No dia depois que voltei à escola, minha última aula da tarde terminou um pouco mais cedo.
— Os candidatos ao Conselho Estudantil e nossa atual presidente irão dar seus discursos agora. Pessoal, por favor, voltem aos seus lugares — disse o instrutor aos alunos que se preparavam para sair da sala.
— Onde estão os alunos do terceiro ano?
— Sei lá.
Respondi à pergunta randômica de Esquel, que estava sentado perto de mim, com um bocejo.
— Os terceiranistas saíram para um programa pós-escola de uma semana…
Assim que Bat voltou ao seu lugar para nos informar, a porta se abriu. Duas garotas entraram enquanto o instrutor deixava a sala. Eu conhecia uma delas. Foi a minha oponente no outro dia: Rose Oriana, a presidente do Conselho Estudantil. Sempre me perguntei como um uniforme de escola poderia exalar esse glamour quando alguém famoso o usava.
— Hm, hoje, nosso instrutor nos deu esse precioso tempo para falar a vocês sobre a eleição do Conselho Estudantil… — Uma garota do primeiro ano começou, rígida, como se não estivesse acostumada a falar em público.
Sou o único que sente como se esse discurso entrasse por um ouvido e saísse pelo outro?
Esquel e eu bocejávamos enquanto continuávamos desatentos ao discurso. Bat parecia estar anotando.
Espere, tenho certeza que acabei de fazer contato visual com a presidente do conselho. Ficaria surpreso se ela se lembrasse de um personagem de fundo insignificante que esmagou no primeiro dia.
— Ei, a presidente do conselho está olhando para mim — disse Esquel, arrumando a franja.
— Aham — respondi.
— Ei, ei. Ela pode querer me levar para o Conselho Estudantil.
— Aham.
— Ei, ei, ei. Entrar para o conselho seria um saco. Eu odiaria.
— Aham.
Foi assim que passamos o tempo. Então, do nada, minha magia ficou estranha.
— Hã?
— O que é isso?
Eu estava constantemente treinando ao manipular partículas mágicas em meu corpo, mas agora sentia como se não conseguisse mais contê-las. Algo estava bloqueando o meu fluxo mágico. Provavelmente teria que forçar uma abertura ou fazer com que as partículas ficassem ainda menores para passar pela barreira.
Enquanto esses pensamentos passavam pela minha mente, senti algo em disparada até a sala.
— Está aqui… — falei ameaçadoramente, apenas porque quis.
Naquele momento, ouvi uma explosão. A porta voou em pedaços, e meus colegas entraram em pânico. Então, homens de preto entraram na sala com espadas empunhadas.
— Ninguém se mova! Somos o Jardim das Sombras e estamos dominando a escola! — gritaram, bloqueando a entrada.
— Estão falando sério…? — Meu gemido foi silenciado pelo caos ao meu redor.
Os alunos não conseguiam se mover.
Talvez fosse algum tipo de treinamento especial ou pegadinha… ou era real. A maioria dos alunos não conseguia compreender que a Academia para Cavaleiros Negros estava sob ataque.
Sou o único que entende completamente o que está acontecendo. O único que sabe que eles estão falando sério, que estão bloqueando nossa magia e que a mesma coisa está acontecendo em todas as outras salas de aula.
— Incrível… — falei involuntariamente, admirado.
Esses caras fizeram mesmo. Tipo, realmente estão indo com tudo. Estão fazendo aquilo que todos os garotos do mundo sonham, o que preenche uma página de fantasias da adolescência masculina.
Estão reencenando o cenário em que terroristas invadem a escola!
Estão tão comigo que estou tremendo.
Não consigo lembrar de quantas vezes imaginei essa cena. Centenas, milhares… milhões de vezes. Pensei em inúmeras interações e, logo diante dos meus olhos, meu sonho está se tornando realidade.
— Fiquem em seus lugares! Ergam as mãos! — Os homens de preto moviam suas espadas e ameaçavam os alunos, que lentamente estavam percebendo a situação.
Devem ser profissionais de alto nível com alguma tendência do momento. Tipo, escolheram se aliar aos terroristas.
Mas o foco está, na realidade, nos alunos protagonistas.
O que farão?
Como agirão?
As possibilidades são infinitas.
— Vocês parecem não ter ideia de onde estão. — Uma voz valente ecoou pela sala. Uma garota com uma espada na cintura os confrontou.
— Dominando a Academia para Cavaleiros Negros? Devem estar loucos.
Rose Oriana estava de frente para eles, completamente sozinha.
— Acho que pedimos para largar a arma, mocinha.
— Não. — Ela empunhou o florete.
— Hmph. Você servirá como uma boa lição para os outros. — Ele preparou sua katana.
Isso é ruim.
Ela ainda não percebeu que não pode usar magia.
— O que diab…? — Com a espada preparada, seu rosto ficou de uma cor vermelha, perplexa.
— Parece que finalmente notou. — Ele zombou por trás da máscara.
A este ritmo, vai ficar muito, muito ruim.
— Mas já é tarde demais.
A lâmina negra disparou na direção de Rose. Ela não poderia se defender a tempo com sua magia restrita.
Chutei uma cadeira e corri.
— Nr…!
Pare, não faça isso. Processei a situação a uma velocidade incrível, e o mundo ao meu redor ficou mais lento. Eu estava exausto e furioso naquele momento.
— Aaaahh…!
Se isso continuar, ela será a primeira pessoa morta pelos terroristas, e isso não pode acontecer. Não deixarei que aconteça.
— Aaaaaaaah, AAAAAAAH!!
Ser a primeira vítima desses terroristas… é o meu dever… como um personagem secundário!
— Paaaaaaaareeeeeeeeeeee!! — Dei um grito ensurdecedor enquanto saltava entre eles.
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Enquanto observava a lâmina se aproximando, Rose sabia que era o fim.
Seu corpo frágil não conseguia manter a magia. E ela também não conseguiria bloquear ou se esquivar do ataque. Tentou curvar o torso para amortecer o golpe, mas até aquele movimento era frustrantemente lento.
Não conseguiria a tempo.
Sua morte chegaria, essa era a realidade.
Entretanto, naquele momento, um grito ressoou, o qual pôde sentir em seus tímpanos.
— Paaaaaaaareeeeeeeeeeee!!
Algo a tirou do caminho.
— Aaah…! — Ela instantaneamente entrou em uma postura defensiva enquanto caía no chão. Ao se levantar, seus olhos foram preenchidos por uma visão chocante.
— Mas o quê…?
Diante dela, um garoto ferido estava deitado no chão, impotente. Conseguia ver com clareza a poça de sangue debaixo dele ficando cada vez maior.
O seu ferimento era grave.
— Nãããããããão!! — Um grito reverberou pela sala de aula.
Indiferente ao sangue que manchava suas roupas, Rose pegou o garoto em seus braços… o mesmo garoto que deixou uma impressão forte nela.
— Cid Kagenou… — murmurou. O garoto entreabriu os olhos. — Seu idiota, por que me protegeu?
Haviam apenas se encontrado há alguns dias. Nunca conversaram de maneira apropriada um com o outro, por isso ela não conseguia imaginar por que ele arriscou sua vida para salvá-la.
O garoto abriu a boca.
— Gack, kaff!
Então vomitou sangue.
— Cid!
O sangue dele foi jorrado nas bochechas de porcelana dela, mas ele sorriu… antes de soltar o último suspiro. Tinha uma expressão de morte de um homem que completou sua missão.
— Por quê…?
Uma lágrima desceu pelo rosto de Rose, que não a limpou, pois o segurava em seus braços. Quando olhou para o rosto do garoto morto, sentiu como se tivesse descoberto.
Sabia por que ele foi tão estranhamente persistente durante as preliminares.
Sabia por que seus olhos brilhavam enquanto a encarava.
E também sabia por que deu sua vida para protegê-la.
Tudo estava conectado.
Rose não era idiota. Desde que era jovem, teve pretendentes correndo atrás dela por ser uma bela princesa, mas nunca foi perseguida com tanto fervor assim. Nenhum pretendente a amou o suficiente para sacrificar sua vida.
— Obrigada…
Ela jamais poderia lhe dizer como se sentia, porém, jurou vingá-lo.
— Essa será uma bela lição para você. — O homem de preto ficou diante de Rose.
— Gh…! — Rose mordeu o lábio inferior e olhou para cima.
— Ainda está querendo nos desafiar, hein?
— Tsk… Irei obedecer às suas ordens. — Ela baixou a cabeça, sabendo que ainda não era hora para conseguir sua vingança.
— Hmm. Vão para o auditório! — ordenaram os homens de preto, começando a agir.
Fizeram os alunos ficarem de pé, algemaram suas mãos em fila e os tiraram da sala. Ninguém se atreveu a resistir.
Dois alunos no final da fila se viraram para trás para olhar a sala.
— Cid…
— Pobre Cid…
Os garotos encaravam o seu rosto rígido e pareciam ter mais a dizer.
— Continuem andando.
Os terroristas forçaram os dois para fora da sala. O som dos passos no corredor foi ficando distante, até que o silêncio tomou conta mais uma vez.
Então, o braço do suposto cadáver começou a se mover.
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Quando confirmei que a sala estava vazia, bati no peito.
Bata! Bata, desgraça!
Bati em mim mesmo várias vezes, forçando-me a sugar o ar.
É agora!!
Até que…
— Cof, hack, gak!
O meu coração, antes parado, se moveu e voltou a pulsar mais uma vez.
Esta era outra técnica esotérica, Morte de Dez Minutos: Coração Partido do Mob.
Com esta técnica, deixo minhas pequenas partículas mágicas entrarem no cérebro a partir do coração parado, preservando o fluxo de sangue e permitindo que eu fique com uma parada cardíaca por bastante tempo sem qualquer consequência. É uma técnica arriscada: um deslize e eu parto dessa para melhor. Mas, às vezes, tenho que colocar minha vida em risco pela arte da atuação. E foi isso o que aconteceu hoje, nem mais nem menos.
— Oww…
Conferi o corte nas minhas costas. Deixei que me cortasse porque sabia que seria examinado de perto. Evitei ser ferido gravemente, é claro, e ainda foi profundo o suficiente para ser convincente.
Tentei usar mais para me curar. Parece que a minha magia pode passar pela barreira se eu a processar em quantidades minúsculas. Por outro lado, se aplicar pressão e liberar magia, acho que serei capaz de remover a membrana à força.
— Por enquanto já está bom.
Levaria tempo demais para se curar completamente e eu estaria em uma situação complicada caso alguém me pegasse no flagra, por isso curei até não ter problemas para me mover e, com a minha rotina fiel de “sobrevivi milagrosamente de certa forma”, deveria estar tudo bem.
— Beleza — falei, ficando de pé.
Chequei para ver se conseguia controlar meu corpo e magia, limpei o sangue do rosto e ajeitei os amarrotados do meu uniforme.
As cortinas brancas se abriam com a brisa do meio-dia que entrava pela janela. Enquanto esvoaçavam e voltavam para trás, as réstias de luz brilhante do sol e as sombras escuras mudavam de forma.
As cadeiras caídas e mesas jogadas. A porta quebrada e chão ensanguentado. Aquela visão anunciava o fim de uma vida normal.
Fechei meus olhos e respirei fundo.
— Tudo bem, vamos lá.
Saí da sala de aula e percorri o corredor vazio e silencioso.
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Sherry Barnett estava focada demais em decifrar o artefato em formato de pingente para notar a comoção naquela hora.
— Isso é….
Ela o pegou e analisou de perto, percebendo algo e estreitando seus olhos cor-de-rosa-claro.
— Não… pode ser.
Seu olhar permanecia focado no artefato enquanto sua pena começava a percorrer o papel.
Ela não parecia ter ciência do caos ao seu redor. Os sons explosivos, os passos no corredor – tudo além do seu alcance de percepção.
— O que está acontecendo?
— Alguém está atacando a escola.
— Não conseguimos usar magia, então não seja descuidado.
Até mesmo a conversa entre dois cavaleiros não chegava aos seus ouvidos.
— Mas como…? Não tem jeito…
Ela estava completamente fixada no artefato. Costumava esquecer dos seus arredores durante sua pesquisa, mas nunca foi assim tão extremo. Havia algo importante sobre a relíquia, algo que capturou sua atenção.
A pena fazia movimentos nítidos pelo papel.
Aqueles olhos cor-de-rosa estavam a um passo de descobrir a verdade.
Naquele instante, um homem de preto invadiu a sala de estudo pela janela, destruindo-a. Cacos de vidro ocasionaram cortes leves no rosto de Sherry.
— Mas qu…?!
— Quem está aí?!
Os dois cavaleiros prepararam suas espadas. A sensação pungente em suas bochechas fez com que Sherry finalmente percebesse a situação.
— Hã? O quê?
Ela agarrou o artefato e rastejou para debaixo da mesa para se esconder. Depois de tocar a bochecha, viu um pouco de sangue na mão.
— Somos o Jardim das Sombras. Ou era Jardineiro das Sombras? Ah, quem se importa. Sou Rex. Rex, o Jogo da Traição. — Ele zombou por trás da máscara. — Essa coisa é um incômodo.
Jogou a máscara de lado, revelando um homem irreverente de cabelo vermelho-escuro, rindo com os olhos de um cão voraz e feroz.
— Eek. — A máscara caiu perto dos pés de Sherry, fazendo com que ela recuasse, ainda escondida.
— Vocês são o tal do Jardim das Sombras de que tanto ouvi falar…
— Não sei quais são seus motivos, mas não ache que escapará depois de atacar a escola.
Rex riu.
— Acho que será moleza. Ah, pobre Jardim das Sombras. A propósito… — Ele parou no meio da frase. — Esqueci por que estamos atacando. — Riu maldosamente.
— Chega de brincadeiras.
— Ah, mas estou falando sério. Ainda que não importe. Meu trabalho é recuperar o artefato e, quando o fizer, podem lutar e se debater o quanto quiserem…
Rex estreitou bem os olhos.
— Vocês sabem onde está? — Ele olhou para os cavaleiros.
— Não sabemos do que está falando…
— Não sabemos de nada.
Rex sorriu de orelha a orelha.
— A expressão de vocês me diz o contrário…!
O ar estremeceu, e sua magia sobrecarregou o local.
— A…! — Sherry cobriu a boca para evitar que gritasse enquanto rastejava. Estava a uma curta distância da porta.
— Então, quem vai primeiro? — O olhar voraz e feroz de Rex observava o aposento. — Vamos começar pela garota.
De repente, desapareceu do nada.
Foi então que Sherry notou que ele estava na sua frente.
— Aaaaaahhhh!
— Adeus.
— Não! — Sherry fechou os olhos e cobriu a cabeça, curvando-se.
— Não vou deixar!
A espada desceu na sua direção e atingiu o piso.
Com medo, ela espiou com os olhos entreabertos e viu um cavaleiro robusto, com uma barba tão densa quanto a juba de um leão, na sua frente com a espada em posição.
— Eeh, impressionante, ainda mais se considerarmos que está fazendo isso sem magia.
— Magia não é tudo. Se estou enfrentando um fracote, posso facilmente me esquivar de qualquer ataque.
— Fracote…? Palhaço desgraçado, realmente acha que é mais forte do que eu? — Rex zombou ferozmente do homem grandalhão.
— Sim.
— Por que não me diz o seu nome?
— Sou Glen, Juba de Leão, vice-comandante da Ordem Carmesim.
Outro cavaleiro ficou ao seu lado.
— Sou Marco, da Ordem Carmesim.
— Não te perguntei.
Naquele último instante, Marco olhou para Sherry.
— Corra.
Então, a batalha começou.
Sherry rastejou até o corredor e começou a correr a toda velocidade. Cobriu os ouvidos para abafar o som de gritos agoniados atrás dela.
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Eu andava sobre um telhado e observava o campus de cima.
Podia ver todo o prédio até o auditório, o qual era um salão gigantesco que podia facilmente abrigar todos os alunos. Era o local em que a escola organizava as cerimônias de entrada e as palestras ocasionais de uma figura pública ou apresentação teatral.
A Ordem dos Cavaleiros estava reunida do lado de fora do campus em resposta à comoção, mas havia uma clara limitação além da qual não estavam avançando. Talvez fosse o limite daquilo que bloqueava a magia de todo mundo. Não parecia ter ninguém estudando nos prédios da escola, apenas homens de preto procurando por qualquer um que estivesse se escondendo.
Zombei enquanto olhava para a escola.
Sempre quis fazer isso.
Observei a escola, os alunos algemados e a misteriosa organização terrorista. Agora podia riscar isso da minha lista.
Olhar para o campus do alto de um telhado. Confere.
Bem, acho que terei um pouco de diversão antes que fique escuro. A verdade é que percebi algo quando os homens de preto adentraram na sala de aula.
Eles não tinham senso de estilo.
Imagine uma leve brisa, um claro céu azul, uma tarde ensolarada… e alguém entrando em cena com um longo manto preto. Quem faz isso?
Ninguém.
Eles cometeram um erro grave. Exato… Subestimaram a importância do HLM: tem Hora, Lugar e Momento para tudo. Se não aderir a isso, o senso de moda estará totalmente fora de lugar. O desprezo pelo HLM deles é nojento. Tipo, mantos negros só deveriam ser usados à noite.
Estava planejando acabar com eles com tranquilidade e devagar; tempo não é o problema. Preferia me segurar e saborear a diversão.
Por isso estou indo com a Operação: Devagar e Sempre Até Anoitecer.
Eu pensava em tudo isso enquanto observava o campus, quando vi dois homens de preto caminhando pelos corredores. Que nojo, usar preto em um dia ensolarado? Que deselegante.
Pois é… me fizeram querer dar uma de atirador de elite.
Arranquei um pedaço de slime do tamanho de um dedão do meu traje. Fiz uma bola com ele e coloquei magia, larguei no telhado e preparei para dar um bom peteleco.
— Vocês estão na minha linha de tiro, idiotas — murmurei para mim mesmo, então disparei.
Whiz. Zumbindo pelo ar, minha bola de slime atravessou o crânio de um deles.
— Augh…
Da mesma forma, perfurei o coração do outro homem. Já tinha os derrotado com dois golpes. Inacreditável. Estou decepcionado com isso, então estava a fim de lançar mais uma.
— Ah, bem, meu próximo alvo será…
Com minha bomba de slime pronta, fechei um olho para mirar na próxima vítima.
No prédio da escola à minha frente, vi um imbecil indefeso.
— Alvo na mira. É uma garota de cabelo rosa-claro… Espere, o quê?
Era Sherry.
O que ela estava fazendo lá? Dava uma olhada para trás a cada passo.
— Sherry, você está acabando com a própria cobertura.
Confirmei que um homem de preto corria atrás dela. Mirei a bomba de slime no alvo… e disparei.
Whir.
A cabeça do homem voou.
— Missão completa.
Sem perceber o que aconteceu, Sherry continuou se movendo até desaparecer de vista.
Hmm. O que será que estava acontecendo?
Meus sentidos de normie dispararam, me dizendo que uma cutscene grande estava prestes a começar. E, então, perto do clímax, devo aparecer no palco como o mentor por trás de tudo…
Ooh, mal posso esperar.
Tudo bem, aí vou eu.
Infundi minhas pernas com magia e saltei enquanto ninguém estava olhando.
— Yahoo!
Pousei em segurança sobre o prédio da escola do outro lado. Depois daquilo, saltei para baixo, agarrei-me em uma janela e entrei no prédio. Olhei para o corredor… e lá estava ela.
A garota de cabelo rosa-claro olhava para os lados como um esquilo.
— Como eu disse, você está acabando com a sua cobertura.
Havia um homem de preto atrás de Sherry. Logo antes que ele a agarrasse, corri a toda velocidade na direção dele.
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— Hã? — Sherry sentiu algo se movendo e olhou para trás.
Ouviu um whoosh…, mas ninguém estava lá. Um corredor silencioso se estendia à sua frente.
— Talvez eu só esteja paranoica…?
Olhava ao redor, tomando cuidado, enquanto seus sapatos batiam levemente contra o piso e ela pressionava o artefato contra o peito.
Há pouco, os cavaleiros disseram que não conseguiam usar magia. Se isso fosse verdade, significava que tinha algo a ver com ela, e poderia saber o que causou. Além disso, com relação ao artefato…
Sherry o abraçou com força mais uma vez.
— Tenho que fazer algo sobre isso…!
A imagem de dois cavaleiros lutando com bravura para ajudá-la a fugir surgiu em sua mente. Sabia que não poderia deixar que morressem em vão.
Lutando com esses pensamentos, virou no corredor.
— Ahh!
Havia um homem de preto, o que fez com que ela entrasse em pânico e tentasse se esconder.
Achou que aquele era o seu fim, pois jurava que tinham cruzado os olhos.
Ouviu-se outro whish.
— Está tudo bem. Ainda estou bem… Não fui pega… — Sherry orava conforme olhava para frente mais uma vez… — Ufa, ainda estou a salvo…
O seu agressor de preto desapareceu.
Brava, mas com cuidado, vasculhava a área enquanto seus sapatos batiam ritmicamente no piso.
— Ah!
Outro inimigo olhou para o corredor pela janela de uma sala.
Sherry tentou se esconder em frenesi, mas foi tarde demais. A porta foi puxada para o lado para se abrir e um homem de preto apareceu.
— Kyaa! — Ela cobriu a cabeça e fechou os olhos.
…
…
Outro whiz.
— O quê? — Ao abrir os olhos nervosamente, viu que ele se fora. — Ufa, não me achou…
Sherry se preparou ainda mais enquanto seus pés batiam suavemente no piso. Checava cada centímetro do corredor, as salas e, obviamente, suas costas. Seus olhos iam da esquerda para a direita. Ela observava a área quando tropeçou.
— Oof! — Caiu no chão, olhando para cima a tempo de ver o artefato girando no ar. — Ahhh!
Estava prestes a se chocar com o chão…, mas alguém o pegou. Sherry olhou para cima e viu seu mais novo amigo.
— Cid!
Mas ele estava coberto de sangue.
— Está tudo bem?! Você está ferido…
— Não se preocupe com isso. Eu escapei milagrosamente da morte. Nada além disso.
Ele parecia exausto por algum motivo enquanto observava Sherry, com os olhos semicerrados.
— Tenho que te dizer algumas coisas, tipo, tem que parar de falar sozinha, de pensar enquanto corre e começar a olhar por onde anda. — Ele deu um suspiro profundo. — E os seus passos no corredor são barulhentos demais. Vamos começar tirando esse sapato.
Sherry assentiu em resposta.
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Protegi Sherry enquanto andávamos até os fundos do primeiro andar, onde ficava o escritório do vice-diretor. Ah, e eu secretamente matei mais cinco deles ao longo do caminho.
Abrimos uma porta espessa e entramos.
Havia um salão de bom gosto no centro da sala e uma parede inteira repleta de livros grandinhos. Arquivos formavam uma pilha alta na mesa ao fundo. A luz do sol entrava gentilmente pela janela ao norte. Obviamente era um lugar para adultos.
Sherry se sentou à mesa, que parecia conhecer bem, e vasculhou os desenhos.
— Tente não fazer tanto barulho.
Seu cabelo rosa-claro balançou enquanto concordava obedientemente.
— Ufa. — Deitei na poltrona e respirei fundo, pois estava acabado.
Sei que Sherry é a personagem principal, mas não tem como funcionar desse jeito. Ela não vai conseguir derrotar o Chefão Final. Sob tais circunstâncias, é normal que personagens tenham auxiliares, entretanto, não vi nenhum aliado por perto. É um enredo falho.
Mas, depois de considerar bastante, decidi intervir como o tipo de personagem de fundo salvador. Sou um personagem secundário que jamais irá agir onde os outros podem ver… jamais.
— Achei. — Sherry saiu de trás da mesa com uma pilha de documentos, espalhando-os sobre a mesa de centro.
— O que é isso? — Não sabia nada sobre aqueles estranhos alfabetos, geoformas nem fórmulas.
— Este artefato se chama Olho da Avareza. Acredito que seja isso que esteja bloqueando a nossa magia no momento.
Ela mostrou um rascunho de uma esfera de aparência ameaçadora do tamanho de uma bola de tênis de mesa.
— O Olho absorve e armazena a magia ao seu redor. Quando é ativado, fica mais difícil usar magia na área.
— Mas os homens de preto não tinham problemas para usar magia.
— Eles devem ter programado o Olho para reconhecer o nível de onda mágica deles. Já confirmei que não consome a magia pré-registrada. Também tem dificuldades para absorver partículas microscópicas que tenham energia poderosa, mas nenhum de nós já viu isso antes.
Ei.
— E, como se não fosse um incômodo grande o suficiente, também pode usar a magia que foi armazenada. Suponho que o plano original deles era usar esse artefato como arma, mas não pode armazenar por longos períodos de tempo. Acho que está defeituoso.
— Entretanto, é efetivo a curto prazo, mesmo que não possa armazenar o poder por tanto tempo.
— Correto. Agora mesmo, há centenas de cavaleiros negros sendo mantidos como reféns no auditório. Na teoria, se liberassem a magia do artefato… podem ser capazes de destruir toda a escola.
— Uou…
— Fui a primeira a decodificar o Olho com a minha pesquisa. Quando percebi o seu perigo, mantive-o longe de alcance e pedi ao reino para que o guardasse para ser mantido protegido… Ah, por que isso foi acontecer? — Sherry olhava para mim com gentileza.
— Não é uma réplica nem foi roubado. Tem alguma forma de operá-lo?
— Sim. — Ela assentiu e mostrou um grande pingente.
— É um pingente bem sujo esse seu.
— Parece que isso pode controlá-lo. O Olho não pode se mover sozinho; acredito que só possa ser usado quando estiver ligado a este dispositivo. Se estiverem juntos, o artefato não será mais defeituoso nem limitado a armazenar magia a curto prazo.
— Será capaz de manter magia por mais tempo?
— Eu teria que colocar os dois juntos para testar e ter certeza. Mas, sim, acredito que seja possível.
— Hm.
— Este dispositivo tem o poder para desativar o olho temporariamente. Devemos ser capazes de libertar as pessoas no auditório a tempo.
— Parece bom. E então?
— Bem, ainda não terminei de examinar o artefato, então gostaria de dar prioridade a isso.
— Entendo.
— Depois que interpretá-lo, podemos levá-lo ativado para mais perto do Olho.
— Como?
— Hm… eles estão patrulhando cuidadosamente o nível do chão, então acho que podemos nos aproximar pelo subsolo. — Sherry sorriu, um tanto nervosa.
— Subsolo?
— Sim. — Ela tirou alguns livros da prateleira, a qual moveu-se para trás e revelou uma escadaria levando para um andar mais baixo.
— Boa.
Eu amava esse tipo de truque.
— Ainda há alguns túneis secretos para fuga nas instalações do campus, mas ninguém mais usa essa passagem faz tempo. — Havia um traço de tristeza em seus olhos. — As escadas estão empoeiradas… e não tem sinais de pegadas. Eu queria que meu pai tivesse escapado por aqui…
— Ah, o vice-diretor Lutheran. Ele te adotou, certo?
— Ele costumava ajudar minha mãe com a pesquisa dela e tem cuidado de mim desde que eu consigo me lembrar. Mesmo depois que a minha mãe morreu e eu fiquei sem ter para onde ir, ele me acolheu e me criou como sua filha.
— Parece ser um cara incrível.
— Sim, ele é. Sempre está me ajudando… e, desta vez, quero que seja eu o ajudando. — Sherry sorriu.
— Espero que ele esteja bem. Depois que nos aproximarmos pelo subsolo, o que faremos?
— Eh, hmm… passamos pelos túneis e jogamos o artefato ativado dentro do auditório.
— Ele não vai quebrar?
— Mesmo que quebre, ainda irá desativar o Olho temporariamente. Tudo o que precisamos é que os cavaleiros negros nos deem uma ajuda…
O clímax parecia um pouco fraco, mas eu podia dar uma animada se me transformasse em Shadow e começasse um alvoroço. Para dizer a verdade, estou grato por ela ter preparado uma ótima cena para que eu pudesse mostrar do que sou capaz.
— Fantástico. Vamos fazer isso.
— Ótimo! Só preciso me apressar e terminar de decifrá-lo.
— Minhas costas doem, por isso não vou ser de grande ajuda, mas desejo boa sorte.
Fiquei feliz por ela ter uma tática decente. Acho que não vou precisar ser o personagem secundário de suporte, afinal.
— Cid, não exagere. Farei o melhor que posso. Nunca fui capaz de ajudar ninguém, porém, agora, é a minha vez de salvar o meu pai e todo mundo.
— Sim, deixo com você. Ah, já volto, tenho que ir ao banheiro.
Deixei Sherry com sua pesquisa para que eu pudesse sair para brincar.
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Com os olhos selvagens de um cão faminto, Rex abriu as portas do auditório e passeou corajosamente pelo lugar enquanto um grupo de homens o seguia.
Os alunos foram forçados a ficarem em seus lugares, de cabeça baixa, quando o grupo se aproximou deles. Havia três andares no enorme auditório frio, e todas as saídas eram protegidas por guardas trajados de preto. Os alunos estavam sendo monitorados e não podiam dar uma olhada sequer. Um sorriso falso estava estampado no rosto de Rex enquanto ele saía do auditório e ia em direção à sala de espera.
— Como foi? — perguntou um homem de preto assim que Rex fechou a porta.
A voz dele era profunda e digna. Mesmo que escondesse o rosto com uma máscara e estivesse vestido como os outros, sua superioridade era instantaneamente reconhecida.
— Você não perde tempo mesmo, né, Sir Esbelto? Assumimos o controle de quase toda a escola. A Ordem dos Cavaleiros está um tumulto só do lado de fora, mas sequer valem o nosso esforço.
— Irrelevante. Estou perguntando se conseguiu o artefato.
— Ah, o artefato. Sobre isso… — Rex deu de ombros enquanto olhava para o Sir Esbelto. — Tenho quase certeza que está com aquela garota. Sabe, a que tem o cabelo cor de pêssego.
— Está me dizendo que não o recuperou?
Rex coçou a cabeça e desviou o olhar.
— Bem, tipo isso.
— Pare de ficar brincando. — A magia do Sir Esbelto se intensificou, e o ar ao redor ondulou sob sua pressão.
As bochechas de Rex ficaram rígidas e ele sentiu a sede de sangue do cavaleiro.
— Vai com calma. Já tenho ideia da sua localização e devo recuperá-lo em breve.
— Suas artimanhas estão interferindo nos meus planos. Na próxima vez que falhar, irei decapitá-lo, entendeu?
— Tudo bem, entendi.
Os olhos perfurantes do Sir Esbelto seguiram Rex, que estava indo em direção à porta com as mãos erguidas sobre a cabeça.
— Ah, quase esqueci — Rex parou antes de sair. — Podemos estar com problemas.
Ele olhou para trás para ver a reação do Sir Esbelto e recebeu permissão para prosseguir.
— Um monte de Terceiras foi assassinada. Duas das Segundas estão mortas. O coração de um homem foi esmagado, e outro tinha uma pequena incisão em seus pontos de pressão. Minha melhor suposição é que o último tenha sido atingido por um florete. Todos eles foram atingidos apenas uma vez. O inimigo parece ser habilidoso — comentou Rex, rindo como um lobo voraz.
— Ora, ora… talvez seja o Jardim das Sombras. Enfim a isca funcionou.
— Parece ser isso. Talvez você devesse cuidar das costas.
— Keh-heh… Acha que um homem como eu deve tomar cuidado?
— Eh, acho que vai se sair bem, Senhor Ex-Távola Redonda.
— Hmph. Traga-me as cabeças do Jardim das Sombras junto com o artefato.
— Nem precisa pedir. — Rex saiu da sala com o canto dos lábios formando um sorriso.
Sir Esbelto zombou para si mesmo:
— Finalmente, tudo acabará ao mesmo tempo… — Ele pegou o artefato ameaçador do bolso da frente e o encarou, com suspeitas.
— Isso irá marcar o meu retorno à Távola.
O homem continuou rindo medonhamente para si mesmo.
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Quando Rex e seus subordinados estavam andando pelo corredor, algo estranho atacou de repente enquanto procuravam pelo artefato. Um dos seus subordinados desapareceu diante dos seus olhos.
— Mas o qu…?
Rex olhou ao redor para determinar o que foi aquilo, mas não havia sombras suspeitas por perto. A única pista foi um whoosh no ar.
Buzz, zip. Um som cortou o espaço.
— Nng…!
E o capanga ao seu lado se fora.
Mas, desta vez, Rex foi capaz de ter um vislumbre daquilo. Havia um garoto usando o uniforme da escola… encharcado de sangue. Usando o tenar da mão, o garoto deixou o homem inconsciente e o levou para longe.
Rex concentrou seu poder, intensificando sua visão ao máximo e focando seu olhar. Só então foi capaz de detectar os movimentos rápidos.
— Fiquem em alerta! Inimigo por perto! — gritou, observando a área vigilantemente. — Hã…?
Ele ficou parado, aturdido.
Os subordinados que estavam atrás dele se foram. Antes que pudesse perceber, foi deixado sozinho no corredor.
Então, ouviu um whiz.
Ao ouvi-lo, imediatamente canalizou toda a sua força para proteger o coração.
— Guh…!
A palma de alguém atingiu o seu braço.
Crack. A força trincou os ossos de Rex e o jogou longe.
— Esse… merdinha!! — Ele prontamente reorganizou sua postura e brandiu a espada, mas não havia ninguém lá. Frustrado, estalou a língua.
Um único golpe de palma quebrou os ossos do seu braço esquerdo, o qual protegia com magia. O coração teria sido destruído caso não tivesse se protegido daquela forma.
Whish. Rex moveu-se com o som, virando para a presença atrás dele e agitando a espada. O seu tempo de reação foi perfeito.
O maldito… está ficando mais rápido! Como pode?! Ele perfurou o ar atrás do garoto, rapidamente reassumindo sua postura com o único objetivo de proteger o coração.
— Agh…!
Sofreu um golpe nas costelas, então pulou para reduzir o impacto enquanto perseguia o garoto com os olhos. Mal era capaz de ver suas imagens residuais.
— Ts… — Cuspiu uma mistura de saliva e sangue enquanto permanecia na defensiva.
Era quase impossível detectar o inimigo, e contra-atacar estava fora de questão. Apenas ele estava recebendo dano. De um ponto de vista mais objetivo, não havia situação pior. Porém… Rex tinha uma boa experiência em treinar entre a espada e a parede.
Pois ele era Rex, uma Criança Nomeada.
— Esse artefato que está usando é bastante útil. — Ele comentou para que seu inimigo pudesse ouvir que descobriu qual era o seu truque.
Não levou muito tempo para que montasse o quebra-cabeça. Os movimentos do seu oponente eram mais rápidos do que os limites humanos, o que significava que ele precisava de um poder extraordinário para se manter assim.
— À primeira vista, eu tinha a desvantagem. Entretanto, não pode me enganar. Já está no seu limite, não é mesmo?
Com uma velocidade inumana vinha sacrifícios. Ele já via traços disso.
— Ainda não viu que o seu uniforme está coberto de sangue?
Sim… Rex resolveu o problema assim que viu o uniforme vermelho; seu oponente usou o poder do artefato para atingir uma velocidade que desafiava a lógica e, em troca, isso estava o destruindo. Ficou claro a partir dos rios de sangue que jorravam dele. O garoto chegaria aos seus limites. Se Rex pudesse aguentar até lá… a vitória seria sua.
Esse era Rex, o Jogo da Traição, a Criança Nomeada, que podia expor suas vítimas por completo com o mínimo de informação.
— Eu suponho que só lhe restam mais alguns golpes. Então irá chegar ao limite! — declarou com uma voz poderosa.
Mas o seu inimigo não respondeu, permanecendo em silêncio desde o momento em que Rex começou o seu pequeno discurso.
— Acho que acertei em cheio. — Os cantos dos seus lábios formaram um sorriso sinistro.
Ele já conseguia ver a vitória. Mas… não era tão fácil quanto fez parecer. Na realidade, ainda tinha que se esquivar do golpe indetectável de palma mais algumas vezes.
— Ei, por que está tão quieto? — Começou a se sentir confiante, recusando-se a mostrar qualquer sinal de fraqueza.
Essa batalha era… uma intensa disputa psicológica.
— Apareça, frangote!
Whoosh.
Justo quando o som cortou o ar, Rex esquivou-se do ataque usando apenas os instintos, girando a parte superior do corpo para evitar a trajetória da sua mão.
Tão rápido?! Ele usou o braço direito para se proteger no último segundo.
— Gaaaah!!
Ele quebrou em todos os lugares possíveis, e Rex recuou, apertando a espada através de pura determinação.
Mesmo assim, seu oponente persistia.
Rex vira apenas os movimentos mais básicos do inimigo, o qual se aproximava. Em outras palavras… esse era o momento em que o jogo virava.
— Venha pra cima de miiiiiimmm!! — gritou enquanto protegia os pontos fracos.
O inimigo chegou ao limite, e a vitória seria sua se pudesse aguentar o último golpe.
Segundos depois, uma palma atingiu o seu estômago.
— Gah!! Aaaaaghhh!!
Ele vomitou sangue enquanto era jogado para trás, destruindo a parede de uma sala de aula, debatendo-se contra mesas e cadeiras até cair no chão.
— Kah-hak…! — Segurando o estômago, tossiu sangue. Suas costelas rasgaram os órgãos internos.
No entanto… continuava vivo. Proteger-se com tudo que tinha mostrou resultados.
— Heh-heh… — Os lábios ensanguentados curvaram-se em um sorriso zombeteiro ao erguer a cabeça.
Foi então que os viu.
— Mas o que diabos é isso…?
Cadáveres formavam uma fila na sala. Todos eram homens de preto, claramente com poucos ferimentos, a não ser por apenas um corte em cada.
Aquele garoto matou essas Crianças Nomeadas sozinho…?
O som de passos se aproximava.
Ele ouviu alguém caminhando em sua direção no corredor.
Tap, tap.
O som parou na porta.
Silêncio.
Rex percebeu que a mão que segurava sua espada estava anormalmente suada.
Click. A maçaneta girou e quebrou o silêncio. Então, a porta se abriu.
Não havia ninguém lá.
Com um whiz, o braço de Rex foi transformado em pedaços.
Outro zumbido, e o esquerdo foi decepado.
Whoosh.
Whish.
Whiz.
E assim continuou.
Toda vez que se ouvia um som, Rex perdia mais carne.
— AAAAAGH… Aaaaaaghhhh… aghhh…
Logo antes de sua cabeça sair voando, percebeu que o garoto possuía uma quantidade infinita de poder.
— Você se saiu bem.
Essa foi a voz que ouviu ao morrer.
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Na sala de estudo destruída, Nu olhava para um cadáver. Com olhos castanho-escuros que combinavam com o cabelo, usava um par de óculos e o uniforme da Academia de Ciência como disfarce para se misturar, mas não podia esconder sua sensualidade.
— Você é Glen, Juba de Leão, da Ordem Carmesim.
O cadáver encarava o nada, usando uma expressão angustiada. Ele parecia ter sofrido profundamente. Sem magia, ele, cujo nome era conhecido por toda a Ordem dos Cavaleiros, foi incapaz.
A atenção de Nu foi direcionada para outro lugar. Havia mais um cavaleiro no local, o qual ainda respirava.
— Marco Granger, você se juntou à Ordem Carmesim.
Ela reconheceu o seu rosto bonito, com um cabelo azul sedoso. Não só era um dos cavaleiros negros mais fortes, como também diziam que seria o futuro comandante da Ordem. Ela se lembrava que ele tinha um forte senso de justiça.
Marco era para ser o seu marido em um casamento arranjado.
Enviaram muitas cartas um para o outro e compartilharam danças em bailes. Mas, no fim, ele não passava do homem que os pais dela escolheram. Nunca soube como ele se sentia sobre a situação, mas jamais conseguiria amá-lo.
Entretanto, não era como se o odiasse. Podia não ter amado, mas o achava gentil. Não se importaria de se casar com ele algum dia e até imaginou que se casasse com um homem respeitável teria levado a um futuro brilhante.
Um caminho arranjado, um parceiro arranjado, um futuro arranjado.
Nu nunca teve muita escolha. No passado, conformou-se com o valor daqueles ao seu redor e viveu como mandavam. Não se importava com isso antes, mas, ao parar para pensar agora, passou a achar esse estilo de vida terrivelmente confiante.
Enquanto olhava para o rosto dele, lembrou-se de repente do baile. Nu sorriu ironicamente ao se lembrar que mostrava o rosto de Marco por aí como se fosse algum tipo de acessório.
De certa forma, memórias sempre se prendem mais quando se tenta esquecer.
— O que foi, Nu?
Ouviu uma voz atrás dela e se virou. O fato de não ter o sentido não foi surpresa, e também o reconheceu apenas pela voz.
— Mestre Shadow….
Não notou aquele garoto de cabelo preto e aparência comum entrando na sala de estudo, o qual passou por ela e começou a abrir armário após armário.
— Ele costumava ser o meu noivo arranjado.
— Eh. O que fará?
— Não tenho motivos para matá-lo nem para mantê-lo vivo.
— Está tudo bem assim — disse ele, vasculhando pelos armários e continuando na sua busca.
Nu saiu de perto de Marco e ficou ao lado do garoto.
— Mestre Shadow, sei que é um pouco tarde, mas tenho algo a relatar.
— Vá em frente.
— O Jardim das Sombras se infiltrou no campus. Estamos no aguardo e nos moveremos ao seu comando.
— Entendido.
— Entretanto, lutar enquanto nossa magia está bloqueada pode ser arriscado. Apenas as Sete Sombras podem operar na velocidade normal, mas a única delas na capital é Lady Gamma. E… bem, esse tipo de coisa não é o ponto forte dela…
— Ela não tem habilidade para isso.
— Hm… correto. Quanto a mim, s-só estou com cerca de metade da minha força normal.
— Entendo.
— Lady Gamma está liderando toda a organização, por isso sugeriu que eles não teriam controle da nossa magia por muito mais tempo e que devíamos esperar até então.
— Tudo bem.
— Os homens de preto estão reunidos no auditório e não se moveram. No momento, não parecem ter nenhuma demanda. A Ordem dos Cavaleiros cercou o campus, mas Iris Midgar e os outros comandantes são os únicos fortes o bastante para acabar com eles. Já que não nos encontraram em momentos pacíficos, não acho que nos ajudariam.
— Tudo bem.
— Está tudo bem mesmo?
— Sim… Ah, espera um pouco.
— Certamente.
— Estou procurando algumas coisas. Preciso de pinças de mithril, pó de osso de dragões da terra e a pedra encantada de cinzas…
Nu pegou cada um desses itens de um armário.
— Valeu. Ufa, você me quebrou um galho.
— Foi um prazer. Posso perguntar para que precisa deles?
Ele segurava os vários itens com ambos os braços.
— Ah, isso aqui? Vou usar para alterar o artefato.
— Alterar o artefato, hein? — repetiu Nu.
Ela nunca imaginaria que ele era tão experiente com artefatos, mas não seria estranho ele saber dessas coisas. Por que queria alterá-lo nesta situação complicada?
— Algo chamado Olho da Avareza está impedindo a nossa magia. Atualmente, estou fazendo os ajustes finais para um artefato diferente a fim de desativá-lo temporariamente.
— Incrível… Você nunca nos decepciona.
Ela ficou surpresa. Ele não só tinha descoberto a fonte do bloqueio de magia, como também estava preparando para anulá-la. Além disso, desativar um artefato poderoso exigia um conhecimento extraordinário. Sem a sabedoria de uma das maiores mentes de toda a nação, isso seria impossível. Ela estremecia na presença da sua mente ilimitada.
— Devo terminar por volta do pôr do sol.
— Entendido. Estaremos preparados para nos mobilizar quando estiver pronto.
— Mal posso esperar.
— Sim.
Nu o observou sair da sala com os itens antes de checar para ver se seu antigo noivo ainda estava consciente.
Ela passou sua lâmina negra pelo pescoço dele.
A respiração e o pulso estavam normais e estáveis. Ele estava vivo, mas claramente inconsciente.
— Pouparei sua vida.
Nu deixou um corte raso no pescoço dele e desapareceu.
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— Voltei.
Ao ver Cid retornar com os ingredientes, Sherry sorriu, pegando-os e colocando-os sobre a mesa.
— Muito obrigada. Agora devo ser capaz de terminar.
— Boa sorte.
Sherry rapidamente começou a trabalhar no artefato. Cid estava deitado no sofá, lendo um livro.
Tudo ficou em silêncio por um momento.
A luz que entrava pela janela lentamente tornou-se carmesim.
Cid levantava vez ou outra para ir ao banheiro. Quando Sherry lhe ofereceu um medicamento para aliviar a dor de estômago devido suas visitas frequentes, ele aceitou com uma expressão complicada.
O tempo passou, e o sol começou a se pôr. O tom vermelho se intensificou, e as sombras ficaram mais escuras. Quando Sherry acendeu a lanterna, tudo ficou com uma sombra mais escura do lado de fora do aposento. Ela enfim estava chegando perto do fim da sua tarefa, já perto do pôr do sol.
— Terminei. — Ergueu o pingente e mostrou a Cid.
— Incrível.
— Obrigada. É o melhor que posso fazer.
— Pois é, e é bom que foi antes do pôr do sol. O futuro da escola depende de você. — Cid se levantou e bateu nas costas dela. — Não posso ajudar mais. Você deve salvar o mundo com as próprias mãos.
— F-farei o meu melhor — disse ela, nervosa, pegando a lanterna e encarando as escadas. — Minha mais sincera gratidão. Graças a você, serei capaz de resgatar o meu pai.
Sherry olhou mais uma vez para ele e então baixou a cabeça.
— Não foi nada. Espero que ele esteja bem.
— Obrigada. — Ela sorriu e desceu as escadas.
Depois de uma longa descida pela escadaria, chegou ao fundo. O ar era completamente diferente da superfície. Os túneis escuros eram iluminados pela luz da lanterna, e os caminhos começaram a se dividir. Um movimento errado e ela jamais chegaria ao seu destino.
— Hmm… — Pegou um mapa para confirmar a direção até o auditório. — Ir reto e dobrar à esquerda na terceira curva…
No começo, vagava devagar pelo caminho. Entretanto, lembrou-se de ter caminhado por aqueles túneis com seu pai adotivo. Mesmo que ela tivesse o incomodado enquanto trabalhava, ele ainda descia lá para brincar com ela. Essa era uma memória preciosa para Sherry.
A jovem não se lembrava do seu pai biológico, pois ele morrera logo depois que ela nasceu. E a memória da sua mãe tinha quase sumido por completo da sua mente. Sua mãe foi assassinada durante um roubo em uma noite, quando Sherry tinha apenas nove anos.
Ela se lembrava da sombra negra que viu pela fresta da porta do armário. Os seus sonhos eram assombrados pelos gritos da sua mãe e o som da risada medonha.
Durante muitos anos após o incidente, não conseguiu falar. Rejeitou todos aqueles ao seu redor, preferindo trabalhar no artefato que a sua mãe deixou. Como se seguisse seus passos, Sherry devotou-se à pesquisa.
O seu pai adotivo era o seu salvador. Ele a acolheu, apoiou a pesquisa dela e lhe deu uma família amável. Através disso, Sherry enfim reganhou sua voz. Quase todas as suas memórias familiares eram sobre ele.
Toda sua vida foi apoiada pelo seu pai adotivo, e agora era hora de retribuí-lo.
— Preciso continuar.
Ela caminhava pelo caminho escuro sozinha. Seus passos não eram mais assustados ou tímidos.
E não demorou para que chegasse.
— Acho que estou debaixo do auditório…
O caminho único se dividia em vários: o caminho para o primeiro andar, para o do meio e, então, para o segundo…
Ela seguiu o mapa.
— Eh…!
Então encontrou.
Era uma pequena saída de ar entre o segundo e terceiro andar. Ainda que uma pessoa não pudesse servir ali, havia espaço o suficiente para jogar o pingente.
Sherry espiou furtivamente pela saída de ar para ver o que estava acontecendo. Lembrou-se das palavras de Cid: “quando estiver se escondendo, é importante liberar a tensão do corpo, respirar devagar e relaxar”.
Havia centenas de alunos sentados dentro do auditório e alguns instrutores, que também estavam presentes. Também havia vários homens de preto. Sherry acreditava que todos os reféns poderiam escapar assim que tivessem sua magia livre.
Ela estava pronta.
Primeiro, afastou-se da saída de ar e pegou o pingente. Quando o conectou com a pedra encantada, uma luz branca e letras brilhantes flutuaram no ar.
Sherry jogou o pingente brilhante pelo buraco sem hesitação alguma.
— Como Naesia havia prometido, levou apenas algumas horas para completarmos a subida pelos penhascos.…
Primeiro, Cliff apressou-se para os leitos dos enfermos. — Observar a condição do paciente…
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