86: Oitenta e Seis – Vol. 01 – Cap. 03.5 – Epílogo – O cavaleiro sem cabeça (1)

Todos de seu esquadrão haviam morrido, ele sozinho foi se esconder nas ruas de uma cidade abandonada e, quando a noite chegou, a neve começou a cair.

Shin estava em uma biblioteca abandonada, sentado se apoiando no “Juggernaut” que tinha inúmeras ranhuras na armadura, essa unidade é a mesma desde que se alistou pela primeira vez há um ano, estava cochilando enquanto esperava o amanhecer.

Para o pequeno corpo de uma criança de doze anos, o frio de uma noite com neve dificilmente era tolerável. A biblioteca não tinha desmoronado, pois tinha paredes bem grossas que a sustentavam. Encontrou um cobertor fino em uma das gavetas da biblioteca e então a colocou sobre si. A “Legião”, estava vagando até pouco tempo atrás pelas ruínas, as tropas começaram a se retirar antes que ficassem sem energia e afundassem na neve, então eles retornavam em segurança à base esperando o próximo dia. Mas por algum motivo, o “Catador” que pertencia ao seu antigo esquadrão, que o chamava de Fido, sempre foi tão apegado a ele, e sempre o encontrava.

De repente, alguém o chamou e então Shin abriu os olhos.

Desde que escapou da morte, começou a ouvir as vozes dos mortos. Ao contrário do jeito típico, não conseguia ouvir nenhuma voz, em vez disso, sentia que estava sendo chamado.

Era um elo que havia desaparecido há muito tempo, um que achava que nunca mais ouviria.

Ele foi atraído e continuou andando até o local.

As ruas de metal negro e pedras cinzentas estavam cobertas com o puro branco da neve, deixando uma silhueta a mostra. A neve estava sem voz, sem fôlego, chovia em seu rosto, esvoaçava e se empilhava, tingindo as ruas, escombros e até a escura noite, como se um demônio branco silenciosamente estivesse ficando furioso. A bela paisagem parecia ter embranquecido as almas.

Passando pelas ruas de neve e escombros, ele chegou na praça central da cidade.

E no meio dela havia uma igreja, uma de suas duas torres havia despencado, e na neve branca, parecia ter um enorme esqueleto em meio a escuridão. Ele tinha chegado antes disso.

Um “Juggernaut” afundado estava no chão, como um esqueleto caído.

A cobertura tinha sido destruída, não sobrou nada dela e tudo o que sobrava era uma armadura que tinha sido deformada devido ao clima; ele mal conseguiu ver a marca pessoal, um cavaleiro esqueleto sem cabeça.

Pisoteava a neve enquanto se aproximava, olhando para o cockpit.

— …Irmão.

Como ele sabia? Mesmo se perguntassem, não conseguiria responder, só conseguia dizer que de alguma forma sabia. Shin estava convencido que isso era um fato, não tinha a necessidade de arrumar desculpas ou de explicar o porquê.

O pequeno cockpit preto foi lentamente preenchido com o branco. Ele olhou para baixo e encontrou os ossos desbotados de seu irmão lá dentro, sem a cabeça.