A Eminência nas Sombras

A Eminência nas Sombras – Vol. 02 – Cap. 08 – Preste Atenção no Meu Verdadeiro Poder!

Era um novo dia.

Sentei-me em meu lugar reservado e bebi do meu café. Aparentemente, ninguém fora a Mitsugoshi descobrira como fazer essa coisa ainda. Tiro meu chapéu para eles.

— Hmm.

A propósito, tomo o meu com bastante leite e açúcar.

Eu não tinha curtido muito o lugar reservado antes, porém, agora me acostumei com ele, pois passei a ver as vantagens. As empregadas amigáveis me traziam praticamente qualquer coisa que eu pedisse, de graça, e isso fazia com que eu me sentisse uma celebridade.

Enquanto eu aproveitava a energia do estádio, a Princesa Iris apareceu.

— Bom dia.

— Dia.

— Está bebendo café? Tem sido a moda ultimamente. Gosto do cheiro, mas é amargo demais para mim…

— Pode colocar leite e encher de açúcar.

— Café com leite…?

Iris chamou uma das empregadas e pediu um. Ela realmente era uma mulher de ação.

— Oh, que bom…

— Né? É tipo um truque de mágica que você pode usar para fazer com que cada xícara de café tenha o mesmo sabor.

Segui logo após ela, pedindo um belo banquete de torrada e ovos para mim.

Se pelo menos nesse mundo tivesse redes sociais. A única forma de deixar essa refeição ainda melhor é se eu pudesse postar uma selfie de sorriso convencido com a legenda: Tomando café da manhã na suíte de luxo com a realeza!

Terminei de comer logo que vários socialites começaram a se aproximar.

Como o próprio nome sugere, trazem o início da socialização. Sendo o pobre filho de um barão, fiquei completamente fora da conversa. Tudo bem, entretanto — logo vou dar no pé. Então, por favor, Princesa Iris, pare de ser legal para tentar me incluir.

As coisas acabaram de um jeito bem estranho. Porém, no fim, a segunda rodada das primárias logo começaria.

Os socialites se sentaram, mas assim que tudo começou a ficar calmo, as portas se abriram.

Dei meia-volta e vi uma mulher em um manto desbotado.

Escondia o seu rosto da mesma forma que antes, mas eu sabia que era Beatrix.

Ela me percebeu ali e acenou rapidamente, e respondi com um gesto de cabeça e um sorriso. Tínhamos nos encontrado de novo.

Porém, o olhar do restante dos socialites era frio.

Praticamente consigo sentir o que estão pensando. Quem é essa mulher usando esse manto imundo? Retire-o de uma vez! O silêncio era sufocante.

— Madame, sinto muito, mas você não pode… — Uma das empregadas a chamou, mas foi interrompida.

— Está tudo bem. Ela está comigo. Por favor, entre. — Gesticulou Iris enquanto convidava Beatrix para entrar.

Beatrix entrou e se sentou a dois assentos de distância de mim, e Iris estava entre nós. Pelo que parecia, aquele seria o assento da Alexia, caso ela estivesse aqui.

— Princesa Iris, quem é ela?

— Beatrix, a Deusa da Guerra.

A resposta fez com que um agito percorresse os socialites.

— Ela é mesmo…?

— Ela disse que é a Deusa da Guerra…

— A espadachim lendária…

Ei, maneiro! Quero ouvir alguém dizer Aquele é o lendário Shadow… algum dia!

— Faz algum tempo desde que você apareceu em público.

— De fato. Estou procurando por alguém. — Beatrix assentiu ao responder ao socialite. — Minha sobrinha. Ela se parece comigo.

Certificando-se de não cometer o mesmo erro que cometeu comigo, removeu o capuz.

— Mehh, você é bonita…

— Algum de vocês reconhece o meu rosto? Fiquei sabendo que neste país viram um elfo que tinha uma aparência igual à minha.

— Neste país, hein…? Se tivesse visto uma elfa bonita como você, Beatrix, jamais me esqueceria.

— Algum de vocês a viu?

— Sinto muito…

Todos os socialites balançaram a cabeça.

— Entendo… — Decepcionada, ergueu o capuz novamente.

Iris pediu desculpas a ela:

— Sinto muito, mesmo. Todo mundo aqui tem bastante conexões, por isso pensei que pudesse ter sorte, se perguntasse a eles.

— Está tudo bem. Sou uma elfa, por isso tenho tempo.

— Aliás, viu alguma luta do Festival Bushin?

— Não muito.

— Oh. Bem, baseado no que viu, algum dos participantes chamou a sua atenção?

— Minha atenção… Hmm… — Ela olhava ao redor enquanto pensava. — Cid.

Então apontou para mim.

— Hm, Beatrix…?

— Cid chamou a minha atenção. Algum dia, ele será forte.

Neguei na mesma hora:

— Oh, não, sem chance alguma.

Pude sentir todos me encarando.

— Aquele garoto será forte…?

— É verdade que está na mesma turma que eu, mas os seus básicos são meio que… é…

— Ele é o irmão caçula da Claire, mas não tem como ser…

Finalmente, Iris acabou com a atmosfera tensa e deu um fim àquilo.

— Se é isso o que acha, Beatrix, então tenho certeza de que você tem razão.

Ainda assim, entretanto, os socialites encaravam Beatrix com descrença.

Eu podia ver que trocavam olhares, como se perguntassem entre si: ela é tudo isso mesmo…?

Para eles, talvez ela só parecesse uma andarilha suja.

Mas, para mim, ela se portava naturalmente no melhor sentido da palavra.

Sua forma, personalidade, atitude e força, como um todo, eram tão puras que ninguém percebia o seu verdadeiro poder.

— Então, teria problema se eu pedisse para que mostrasse algo que ache interesse e que tenha notado durante as disputas?

— Sem problema.

Graças à consideração de Iris, entretanto, começou a parecer que Beatrix estava ganhando um pouco de respeito.

O ar ainda estava um tanto tenso quando a segunda rodada das primárias do Festival Bushin começou.

 

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Quando Doem entrou na área VIP, uma figura de manto cinza se virou e o encarou.

O rosto da pessoa estava escondido por um capuz, mas pela sua silhueta, pôde ver que talvez fosse uma mulher. Depois de olhar para Doem, ela virou o olhar para o Rei Oriana, que estava ao lado dele.

Sua avaliação foi rápida.

— Ele fede.

— Isso foi bastante rude, senhorita.

— Sinto muito.

Doem suprimiu o coração agitado enquanto encarava a mulher.

Ele estava usando uma erva altamente viciante para fazer do Rei Oriana sua marionete. Não tinha reclamação alguma da efetividade da droga, mas o problema era que fazia o usuário exalar um aroma característico.

Porém, estava escondendo o cheiro com perfume. Não havia como alguém ter descoberto.

— Doem, essa é a Deusa da Guerra Beatrix.

— Ela é…

A Deusa da Guerra Beatrix. Doem soube que ela tinha mesmo vindo para a capital, e ali estava agora, em carne e osso.

Com certeza não parecia ter talento suficiente para ser digna do título de Deusa da Guerra.

O seu manto estava desbotado, e seus modos eram terríveis. Depois de um breve pedido de desculpas, já tinha voltado a assistir à disputa.

Mas mesmo que não parecesse forte… se é tão talentosa quanto dizem os rumores, há uma chance de que ele não consiga perceber sua força. Já que a Princesa Iris a reconheceu como sendo verdadeira, ele deveria assumir que tinha razão.

Sabia que o rosto da Deusa da Guerra era semelhante ao do grande herói Olivier. Se pelo menos pudesse dar uma boa olhada…

— Parece que eu estava sendo bastante ofensivo sem perceber.

— Eu também.

Doem e Beatrix pediram desculpas um ao outro, e as coisas se acalmaram por um momento. Agora todos pensariam que a rudeza verbal foi uma referência ao próprio Doem.

Doem queria fugir o quanto antes do assunto referente ao cheiro. E também nunca imaginou que Beatrix apareceria no Festival Bushin.

E ainda mais hoje…

Ele estalou a língua em silêncio.

— Rei Midgar, acredito que está bem hoje?

— Oh, e muito.

Doem mudou de tom e ofereceu uma saudação ao Rei Midgar, que estava sentado em um trono colocado entre os assentos da suíte de luxo.

Depois de trocarem os cumprimentos padrões, o Rei Oriana sentou-se ao lado do Rei Midgar. Doem pegou o assento ao lado e virou a atenção para auxiliar na conversa do Rei Oriana.

O rei conseguia responder perguntas simples, mas algo mais complexo lhe daria problema. Doem não tinha outra escolha a não ser guiar a conversa e evitar que o Rei Oriana estragasse tudo.

Dito isso, tudo estava indo de acordo com o plano até o momento.

O seu objetivo principal era assegurar Rose.

Durante o último encontro deles, ela já havia começado a demonstrar os sintomas. O seu sangue sem dúvida se provaria ser uma posse valiosa para o Culto.

Para ter certeza de que a pegaria, deu um bom incentivo.

Mais especificamente, ameaçou fazer o Rei Oriana matar o Rei Midgar, caso Rose não aparecesse no Festival Bushin.

Era apenas uma ameaça, é claro, mas Doem não se importaria tanto em seguir com isso.

A morte do Rei Midgar incitaria uma guerra, e o Reino de Oriana estaria acabado. Entretanto, eles já tinham planos em andamento para instalar uma marionete como figura líder em Midgar logo depois. Se corresse bem, tudo cairia em seu colo. Havia um risco de falha miserável, de fato, mas as recompensas em potencial faziam valer a pena.

A única coisa que o deixou incomodado era o fato de que Iris estava ali. Doem pôde ver que ela não confiava no Rei Oriana vazio. Existia a chance de ela conseguir pará-lo.

No entanto, ele poderia facilmente remover essa ameaça ao realizar o assassinato durante a disputa da Iris. Não deveria haver impedimentos adicionais.

Mas agora Beatrix estava ali. Livrar-se dela seria difícil, e talvez fosse mais forte que Iris. Se Beatrix tentasse pará-lo, seria um obstáculo maior do que Iris.

Além disso, ainda não sabia o que Jimina buscava. Ele com certeza era um habitante do submundo, por isso deveria ter um objetivo. Não importava o quanto Doem pesquisasse, ainda continuava no escuro. Aquele rapaz era um especialista. Doem precisava estar bem atento.

Então deu um longo suspiro.

Tudo estava indo de acordo com o plano, mas existiam variáveis demais, por isso não conseguia ficar nem um pouco tranquilo.

Ainda assim, se Rose aparecesse, seria um sucesso, e não precisaria assumir nenhum risco.

E ela com certeza viria. Não tinha como abandonar sua terra natal e o seu pai. Doem a conhecia muito bem para ter certeza disso.

Verdade, são muitas as variáveis, mas nenhuma delas importa. Tudo vai ficar bem.

Continuava dizendo isso a si mesmo enquanto virava o foco para a disputa.

O tempo passou, e Claire Kagenou venceu sua batalha com facilidade.

— Oh-ho…

Ele não tinha prestado muita atenção nela, mas agora percebeu que tinha habilidade. Sua magia era poderosa, e mesmo assim não se deixava ser controlada.

Forte do jeito que era agora, tinha potencial para crescer ainda mais.

— Parece que… Claire ficou ainda melhor. — Depois de ver Claire derrotar o oponente, Iris levantou-se. — Minha disputa vai começar, então peço licença.

Todo mundo ao seu redor ofereceu palavras encorajadoras, e o garoto de cabelo preto ao seu lado também se levantou.

— Vou tirar a água do joelho.

Ninguém se importava muito com suas idas e vindas. Bem, ninguém exceto por Beatrix, que o observava partir.

O seu nome era Cid, e não era nem um pouco notável. Doem estava um tanto curioso para saber como ele acabou se sentando ao lado da princesa, mas fora isso, não tinha muitos motivos para se importar. Logo esqueceu de Cid e virou a atenção para a próxima rodada.

A disputa entre Iris e Jimina era de grande importância para ele.

Precisava descobrir qual era a força de Jimina e aproveitar a oportunidade agora que Iris não estava mais ali.

Depois que os dois partiram, um tempo curto passou… e Iris e Jimina já estavam na arena.

 

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Quando Iris chegou à arena, foi recebida por uma rodada trovejante de aplausos.

Sua popularidade deixou bem claro quem dos dois era o protagonista ali.

Ela encarou Jimina e se recompôs.

Jimina Senen obviamente seria um oponente feroz. Mesmo agora, de frente para ele, não conseguia avaliar sua força, mas sentia algo insondável dentro dele. Sua aparência não combinava com sua real habilidade. Isso o fazia parecer irregular, como se escondesse sua verdadeira natureza.

Entretanto, Iris ainda acreditava que podia prevalecer. Não havia outra escolha.

Acreditava no seu dever de vencer o Festival Bushin.

Não tinha habilidade com política, e já sabia bem disso. A única coisa que conseguia fazer por Midgar era agir como símbolo da sua força.

Era o seu dever instilar a fé nas pessoas de que, contanto que Iris Midgar estivesse por perto, o reino estaria seguro.

Mesmo que isso significasse ter que ser carregada nos ombros dos outros. Não via problemas nisso. Sua força era seu único talento, e estava feliz em ser usada como um peão político.

Isso até recentemente.

Esse foi o preço que pagou por se deixar ser carregada pelos outros por tanto tempo: tropeçou na primeira vez que tentou ficar de pé sozinha. Temendo o futuro do seu país, tentou reunir a Ordem Carmesim, mas viu-se impotente, incapaz de assegurar pessoal e fundos.

Se tentasse reunir membros gradualmente, levaria eras até que a Ordem Carmesim atendesse às suas expectativas.

Mesmo que tentasse se envolver na política, as pessoas ainda a tratariam apenas com respeito superficial enquanto a usassem para seus próprios fins. Foi por isso que optou por deixar a política para os outros e reunir força nas áreas em que tinha maior capacidade.

Por exemplo, sabia que a popularidade entre as massas era a força. Também reuniu aliados em quem confiava para serem os chefes por trás da Ordem. Agora só restava vencer o Festival Bushin e solidificar o amor que o povo sentia por ela, e tinha certeza de que tudo acabaria bem.

Com essa forte crença em seu coração, preparou a espada e esperou pelo anunciante.

Sentia-se mal por Jimina, mas planejava ir com tudo desde o começo. Mesmo se ele tivesse algo debaixo da manga, ela pretendia acabar com a disputa antes que ele tivesse tempo de usar.

— Iris Midgar contra Jimina Senen!! Preparados? Lutem!!

Ela não perdeu tempo.

Assim que a disputa começou, deu um passo à frente, então parou.

— O quê?

Um grito baixo de confusão lhe escapou pelos lábios.

Por algum motivo, Jimina parecia estar mais longe do que antes.

Teria ela confundido a distância?

Esse foi o seu primeiro pensamento, mas sabia que não era isso. Ainda assim, sentia que o espaço entre eles foi aumentado.

Não sabia por quê. Talvez fosse apenas o nervosismo.

Independentemente da causa da sua confusão, isso com certeza a parou. Então tentou começar de novo.

Restaurou as emoções, preparou a espada e disparou para uma finta simples.

Quando teve certeza de que chamou a atenção de Jimina, correu até ele.

Porém…

— …?!

Mais uma vez, parou no meio do caminho.

Inclinou-se para trás como se estivesse esquivando de algo, então deu um salto para trás.

Vira uma espada…

… a espada de Jimina cortando seu pescoço.

No entanto, a espada dele não tinha se movido uma polegada sequer.

E, é claro, seu pescoço ainda estava preso aos ombros.

— Por quê? — Não conseguiu segurar a dúvida.

Tinha certeza de que vira a lâmina de Jimina.

No momento em que avançou, viu a sua espada e o poder colossal dentro dela cortando sua garganta.

Pensava que ele havia a lido como se fosse um livro. E viu a própria derrota… não, a morte.

Entretanto, Jimina ainda estava parado. A espada sequer estava a posto. Era como se tudo tivesse sido uma simples ilusão.

Ela não conseguia compreender o que acabara de acontecer.

Iris lentamente andou ao redor dele, tentando descobrir o que tinha naquela espada.

Um salto, dois, três…

Era a mesma distância de antes, mas por que Jimina parecia tão longe?

— Não… vai vir? — perguntou Jimina.

Mas ela não foi capaz de dar aquele passo.

Cada osso do seu corpo gritava para que não desse.

— Hrrraaaahhhhhhhh!!

Rugiu na tentativa de acabar com sua hesitação.

Depois de balançar para frente e para trás, colocou um pé para frente. Foi o passo mais rápido que já tinha dado.

Mas… ele estava a encarando!!

Sem piscar, os olhos de Jimina estavam fixos nela.

Seu olhar moveu-se, como se implicasse algo.

— Aahhhhhhhh!!

No momento em que o fez, os instintos de Iris a forçaram a parar. Fazer isso colocava uma tensão forte sobre seu corpo, e as articulações do seu joelho emitiram um som desagradável.

Por causa disso, parou, e praticamente tombou para frente.

Tinha certeza de que acabara de ver a espada de Jimina a atravessando.

— Não…

Porém, seu peito não tinha um arranhão sequer.

Não havia sinal algum de que a arma de Jimina se movera.

— Só pode ser brincadeira…

Ele ainda estava lá, parado, sem se incomodar em armar uma defesa.

— O que há de errado? — perguntou ele.

Diante de algo desconhecido, o corpo da Iris estremeceu.

Ela precisava fazer alguma coisa.

Tensão e medo se agitavam dentro dela.

O olhar de Jimina moveu-se novamente.

Enquanto encarava mais à frente, a ponta da sua espada se moveu, como se ele previsse o futuro.

No momento em que o fez, Iris viu-se perdendo o braço.

— Oh, não…

Agora ela enfim percebeu.

Jimina esteve apenas fazendo fintas.

Ele já sabia todos os movimentos dela, por isso usou os olhos e movimentos minuciosos da ponta da espada para lhe enviar um aviso.

Se não parar, será cortada, era o que lhe dizia.

Isso foi o suficiente para fazer com que ela alucinasse.

Esse era o nível de realismo das ilusões.

Iris lembrou-se de algo que o seu mentor lhe ensinou uma vez: “As ‘mentiras’ de um especialista parecem reais demais.” E, realmente, ela falhou diante das fintas do seu mentor diversas vezes.

Os movimentos de Jimina pareciam mais reais que os do seu mentor.

Aquilo era mesmo possível?

Iris não era presunçosa o suficiente para se considerar a pessoa mais forte do mundo. Sabia que a grandeza era relativa. De maneira mais direta, entretanto, era para ser a melhor entre os cavaleiros negros vivos.

Ser capaz de levar uma mulher como ela à beira de um precipício com apenas fintas?

Isso faria Jimina, sem dúvida, o lutador mais forte do mundo.

Representaria um grau de habilidade que ninguém poderia igualar.

Era mesmo possível?

Nem ferrando que era.

Iris forçou-se a acreditar nisso.

Não se abale.

Ele nem sequer ergueu a espada ainda. Não saia decidindo a disputa por causa de uma mera especulação.

— Não me parem… — Iris instruiu em silêncio os seus instintos.

Depois de selar a sua decisão de não parar, deu um passo à frente.

Algo zumbiu no ar.

Um segundo se passou.

Então, um impacto poderoso arremessou seu corpo.

Sua mente ficou em branco por alguns segundos e, antes que percebesse, estava olhando para o céu.

Caiu de cara para cima bem no meio da arena.

O que aconteceu?

Foi incapaz de ver a lâmina, mas Jimina a encarava nos olhos no momento em que o impacto atingiu.

Era um milagre ela ainda estar segurando a espada.

Forçou o torso imóvel a se erguer.

— Iris Midgar… eu esperava mais de você.

Viu uma espada sendo direcionada para o seu rosto.

Jimina a olhava de cima. Ela não conseguia detectar emoção alguma em seus olhos.

Estavam próximos o bastante para que pudesse estender a mão e tocá-lo, mas ele parecia longe demais para isso.

Longe, muito longe…

Ah… então era isso.

Iris enfim compreendeu.

O motivo para ele parecer tão distante não era uma ilusão ou alucinação.

Desde o começo, ele esteve a olhando de cima, de um pináculo nas alturas. Mesmo que estendesse ao máximo a mão, ele estaria eternamente longe do seu alcance…

A espada dela caiu da mão e se chocou no chão com um clang.

O barulho ecoou pelo estádio silencioso.

Iris Midgar foi derrotada com apenas um golpe.

Este fato deixou todos congelados de choque.

Nenhum som podia ser ouvido.

Isso até o click, click, click de passos ressoarem por de trás dela.

O estádio começou a se agitar.

Os passos continuaram em frente. Click, click, click. Então, pararam.

Os olhos da audiência estavam grudados na pessoa que caminhava.

Até mesmo Jimina parecia um tanto surpreso.

— Pai, acabo de retornar.

Lá estava a belíssima princesa do Reino de Oriana, Rose Oriana.

Rose não olhou uma vez sequer para Iris e Jimina. Seus olhos cor de mel estavam fixados na área VIP.

 

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A lendária Iris Midgar foi derrotada com apenas um golpe de espada.

Esse simples fato deixou Doem estupefato.

Ele conhecia membros do submundo que eram mais habilidosos que ela, mas poderia até mesmo o cavaleiro negro mais forte que ele conhecia derrotar Iris Midgar com apenas um golpe?

Não.

A menos que a pegassem de surpresa ou tivessem muita sorte, não havia como.

Em outras palavras, algo inimaginável acabara de acontecer.

Pelo fato de Jimina ter acabado com Iris com um ataque apenas, isso significava que ele era o cavaleiro negro mais forte que Doem conhecia.

Mas era praticamente uma criança…!

Nada feria mais o seu orgulho do que ser ultrapassado por alguém que considerava ser inferior.

O espanto em seu coração rapidamente foi coberto por pura inveja.

Seu cérebro pensava rápido para rejeitar Jimina.

A vitória com um golpe contra Iris devia ter sido sorte de principiante. Mesmo que não fosse, talvez tinha algo a ver com a compatibilidade deles em combate. Iris acabou sendo uma boa oponente para Jimina, só isso.

O comportamento estranho dela também lhe deu motivos para dúvidas. Ela parou de repente, como se temesse algo, e andou em volta de Jimina sem motivo aparente. Talvez não estivesse bem, ou talvez Jimina tomou vantagem de alguma fraqueza.

Havia muitas maneiras de ele conseguir negar a força de Jimina.

Mesmo assim…

Doem achou a esgrima de Jimina espantosa.

Percebeu que tanto ele quanto Jimina viam o mundo de perspectivas diferentes.

A avaliação e abordagem em combate era fundamentalmente diferente. Doem sabia que podia passar séculos treinando e jamais conseguiria chegar ao nível daquele garoto. Esse era o nível da esgrima de Jimina. Era como se fosse uma junção das melhores partes de inúmeros artistas marciais, todas as quais foram refinadas em apenas uma obra-prima inigualável.

Enquanto Doem tentava negar a habilidade de Jimina, seu coração se preencheu com a admiração inocente de uma criança.

O estilo de espada de Jimina tinha um charme diabólico que o atraiu. Foi como a vez que tinha sido cativado pelo trabalho de espada do seu instrutor, quando era criança.

Cerrou os dentes.

Recusava-se a aceitar.

Não tinha certeza se as habilidades do garoto reinavam supremas.

Doem conhecia inúmeros mestres. Entretanto, ainda não havia encontrado o líder do Culto.

Jimina não podia ser o mais forte.

— O que acha de lutar, Beatrix? — perguntou ele, na esperança de ouvir uma negação vinda dela.

Os olhos azuis que espiavam por debaixo do capuz estavam fixados no garoto. A expressão deles era… de admiração.

— Quero enfrentá-lo.

— Como é?

Justo quando Doem pediu por uma explicação, um agito percorreu a multidão.

Ele se virou para olhar a arena, e lá ele viu…

— Rose Oriana…

Sua boca curvou-se de maneira zombeteira.

Ela veio.

Que garota idiota. O rei e o reino já não tinham mais salvação. O rei marionete não passava de uma casca vazia, e, graças a isso, eles controlavam o líder da nação. Aparecer ali sem se dar conta deste fato revelava uma inocência imprópria a uma princesa.

Cobrindo a boca para que o seu sorriso distorcido não ficasse à mostra, Doem deu um passo à frente com o Rei Oriana logo atrás.

— Minha amada Princesa Rose, vejo que decidiu voltar.

Havia uma longa escadaria que levava da área VIP até a arena. Doem e o Rei Oriana começaram a descê-la.

— Rose, estou tão feliz pelo seu retorno. Suba aqui. — Com as instruções de Doem, o Rei Oriana falou. Suas palavras eram vazias e sem vida.

À medida que Doem descia, deu ordens aos seus homens com um olhar, avisando para que se preparassem para capturar Rose.

A princesa começou a subir.

— Pai, vim para pedir perdão. Perdão por tudo que fiz e pelo que vou fazer… Cometi erros demais, e tenho certeza de que cometerei ainda mais. Todavia, como Princesa de Oriana, e como sua filha… estou trilhando o caminho em que acredito.

A voz de Rose tremia. Seus olhos estavam úmidos de lágrimas.

Mas também estavam preenchidos de determinação.

Ao ver aquilo, Doem deu um passo para trás.

Ele deveria mandar o rei na frente.

Se usasse o rei como escudo, a garota não poderia fazer nada.

Contanto que tivesse o seu rei marionete, seu plano daria certo, não importava o quê.

— Perdoo seus pecados. — respondeu o Rei Oriana, mas Doem não tinha dito para ele falar aquilo.

— Obrigada, Pai.

Logo em seguida, o que aconteceu foi rápido demais.

Rose puxou sua lâmina, e Doem reagiu ao se esconder atrás do rei.

Seus homens se moveram, mas Rose era rápida demais para eles.

Os olhos de Doem se arregalaram de choque.

— O… O q…!?

Abandonando tudo, a garota perfurou o coração do Rei Oriana com seu florete.

— Como princesa, e como sua filha… essa será minha responsabilidade final.

O rei estava abrindo os braços como se fosse abraçar Rose, mas, no meio do caminho, suas mãos ficaram penduradas no ar, sem vida. O florete passou sem obstáculos pelo seu coração, até chegar ao peito de Doem.

— Obrigada por tudo.

Ela então puxou o florete, e sangue jorrou do coração do rei quando ele caiu.

Lágrimas irromperam dos olhos de Rose.

— C-Como se atreveeeeee!! — gritou Doem.

Sangue também jorrava do peito de Doem, mas o ferimento não foi fatal.

A sua ira pela perda da marionete. Todo o seu plano… em ruínas.

— Peguem elaaaaaaaa!!

Os seus homens dispararam na direção de Rose, que não tentou fugir.

Enquanto Doem a via colocar a ponta do florete contra a própria garganta, sorriu.

Ela não iria—

O rosto dele ficou pálido.

— Não! Não! NÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOO!!

Mas logo quando estava prestes a perfurar a própria garganta…

— Então essa foi a decisão que tomou…

Um brilho lindo, quase artístico, rasgou o ar, cortando tanto o florete de Rose quanto as espadas dos homens que as erguiam contra ela.

Lá estava Jimina, o mais simples dos homens.

— V-Você é…

Entretanto, a espada que segurava era escura como a noite.

 


 

Tradução: Taiyō

 

Revisão: PcWolf

 


 

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