86: Oitenta e Seis – Vol. 10 – Cap. 04.5 – Interlúdio 4

 

Durante um confronto com a Legion outro dia, a armadura do Undertaker havia rachado em torno do bloco do cockpit. Aquela parte inteira da armadura precisava ser substituída completamente. Bem na área onde seu Marca Pessoal estava. E como as Marcas Pessoais eram únicas, redesenhá-las significava que seria necessário usar um estêncil.

E então…

“…Pronto. Feito.”

Theo se levantou e se esticou, seus membros esguios vestidos com macacões manchados de tinta. Ele então olhou para a armadura recém-substituída do Undertaker, de cor branca pérola, e a Marca Pessoal recém-pintada nela.

Um esqueleto carregando uma pá.

Depois de desenhar este símbolo muitas vezes ao longo dos anos, Theo sabia bem que não demoraria muito para que essa marca fosse coberta por arranhões novamente. Isso o deixou um pouco saudoso. Assim como as outras Marcas Pessoais que ele desenhou, ele estava bastante orgulhoso desta.

Observando-o trabalhar de longe — desde que Theo o afastou para não distraí-lo —, Shin se aproximou e espiou a máquina. Ele estava vestido com o uniforme azul-ferro da Federação. Depois de vê-lo com um uniforme de camuflagem por anos, Theo ainda não estava acostumado com essa aparência dele.

“Desculpe por fazer você lidar com isso para mim todas as vezes.”

“Mm, bem, não se preocupe com isso. Eu só tenho que desenhar as Marcas para os quatro de vocês — e a da Lena enquanto estou nisso. Além disso, eu gosto de desenhar.”

Ele então acrescentou que não era como se mais alguém além dele pudesse desenhar neste grupo. Isso fez Shin lembrar de algo.

“Certo, você me perguntou sobre isso na primeira vez que nos encontramos. ‘O que esse desenho deveria ser?'”

Theo deu um sorriso sardônico e fez um oh com a boca. Certo, o primeiro encontro deles no Setor Eighty-six. Naquela época, todo mundo ainda desenhava suas próprias Marcas Pessoais.

“A do Daiya foi especialmente ruim. Ele tentou desenhar um cachorro preto, mas parecia mais um hipopótamo preto.”

Ele só percebeu que era para ser um cachorro preto porque Daiya lhe disse seu Nome Pessoal.

“E o lobisomem do Raiden mal parecia um homem-cachorro. A Kurena esqueceu de desenhar as miras de seu rifle, e a da Anju até que foi boa, se um pouco infantil.”

Todos eram ruins o suficiente para fazer Theo dizer: Esqueça, eu vou desenhar suas Marcas Pessoais a partir de agora.

Se eles morressem, seus Juggernauts seriam seus caixões, tornando suas Marcas Pessoais seus marcadores de túmulo. Shin prometeu levar adiante seus corações e memórias, mas seus corpos ainda seriam deixados para trás e pelo menos mereciam esse tipo de homenagem.

Meio em reminiscência, Theo curvou os lábios em um sorriso agridoce.

“Você trial teve muita chance de desenhar, então nunca melhorou desde quando era mais jovem.”

Simplesmente ficar vivo era o máximo que podiam fazer, e não havia materiais de desenho para distrair as crianças nos campos de internamento.

“Mas sua Marca Pessoal era uma que eu não conseguia entender muito bem. Era como se fosse boa, tudo bem, mas era bastante interessante mesmo quando era ruim.”

“Você pode dizer apenas, sabe. Que era tão medíocre que parecia chato.”

“Quero dizer, seus desenhos não são tanto medíocres quanto simplesmente práticos. Nem mesmo são exatamente realistas. É como se não mexessem realmente com nenhuma emoção… Sim, acho que chato resume bem.”

Como ele estava falando sobre isso bem na frente de Shin, Theo sentiu que seus comentários afiados e hostis de sempre poderiam ser inapropriados. Então ele tentou — sem sucesso — encontrar uma maneira mais suave de dizer isso. Felizmente, Shin não se importou. Depois de todo esse tempo, a boca suja e a atitude hostil de Theo pouco o afetavam. Concluindo que não combinaria com ele suavizar suas palavras, Theo continuou:

“Você não é tão bom em desenhar quanto é bom em esboçar. Como mapas e esquemas. É como se nunca tivesse desenhado antes, exceto quando explicava o terreno durante as reuniões.”

“Boa observação.”

“O que, é só para isso que você desenha mesmo?”

Não é de admirar que parecesse tão prático. Pensando dessa forma, Theo não estava certo se o fato de a República dificilmente lhes fornecer mapas dos setores era algo bom ou ruim.

Mas agora… agora tudo é diferente. A Federação lhes dá tudo o que precisam para lutar na batalha como se fosse algo natural.

Apoio, educação, entretenimento. E o direito tanto de serem enterrados quando morrem em batalha quanto de lamentar aqueles que pereceram.

“…Você sabe, Shin”, trial Theo, sentindo seus olhos escarlates se fixarem nele.

O próprio olhar de Theo estava fixado no emblema recém-desenhado do esqueleto decapitado. Este símbolo sinistro do Reaper era a salvação deles no Setor Eighty-six, mas…

“Você não deveria mudar sua Marca Pessoal? Quero dizer, pode soar meio estranho, mas você não precisa mais carregar esse fardo.”

Todas as coisas que ele carregara até agora. O dever que Theo e os outros fizeram ele assumir sem nem mesmo pensar duas vezes. Theo se sentia bastante misturado em relação a isso, mas Shin não parecia notar. Ele simplesmente olhou para Theo com dúvida, como se não tivesse certeza de onde vinha a pergunta repentina.

“Você não gosta disso?” Ele respondeu à sua pergunta com outra pergunta.

“Não é que eu não goste de desenhá-lo… Só acho que pode ser azar, eu acho?”

“Oh…” Shin murmurou, pausou por um momento em pensamento e então deu de ombros. “Talvez seja. Mas eu me sentiria culpado chamando isso de azar depois de usá-lo por seis anos.”

“…Certo.” Theo assentiu com um sorriso sarcástico.

Ele ainda se sentia um pouco culpado e misturado sobre isso, mas se Shin estava bem com isso, então ele também estava.

Shin então virou seus olhos para sua Marca Pessoal e de repente disse: “Falando nisso, sobre a Marca Pessoal da Lena…”

Theo resmungou para ele.

“Ah, sim. Eu a desenhei, mas não estou aceitando críticas construtivas.”

 

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