivar do ataque de Shadow.

Então, contra-atacou. Sua estocada violenta pressionou Shadow.

Por trás da máscara, ele sorriu.

Esquivou-se do ataque ao se inclinar para o lado, então moveu a espada enquanto recuava, mas a recuperação dela foi rápida.

Enquanto retraía a espada longa, inclinou-se para baixo para escapar do golpe de Shadow.

Depois, contra-atacou uma vez mais.

A única coisa que cada um deles acertava era a chuva.

Cortes voavam pelo ar, cada um deixando um caminho no meio da tempestade.

As gotas se dividiam em pequenos salpicos quando eram cortadas, emitindo belíssimas listras quando os relâmpagos os iluminavam.

Todo mundo nas arquibancadas segurava a respiração enquanto assistiam àquela batalha se desenrolar.

Era como assistir a uma dança.

A chuva e os relâmpagos deixavam gravuras no céu de uma batalha que olhos normais não conseguiam acompanhar.

Era uma belíssima dança de espadas.

Era fácil de ver que os dois combatentes estavam no ápice da esgrima.

Os espectadores queriam que a dança durasse para sempre, mas Shadow deu um fim àquilo.

— Parece que essa espada não pode alcançá-la…

Ele abriu uma certa distância entre eles, então encarou Beatrix.

Beatrix não o perseguiu, preferindo estabilizar sua respiração. O seu peito subia e descia.

— Incrível… — Ela suspirou em admiração da mesma forma que alguém se expressaria.

Seus olhos azuis estavam fixos em Shadow. Por um momento, eles apenas se encararam.

— Permita-me lhe mostrar minha verdadeira lâmina.

Com isso, Shadow fez sua espada voltar a ter o comprimento original.

Essa era a distância perfeita.

— Aí vou eu.

Assim que falou, instantaneamente deu um passo à frente.

O campo entre eles desapareceu.

— …?!

Então veio o impacto.

No momento em que diminuiu a distância, Beatrix logo abandonou o ataque e mudou todo o seu foco para a defesa. Entretanto, sequer foi capaz de ver a espada dele.

Não apenas ela… Ninguém conseguiu.

E o seu ataque não cortou mais do que uma gota de chuva.

— Rgh!!

O impacto a arremessou, e ela caiu na chuva.

Não pôde ver o golpe, mas conseguiu bloqueá-lo usando apenas o instinto. Mas não foi perfeito. Acabou sendo arremessada contra o chão, incapaz de montar um contra-ataque.

Rapidamente voltou a ficar de pé, preparando-se para persegui-lo.

Um trovão ressoou, e quando um relâmpago brilhou, Shadow sumiu.

Naquele breve instante, já estava na frente dela mais uma vez.

Então moveu sua espada imperceptível.

Beatrix focou cada célula do seu corpo na espada de Shadow, então viu-se cercada de novo.

— …!!

Não foi capaz de vê-la.

Ignorando a lama presa ao rosto, levantou-se e saltou para abrir uma distância entre eles.

Instinto e sorte eram as únicas coisas que a ajudaram a bloquear o ataque por pouco.

Ela não tinha motivos para acreditar que conseguiria bloquear o próximo.

Mas ataques novos não vieram.

Enquanto observava Shadow preparando sua lâmina debaixo dos relâmpagos, pensou:

Por que não consigo ver?

Não era apenas a incrível velocidade dele. Havia algo estranho com sua espada.

Depois de procurar em suas memórias de uma vida inteira de batalhas, encontrou a resposta.

As técnicas de Shadow eram naturais.

Dos vários tipos de esgrima em batalha, espadas rápidas certamente eram ameaçadoras. Porém, até mesmo um movimento rápido começa com uma ação preliminar. Mesmo que não seja assim, ainda é possível sentir quando o ataque virá, caso tenha a experiência necessária. Contanto que esteja consciente, pode reagir.

Não, o tipo mais perigoso de ataque é aquele que vem de fora da sua percepção. Ele não precisa ser veloz; você que só precisa não saber dele.

E a execução de Shadow era natural.

Não havia sede de sangue, hesitação nem presunção. Seus movimentos eram… naturais.

E as pessoas não os percebiam.

Assim como não estava ativamente consciente de cada gota que caía, também não estava ciente da espada de Shadow.

— Incrível…

Beatrix contemplava a profundeza da maestria de Shadow com pura admiração. Sua habilidade estava no fundo de um abismo que ninguém poderia alcançar.

Ela se preparou para a derrota inevitável.

— Mostre-me suas presas, Deusa da Guerra… — Shadow brandiu sua espada negra.

Sabia que não poderia bloquear.

— Espere. — Uma voz clara interrompeu a batalha deles. — Também me juntarei à luta.

Iris estava lá com sua espada a posto.

— Princesa Iris…

Beatrix olhava para ela como se quisesse dizer algo.

— Eu sei. Sei que não sou forte o bastante… — Iris sorriu para esconder sua frustração. — Mas não vou recuar. Não ficarei apenas olhando e deixar que ele fuja depois de acabar com o Festival Bushin. Tenho meu orgulho, assim como Midgar…

Ela encarou Shadow.

— Vou fazer com que ele pare de se mover, mesmo que custe minha vida. Quando eu conseguir, Beatrix, aproveite para acabar com ele.

— Entendido… Farei o que diz.

Beatrix simpatizou com a decisão de Iris.

Fogo queimava nos olhos delas enquanto se juntavam contra Shadow.

— Venham, então… Mostrem-me suas presas. — Shadow baixou a ponta da espada e assumiu uma postura defensiva.

Iris lentamente diminuía a distância enquanto esperava por uma oportunidade.

Por um curto período de tempo, os únicos sons eram o da chuva e o de trovão.

— Tomara que eu acerte um golpe.

Uma trovoada gigantesca ressoou, e Iris agiu.

Ela disparou em frente, mirando o pescoço de Shadow com sua espada longa.

Entretanto, Shadow só precisou dar meio passo para trás para que conseguisse se esquivar, observando o ataque errar e virando a atenção para o próximo movimento dela.

Mas a espada de Iris se estendeu.

Ao soltá-la, ela estendeu o alcance forçosamente.

Shadow logo mudou de atitude. Deixou de lado a tentativa de contra-atacar e bateu na espada de Iris, jogando-a para o lado.

A ofensiva dela foi arruinada, pelo menos era isso o que qualquer um pensaria.

Porém, ela se abaixou e usou o impulso da sua investida para agarrar o torso de Shadow e o prendê-lo.

Era um movimento valente, o qual servia para restringir seus movimentos em troca da vida dela.

Ele não seria capaz de se esquivar a tempo.

— Bravo.

O joelho de Shadow atingiu com força o rosto de Iris.

Não tinha como ela saber, mas combate corpo a corpo era a especialidade de Shadow.

Iris caiu no chão, mas ainda conseguiu completar sua missão.

Quando ele bateu com o joelho, houve um breve momento em que se tornou imóvel.

Esse único momento era tudo que precisava.

— Hyah!!

O corte de Beatrix veio de cima. Ela colocou toda a sua força em sua espada longa e golpeou a lâmina negra.

Um som estrondoso irrompeu quando a katana, mão e braço de Shadow foram jogados para trás.

A postura dele foi quebrada.

Essa era a chance dela.

A sequência de Beatrix foi anormalmente rápida, mas Shadow soltou a sua espada ainda mais rápido.

Ele fez uma decisão veloz de jogar sua arma de lado, então desapareceu, ficando fora da vista de Beatrix.

— Ele está embaixo de mim?!

Depois de se inclinar tão baixo a ponto de estar praticamente rastejando, ele agarrou Beatrix pela cintura. No entanto, seus movimentos foram muito mais polidos se comparados com a mesma tentativa de Iris.

Ele estava perto demais para que a espada longa dela o atingisse.

Shadow ergueu Beatrix com facilidade, então jogou-a contra o chão.

— Gah!!

O piso de pedra se estilhaçou.

O ar em seus pulmões foi expelido à força.

Porém, naquela fração de segundo, teve uma chance de usar a espada.

Enquanto sua consciência vacilava, ela a moveu.

Shadow não deu importância; ao invés disso, ergueu-a e jogou-a novamente, mas, no meio do caminho, soltou-a.

A espada de Beatrix atingiu o nada, e ela chocou-se com força contra a parede do estádio.

Um som desconfortável ressoou do seu corpo.

Logo em seguida, um corte veio do ar, e algo disparou do céu.

Shadow ergueu o braço e agarrou… sua espada negra.

Era como se já tivesse tudo planejado…

Relâmpagos iluminavam os corpos das duas mulheres caídas.

Mesmo juntas, Beatrix e Iris não foram páreas. O choque disso preencheram os espectadores de confusão e medo.

— Acabou…

Shadow olhou para suas duas oponentes, então virou-se para ir embora.

— P-Pare aí mesmo…

Ouviu a voz e parou.

— Eu… ainda poso lutar…

Iris cambaleava para ficar de pé, e Beatrix seguiu o movimento, tirando os detritos da parede enquanto se levantava logo depois.

— E eu também…

As duas estavam de pé.

Entretanto, Shadow apenas lhes lançou um olhar antes de se virar uma vez mais.

— Pare, agora! Vai fugir?!

Ao ouvir Iris, Shadow parou.

Fugir…? — repetiu ele.

Uma luz de cor roxa azulada preencheu o estádio.

— Qu-?!

— …!!

Era uma torrente de magia, revirando-se enquanto fluía do corpo de Shadow.

Engolida pela magia, a chuva parou.

— Isso não… pode ser real…?!

— É… impossível.

A força inimaginável parou Iris e Beatrix no meio do caminho.

Com um poder desses, aniquilar todo o estádio teria sido algo fácil para ele.

Iris, Beatrix e os espectadores eram igualmente incapazes diante de tal poder.

— Por que eu precisaria fugir…?

Ninguém seria capaz de pará-lo. Não havia outra escolha a não ser reconhecer este fato.

— Por quê? — perguntou Iris, a voz trêmula — Se tinha todo esse poder… podia nos matar quando bem entendesse.

— Já atingi meu objetivo. Não tenho interesse em suas vidas… A única coisa que eliminamos são os nossos inimigos…

Shadow olhou para Iris enquanto fazia sua magia ser convertida em sua espada.

— Certifique-se de lembrar… quem é o seu verdadeiro inimigo.

Com isso, disparou a energia para o céu.

Uma luz forte tomou conta do estádio e espalhou-se por toda a capital à medida que preenchia o céu e afastava as nuvens de chuva.

Quando desapareceu, tudo o que sobrou era o céu azul.

Shadow não estava mais lá.

As nuvens, a chuva, o relâmpago e o próprio Shadow… Era como se nunca tivessem aparecido ali.

— Lembrar quem é meu verdadeiro inimigo…? Shadow, quem é você…?

Iris olhou para o céu limpo enquanto pensava nas palavras que Shadow deixou para ela.

Qual era o seu objetivo…? Quem era o verdadeiro inimigo…?

Lá no alto, um grande arco-íris cruzava o firmamento.

 

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Rose corria debaixo da chuva.

Ela não tinha um destino em mente. Apenas corria, e, antes que percebesse, a chuva parou.

Estava em uma floresta.

Raios de sol passavam pelas frestas das árvores umedecidas.

Escorou-se contra um tronco e recuperou o fôlego.

Tudo quanto era tipo de pensamento percorriam sua mente. Pensava no seu pai, na sua terra natal, sobre o que ia acontecer com ela agora…

Todas essas preocupações e muito mais se emaranhavam dentro dela, fazendo com que o seu coração ficasse em desordem.

Ela podia ter seus motivos, mas isso não mudava o fato de que agora era uma criminosa culpada por matar um rei. Não ia negar isso, e não tinha intenção de buscar a morte para fugir da responsabilidade.

Sua intenção era de arcar com o fardo de ter cometido fratricídio assim como seus deveres como princesa.

Mas isso era demais para ela. Quanto mais pensava, mais a ansiedade a fazia tremer. O peso das suas responsabilidades estava esmagando sua resolução.

Ainda podia lutar. Devia lutar. Mas o que uma pobre garota de dezessete anos poderia esperar conseguir…?

Ela enfiou a cabeça entre os joelhos, então curvou-se e tremeu.

Ficou daquele jeito até que a luz do sol fosse tomada pelo tom carmesim do crepúsculo.

Naquele momento, disse a si mesma que era hora de seguir em frente. Não sabia para onde, mas sabia que precisava continuar.

Logo que olhou para frente e começou a andar, uma voz adorável a chamou por trás.

— Você tem duas escolhas que pode fazer.

— …?! — Rose virou-se e viu uma elfa usando um vestido negro. Tinha o cabelo loiro, olhos azuis e características tão elegantes que podiam ter sido esculpidas de pedra.

— Você é… Alpha…

Alpha cruzou os braços e sorriu de maneira misteriosa.

— Pode lutar sozinha, ou pode lutar conosco. Mas precisa escolher.

— Com vocês…?

O inimigo de Rose e o inimigo do Jardim das Sombras eram o mesmo. Entretanto, ter o mesmo inimigo não era garantia de que seriam capazes de trabalhar juntos. Ainda assim, era fato de que não tinha muitas opções.

Logo teria pessoas atrás dela. Se fosse lutar sozinha, precisava de algum lugar para se esconder. Por enquanto, sua única opção diante daquilo era se refugiar nas montanhas… Bem, poderia também ir para a Cidade Sem Lei, supôs ela.

Mas, naquele momento, ela era a criminosa que assassinou o Rei Oriana. Se fosse para a Cidade Sem Lei, outras pessoas iriam atrás da recompensa pela sua cabeça.

— Vocês podem salvar o Reino de Oriana?

— Isso vai depender de você. No momento, não temos motivos para agir ao seu lado. Se quiser salvar seu país, precisará provar o seu valor.

— Meu valor…?

— Sim… e o valor do Reino de Oriana…

— E, se eu conseguir, vocês o salvarão…?

— Estará dentro dos planos.

A resposta de Alpha foi clara. Tudo o que estava fazendo era presentear Rose com suas escolhas. Ela não estava dando conselhos nem oferecendo ajuda a Rose.

A decisão seria dela.

— O Assassino… quero dizer, Shadow é o líder da sua organização?

— Sim…

Uma imagem do garoto que a salvou quando criança e que enfrentava o mal sem parar passou pela sua mente.

Por isso ela decidiu acreditar nele.

— Então… a minha lâmina é sua.

— Compreendo. Seja bem-vinda. Venha comigo agora.

Não havia emoção na voz de Alpha enquanto levava Rose mais a fundo na floresta.

— Posso fazer uma pergunta? — perguntou Rose enquanto a seguia.

— Pode.

— Quem exatamente é o Shadow…?

Ele era um homem com vontade de ferro que lutava contra o mal desde quando era criança, e tinha tanto poder que poderia acabar com ele. Mas Rose não sabia nada sobre o segredo da sua força, crenças ou até mesmo identidade. Ele estava coberto pelo mistério dos pés à cabeça.

— Se quer saber, precisará ganhar nossa confiança.

— Sua confiança…

— Mas, se acabar sendo digna, decerto descobrirá, no fim…

Logo depois, as duas continuaram andando pela floresta, em silêncio.

 

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Elas passaram por uma densa névoa intocada pela luz do sol.

— Onde estamos? Aqui é…?

— Esse é o Bosque do Abismo. — respondeu Alpha.

Rose tinha ouvido as histórias. Ninguém sabia onde ficava, mas os rumores diziam ser um lugar que, qualquer um que entrasse, jamais sairia. Ela nem mesmo conseguia ver Alpha, que devia estar à sua frente.

A névoa repleta de magia, que era de um tom azul, quase roxo, mexia com os seus sentidos.

— Essa névoa é causada pelo suspiro de um dragão…

— Um dragão

Eram praticamente coisas que vinham de lendas. Uma vez, durante uma lua azul, alguém disse ter visto um, mas os registros da mais recente caçada a dragões tinham mais de cem anos.

— Há muito tempo, ele veio para essa terra e enfrentou o Dragão da Névoa.

— Quem é ele?

— Quando jovem, era poderoso o suficiente para derrotar o dragão, mas não conseguiu matá-lo. Por isso o dragão o aceitou e liberou o suspiro.

Então aquela névoa roxa azulada fantástica era de um dragão…

— A propósito, é um veneno mortal.

Rose se contorceu.

— Não se afaste muito de mim. Se o fizer, morrerá em um piscar de olhos.

— Entendido…

Enquanto trotavam pela espessa névoa, o ar ficou claro de repente.

— Espere, isso é…

Os raios de sol banhavam um venerável castelo branco.

— Essa é Alexandria, a antiga capital destruída pelo Dragão da Névoa, e também a nossa base.

Alexandria, a capital antiga. Rose viu esse nome uma vez, em um livro.

Mas nenhum livro era capaz de descrever aquela beleza.

Campos enormes cercavam a capital, e todos estavam preenchidos por culturas que ela nunca viu na vida. Mulheres colhiam com entusiasmo o que ali era produzido.

— Aquela lá é a plantação de cacau. É o principal ingrediente do chocolate. Podemos pedir para que você trabalhe, em algum momento.

— Espere, chocolate? Quer dizer que a Mitsugoshi é parte do Jardim das Sombras?

Alpha apenas sorriu.

Atualmente, a Mitsugoshi era o único lugar que vendia chocolates. Ninguém mais sabia quais eram os ingredientes, muito menos o processo de manufatura.

As duas passaram pela ponte levadiça e entraram no castelo.

— Lambda está por aqui?

— Estou.

Uma mulher respondeu ao chamado de Alpha e se ajoelhou diante dela.

— Temos uma nova recruta. Treine-a.

— Como desejar.

— Comece nos mostrando a sua força. Tenho certeza de que será capaz de forjar o seu caminho rapidamente… — Depois de falar com Rose, Alpha partiu.

Rose permaneceu atrás da mulher chamada Lambda.

Ela era uma elfa de pele negra, cabelo cinza e olhos dourados. Era alta, e seus músculos ficavam evidentes até mesmo pelo traje preto que usava.

Além disso, seus olhos eram afiados, e seus lábios, carnudos.

— Meu nome é Lambda, sua instrutora. Venha.

— Sim, senhora.

Rose a seguiu, e as duas saíram pelos fundos do castelo, onde muitas garotas treinavam com fervor.

— Uau…

Precisou de apenas um olhar para que Rose percebesse… que cada uma delas era poderosa.

— Número 664, Número 665!

— Aqui, senhora!

— Sim, senhora!

Duas mulheres vieram correndo ao serem chamadas por Lambda.

Uma era uma elfa, a outra, uma teriantropa.

— Instrutora, chamou? — perguntou a elfa, praticamente gritando. A teriantropa ficou atenta ao seu lado.

— Essa é a nova recruta. Estou colocando-a no seu esquadrão.

— Entendido!

— Número 666, tire a roupa.

— Hã? — Rose não entendeu o que acabara de ter ouvido.

— Número 666 é você. Aqui, o seu número é o seu nome.

— Sou a Número 666….

— Se entendeu, tire a roupa de uma vez.

— O quê?

— Não me faça repetir!

Sem demora, Rose viu suas roupas sendo cortadas do seu corpo, o que aconteceu em um piscar de olhos.

Agora ela estava completamente nua.

— O… O que estão fazendo?! — Rose agachou-se na tentativa de cobrir-se.

— A partir de hoje, você é a escória do mundo. Não é ninguém. Jogue fora seu nome! Abandone suas roupas! Desfaça-se de tudo para que possa se tornar a soldada perfeita!

Lambda jogou um amontoado negro aos pés de Rose.

Era um slime negro elástico.

— Número 664, ensine esse verme a usá-lo!

— Sim, senhora!

— Hmm? O que é isso?

Um pedaço de papel voou dos retalhos que antes eram as roupas de Rose.

A instrutora Lambda pegou e o segurou na frente de Rose.

— Isso é…!

Era a embalagem do sanduíche do Tuna King que Cid lhe deu.

No momento em que o viu, todos os sentimentos que tinha por ele e que estavam guardados começaram a surgir.

Ele foi o seu primeiro amor.

Enfrentou-a no torneio preliminar, salvou sua vida no ataque terrorista e foi em uma jornada com ela.

Cada uma dessas era uma memória inesquecível.

Há apenas uma semana, sonhava em pedir a mão dele em casamento.

Mas agora não podia mais voltar.

Seus caminhos jamais se cruzariam novamente.

— Qual é a dessa cara? Eu já lhe disse para jogar tudo fora!

Lambda rasgou o papel diante dos olhos de Rose.

Os pedaços foram pegos pelo vento e voaram para o alto do céu.

Os fragmentos de um sonho que jamais se realizaria…

Lágrimas começaram a verter dos olhos de Rose.

 


 

Tradução: Taiyō

 

Revisão: Kenichi

 


 

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