86: Oitenta e Seis

86: Oitenta e Seis – Vol. 11 – Cap. 05 – O Início da Guerra da Legion


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Quando o Império declarou guerra e a Legion atacou, Pai e Tio Karlstahl foram para o campo de batalha.

Pai voltaria para casa hoje à noite?

Tio Karlstahl estaria com ele?

De pé no amplo hall de entrada de sua grande propriedade, a pequena Lena segurava sua boneca favorita, aguardando o retorno de seu pai.

“Claude, faça tudo o que sua mãe e seu irmão mandarem, certo? Henry, cuide de sua mãe e do Claude.”

“Ok.”

“Sim, pai. Eu vou cuidar disso.”

Claude acenou para seu pai, vendo-o partir para o campo de batalha. Sua outra mão segurava a mão de sua mãe, e seu irmão estava ao seu lado, também acenando para se despedir do pai.

A linha de frente estava recuando a uma velocidade impressionante. Eles enviaram mais e mais soldados, mas não havia como deter o avanço dos drones de combate autônomos do Império – a Legion.

“A 1ª Divisão Blindada foi eliminada. Essas coisas da Legion, são monstros…!”

“Não conseguimos entrar em contato com o destacamento de infantaria que saiu para nos cobrir – eles provavelmente foram eliminados. As tropas sobreviventes são todas Colorata, mas lutaram bravamente por nosso país.”

Ouvindo seu camarada dizer essas palavras entre os dentes, Karlstahl teve um pensamento passar por sua mente.

Ah. Você não percebe, Václav?

Colorata.

Você já os classificou como diferentes dos Alba.

Seus pais e seu irmão mais velho não estavam assistindo nada além das notícias. Deixado sem seus desenhos animados favoritos, Shin estava descontente. Seu amado irmão mais velho também não brincava tanto com ele. Mas o que o deixava ainda mais ansioso eram as expressões severas que eles usavam ao assistir as notícias. Ele não tinha certeza do que estava acontecendo, mas podia dizer que era algo ruim.

“Houve um aviso de evacuação para os lugares perto da fronteira. Isso significa, hmm… É perigoso aqui, então precisamos fugir. Precisamos fazer as malas, então leve apenas o que é importante. Uma troca de roupas e apenas um brinquedo. Aquele que você mais gosta. Ok, Theo?”

“Ok.”

“Tohru, vamos partir. Diga adeus ao mar e ao navio do seu avô.”

“Vou, vovô.”

Inclinando-se para fora do ônibus destinado à evacuação das áreas de fronteira, Tohru acenou para as vistas familiares do mar e do navio de seu avô. Pensando, ao mesmo tempo, que provavelmente estaria de volta em um ou dois dias.

Havia muitos daquele cartaz espalhados pela cidade. Todos os dias, havia mais deles. Seu pai disse a ela que era para recrutar soldados. Enquanto caminhava pelas ruas, com seu pai segurando sua mão, Anju ponderou que havia mais deles do que havia no dia anterior.

As reportagens de notícias apenas refletiam uma piora do estado da guerra. Depois de tomar seu café da manhã, Aldrecht sussurrou para si mesmo quando se certificou de que sua filha não estava ouvindo.

“O exército da República está sofrendo uma derrota após a outra.”

E sua esposa respondeu, com a voz tremendo.

“O que vai acontecer conosco em seguida…? Com este país…?”

Os fogos da guerra ainda estavam distantes da capital secundária, Charité, e suas cidades satélites, mas a casa de Kukumila já estava fazendo as malas para se preparar. Enquanto ela ficava ao lado de sua irmã, que ajudava seus pais a retirar o baú de viagem e enchê-lo, Kurena sentia como se estivessem saindo para uma viagem. Ela corria por aí, dançando, vestida com seu vestido de uma peça mais bonito e chapéu favorito.

Os dormitórios da escola tinham apenas uma televisão na sala de jantar. Enquanto Raiden assistia ansiosamente à transmissão das notícias que continuava a passar nela, a velha que administrava a escola ficava atrás dele. Raiden realmente não sabia do que as notícias estavam falando, mas podia sentir que algo ruim estava acontecendo, e olhava para a velha mulher com inquietação. Seus pais, que moravam longe daqui, estariam bem? E seus amigos?

“Nan…”

Suas mãos enrugadas repousavam em seus ombros. Mãos maiores do que as dele, mãos de adulto.

“Não se preocupe. Sua casa, sua mãe e pai, estão seguros.”

A voz da mulher que dava as notícias estava ficando mais sombria. Tornou-se mais irritada e provocativa, como se estivesse procurando alguém para culpar pela situação.

Assistindo todos os dias, Shiden se deixou levar pelos argumentos. Quem é culpado? O que é culpado? Ela não sabia ao certo por que, mas a resposta era clara.

“O Império é culpado, é isso!” Shiden disse inocentemente.

“Sim! O Império é culpado!” Sua irmãzinha a imitou simploriamente.

As linhas de frente continuavam recuando. Caminhões de refugiados chegavam à cidade onde Kaie e sua família moravam. Quando os refugiados desciam do caminhão, seus vizinhos os olhavam com hostilidade, o que não se esperaria que dirigissem a seus compatriotas. Como se fossem incômodos. Estrangeiros. Os olhos das pessoas que estavam famintas por alguém para descarregar toda a sua ansiedade e medo – e acabaram de encontrá-los. Traidores. A pedra que quebrou a luz da varanda tinha essa palavra rabiscada. Alguém que descobriu que a Casa Penrose eram nobres imperiais antigos – descendentes do inimigo – provavelmente a jogou. Se escondendo atrás da porta, Annette observava enquanto seu pai limpava os cacos com uma expressão severa no rosto.

Um monte estava empilhado diante de Karlstahl. Era composto pelos corpos dos soldados de seu exército, empilhados como sacos de areia. Eles nem receberam sacos suficientes para todos os corpos, e logo teriam que descartar os restos de seus soldados caídos.

Um soldado sobrevivente, deitado tão imóvel e impotente quanto um dos cadáveres, sussurrou monótonamente.

“Por que nós…?”

Por que somente nós?

Todos aqueles corpos eram de Alba de cabelos prateados e olhos prateados. Isso não queria dizer que os Colorata não estivessem morrendo, mas a proporção de Colorata para Alba na população geral era muito desproporcional, então havia mais Alba mortos. Mas em termos de suas populações relativas, não havia uma diferença real na porcentagem de Alba mortos para Colorata mortos.

Mas os únicos corpos que se viam neste monte eram os de Alba. E não importa para qual campo de batalha se fosse, os corpos sempre eram de Alba e não de Colorata.

O soldado sussurrou. Monotonamente, mas freneticamente.

É culpa deles. Eles não morrem em batalha. Eles nos matam e provavelmente riem o tempo todo. Descendentes do Império. Herdeiros dos tiranos. Eles – aqueles que não são um de nós.

“…Malditos Colorata.”

Estranhamente, estava alto lá fora. Sua mãe moveu a cortina, olhando para fora, e então virou-se, com o rosto pálido.

“Dustin… Você não pode olhar para fora hoje. De jeito nenhum”, ela disse a ele.

Soldados com o mesmo uniforme que o de seu pai forçaram a entrada em sua casa por algum motivo, prendendo Claude e sua mãe ao chão. O pai de Claude, que voltaram para casa gravemente ferido, assistia, lutando contra as lágrimas que caíam de seus olhos vermelhos.

“Henry!” Claude estendeu desesperadamente a mão.

O par de olhos que ele estava olhando – os olhos prateados de seu irmão, assim como os de Claude – desviaram o olhar.

Ao retornar do campo de batalha, Karlstahl foi ordenado a proteger os comboios dos Colorata. Entre essas missões, Karlstahl se viu parado imóvel no quartel-general militar, encarando uma estátua de Santa Magnólia.

Ela, que liderou a revolução trezentos anos atrás, apenas para ser jogada na prisão pelos cidadãos da República, onde morreu. Porque ela não era uma plebeia. Ela lutara inocentemente contra a discriminação, nobremente vencera, mas então nem sequer foi contada entre os plebeus quando o fez. Eles a viam como uma das más, vulgares opressoras – sem motivo além de ser uma princesa da odiada casa real.

Sim. No final, para os cidadãos, Santa Magnólia não era nada mais do que uma estranha que não era um deles.

 


 

Tradução: LordAzure

 

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