No dia seguinte, a batalha entre Zeta e Delta era o único assunto no campus.
— Aparentemente, detectaram uma magia sinistra atrás dos dormitórios ontem à noite — comentou Po.
— É, eu ouvi falar — concordou Skel. — Eu estava dormindo, então não sei de nada.
— Eu também estava no quinto sono, não vi nada.
Os dois franziram a testa.
— Estão periciando a cena agora, né? — Skel perguntou a Po.
— É o que dizem. Alguns professores foram ajudar.
— Se foi atrás dos dormitórios, aposto qualquer coisa que tentaram invadir o das garotas. Com certeza é obra de um pervertido.
— Não, não, dizem que a magia estava atrás do dormitório dos rapazes.
— Ué. Então deviam estar tentando invadir o nosso dormitório.
— Mas atrás do quê?
Skel abriu um sorriso malicioso.
— Do meu corpinho sarado, óbvio.
— Ah, claro. — O sorriso de Po era igualmente vulgar. — E do meu também.
— Faz sentido — concordei, com a serenidade de um Buda.
Tirando esses dois idiotas, a maioria dos estudantes estava levando o incidente a sério. As teorias eram as mais diversas: alguns achavam que o culpado guardava rancor da escola, outros que tentava roubar algum artefato valioso dos laboratórios, e havia ainda quem suspeitasse de uma ligação com os misteriosos desaparecimentos.
Sinto informar, pessoal, mas foi só uma briga de gato e cachorro. Ainda assim, confesso que adoro essa atmosfera de “uma grande conspiração se desenrola nos bastidores de nossas vidas escolares pacatas” que se instalou.
— Nossa próxima aula é no anfiteatro, é melhor a gente ir andando — avisei a Skel e Po.
— Caramba, Cid — disse Skel. — Que audácia a sua dispensar um garanhão como eu.
— É, espera aí — emendou Po. — Este garanhão aqui ainda está se arrumando.
Deixei os dois para trás e segui meu caminho.
Tenho que admitir, a decisão de última hora de bancar a Eminência nas Sombras para a Alexia ontem à noite foi genial. Eu ali, lamentando o rumo das coisas enquanto batalhas sangrentas aconteciam em segredo no campus aparentemente tranquilo. A forma como usei minhas habilidades de improviso, aproveitando a briga de Zeta e Delta para dar um toque de realismo à minha performance? Pura arte. E depois, a parte em que exibi minha força para sugerir que vivíamos em mundos diferentes. Insinuar que pessoas normais não têm lugar em batalhas do submundo é um clichê, mas os clássicos são clássicos por um motivo.
Cada vez que me lembro, não consigo evitar um sorriso.
Pouco a pouco, estou gravando minha imagem do perfeito manipulador das sombras nos anais da história deste mundo.
— Mestre.
Sinto como se tivesse ouvido a voz de Zeta. Devo estar imaginando coisas.
— Mestre, aqui.
— Ah, olá.
Acho que não estava imaginando, afinal.
Uma garota com uniforme de zeladora me agarra pela gola. É Zeta. Por alguma razão, ela usa um gorro de lã com suas roupas de trabalho para esconder as orelhas de gato.
— Que roupa é essa? — perguntei.
— É um disfarce. Estou infiltrada — respondeu ela, sucinta, enquanto se esfregava em mim.
— Pare de me marcar com seu cheiro. Vai chamar atenção.
O corredor está cheio de outros estudantes.
— Você está com cheiro de cachorro, Mestre.
— Bem, se continuar assim, vou ficar com cheiro de gato.
— Mrrn…
Eu a afasto.
— A propósito, onde está a Delta?
— Despistei. Ela está atravessando o mar agora.
— Sabe de uma coisa? Nem vou perguntar.
Se Zeta se empenha, é quase impossível pegá-la. É por isso que ela consegue brigar com Delta daquele jeito.
— Hmm. Por aqui.
Zeta me puxa pela mão até uma sala de aula vazia. Pelo frio e pela poeira, deduzo que não é usada há muito tempo.
— Só para avisar, minha próxima aula já vai começar — digo a ela.
Ela se aproxima e sussurra no meu ouvido:
— Tenho um relatório.
Acho que ela quer continuar brincando de espiã.
— O ataque contra ela falhou.
— Imaginei.
— Mas ela ainda está do outro lado.
— Entendo.
— O Culto vai enviar outro assassino.
Zeta vai até a janela e observa a paisagem. Eu me junto a ela, olhando para fora também, para criar um clima. Ao longe, vejo os professores e a Ordem dos Cavaleiros investigando a cena da briga da noite anterior.
Zeta fixa seu olhar violeta neles. Eu a imito, encarando-os também.
— Provavelmente será você-sabe-quem. — Ela diz.
— Você-sabe-quem, hein?
— Eu intervenho se as coisas ficarem feias.
— Deixo essa decisão com você.
De repente, Zeta se abaixa. Eu a sigo e me abaixo também.
— Estão nos sondando. — Ela diz.
— Parece que alguém por lá tem bons instintos.
— Mm. Mantenha-se nas sombras.
Dou uma espiada para fora e, por um instante, sinto um olhar distante.
— O que será que estão procurando? — O sinal toca. — Opa, preciso ir.
Quando me viro, Zeta já desapareceu.
É hora do almoço. Eu, Skel e Po estamos na fila da cantina.
— Humm, o que será que eu peço…? — pondero em voz alta.
— Deve ser ótimo, Cid, esbanjando o dinheiro que você roubou da gente.
— Pois é. Skel e eu mal conseguimos pagar a refeição de novecentos e oitenta zeni para aristocratas falidos.
— “Roubou” é uma palavra muito forte. Aquele dinheiro foi meu prêmio legítimo.
Dito isso, estou guardando o dinheiro que arranquei desses dois para minhas atividades de Eminência nas Sombras. Se eu gastar agora, pode faltar quando realmente importar, e sou o tipo de pessoa que sempre mantém as prioridades em ordem.
Decido pegar minha refeição de sempre: o prato de novecentos e oitenta zeni para aristocratas falidos. Um zeni economizado é um zeni ganho.
— Há quanto tempo, Moleque.
De repente, ouço uma voz atrás de mim. Só uma pessoa no mundo me chama de “moleque”.
— E aí, Nina.
Seu cabelo cor de vinho está sedoso como sempre. O jeito que ela usa o uniforme deixa uma parte generosa do peito à mostra, e suas pernas finas e esguias se destacam na saia curta. Nada em seu estilo é sutil.
Esta é Nina, minha veterana do terceiro ano.
— Onde você se meteu nas férias de inverno, hein? — Ela pergunta. — A Claire estava te procurando. E me arrastou junto, foi um porre.
— Ah, por aí.
— Por aí, é?
Nina se enfia na minha frente. Ela é baixinha, sua cabeça mal chega ao meu colarinho.
— Ei, sem furar fila.
Tento empurrá-la com o cotovelo, mas ela se esquiva com agilidade.
— Vai de refeição de novecentos e oitenta zeni para pobretões, Moleque? Parece que alguém está apertado.
— Tenho grandes planos, então estou economizando. Não que eu esteja quebrado.
— Ah, claro que não. Pode pedir o que quiser. É por minha conta.
— Então vou querer o prato mais caro.
— Combinado. — Ela se vira e pede a refeição mais cara da cantina. — Dois pratos super-hiper-mega-ricos de dez mil zeni, por favor.
Nina é amiga da minha irmã, talvez por isso seja sempre tão legal comigo. Sempre que peço algo, ela nunca me decepciona. Uma vez, até brinquei que queria ler um livro proibido da biblioteca, e ela foi lá e conseguiu para mim. Não faço ideia de como, mas o fato é que ela me ajuda constantemente. Conhecer Nina foi a primeira vez que me senti feliz por ser irmão da minha irmã.
— V-você devia pagar para mim também!
— P-para mim também!
Mesmo intimidados pela presença de Nina, Skel e Po nunca perdem a chance de pedir um agrado.
— Eu não dei aquele baralho para vocês?
— É-é-é verdade!
— O-obrigado pelas cartas!
— De nada. Fiquei com pena depois que a Claire pegou no pé de vocês.
Ah, então foi isso.
Graças à influência de Nina, conseguimos uma das melhores mesas, perto da janela.
— Sente-se.
— Sim, senhora.
Sento-me ao lado de Nina e começo a atacar meu prato super-hiper-mega-rico. Do outro lado, Skel e Po comem nervosamente seus pratos de aristocratas falidos.
O prato super-hiper-mega-rico começa com uma entrada, servida com maestria por uma criada.
— Então, a Claire sumiu? — Nina pergunta, comendo seu carpaccio.
— Parece que sim — respondo, fazendo o mesmo. Não sei que peixe é este, mas é uma delícia.
— A Princesa Alexia me perguntou se eu sabia de algo, mas aquele dia foi normal para mim, não tinha nada para contar. E você, Moleque?
— A mesma coisa. A Alexia está mesmo se empenhando nessa busca, hein?
— Acho que algo a está preocupando. Alguns outros estudantes sumiram também, então estou meio preocupada.
— É, e teve toda aquela confusão ontem à noite.
— Aquilo atrás do dormitório dos rapazes? Sim, sinistro.
— Com certeza.
— Falando nisso, vi a Ordem Carmesim investigando a cena. Ouvi dizer que estão recrutando, mas os novatos são tão ruins quanto o esperado.
— Caramba, você sabe de tudo.
Ela pisca para mim, orgulhosa.
— Pode-se dizer que sim.
— Pretende entrar para a Ordem dos Cavaleiros quando se formar?
— Ah, não sei. Minhas notas não chegam nem perto das da Claire.
— Sério?
— Por que a surpresa? Todo mundo sabe que minhas notas são péssimas.
— Ah. Eu sempre achei que você fosse a melhor da turma.
— Ha-ha-ha. Essa seria a Claire, provavelmente. Ela tem tirado notas excelentes ultimamente. Eu sou só uma aluna mediana.
— Se você diz.
Nina leva uma colher de sopa à boca pequena, despreocupada.
Só de olhar, tenho certeza de que Nina é mais forte que minha irmã, mas cada um tem seus motivos para esconder a verdadeira força. Nina é uma mulher cheia de mistérios.
— Te aviso se souber de algo sobre a Claire — diz ela. — Você deve estar preocupado.
— Devo? Nem tanto… Quer dizer, sim, estou morrendo de preocupação.
— Você nunca muda. Mas, sendo a Claire, ela provavelmente está bem. Se precisar de ajuda, sabe onde me encontrar. — Nina me lança um sorriso adorável.
Enquanto isso, Skel e Po comem em silêncio seus pratos de aristocratas falidos.
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— Será que não dá mesmo para sair daqui?
Claire suspira na sala de aula da academia. O ambiente está envolto em névoa branca, e não há mais ninguém ali.
— Só mais um pouco.
— Você vive dizendo isso.
— Sim, porque continua sendo só mais um pouco. Estou tentando alargar a fenda, mas você tem tão pouca mana que está demorando uma eternidade.
— Ah, me desculpe. Desculpe por ter tão pouca mana. Saiba que eu tenho mais mana que quase todo mundo na escola.
— Peixe pequeno, lago pequeno.
— Juro, parece que você faz de tudo para me ofender.
— Opa, falei em voz alta?
— E o que você quis dizer com “fenda”?
— Existe uma fenda pela qual você pode passar para voltar ao seu mundo original.
— Meu mundo original? E que mundo é este?
— Ah, uma dama nunca revela seus segredos.
Claire solta outro suspiro. Há tanta coisa que ela não entende que nem sabe por onde começar.
Ela se senta em uma carteira. No momento em que vai cruzar as pernas, sente que algo está errado.
— Hã?
Algo está tocando sua perna.
Olhando mais de perto, ela descobre um braço humano translúcido.
Está coberto de sangue e agarrado a ela.
— O-o que é essa coisa?!
Ela se levanta de um salto, chuta o braço com força e recua.
Enquanto o braço voa, o resto do corpo de um humano ensanguentado surge preso a ele. Sua pele é pálida, seus olhos, fundos, e há um ferimento enorme em seu peito. É óbvio que ele não está vivo.
— Cuidado. É um espírito.
— Um o quê?
— Um herói do passado, acorrentado a esta terra. Estão presos por magia profana e condenados a vagar pela eternidade. Vá em frente e ponha um fim ao sofrimento dele.
— Ok, mas… como exatamente eu faço isso?
— Ah, bater neles deve resolver.
— Hrah!
Quando o espírito tenta se levantar, Claire o atinge com um soco carregado de mana. O espírito explode e se desfaz no ar.
— Que sensação nojenta.
— Se espíritos estão aparecendo, o selo deve estar enfraquecendo… Isso pode ser ruim.
— Que selo?
— Não ligue para mim. Só pensando alto. Ah, que droga. Preciso garantir que ela não me ouça. Pelo visto, o que lhe falta em mana, ela compensa em audição.
— Eu ainda consigo te ouvir, sabia?
A partir daí, Aurora se cala.
Outro espírito aparece, e Claire o chuta para longe.
— É péssimo não ter uma espada.
Infelizmente, ela deixou sua espada do outro lado.
Espíritos continuam a surgir de tempos em tempos, e Claire os despacha enquanto espera Aurora terminar seu trabalho. Eles aparecem com mais frequência agora, e a névoa está mais densa.
— Já está quase terminando, Aurora?
— Só mais um pouquinho.
— É sério desta vez?
— É sério. Mas, infelizmente… temos companhia.
— Hã?
Sentindo alguém atrás dela, Claire se vira. Um homem de manto preto está parado ali, sabe-se lá desde quando. Seu rosto está oculto por uma máscara escura.
— Quando foi que ele…?
Claire assume uma postura de combate, mas sem sua espada, parece um pouco desajeitada.
Em contraste, o homem de manto tem uma espada, e a empunha com maestria antes de avançar sobre Claire em um piscar de olhos.
— Como ele é tão rápido?!
Claire se esquiva do primeiro golpe por um triz, depois recua para se distanciar. No entanto, o homem de manto não tem intenção de deixá-la escapar. Ele a circula e a ataca com a espada.
— Argh!
Claire é arremessada, mas consegue se levantar, cambaleando. Foi um golpe forte, desferido com o lado chato da lâmina, mas ela ainda não está fora de combate. O homem não parece querer matá-la; seu plano deve ser capturá-la.
A voz de Aurora ecoa em sua mente.
— Parece que você não é páreo para ele.
— Cala a boca, tá? Caso não tenha notado, estou meio ocupada aqui.
— Sim, ocupada… em perder.
— Ah, cale a boca! Se eu tivesse uma espada…
— Não faria a menor diferença.
— Eu disse para calar a boca!
— Lá vem ele.
O homem de manto corre em direção a Claire.
— Vou te emprestar minha força.
— …Hã?
Acontece num piscar de olhos. O homem está bem na sua frente, pronto para atacar, quando, de repente, um tentáculo vermelho o repele com um golpe. O tentáculo sai do pé de Claire e ondula como se tivesse vida própria.
— O-o que é essa coisa?
— Sangue.
— Sangue?!
— Se você se esforçar, também conseguirá usar essa técnica. Afinal, você é…
— Eu sou o quê?
— …Não é nada. A luta ainda não acabou.
Claire ergue o olhar e vê o homem de manto parado à sua frente. Sangue escorre por sua bochecha, e sua máscara escura caiu.
— Eu te conheço… Você é da Ordem dos Cavaleiros.
Claire o viu durante seu estágio lá.
O homem sorri e faz uma reverência.
— Nos encontramos de novo, Claire.
— Você é o Visconde Jean, capitão da quarta companhia da terceira Ordem dos Cavaleiros.
— Aquilo era apenas um disfarce. Sou uma Criança Nomeada: Jean, o Sorriso Maligno.
Que nome ridículo, pensa Claire. Mas decide não dizer isso em voz alta.
— Não sei o que é uma Criança Nomeada, mas não te imaginava como o tipo de cara que faz bicos suspeitos.
— Nem eu imaginei que você tivesse tanto poder. Fascinante… Não encontramos nada parecido da última vez que te analisamos.
— Desculpe, da última vez que me o quê?
— Nada com que precise se preocupar. De qualquer forma, parece que teremos que refazer aqueles testes.
Com isso, ele prepara sua espada.
O tentáculo vermelho de Claire também tenta se preparar para a batalha, mas, por algum motivo, amolece e se dissolve.
— Isso é ruim, Claire.
— Hmm?
— Você está sem mana.
O lábio de Claire se contrai.
— Sua coisinha inútil…
Fazendo jus ao seu nome, um sorriso maligno se espalha pelo rosto do Sorriso Maligno.
— Que sorte a minha. Vou levar um presente para o chefão.
Kshhh.
De repente, um som de vidro se quebrando ecoa, e um pedaço do mundo de névoa branca se estilhaça.
— Hã?!
Uma figura cai da fenda.
A recém-chegada é uma bela teriantropa com cauda e orelhas douradas, vestida com um macacão preto. Assim que ela aterrissa na frente de Claire, uma estranha névoa negra desvia a espada do Sorriso Maligno.
— Argh!
O Sorriso Maligno é arremessado com uma força incrível.
Pareceu apenas um toque leve. Como um golpe tão sutil pôde carregar tanta força?
A garota teriantropa, envolta em névoa negra, permanece em silêncio. Seus olhos são frios e calmos.
— Quem é você…? — pergunta Claire.
— Zeta — responde a garota, friamente.
Claire ouve a voz de Aurora em sua cabeça.
— Afaste-se, Claire. Não consigo avaliar os limites da força dessa garota.
Há uma rara tensão na voz de Aurora, o que surpreende Claire. Ela dá um passo para trás e pergunta a Zeta:
— Estaria certo supor que você acabou de me salvar?
— Não posso deixar o Culto te pegar. Pelo menos, não agora.
— Hã?
A névoa negra tremeu e, num piscar de olhos, Zeta está atrás dela.
— Tchauzinho.
Depois de agarrar Claire pelo colarinho, Zeta a arremessa através da fenda.
— Espere aí! O que você pensa que está fazeeeeendo?!
O grito de Claire se distancia enquanto ela é engolida pela fenda e desaparece.
Agora, Zeta e Jean, o Sorriso Maligno, estão sozinhos no mundo de névoa branca.
— Tch… Como ousa atrapalhar? — diz o Sorriso Maligno, encarando Zeta.
— Mm. Prazer em conhecê-lo.
— Suponho que não deveria me surpreender com a aparição do Jardim das Sombras.
Com isso, Sorriso Maligno ergue a espada.
Enquanto mede cuidadosamente a distância entre eles, ele percebe que Zeta o encara com tédio.
— Você parece bem confiante — diz ele. — É algum peixe grande do Jardim das Sombras?
— Você descobriu?
Zeta ignora completamente sua pergunta. A confiança absoluta em suas habilidades lhe permite fazer coisas assim.
— Descobrir o quê?
— O segredo dela.
— Você quer dizer aquele poder que ela tem? E quanto a…?!
Antes mesmo que ele termine a frase, a mana de Zeta explode.
Os joelhos do Sorriso Maligno tremem, e a força avassaladora da mana ameaça esmagá-lo.
— M-mas o quê…? De onde vem toda essa mana? Como você a estava escondendo?
— Se você não tivesse descoberto, eu poderia tê-lo deixado viver.
— O-o que é você?
— Mas você sabe. Então, adeus.
— O que está acontecendo…? GAHHHHHHHH?!
De repente, o Sorriso Maligno derrama uma lágrima negra. Então, uma névoa negra irrompe de todos os seus poros, e seu corpo explode em mil pedaços.
Zeta lança um olhar para o cadáver.
— Mm. Essa nova técnica não é ruim.
Em seguida, ela se dirige à sala vazia.
— Terminado.
Como em resposta, uma garota surge da fenda. Esta também usa um macacão preto, mas seu cabelo é loiro-morango. É Victoria.
Ela se ajoelha diante de Zeta.
— Entendido, senhora.
— Confirmei que Aurora está dentro de Claire.
— Então era como suspeitávamos…
— Mm. Está tudo conectado. Foi por isso que o Mestre fez o que fez…
— O Culto já percebeu?
— Ainda não.
— O que faremos, então?
— Mudar para o plano C.
— Claire será a chave da nossa estratégia. No entanto, é a que leva ao resultado mais desejável.
— O Mestre disse para eu fixar meu olhar no futuro.
— Então esta é a vontade do Mestre Shadow… — Victoria junta as mãos em oração.
— Ela também precisa saber — ordena Zeta. — Diga a ela que o plano mudou.
Com isso, ela se transforma em névoa negra e desaparece. Victoria a observa partir com um leve sorriso.
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O único som na sala de aula é o de canetas deslizando sobre o papel.
Eu franzo a testa e encaro a prova.
— …Bem, não sei a resposta.
As provas finais estão chegando, então temos tido mais testes surpresa ultimamente. A única punição por reprovar é uma lição de casa extra, mas essas lições são um trabalho enorme e um verdadeiro pé no saco. Os professores estão desesperados para nivelar até os mais completos idiotas.
Pessoalmente, eu tenho mantido minha fachada de personagem secundário passando raspando em cada teste. Colando, claro. Agora, porém, minha dependência excessiva da cola está finalmente me alcançando.
O problema é que Isaac faltou.
Isaac não só é o melhor aluno da turma, como também se senta no ângulo perfeito para eu ver sua prova. É como se ele tivesse nascido para que eu pudesse colar dele. Graças a ele, consegui ajustar minhas notas nos testes com uma precisão quase sobre-humana.
Mas hoje, ele faltou!
Agora estou correndo o risco real de reprovar.
— Argh…
Quando se está colando, é crucial escolher a pessoa certa. De nada adianta espiar uma folha de respostas se quem está escrevendo nela for um idiota.
Olho para a direita e vejo Skel olhando ao redor, desconfiado.
Inútil.
Olho para a esquerda e vejo Po olhando para debaixo da carteira em um ângulo suspeito.
Também inútil.
Neste ponto, a única pessoa em quem posso confiar… é Christina, a filha do duque, que se senta na diagonal à minha frente. Ela é uma das cinco melhores alunas da turma, mas há um grande problema: do meu ângulo, mais da metade de sua folha de respostas está obscurecida.
Já copiei as partes que consigo ver, mas isso não chega a quarenta pontos de cem. Preciso de sessenta para não reprovar, e isso não vai dar.
Será que devo ocultar minha presença e me esgueirar para um lugar com melhor visão para copiar?
O problema é que ocultar minha presença não faz meu corpo físico desaparecer. Se eu começar a andar por aí sem cobertura, as pessoas vão me ver. E com tantos olhos na sala, serei pego na certa.
Diante disso, minha única opção parece ser me mover tão rápido que ninguém me veja. É uma possibilidade. Se eu me soltar de verdade, me mover assim é moleza.
No entanto, há uma falha gritante nesse plano.
Se eu me mover mais rápido do que o olho nu pode ver, a pressão do vento vai literalmente entregar meu disfarce. Posso acabar fazendo a prova voar. Caramba, posso acabar fazendo a Christina voar. Isso seria um desastre completo.
Em outras palavras, preciso me mover de forma sutil o suficiente para não gerar vento, mas rápido o suficiente para que ninguém me veja. Quem diria que uma simples prova surpresa exigiria um nível tão preciso de habilidade técnica?
Será que vou conseguir?
Eu treinei muito para me mover rápido. Mas nunca treinei para me mover rápido sem criar pressão de vento.
Dito isso, a lição de casa extra me levaria dois dias inteiros para terminar.
— …Quem não arrisca, não petisca.
Desistir agora seria manchar meu nome como personagem secundário.
Começo a moldar uma magia tão sutil que ninguém a notará. Certo, vamos lá. De primeira.
No exato momento em que faço isso…
— Ei, você aí! O que pensa que está fazendo?!
— ?!
Fui pego?!
Eu congelo, chocado, e minha magia se dissipa.
No entanto, o professor não está olhando para mim. Ele está olhando para a carteira ao meu lado.
— Skel Etal!! Você está colando!
Skel treme, pálido.
— E-eu não estava olhando para nada!! Juro que não estava olhando as respostas da Christina!!
— Ah, que gentileza sua admitir exatamente o que fez. Eu estive de olho em você, sabia? Saia da minha sala. Você acabou de ganhar duas lições de casa extras.
— M-mas isso não é justo…
Skel sai da sala parecendo um fantasma. Christina o observa partir com uma expressão de total desprezo.
C-certo, Cid, recomponha-se.
Eu moldo minha magia o mais sutilmente possível e, no momento em que o faço…
— Ei, você aí! O que pensa que está fazendo?!
De novo?!
Levanto o olhar, alarmado, mas o professor ainda não está me encarando. Mais uma vez, seus olhos estão na carteira ao meu lado.
— Po Tato!! O que você está olhando debaixo da sua carteira?!
Po começa a suar em bicas.
— E-e-eu não estava olhando para nada!! Juro que não estava olhando para a cola debaixo da minha carteira!!
— Bem, pelo menos você está sendo honesto. Saia da minha sala. Você acabou de ganhar três lições de casa extras.
— A-aumentou o número…
Po sai da sala, cambaleando.
— O próximo que eu pegar colando vai para casa com quatro lições de casa extras. — Os olhos do professor brilham.
Droga, Skel e Po, por que vocês tinham que fazer essa bagunça? Graças a esses dois idiotas, o risco aumentou muito, e nosso professor está em alerta máximo.
Mas isso não vai me parar.
— Render-se não é uma opção.
Eu moldo minha mana.
O tempo parece desacelerar.
Aqui e agora, talvez eu consiga. Esta é uma mítica Técnica Oculta de Zé Ninguém, projetada especificamente para colar – e é a minha quadragésima nona!!
— Contemplem…
Então, no exato momento em que concentro cada fibra do meu ser, eu ouço. Um baque surdo, como se algo tivesse caído do céu.
— …
Quando coisas sem a menor lógica acontecem, as pessoas costumam ficar sem palavras. Não faço ideia de por que Claire acabou de cair em cima do nosso professor, mas toda a classe agora a encara, boquiaberta. Nem eu sabia que ela planejava ir tão longe. E pensar que era isso que ela estava prenunciando quando decidiu desaparecer…
— Como assim você não pode deixar que me “tenham”?! — Claire pisa no nosso professor enquanto se levanta e grita para o nada. — Responda! Eu tenho poderes especiais, e eu não…!
Nesse ponto, ela dá uma rápida olhada ao redor da sala. Sua expressão se enrijece.
— Você está na sala errada, Claire Kagenou. — Nosso professor esmagado geme de dor.
— Ah, bem, isso é, uh… Heh. — Claire fica vermelha como um tomate. Não sei dizer se ela está sorrindo ou se seu rosto está apenas se contraindo. — E-eu já vou indo! Desculpe por isso!!
Com uma rápida reverência, ela dá meia-volta e sai correndo. Parece que alguém vai se encrencar mais tarde.
Ela cai do céu, fala sozinha, declara que tem poderes especiais… Seus sintomas estão progredindo mais rápido do que eu esperava.
Mas, só desta vez, eles me salvaram.
— Obrigado por distrair todo mundo, Mana.
Com um sorriso, preencho os espaços em branco na minha prova.
Claire sai da sala da coordenação e solta um pequeno suspiro.
— Bem, isso foi horrível.
O diretor a repreendeu por quase uma hora, e a luz que entra pelo corredor já assume tons avermelhados.
Ao longe, ela ouve a conversa de outros estudantes. Seus passos ecoam pelo corredor vazio.
— De todas as turmas, tinha que ser logo a do Cid? Não sei como vou conseguir encará-lo amanhã. — Ela cora e se vira para o vazio. — E a culpa é toda sua.
— Nossa, que grosseria. Não foi minha culpa de jeito nenhum.
— Então me explique o que aconteceu. Ninguém vai acreditar se eu disser que fui atacada por gente estranha em um lugar esquisito e acabei caindo em cima de um professor. Achei que iam me mandar para um hospício.
— É melhor você não saber. Depois que souber, não tem volta.
— Ah, por favor. Não posso ficar no escuro, não depois do que aconteceu. Estou furiosa.
— …Não. Não posso te colocar em perigo.
— Eu diria que já estou em perigo. Além disso, se você não me contar o que está acontecendo, vou descobrir sozinha. Me recuso a deixar as coisas terminarem assim.
— Você está perdendo seu tempo.
— Veremos… Aurora, a Bruxa da Calamidade.
— Onde… onde você aprendeu esse nome…?
— Eu pesquisei, foi o que eu…
Claire para no meio da frase. Ela pensava que o corredor estava vazio, mas, em algum momento, uma garota de cabelos prateados apareceu.
— Peço desculpas por interromper seu solilóquio, Claire Kagenou. Há algo que quero conversar com você.
A garota encara Claire, seu olhar vermelho queimando de interesse. É Alexia Midgar, uma das princesas do Reino de Midgar.
A expressão de Claire endurece.
— Eu não estava falando sozinha.
Alexia faz uma cena, inspecionando o corredor.
— Bem, eu certamente não vejo mais ninguém por aqui.
A expressão de Claire endurece ainda mais.
— Você e eu não somos amigas, Princesa. Não tenho nada para falar com você.
— Percebo que você não é minha fã. O que é estranho, considerando que, até onde sei, nunca conversamos antes.
— E não vamos, sua rameira real, não depois do jeito que você iludiu o Cid.
Os olhos de Claire estão cheios de fúria. Alexia quase sente o olhar dela queimando-a.
— O quê? — Ela grita. Seu olhar vagueia, um toque de pânico em seu rosto. — Há todo um contexto que você não está entendendo! Eu nunca tentei iludi-lo!
— Ah, é mesmo? Você mal consegue dizer isso com uma cara séria. Sinto cheiro de mentira.
— Com licença! Que grosseria! Não sou mentirosa! E que atitude é essa?! Você é irmã dele, então achei que poderia ao menos tentar ser legal com você.
— E aí está. Mentirosa e falsa.
Claire praticamente cospe as palavras, e Alexia estala a língua.
— Vocês são mesmo irmãos, não são? Idênticos, na falta de respeito.
— Espera, você acha que Cid e eu somos parecidos?
— F-foi o que eu disse. Pelo menos na falta de respeito…
— Ohhh, então você acha que somos parecidos… Hee-hee. — O rosto de Claire se ilumina.
— Mas o que isso importa?
— Uau, acho que você realmente tem bom gosto para pessoas!
— Uh…
Claire passa o braço pelo ombro de Alexia, que não faz a menor ideia de como reagir.
— Então, você disse que queria falar comigo?
— Bem… sim…
— Você me pegou em um momento corrido, mas tudo bem. Acho que posso arranjar um tempo para você.
— …Obrigada?
— A propósito, de que outras formas você diria que o Cid e eu somos parecidos?
— E-eu não sei, a cor do cabelo?
Com o braço de Claire ainda sobre o ombro de Alexia, as duas caminham pelo corredor crepuscular.
— Que lugar é este? — Claire pergunta.
— Um salão especial, acessível apenas à elite — responde Alexia, acendendo as luzes do cômodo extravagante.
— Então o que estamos fazendo aqui?
— Eu sou uma princesa, sabe.
— Ah, é verdade.
Você realmente esqueceu?, Alexia se pergunta.
— Sente-se.
— Uau, que confortável. E o bordado é lindo. Que enorme desperdício dos nossos impostos.
— Diga-me, as pessoas costumam te dizer que você não sabe a hora de calar a boca?
— Não que eu me lembre.
Alexia e Claire se sentam em sofás grandes e fofos, conversando. São as únicas na sala.
Alexia observa a garota à sua frente.
Claire tem cabelos pretos e olhos vermelhos, e é excelente tanto nos estudos quanto como cavaleira das trevas. Sua ascensão meteórica em força virou assunto na cidade, e ela já recebeu uma oferta informal para a Ordem dos Cavaleiros.
Na opinião de Alexia, Claire e seu irmão não têm absolutamente nada em comum – exceto pela falta de respeito.
— Por que você está me olhando com essa cara séria? — Claire pergunta.
— Porque precisamos ter uma conversa séria.
— Com certeza. Não vou deixar você ficar com o Cid.
— E-eu não o quero! — A voz de Alexia sai esganiçada, e ela disfarça com uma tosse. — É sobre você ter caído em cima daquele professor no meio da aula.
— E o que, quer me dar um sermão?
— Só quero que me conte o que aconteceu.
— Usei minha mana para pular de fora da sala e atacá-lo. — Claire responde, monótona. — Acho que pirei um pouco com o estresse. Não entendi direito, mas com certeza foi isso. Me arrependo e não farei de novo.
— Não estou perguntando sobre sua desculpa esfarrapada.
— Bem, foi exatamente isso que escrevi na minha carta de desculpas.
— Mas não é a verdade, é?
— Como assim?
— Eu sei que você tem pesquisado sobre o demônio Diablos.
Com isso, Alexia joga sobre a mesa os papéis que pegou no quarto de Claire.
— Espera, por que você está com as minhas…?
— Percebo que sua motivação vai além da simples curiosidade.
A expressão de Claire fica séria.
— O que você quer saber?
— Tudo. Estou tentando entender o que está acontecendo nesta academia.
— …E você não vai zombar de mim?
— Não vou. De jeito nenhum.
— Você jura?
— Juro.
Claire se cala e desvia o olhar. Agora, encara intensamente um ponto no vazio. Pelo seu olhar, parece que alguém está falando com ela.
Finalmente, Claire balança a cabeça.
— Desculpe, Aurora.
— Hã?
Sem entender a resposta desconexa, Alexia inclina a cabeça. Mas Claire não está falando com ela. Continua encarando o nada.
— Cheguei ao meu limite. Não entendo o que está acontecendo, e isso me assusta… — Os ombros de Claire tremem levemente.
Então ela se vira para Alexia e sorri.
— Desculpe, pode ignorar tudo isso.
— …Você está bem?
— Nada está bem… E é por isso que vou te contar tudo. Vai parecer loucura, então acredite se quiser.
— Eu acredito em você. — Para Alexia, não há sinal de que Claire esteja mentindo.
— Sério? Então é melhor eu começar apresentando ela.
— Quem?
— O nome dela é Aurora. Um espírito conhecido como a Bruxa da Calamidade. Pode cumprimentá-la.
Claire aponta para o lado. Não há ninguém lá. Alexia aperta os olhos, os esfrega, mas ainda assim, nada.
— Então, eu a conheci quando…
Assim que Claire começa a contar sua história como se realmente houvesse alguém ali, Alexia começa a se arrepender de ter dito que acreditaria nela.
— …E agora estou aqui.
Quando Claire termina sua história, o sol já se pôs.
Enquanto a lareira crepita, Alexia toma um gole de café.
— Acho que entendi o quadro geral.
— E você acredita em mim?
— Acredito. Parece absurdo à primeira vista, mas tudo se encaixa.
— Se encaixa?
— Isso mesmo, está tudo conectado. O Jardim da Sombras, o Culto de Diablos, as coisas estranhas acontecendo na escola… tudo. A parte sobre o espírito ainda é um pouco difícil de engolir, mas ainda assim.
— A-Aurora existe! Sim! Ela está sentada bem ali, rindo enquanto conversamos!
Alexia lança um olhar para o sofá vazio.
— Vamos deixar a questão do espírito de lado por enquanto.
— Estou te dizendo, ela é real!
— No entanto, reconheço o nome. Aurora, a Bruxa da Calamidade… Um membro da liderança do Culto a mencionou.
— Existe alguma ligação entre Aurora e o Culto?
— Não sei. Tentei pesquisar por conta própria, mas não há muitos documentos sobre a Bruxa da Calamidade. A única coisa que descobri é que ela causou um desastre enorme uma vez.
Claire se vira para o espírito.
— Você causou um desastre enorme, Aurora?
Realmente parece que ela está conversando com alguém.
— Ah, então foi isso. Aurora diz que foi ela quem exterminou os Orcs-Porcos. Diz que simplesmente não suportava a aparência deles.
— …Acho que não foi desse desastre que estavam falando.
— Não foi? …Ah, entendo. Aurora diz que também foi ela quem rabiscou no escudo sagrado Aegis. Aparentemente, ela não sabia o quão famoso ele era quando o fez.
— Esse com certeza não é o desastre certo! Além disso, Aegis desapareceu, e ninguém conseguiu encontrá-lo.
— Não é isso também? Nesse caso…
— Vamos deixar isso para depois, que tal? Já passou da hora de avançarmos nesta discussão!
— Mas a Aurora diz que tem mais coisas das quais quer se gabar.
— Não me importo! Precisamos voltar ao assunto! — Alexia pigarreia. — A primeira coisa a descobrir é o que exatamente está acontecendo aqui na academia.
A expressão de Claire se torna séria.
— Concordo.
— Agora, sobre aquele espaço estranho em que você ficou presa, eu passei por algo semelhante uma vez. Foi em um lugar chamado o Santuário…
Alexia passa a explicar o que aconteceu no Santuário.
— Isso soa familiar — diz Claire.
— Então, um fenômeno semelhante ao do Santuário está ocorrendo aqui no campus. E temos aquele cara, o Sorriso Maligno, que você enfrentou. Provavelmente, ele trabalhava para o Culto de Diablos.
— Aquele era o Visconde Jean, capitão da quarta companhia da terceira Ordem dos Cavaleiros.
— Eu temia que fosse o caso, mas parece que o Culto tem gente infiltrada na Ordem dos Cavaleiros. Não podemos confiar neles.
— E a Princesa Iris? Certamente podemos confiar na Ordem Carmesim.
— Minha irmã está… ocupada no momento. De qualquer forma, está claro que o Culto está sequestrando estudantes para executar algum plano diabólico.
— Que tipo de plano, afinal?
— Há um espaço semelhante ao Santuário aqui na Academia Midgar, então não me surpreenderia se um pedaço do demônio Diablos estivesse selado aqui, como estava lá.
— Agora que você mencionou, ouvi rumores de que o braço direito de Diablos está trancado em algum lugar na academia… Mas são só rumores, certo?
Alexia balança a cabeça.
— Eu não teria tanta certeza.
— Espera, é sério?
— Não tenho provas concretas, mas… há um livro proibido na biblioteca da escola que detalha a história da academia. Se alguém selou o braço direito de Diablos aqui, teria que estar registrado nesse livro.
— Você pode usar sua autoridade real para nos dar acesso à seção de livros proibidos?
— Levaria uma eternidade para passar por toda a burocracia.
— O que faremos, então?
Alexia sorri.
— Invadimos, oras.
— Vamos nos dar muito mal se nos pegarem.
— Então não seremos pegas. Não podemos confiar na Ordem dos Cavaleiros, nem nos professores… Cabe a nós desvendarmos o caso.
— Se nos descobrirem, acho que posso dar adeus à minha oferta de emprego informal.
— Eu mesma te contrato. Se tem uma coisa em que sou boa, é em jogar dinheiro nas pessoas.
— Você precisa mesmo jogar?
— É importante mostrar quem manda.
— …Aham.
— De qualquer forma, vamos fazer isso. O Culto de Diablos e o Jardim das Sombras estão agindo e se mobilizando enquanto conversamos. Se as coisas continuarem assim, o número de vítimas só vai aumentar.
Após ouvir o discurso de Alexia, Claire baixa a cabeça e mergulha em pensamentos. Então, lentamente, ela sugere:
— E se simplesmente deixássemos tudo para o Jardim das Sombras?
Alexia fica tão surpresa que por um momento fica sem fala.
— …Há muita coisa que não sabemos sobre eles. Nem mesmo sabemos por que estão lutando contra o Culto. Não estou disposta a depositar uma fé tão incondicional neles.
— Tem certeza? Pelo que sei, eles também me salvaram na Cidade Sem Lei.
— Mesmo assim, eles são perigosos. Quando imagino o que aconteceria caso voltassem sua força massiva contra Midgar, me faz pensar que minha irmã pode ter razão em se preocupar tanto com eles.
— Ah, justo. Eu meio que entendo. Afinal, Shadow derrotou Elisabeth, a Rainha de Sangue, sozinho. Se as lendas sobre a força dela forem verdadeiras, isso significaria que ele está em uma categoria completamente diferente.
— Tenho que acreditar que ela estava enfraquecida. Se ela realmente fosse tão poderosa quanto dizem, o Reino de Midgar teria pouca escolha a não ser pisar em ovos com Shadow daqui para frente.
— Um passo em falso e ele se tornaria uma ameaça maior que o próprio Culto, hein?
— Exatamente. Ele tem um séquito no Jardim das Sombras chamado as Sete Sombras, e elas são forças a serem reconhecidas. Todas são pelo menos tão fortes quanto minha irmã, e algumas podem muito bem ser mais fortes. Não é só Shadow. A organização inteira é uma potência.
— Agora que você mencionou, tinha aquela teriantropa, Zeta… Nunca vi Aurora com tanto medo de alguém. Ela disse que não conseguia medir os limites da força de Zeta.
Alexia morde o lábio.
— Olha, eu quero acreditar que eles estão do nosso lado tanto quanto você, mas… por enquanto, não posso confiar neles. São perigosos demais.
— Sim, você está certa. Acho que só nos resta fazer o que podemos. Pode contar comigo.
— Agradeço muito, Claire.
Claire pega a própria mão com o círculo mágico e a aperta.
— Se ficarmos paradas, nada vai acontecer. Aurora, este círculo mágico, Shadow… há tantas perguntas que precisam de respostas. Obrigada por isso, Alexia.
— Hã?
Alexia a encara, confusa. Não eram essas as palavras que ela esperava.
— Por me ouvir e por realmente escutar. Foi assustador estar sozinha. Eu me senti tão impotente. O fato de você ter acreditado em mim significa muito.
— …Sempre que precisar.
— E eu também entendo como você se sente. As coisas parecem tão sem esperança quando se está sozinha, não é?
— Nunca disse que eu… — A voz de Alexia treme.
Sua irmã tem treinado com a espada como uma louca, e ultimamente não tem tempo para Alexia.
Rose abandonou Alexia e seguiu seu próprio caminho.
E Natsume… bem, Alexia nunca confiou em Natsume de qualquer maneira.
— Vamos fazer isso, você e eu.
Claire estende a mão para Alexia, que a aperta sem hesitar. Ela sente o calor da mão dela envolvendo a sua.
— Obrigada, Claire.
— Claro. Além disso, assim fica mais fácil ficar de olho em você. — Claire diz em voz baixa, e então aperta a mão de Alexia com tanta força que estala.
— Hã?
— Se é isso que preciso fazer para protegê-lo de suas garras, é um preço pequeno a pagar.
— C-Claire, isso dói.
— Ai, meu Deus, me desculpe. Estou ansiosa para trabalhar com você, Alexia.
— I-igualmente, Claire.
Alexia aperta de volta com a mesma força, e as duas sorriem.
É como se fossem farinha do mesmo saco, reflete o espírito.
Claire e Alexia estão paradas em frente a um quarto no dormitório feminino.
Alexia lança um olhar cético para Claire.
— Ei, tem certeza disso?
— Claro. A Nina vai dar um jeito, cem por cento de certeza. O Cid me disse que uma vez comentou com ela que queria ler um livro da seção proibida, e no dia seguinte, ela apareceu com o livro!
— Sério? Nunca ouvi uma história que soasse mais falsa.
— Não, não, pode confiar. O Cid nunca mentiria para mim.
— Claro que mentiria. Aquele cara é a personificação da mentira e da ganância.
— Ei, não fale mal do meu irmão.
— Mas é verdade.
Alexia encerra a discussão batendo na porta.
— Já vai! — Alguém responde alegremente. A porta se abre. — E aí, Claire. Que bom que você está segura. Me deixou preocupada.
É uma garota baixinha de cabelo cor de vinho.
— Desculpe por toda a confusão — diz Claire.
— Ei, contanto que você esteja bem, então águas passadas. Só me avisa antes de sumir da próxima vez, tá?
— Vou ver o que posso fazer.
Nina lança um olhar para Alexia.
— Devo dizer, vocês duas formam uma dupla bem inusitada. Prazer em conhecê-la, Princesa Alexia.
— O prazer é meu, senhorita Nina.
— Por favor, só “Nina” está ótimo. Desde quando vocês duas são amigas?
Alexia e Claire respondem quase ao mesmo tempo.
— Ah, não somos amigas.
— Mais para inimigas, na verdade.
— Ei, o que funcionar para vocês — responde Nina, convidando-as a entrar. — Enfim, entrem. Vocês parecem estar com algo na cabeça.
Nina se senta em sua cama e cruza as pernas. Alexia e Claire se acomodam em cadeiras simples.
— Antes de começarmos, se importaria se eu fizesse uma pergunta? — O olhar de Alexia desvia, desconfortável.
— Manda ver. Sou um livro aberto.
— Por que você está de lingerie?
Por algum motivo, Nina está vestida apenas com lingerie sexy. Apesar de sua baixa estatura, ela tem curvas em todos os lugares certos. Até outras mulheres se sentem atraídas por sua figura.
— Porque é confortável.
— Você sempre anda vestida assim?
— Sim. A lingerie da Mitsugoshi é ótima, e os modelos são incríveis. — Nina sorri, enrolando o tecido transparente para exibi-lo.
— Juro… — murmura Alexia. — Vou ter que pegar as referências desses modelos com você mais tarde.
— Sim, sem problemas. Tenho outros modelos deles que também são ótimos.
— Mostre-me. — Alexia responde instantaneamente. Sua expressão é mortalmente séria.
— E para quem exatamente você vai exibi-los? — zomba Claire.
Alexia a encara.
— Cala a boca.
— Enfim, precisamos voltar ao assunto.
— Ah, sim, claro — concorda Nina. — E preciso ir dormir logo, então se puder resumir, agradeceria. Noites em claro acabam com a minha pele.
— Claro, sem problemas. Queríamos perguntar sobre aquele livro proibido. Como você o roubou?
Nina pisca, confusa, para a pergunta de Claire.
— Que livro proibido? Não estou entendendo.
— Você não precisa esconder. O Cid me contou tudo. Você pegou um livro da seção proibida, certo?
— O moleque disse isso? Bem, posso te garantir que não aconteceu.
— Eu te disse, não precisa manter em segredo.
— E eu te disse, não estou escondendo nada. Eu literalmente não faço ideia do que você está falando.
— Sério?
— Sério. Eu não saberia nem por onde começar para invadir a seção de livros proibidos.
— Eu te avisei — diz Alexia, zombeteira. — Fido mentiu para você.
— C-cala a boca! Nina, você está falando a verdade? Não está escondendo nada? — Claire começa a sacudir os ombros de Nina com tanta força que os fechos do sutiã se soltam.
— C-calma, Claire! Prometo, não estou mentindo!
— Rrrrrrrrgh! — Claire morde o lábio e fica vermelha como um pimentão. — Droga, Cid!! Você mentiu para mim de novo! Você não pode continuar fazendo isso!
— Viu só, até você sabe que ele é um mentiroso.
— Cala a boca, cala a boca, cala a boca! Esquece isso! Vou para casa!
— Para a casa dos seus pais?
— Para o meu dormitório!
Claire sai do quarto furiosa, com o rosto vermelho, e Alexia a persegue apressadamente.
— E-espera aí, segura a onda! Ainda precisamos conversar sobre o nosso plano para amanhã… — Alexia se vira para Nina por um momento. — Obrigada por nos receber.
— Não entendi bem o que aconteceu, mas vê se pega leve, tá?
Alexia lhe dá um sorriso sem graça e fecha a porta atrás de si.
O quarto agora está silencioso. Nina se levanta e vai até a janela.
— Muito bem.
Seu sutiã desabotoado cai no chão, e ela se vê refletida na janela. Há uma cicatriz sombria em seu seio esquerdo.
— Hora de agir.
Ela passa um dedo fino sobre a cicatriz.
Então, seu olhar frio se perde na escuridão infinita da noite.
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Adoro dar passeios noturnos.
O mundo fica quieto sob o luar, e isso me ajuda a lembrar do que realmente importa. Não tenho me perdido muito ultimamente, mas na minha vida anterior, a lacuna entre a realidade e o que eu precisava realizar para ser uma eminência nas sombras às vezes fazia minha determinação vacilar.
Meu método preferido para lidar com coisas assim era treinar tanto que eu não conseguia mais pensar, mas dar passeios noturnos e fazer um pouco de autorreflexão também era uma ótima opção. Quando eu olhava para a lua, tudo ao meu redor estava parado, só isso já era o suficiente para me fazer sentir como um manipulador das sombras. Ocasionalmente, havia uns motoqueiros arruaceiros por aí, acelerando ruidosamente seus motores, mas para isso eu tinha meu pé de cabra da justiça.
De qualquer forma, resumindo, ainda saio escondido do meu dormitório tarde da noite para dar uma voltinha de vez em quando. Recentemente, viciei em subir no telhado da escola e observar o mundo envolto pela noite lá de cima.
— Heh-heh-heh…
Basta eu soltar uma risada destemida, e sou o cara mais legal do mundo.
O luar está especialmente lindo esta noite. Já lavei a saliva da joia vermelha que Delta encontrou, e a pego para segurá-la contra a lua. A cor maravilhosamente profunda a torna inacreditavelmente bonita.
— Parece que tem algum tipo de magia guardada nela. Quanto será que eu conseguiria vender por isso?
Caramba, Delta, você mandou bem.
Mal posso esperar para ter a chance de colocá-la em leilão na Mitsugoshi. Se vender por um bom preço, finalmente poderei comprar o Conjunto da Eminência nas Sombras da minha lista de desejos pessoal. Vou pegar um cachecol de juba de leão preto, vou pegar um conjunto de mesa de cristal escuro, vou pegar um…
— Hã?
Quando olho para o lado, vejo um sujeito de meia-idade com um manto preto no canto do telhado.
Que lugar estranho para se ver um cara.
Espera aí, será que meus olhos me enganam? Agora que estou olhando, o manto que ele está usando é feito de seda de aranha negra?! Aquele brilho, aquele tom preto profundo… Tem que ser. Nenhum manto barato poderia ostentar tamanha qualidade de matéria-prima.
— …Você tem bom gosto.
Paro um momento para observar o sujeito estiloso. Seu cabelo é prateado e vai até a cintura, e seus traços são bem definidos. Seus olhos têm o formato dos de uma águia, o que é bem legal também.
Aguço os ouvidos e o pego resmungando algo:
— Já devia ter aparecido. Verifiquei as plantas…
Ah, ele deve ser um ladrão. É o único tipo de cara que consigo imaginar usando uma planta baixa para invadir uma escola. Faz sentido; ouvi dizer que a escola tem todo tipo de artefatos valiosos.
O que temos aqui é um ladrão chique.
Sem saber que estou o observando, o sujeito diz algo que soa carregado de significado.
— Eles devem ter intercedido. Mas isso só significa que tenho algumas obstruções para remover… nada mais.
Olha só isso! Esse cara até sabe como criar um clima.
Então o ladrão elegante se vira.
Nossos olhos se encontram.
Estou ocultando minha presença, mas não estou fazendo nenhum esforço para esconder meu corpo físico. Naturalmente, isso significa que ele me vê.
— O quê?! Há quanto tempo você está…?
— Ei, não se importe comigo. Eu só estava dando uma volta. — Não tenho intenção de atrapalhar os planos desse cara, então tento mostrar a ele o quão inofensivo sou.
— Você não parece ser da Ordem dos Cavaleiros. Quem é você?
— Apenas um estudante comum.
— Um estudante, hein…? Pela sua postura, acho que está dizendo a verdade. Não acredito que um mero estudante me viu no meu primeiro dia aqui.
— Olha, cara, acontece com os melhores. De qualquer forma, até mais.
— Espere aí. Agora que você me viu, preciso te eliminar.
— Não se preocupe, não vou te dedurar nem nada. Não me importo nem um pouco se um ladrão invadir a aca…
No entanto, o ladrão elegante não parece estar com vontade de ouvir.
— Hoje simplesmente não foi seu dia de sorte, garoto.
— Opa, cuidado aí.
Balanço meu corpo para evitar as foices gêmeas que cortam em direção à minha garganta. Esse cara é bem rápido. São uns movimentos bem elaborados para um ladrão. Acho que ele realmente é um ladrão elegante.
— Quê?! Você se esquivou?! — Ele recua por precaução. Sua voz baixa para um rosnado. — Você… Você não é um estudante qualquer, é?
— Sério, não vou te entregar.
— Considerando o truque que você acabou de fazer, deve ser das forças especiais da Ordem dos Cavaleiros. É a primeira vez que alguém consegue me enganar assim.
— Eu realmente sou apenas um estudante comum.
— Você acha que eu acreditaria nisso? Provavelmente foi você quem matou o Sorriso Maligno. Não era do feitio dele pedir ajuda. É por isso que me enviaram, a Aranha Negra.
— É, acho que você pegou o cara errado.
— Mas aqui acaba a sua sorte.
— Minha o quê?
— Acontece que… sou mais forte que o Sorriso Maligno.
O ladrão elegante corta meu braço com sua foice.
Clang!!
Um barulho pesado ecoa do meu braço, e faíscas voam.
— E-eu não consigo te cortar?!
Eu remoldo meu uniforme.
Limo negro escorre pelo meu braço, cobrindo-o e se aglutinando em uma garra onde está minha mão.
— Aquela arma negra… Você é do Jardim das Sombras…
O ladrão elegante tenta recuar desesperadamente. No entanto, nada que ele faça pode mudar o que está prestes a acontecer.
— Tão rápido…
Encurto a distância e arranco o coração dele com minha garra.
— Impossível… E-esse poder…
— Hã?
Ele agarra minha garra com as duas mãos e faz uma careta.
— Não pode ser… Não, é aqui que você está… Então você se disfarça de estudante. Perdoe-me… Lorde… Fen… rir…
Com isso, ele tosse uma enorme golfada de sangue.
— Ah, cara. Lá vou eu, matando gente de novo.
Roubo seu manto de seda de aranha negra, tomando muito cuidado para não sujá-lo de sangue, e então o chuto do telhado.
— Ah, merda.
Quando olho para baixo, vejo que o ladrão elegante caiu para a morte. Isso tudo está muito bem, mas há uma estátua de bronze bem onde ele aterrissou, e ele teve o azar único de ser empalado na espada que a estátua está segurando. Faz parecer que ele foi brutalmente executado. O que devo fazer com o corpo?
— …Eh, acho que vou deixar assim mesmo.
Há sangue espalhado por toda parte, e limpá-lo parece um verdadeiro incômodo. Posso simplesmente considerar isso um presente especial meu para todos os estudantes que desfrutam de suas vidas escolares comuns.
— Hmm?
De repente, percebo uma estranha névoa branca passando. Tenho quase certeza de que não havia nenhuma névoa ali há um minuto.
— O que é essa coisa?
Pisco, e ela desaparece sem deixar vestígios.
— Hã. Será que imaginei? Acho que não…
De jeito nenhum aquilo poderia ter sido um truque de luz esquisito. Só esteve lá por um momento, mas com certeza vi alguma névoa ali.
— Acho que é apenas um dos muitos mistérios da vida.
Não é como se ver uma névoa branca fosse mudar minha vida de forma significativa, e se eu quiser ver mais, posso sempre ir para as montanhas.
Mais importante, preciso ir pendurar meu novo manto de seda de aranha negra na parede e tirar um cochilo.
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A área está envolta em uma névoa branca e sombria, iluminada por um quarteto de cilindros de luz vermelha.
— Que taxa de compatibilidade baixa… A culpa deve ser dos espécimes base. É isso que acontece quando não conseguimos colocar as mãos em nenhum possuído.
Há um homem magro parado diante dos cilindros. Ele anota algo no arquivo que está segurando e suspira.
— Ainda não há notícias da equipe de aquisição de espécimes?
É difícil de ver, mas há algo flutuando na luz vermelha. Seres humanos.
Há quatro pessoas, cada uma flutuando em um dos cilindros e conectada a uma série de tubos. Os tubos se expandem e se contraem como criaturas vivas enquanto sugam algo de suas vítimas. Lá dentro, toda a vida se esvaiu dos rostos das pessoas.
— Estamos ficando sem tempo. Nesse ritmo…
O homem caminha inquieto de um cilindro para outro. Então, ouvem-se passos vindos da névoa.
— Como estamos indo, Salgueiro Esguio?
O dono da voz para antes de alcançar a borda da névoa.
O homem magro, Salgueiro Esguio, apressadamente endireita a postura.
— Conseguimos recuperar quatro espécimes do corpo estudantil que eram compatíveis com a magia. Estamos absorvendo a mana deles enquanto falamos, e acredito que derrubaremos o selo mais cedo ou mais tarde…
— “Ou mais tarde”, hmm? Tínhamos quatro espécimes da última vez que estive aqui?
Salgueiro Esguio engole em seco.
— Bem, o Jardim das Sombras tem interferido, sabe…
— Ouvi dizer.
— E pelo que parece, enviaram alguém com habilidades comparáveis à sua liderança superior.
— Oh? Uma das Sete Sombras, talvez? — O homem permanece fora de vista, mas seu interesse parece aguçado.
— Muito provavelmente, sim. Pode ser uma Sete Sombras que nunca conseguimos visualizar antes.
— Isso seria Zeta, então.
— Sim, senhor. Ela parece se especializar em fugir.
— Não tenho muitos relatos de pessoas que lutaram contra ela. Sempre presumi que ela não conseguia se defender em uma luta.
— Ela matou o Sorriso Maligno, então, no mínimo, é mais poderosa que uma Criança Nomeada.
— Faaascinante. Bem, isso deve ser interessante, então. A propósito, ouvi dizer que você chamou um substituto para o Sorriso Maligno?
— Eu queria ter certeza, então trouxe a Aranha Negra, uma das nossas Crianças Nomeadas mais poderosas. Agora o plano poderá…
— A Aranha Negra está morta.
— …O quê?
— Ele foi espetado na frente da escola.
— Hum… Receio não estar…
— É verdade.
— É-é mesmo? Quer dizer, não que eu fosse duvidar de você, senhor, longe de mim tal pensamento. Foi Zeta quem o matou também?
— Difícil dizer. Não sabemos quem é o assassino, mas o que sabemos é que o Jardim das Sombras age rápido. Tenho inveja. Se ao menos eu tivesse subordinados tão competentes.
— Ha-ha-ha…
— Como você pretende colocar o plano de volta nos trilhos?
— Eu ia pedir ao quartel-general para enviar mais reforços.
— O colapso do crédito causou um duro golpe em nossas finanças. Poderíamos contratar mais Segundas e Terceiras Crianças, mas duvido que este seja o tipo de problema que podemos resolver jogando bucha de canhão nele.
— M-mas…
— O Jardim das Sombras já sabe sobre estas ruínas. É só uma questão de tempo até que eles rompam nossas defesas.
— Bem, já localizamos espécimes mais viáveis. Há Claire Kagenou e, se me der o sinal verde, também há Alexia Midgar. Se conseguíssemos colocar as mãos nessas duas, acredito que conseguiríamos concretizar o plano quase imediatamente.
— Alexia Midgar, hmm…?
— Isso é problemático?
— …Não, vá em frente. Zenon já pôs as mãos nela. Podemos nos dar ao luxo de sujar um pouco as mãos. Afinal, nós da Seita Fenrir controlamos o Reino de Midgar há muito, muito tempo.
— Darei as ordens aos meus homens, então.
— Não, Salgueiro Esguio, quero que você mesmo faça isso.
— Perdão…?
— Você se apegou demais ao local da missão. Conseguiu aquele cargo na academia – agora é hora de usá-lo.
— Mas, senhor, meu braço…
Um vento forte sopra no pescoço de Salgueiro Esguio, deixando um único ferimento fino em seu rastro.
— Use sua posição para fazê-los baixar a guarda.
— …Sim, senhor.
— Vou estar ocupado ajustando as ruínas. Faça o serviço, e faça direito.
— Sim, senhor. — Salgueiro Esguio se apressa em sair.
— Agora, então.
Algo aparece projetado na névoa. É a imagem de duas garotas. Uma é uma teriantropa de cabelos dourados, e a outra é uma humana loira-morango.
Ambas pertencem ao Jardim das Sombras.
— Então essa é Zeta… assim como a tão aclamada Santa. Pensar que o Jardim das Sombras acabou acolhendo-a. Eu estaria interessado em ver o que uma certa nação faria se tivesse essa informação.
Na imagem, Zeta e Victoria avançam pela névoa branca. Atrás delas, há outra figura também.
A terceira figura usa um manto diferente do Jardim das Sombras, e seu rosto está escondido sob um capuz.
— Eles já romperam nossa terceira linha de defesa. Dependendo de como as coisas forem com o Salgueiro Esguio… — O homem murmura enquanto sua presença desaparece.
A imagem continua passando no espaço agora vazio. Nela, um par de olhos dourados está fixo diretamente na tela.
Tradução: Gabriella
Revisão: Pride
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